Introdução.
1. Guerras da representação, 2. Guerra, tua principal arma se chama engano, 3.
Platão e a não representação ou mentira falsa, 4. Mentira falsa, 5. Proudhon e
a dialética, 6. O entre enquanto luta política, 7. Considerações finais
INTRODUÇÃO
O este artigo se propõe a expor a
ideia de guerra segundo a filosofia de Platão e
a ideia de máquina de guerra conforme o pensamento de Gilles Deleuze.
Uma vez compreendidas tais ideias referentes à guerra, o conceito de Entre será
apresentado a partir da clássica obra A
República em suas duas formas: mentiras
nobre (ou representação) e falsa
(sem representação). Após, só então escreveremos a interseção conceitual que se
encontra entre Pierre-Joseph Proudhon e Platão, o Entre.
Caso
este artigo tenha alguma importância no campo bélico da política, talvez seja
para problematizar o conceito de guerra ou de luta de classe no século atual,
que, para nós, não mais se equipara ao modelo narrado em Germinal, de Émile Zola, publicado em 1885. Se o senso comum
entende como guerra só o confronto corpo a corpo, este artigo pretende
evidenciar que a guerra não se abrevia ao enfrentamento de forças brutas,
definição estereotipada, mas o sentido de guerra amplia-se como engano, o que assegura à guerra
movimentos imprevisíveis.
Predomina
na doxa a ideia de que a guerra se reduz a um confronto direto e aberto entre
corpos opostos, é como se a representação bélica não projetasse outra imagem que
não fosse a da destruição, sabemos: dois corpos não ocupam o mesmo lugar no
espaço; mas, no caso de um só corpo inimigo ocupar o lugar, ele somente o ocupa
o outro corpo inimigo morrer. A guerra, entretanto, não só se contrai à
eliminação do oposto, porém se estende, primeiro, à manifestação do engano. Nesse sentido, sua tática não é,
portanto, a da violência direta e aberta em seu estado bruto; como aspecto
prático da estratégia, porém, o plano de ação da força bruta busca (a)trair o
inimigo pelo engano. A guerra
movimenta-se, pois, Entre os extremos.
1. GUERRAS DA REPRESENTAÇÃO
Reais ou irreais, as guerras da
representação atravessaram séculos, a mais clássica chama-se Ilíada, epopeia do poeta Homero que
narra a guerra dos vitoriosos aqueus, guerreiros que derrotaram os troianos por
meio de uma astuciosa habilidade: o engano.
Após nove anos de confronto corpo a corpo, chega-se ao impasse: não há
derrotado. Sem a morte de um extremo, o outro extremo não pode ocupar o lugar
do poder.
Rei
de Ítaca, Odisseu, o mais astuto dos chefes aqueus, é inteligentíssimo pela
única razão de que se cobre de mendigo, de louco, quer dizer, cobre-se de engano. Odisseu mente. A fim de
solucionar o impasse entre aqueus e troianos, Atena, que conjuga guerra,
estratégia, arte e sabedoria, além de justiça, inspira a esse mentiroso nobre a
ideia do cavalo de madeira. Com isso, a deusa nos mostra por meio do cavalo de
Troia que a estratégia da guerra é a sabedoria da arte da representação.
Se
o exemplo acima vem de uma epopeia clássica, a Batalha de Salamina, entre
gregos e persas, ocorrida no estreito que separa Salamina da Ática, marcou na
história ocidental o engano que o
militar Temístocles realizou contra Xerxes I, em 480 a.C, quando comandou uma
mentirosa fuga de embarcações gregas com a finalidade de que a frota persa
fosse conduzida à baía de Salamina, onde, por causa do grande número de navios
de Xerxes I, teria dificuldades de manobrar as embarcações no espaço exíguo do
estreito da baía. Porque representou uma fuga, o grego Temístocles enganou o inimigo.
Dando
um salto de pouco mais de dois mil anos, a obra O Príncipe é impressa pela primeira nas oficinas de Antonio Blado,
em 1532, quando Maquiavel expõe o poder
como representação[1] [2] , e o rosto de César Bórgia,
príncipe que melhor domina os súditos na guerra interna da cidade,
caracteriza-se Neutro pela natureza da própria representação. O que Platão
tinha pensado sobre seu conceito de mentira
nobre - o mesmo que representação -, Maquiavel o situa como fato histórico
na imagem de Bórgia.
Antes
de Nicolau Maquiavel, o mercenário inglês John Hawkwood vive entre 1320 e 1394
e, durante 30 anos, levanta sua espada na Itália, onde luta em 1364 por Pisa
contra Florença; porém, em 1390, Hawkwood comanda o exército florentino.
Chamado pelos italianos de Giovanni Acuto, ele engana o inimigo em batalhas e o amigo em acordos. Considerado hoje
o Maquiavel dos confrontos armados, a arma principal com que Hawkwood guerreia
é o engano, a mesma de Odisseu.
Desconhecida
até 1928, quando Benedetto Croce a publica pela primeira vez, a obra Da Dissimulação Honesta, de 1641, trata
da guerra da representação no espaço da corte, onde o rosto, em ambiente
particular, serve-se do engano a fim
de se proteger do real. Se Maquiavel pensou a representação no espaço aberto,
Torquato Accetto a pensou no espaço privado. “A dissimulação é a habilidade de
não fazer ver as coisas como são. Simula-se aquilo que não é, dissimula-se
aquilo que é” (ACCETTO, 2001, p. 27). A natureza da representação é, portanto,
jogo ou movimento que permite ao ser escapar.
Se
o desembarque na Normandia ou a Operação Overlord, ocorrido em 6 de junho de
1944, é comemorado até hoje na Europa, a Operação Bodyguard, ocorrida meses
antes, caiu no esquecimento. A fim de desviar a atenção de Adolf Hitler, os
aliados posicionaram o Primeiro Grupo de Exércitos dos Estados Unidos tanques,
caminhões e embarcações em Kent e em Sussex, Inglaterra, para que os alemães
cressem que o segundo desembarque ocorreria em Calais, e eles creram. O que
Hitler não sabia era que o Primeiro Grupo de Exércitos dos Estados Unidos não
passava de objetos bélicos inflados de ar. Se esse fato tivesse acontecido
antes de 1924, o Führer teria escrito em Mein
Kampf que caiu no engano do tenente-general
George Patton.
No Brasil, poucas não foram as
guerras da representação. Em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas dá o golpe
do Estado Novo, deixando no país marcas profundas de autoritarismo. Um fato que
determina a ruptura com a Constituição de 1934 passa por Olímpio Mourão Filho,
capitão do Exército e diretor do serviço secreto da Ação Integralista
Brasileira, cuja mão escreve o Plano Cohen, vindo a público em 30 de setembro,
41 dias antes do golpe de 1937.
Ao
ser emitido pelo general Góis Monteiro, chefe do Estado-Maior do Exército, no
programa oficial da rádio Hora do Brasil (atualmente Voz do Brasil), a
população acredita que comunistas internacionais e brasileiros se preparam para
derrubar Getúlio e tomar o poder. Dessa forma, dissemina-se a “notícia
verdadeira” de que existe uma ameaça vermelha, “verdade” para criar um ambiente
passional que legitimasse o golpe.
No
dia seguinte, a imprensa escrita publica o documento, “assinado” pelo líder
comunista Bela Kuhn - governante da Hungria entre março e julho de 1919 - e com
uma lista negra de políticos brasileiros. Em 1º de outubro, Getúlio Vargas
solicita ao Congresso Nacional a decretação do Estado de Guerra. Semanas
depois, no Rio de Janeiro, o Exército cerca o Congresso Nacional. Outorga-se a
nova Constituição.
Nas
páginas de Xambioá, Pedro Corrêa
Cabral - na época, capitão-aviador e piloto de helicóptero - registra o que
ocorreu na guerrilha do Araguaia a partir de abril de 1973, quando começa a
segunda investida. Bem diferente da primeira, a segunda, chamada Operação
Sucuri, veste os militares como civis: a guerra agora é a da representação. Um
“civil” chegou a vender munição aos guerrilheiros. De abril a outubro de 1973,
os civis mapearam a guerrilha, nomes foram catalogados. Embora Xambioá não seja
o principado não hereditário de César Bórgia, Maquiavel “esteve” no Araguaia,
onde mostrou, após 441 anos, que guerra da representação é guerra de enganos.
Quem
foi motorista de Luís Carlos Prestes e de Olga Benário? Se Marighella fosse
vivo na época do Estado Novo, teria dito ao casal comunista: “camaradas, leiam
o que escrevi no Minimanual do
Guerrilheiro Urbano, onde chamo a atenção para a Segurança da Guerrilha”.
Segundo Marighella, o pior inimigo da guerrilha e o maior perigo que ele corria
era a infiltração na organização de um espião, de um informante. Pois bem, quem
guiava o carro de Prestes e de Olga, ela: agente dupla. A resposta a esse pior
inimigo da guerrilha, Marighella escreve que “a maneira fundamental para
assegurarmos a segurança da guerrilha é de ser rigoroso e cauteloso no
recrutamento”. Ainda que os dois comunistas lessem a certeza do guerrilheiro, o
rosto da espiã ou a sua representação teria sido, ainda sim, engano. Marighella foi traído por
“amigos” dominicanos.
2. GUERRA, TUA PRINCIPAL ARMA SE
CHAMA ENGANO
Embora Heráclito de Éfeso tenha
pensado como guerra a relação entre physis
e logos, foi Platão o primeiro
filósofo a pensar a guerra como conflito político ao ter escrito A República ainda que tal imagem da
guerra tenha ficado mais nítida em As
Leis. Platão divide a guerra em duas, a interna e a externa, sendo que,
nesta, ela é representada pelo guerreiro;
e, naquela, o guardião a representa.
Como nos interessa a guerra da representação, o filósofo a pensou como mentira nobre, cujo “confronto” ocorre
no espaço interno da pólis.
Uma
das funções do guardião é educar a criança para que seja apta a ser o futuro
guardião da cidade e, com efeito, preservar a ordem natural ou a ordem divina.
Para tanto, o guardião educa a tenra idade por meio da arte (tekhné) da representação ou a arte do
Ser.
Ainda que a primeira
cópia olhe para o Modelo, Platão sabe: a representação é mentira nobre. Mentir, sabemos, diz o que não-é e não diz o que é;
mentir, portanto, não-é o que é e é o que não-é. O rosto do mentiroso,
portanto, está Entre.a intenção, que é dentro, e o fora. Se cabe à mentira esse
sentido, por que nobre? Ela é mentira
nobre porque nobre relaciona-se ao real, ou seja, a cópia mais próxima do
Modelo e, por ser a mais semelhante, por ser a menos falha, é a cópia com menos
falta, menos vaga. Só o Modelo é ab-soluto, só ele é íntegro, só ele é ser
enquanto ser. A cópia, contudo, é e não-é; mostra-se e se contém. A
representação, uma falha; mas, por causa da condição de mentira nobre, a
natureza do que é nobre busca contrair a falta, a falha ou o Entre.
Nietzsche lavra a ideia de que nobre, de origem política, transformou-se em conceito psicológico a
separar, segundo a natureza de cada um, os aptos dos não aptos. E onde são
separados? Os nobres dos não nobres separam-se no campo de batalha, onde a
guerra seleciona os melhores guerreiros, e os melhores não falham porque o
nobre não pode querer o bom ou o bem sem saber guerrear. Na guerra, para ser o
vitorioso, não pode haver falhas.
A representação (ou mentira nobre) é, por ser mentira, uma
falha; mas, por ser nobre, a falha não se (ex)põe pela razão de a mentira nobre
dizer a “verdade”. Assim, porque nobre, estreita-se o Entre a fim de que a cópia
seja vista como a mais próxima do Ser. Nobre, portanto, origina-se do que é
guerreiro, ou seja, do que é autodomínio (enkrateia). A luta da nobreza é a
luta contra o erro. Não por outra razão que ser nobre é ser aristos, “o melhor, o exímio, o
magnífico”, entendendo que seu movimento, para muito além dos comuns, é o
excedente que o grau de sua natureza mereceu receber do que é divino.
O Príncipe,
de Maquiavel, como obra política, é o poder do rosto, poder da mentira nobre. “O rosto é o ser
irreparavelmente exposto do homem e, ao mesmo tempo, o seu permanecer oculto
precisamente nessa abertura” (AGAMBEN, 2015, p. 87); a abertura da mentira
nobre, entretanto, limita-se a seguir o Modelo, e o rosto de César Bórgia (1475-1507), príncipe, cardeal e filho do papa
Alexandre VI, é o exemplo maior, para o autor de O Príncipe, de poder da representação.
A mentira nobre encontra-se na Carta de Pero Vaz de Caminha, onde se
escreve que “são muito mais nossos amigos que nós seus” (2004, p. 72,
quinta-feira, 30 de abril, f. 11 v./). Mais: as páginas de Xambioá, escritas por Pedro Correa Cabral, ampliam o que o poder da
representação elaborou contra a guerrilha do Araguaia, que, guardadas as
proporções, a representação realizou os mesmos fundamentos no rosto da camarada
Helena Kruger, motorista de Prestes e de Olga; mas, na verdade, espiã que
recebia dinheiro do serviço secreto britânico por meio dos Estados Unidos. No Minimanual do guerrilheiro urbana,
Marighella destaca que “o pior inimigo da guerrilha e o maior perigo que
corremos é a infiltração em nossa organização de um espião ou um informante”
(Segurança da Guerrilha). Ora, o significado de infiltração nos remete a um movimento sutil a penetrar nos
interstícios, isto é, a ação de infiltrar é de passar por Entre, o que a
representação faz muito bem por ela ser mentira nobre.
3. PLATÃO E A NÃO REPRESENTAÇÃO OU
MENTIRA FALSA
Embora Nietzsche tenha invertido o platonismo mais de 20
séculos depois, somente com as páginas de Prefácio
a Platão, de 1963, que Eric Havelock descobre o que permaneceu até então
visível-oculto no Livro V de A República
(477a, p. 258), onde Platão pergunta: “mas se houver uma coisa que seja de tal
maneira, que existe e não existe, não ficaria em posição intermediária entre o
Ser absoluto e o Não-ser absoluto?”. Ainda que seja tímido o olhar de Havelock,
Platão, após séculos sobre séculos fixado como filósofo do mundo
suprassensível, revela-se também como quem pensa o Entre, o qual, não sendo uma
coisa nem outra, é “objeto errante no espaço intermediário” (479e, p. 264). O
objeto errante encontra-se como fuga nas linhas de O Sofista, e se chama o falso.
Em Timeu (2012, p.
77), o filósofo grego nos apresenta a imagem clara do vago ou do Entre: chama-se água vindo a ser pedras e a ser terra
mediante a condensação; e novamente se percebe essa mesma coisa vir a ser sopro do vento e do ar por dissolução e por
dilatação; além disso, percebe-se o ar vindo a ser fogo por meio da combustão;
e, inversamente, o fogo voltando à forma de ar ao ser contraído e ao ser
arrefecido; e, mais uma vez, o ar convertendo-se em nuvem e em névoa por
combinação e por condensação; e, resultando disso, sob o efeito de maior
compressão, em água corrente; e, da água, novamente, terra e pedras.
“Essa mesma coisa vir
a ser”, a que Platão se refere, flui entre os quatro elementos, que transferem
entre si o seu vir a ser num círculo
ininterrupto, não podendo sequer, com efeito, permanecer idêntico em sua
aparência. O filósofo chama essa coisa de semelhante
a;
e, por estar próximo a, a coisa
(es)capa a qualquer conceito que a estabilize. “Desse modo, não devemos chamar os diversos elementos de ‘issos’,
mas com relação a cada um deles e todos no seu conjunto cabe empregar o termo semelhante a fim de representar o que se
mantém circulando” (PLATÃO, 2012, p. 78). Logo a seguir, Platão observa: “mas
aquilo ‘em que’ cada um deles aparece individualmente para manter o vir a ser e
‘do que’ sucessivamente cessam de ser é a única coisa que para descrever
lançamos mãos das expressões isso e aquilo” (2012, p. 78). Pergunta-se: o que é aquilo onde cada um dos elementos aparece individualmente para
manter o vir a ser[3] ? e o que é isso de que cada um dos elementos deixa de ser? Aquilo ou isso são
os únicos termos de que se pode fazer uso, dado que, sempre mudando enquanto se
menciona, não se pode chamar de ser.
Em A República, Platão o chama de
“objeto errante no espaço intermediário” (479d, p. 264). Em Filebo, diz Sócrates a Protarco “que
qualquer mistura, não importa como constituída, a que falte naturalmente medida
e proporção, destrói necessariamente seus componentes e, sobretudo, a si mesma”
(64d-e). Platão, porque ignora a coisa cuja mudança ocorre continuamente de um
estado para outro, afirma que essa coisa não pode ser descrita como isso (água) ou como aquilo (pedras), mas como semelhante
a (ou o que chega perto de), o
que significa dizer que, uma vez semelhante
a por causa da imagem do círculo
ininterrupto dos quatro elementos de physis,
captura-se o objeto errante à medida que é representação,
havendo, portanto, algum grau de segurança por nomear a coisa semelhante a.
Logo após ter escrito semelhante,
Platão observa que “é necessário, porém, nos esforçarmos para reexplicar esse
tópico ainda mais claramente” (2012, p. 78) ainda que seja, mesmo assim,
impreciso representar o que, ao ser mencionado, transforma-se, esquiva-se.
Es-capa. Matriz de todo vir a ser, mas de um vir a ser sem representação, o
objeto errante do espaçamento tem “a significação do discurso provável” (2012,
p. 76), posto que, não havendo determinação ou teleologia, o terceiro gênero, vago de toda representação porque está entre o ser e o não-ser, gera no espaço
indeterminado uma imagem como não inerente a essa imagem porquanto ela “sempre
se move rapidamente como um fantasma de uma outra coisa” (2012, p. 83).
4. MENTIRA FALSA
Em
A República (Livros II e III),
diferente do guerreiro, cuja guerra externa da pólis ergue-se contra o inimigo, o guardião desloca-se na guerra
interna da cidade contra o amigo. Mas por que, contra o amigo, a
guerra? Porque a representação não é confiável. A dialética platônica, porém,
não forma síntese em O Sofista e, não
havendo representação, visto que Platão afirma a multiplicidade ou fuga sobre
fuga, o filósofo a chama de mentira falsa;
esta, por sua vez, aproxima-se da dialética serial de Proudhon pela razão de
não haver síntese, mas também se afasta porque a dialética serial não
ultrapassa o conceito de representação.
Sendo a mentira a
evidência de um Entre, sua condição
de falsa expande o Entre, permitindo que seja brotada uma força plástica, e tal
plasticidade cria-se no desprendimento da coisa em si: o que é não-é e o que
não-é é, em outros termos, o entrelaçamento
entre dessemelhantes proporciona a
potência do falso, cuja origem emerge no instante da mistura assimétrica,
sua própria etimologia confirma. De origem grega, plástico nos oferta uma extensa malha semântica: platô é plató, criar; platós
significa “largura”; platis, “largo,
vasto, amplo”; platia é “plateia”, e plateia, “largo”; plani é “erro, engano”; planis,
“vagabundo, errante”; plastós é
“falso”. Assim, por causa de seu significante tão expansivo, o falso é passagem, no sentido de que nos leva da condição natural de ser
sempre o mesmo à liberdade expressiva de criar o Outro do mundo. Não pertence à
ordem da natureza o falso, pois,
sendo passagem entre o natural e o
não natural, o falso é engano, sabendo que engano significa abertura,
passagem, permitindo entrar em fuga o
que não é o mesmo do mundo. E não só isso: enganar, passagem subterrânea a
possibilitar encontros entre contrários, desestabilizando a representação ou a
mentira nobre.
Qual o sentido de ser falsa
a mentira? Por causa de sua
plasticidade, que é a repetição do mesmo da diferença ou da criação sobre
criação, a mentira, quando falsa, se vê tão mais como o Entre,
espaço intermediário onde o falso é o excedente que a natureza, por estar na
ordem do necessário, não pode nos ofertar. Se mentir é o que não-é e não-é o
que é, mentir é Entre: quando falsa,
a mentira adere à plasticidade da máscara; e, quando nobre, à ambiguidade do rosto. Eis,
portanto, o sentido: o falso dilata, ainda mais, a fenda, o Entre ou ainda ele:
o erro.
5. PROUDHON E A DIALÉTICA
A dialética platônica é síntese que
forma a imagem da mentira nobre (representação), mas também é sem síntese
enquanto mentira falsa (sem representação), por isso não forma imagem. Segundo
Célestin Bouglé em A Sociologia de
Proudhon, o anarquista francês leu a obra Timeu, de Platão; entretanto, ainda que Pierre-Joseph Proudhon a
tenha lido, sua dialética serial, que foge à síntese, ainda se prende à
representação. Para ser explicada, precisa-se entender a relação entre unidade e série. Nos estudos de teoria do conhecimento (ou de epistemologia,
ou de ciência da natureza), pode ser lida tal teoria em De la création de l’ordre dans l’humanité, onde Proudhon (Capítulo
I, Definições) apresenta seus axiomas: o primeiro, o conceito de ordem. Segundo o pensador anarquista, a
“ordem não é real, mas apenas formal; é a ideia inscrita na substância” (subdivisão 7). Ora, se a ordem é a ideia inscrita
na substância, é porque a ideia não pode se inscrever no movimento, ou seja, é porque a ideia não pode ser inscrita Entre a ordem e a desordem, por isso a
ideia só pode ser inscrita na substância, quer dizer, só pode se inscrever no
fixo, no imóvel, podendo o homem, dessa “forma”, chamar de “ordem qualquer
disposição serial ou simétrica” (subdivisão
1).
.
Outra
manifestação da ordem, a relação. Como
a ordem não deixa de ser um corte no movimento, a substância é o limite da
série. Para Proudhon, porém, os seres permanecem impenetráveis em substância
para nós, sendo só possível percebermos relações
ou leis. Proudhon altera o
sentido clássico de substância, que,
para ele, é matéria, do grego hýle (madeira), o que adquire várias
formas. Assim, esse sentido marca a ideia de substância indeterminada comum aos
corpos. Substância é, portanto, movimento.
Vale ressaltar que o anarquista francês se antecipa a Henri Bergson.
Escrito
isso, a série não é unidade, a noção de série são duas: 1) a de uma composição
de elementos inter-relacionados a um fenômeno; e 2) a de uma compreensão dessa
composição de uma maneira que seja deliberadamente esquematizada, simetrizada.
Com isso, porquanto elementos inter-relacionados a um fenômeno, diferentes
séries podem ser geradas. A série é, portanto, o máximo que se concebe de multiplicidade, sendo que a menor série
possível é uma série de dois elementos ou composição de dois elementos, posto
que a série não pode ser uma unidade. A menor série possível é a dialética
serial; e, com efeito, as relações entre dois polos (tese e antítese) são na
verdade fluxo de transformação que segue seu curso de um polo a outro, é como
se o primeiro se transformasse no segundo. Não se captura esse fluxo de
transformações, operado na passagem de um polo ao outro, mas se capturam polos
(tese e antítese) como se fossem momentos isolados do fluxo, é o que a
dialética científica faz. Tal captura, porém, conduz ao ab-soluto, ao real ou à
coisa em si mesma, quer dizer, nega-se toda relação.
No
livro De la création de l’ordre dans
l’humanité (Capítulo III, A Metafísica, subdivisão
172), seu autor escreve que “a natureza, combinando
os elementos e os átomos, começa com a série mais simples e aumenta
gradualmente até o mais complexo: porém, tão pequena e tão estreita, que essa
graduação ainda é abismo que as separa, não há continuidade”.
Do
grego phýsis, natureza é “movimento”,
e esse movimento, fluxo de transformações, não pode ser capturado porque a
dialética serial é passagem,
concepção profundamente plural, múltipla, sem síntese, bem oposta à dialética
hegeliana, herdada por Karl Marx. Ora, havendo nesta sempre a (sín)tese, isto
é, havendo sempre a mistura como
consequência da relação entre tese e antítese, é porque, em determinado
instante, não há “abismo” entre os opostos. No entanto, na dialética serial,
como existe sempre o abismo, ou o vago,
ou o Entre, ou a fissura, uma falta mantém distante a tese da
antítese. Ao invés de síntese, o que existe na dialética serial é sempre
movimento sem síntese.
Quanto
à unidade, o que torna falsa uma teoria é sua fixidez, e esta participa da
constituição da ideia de unidade.
Falso, portanto, a unidade, cujo princípio de identidade, A = A, nega o
movimento. Para Proudhon, o princípio de identidade é falso porque, como não se transforma, não pode transformar.
Entretanto, mesmo para a dialética serial, o princípio de identidade é útil, e
Proudhon deixa essa evidência em De
la création de l’ordre dans l’humanité (subdivisão
269), onde escreve que “a série dialética se forma, portanto, em virtude de uma
relação de identidade (...)”.
.
Como
a série possível é uma série de dois elementos ou composição de dois
elementos, o pensador francês escreve em De la création (subdivisão
172) que “o estado molecular dos corpos é outra prova de não-continuidade: o
ouro, o mais denso metal, tem mais vazio que plenitude, pois suas moléculas não
se tocam”. Aqui, surge o conceito de vazio entre moléculas, havendo o que
Proudhon chama de “tensão elástica”. Em Timeu
(2012, p. 103), diferente dos quatro elementos, Platão pensa uma base muito
sólida, qual seja, o ouro, que, sem vazio, trata-se de uma forma inelástica por
ser muito densa e por possuir máxima rigidez. Concentrado sobre si mesmo ou
assegurada a identidade de si, o ouro não tem vazio.
6. O ENTRE ENQUANTO LUTA POLÍTICA
Como
sabemos, é o princípio de identidade que forma a ideia de representação, a que
Platão se refere como mentira nobre.
Por ser um tipo de fuga marcada pela ambiguidade,
a mentira nobre se move entre o ser que não-é e o não-ser que é. O filósofo
grego não a chama de falsa, porque
falso para ele é a consequência de uma dialética que vê seu objeto sempre
errante, quer dizer, o objeto sempre em fuga sobre fuga ou deixa entrar em fuga
a pluralidade, a multiplicidade, as variações, as diferentes combinações; é o
que, não podendo ser fixado, foge à representação. Assim, se por um lado
Platão, como podemos ler em O Sofista,
chama a disseminação do múltiplo sobre o múltiplo de falso, Proudhon chama de
falso a unidade. Quanto ao conceito
de falso, portanto, os dois se afastam. No entanto, quanto ao conceito de
Entre, ambos se avizinham, conceito que suspende o ab-soluto, só que Platão
abre uma zona livre e vazia, onde a vida é
abandonada em uma zona de exceção, mas Proudhon não viu no Entre, ou na fissura, ou no espaçamento, ou no vazio,
o falso, mantendo-se no campo da
representação.
Voltemos
à dialética serial. Por causa da variação da série, existe também em Proudhon a
compreensão da dialética sistêmica ou dialética com síntese; porém, no tocante
à dialética sem síntese ou serial, existe a noção de que a oposição dialética,
tese e antítese, tende ao neutro ou
ao Entre. Vejamos: se de A emerge a oposição B, não é preciso que A desapareça
para que de B emerja a oposição C: A permanece oferendo resistência a B e é
possível que ocorra um equilíbrio instável ou uma constante flutuação entre A e B, ao mesmo tempo em que C vai
emergindo de B, e este passa a resistir a B, ao mesmo tempo em que enfrenta a
resistência de A. Entretanto,
segundo João Ribeiro de Almeida Borba, autor de Relativismo e ceticismo na dialética serial de Proudhon, tese de doutorado pela Pontífice
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP),
“tais equilíbrios (ou oposições) não
ocorrem sempre e necessariamente, porque pode não haver suficientes
resistências do polo anterior para caracterizá-los, e assim um elo da cadeia
pode se romper; nem tampouco há qualquer garantia de que esses elos de oposição
e equilíbrio instável perdurem para sempre quando se firmam”. Mas alguns são
mais fundamentais e duráveis que outros, por sua vez mais superficiais e
circunstanciais, de dissolução mais fácil – e é importante detectar quando se
trata de um caso ou de outro” (p. 246, subdivisão 342).
Se,
por meio da metafísica proudhoniana, podemos afirmar, de uma certa forma, que
ela é ontologia do vago, esse vago no campo político chama-se educação, conceito importantíssimo para
o anarquista francês. Pergunta-se:
não seria a escola espaço Entre o capital e o trabalho? Se é Entre, seu poder
simbólico pertence ao neutro. Diz
Roland Barthes em seu livro O Neutro:
“pode-se dizer que o neutro é suspensão da violência, mas enquanto desejo, o
neutro é violento” (2003, p. 30). Mais: no belo livro Da Clausura do Fora ao Fora da Clausura, Peter Pál Pelbart
completa: “trata-se do desejo de neutralizar tudo aquilo que me solicita sob o
modo da coação, seja ela suave, hostil ou tirânica” (2009, p. 82). Em
1848, Proudhon publica - resposta a quatro insurretos armados que pedem
explicações sobre suas ideias - Solução
do Problema Social, em que deixa muito óbvio seu pensamento em relação à
guerra interna da pólis francesa: não
violência armada, e sim a criação do Banco de Troca (no ano seguinte, Banco do
Povo), onde elabora a teoria de crédito à taxa zero. “Um gênio sintético e
reconciliador. Adora as atitudes intermediárias. Assume de bom grado a posição
equidistante das doutrinas extremas”, observa Bouglé em A Sociologia de Proudhon (2015, p. 38). Sem fixar o conceito de
Banco na ponta extrema do capital, o anarquista francês o situa Entre o capital
e o trabalho, ou seja, Proudhon neutraliza o símbolo do capitalismo por tê-lo
posto ou na condição de Neutro, ou na condição de Entre, ou na condição de
mentira nobre. Por causa disso, em outras palavras, por causa do Entre - e
Célestin Bouglé deixa claro e repete em suas páginas que Pierre-Joseph Proudhon
movimenta-se no Entre -, esse anarquista possibilitou um devir.
Em
1867, pouco mais de dois anos após a morte de Proudhon, nasce Fernand
Pelloutier, herdeiro da dialética serial, visto que, por meio de sua ideia das
Bolsas de Trabalho, sua luta política transita entre o capital e o trabalho
quando proporciona aos operários franceses acesso a bibliotecas, a teatros, a
livros, a artes. As Bolsas de Trabalho se opunham ao que surgiu, em Chicago,
Estados Unidos, em 1892, a Propaganda pelo Feito ou atos de violência, marcada
na história, por causa de Ravachol, por ações diretas com bombas. Se o
anarquista Errico Malatesta aderiu a essa propaganda, ele mesmo chega à
conclusão mais tarde de que a violência revolucionária levaria a lugar nenhum.
Pelloutier é esse anarquista que aproxima os trabalhadores de uma luta cujas
armas são livros, artes; luta em prédios onde existem escolas
profissionalizantes, debates, conferências, espetáculos.
.
Vivendo
em uma pequena casa num subúrbio de Besançon, Entre a cidade e o campo, ele foi
patrão, operário, tipógrafo, jornalista, filósofo, sociólogo, economista,
enfim, sua profissão Proudhon é Entre profissões, Entre que Karl Marx não
compreendeu. Em 1849, Karl Marx acusou, com violência, Proudhon de ser um
campônio pequeno-burguês, irremediavelmente incapaz de compreender a noção
dialética da superação (Aufhebung),
que é a essência da negação da negação hegeliana, e, como consequência,
Proudhon irá, segundo Marx, eternizar-se na oposição intransponível da tese e
da antítese, em virtude de ter suas raízes franco-sociais mergulhadas na classe
média. O autor de A Ideologia Alemã interpreta
a dialética De la création de l’ordre
dans l’humanité como consequência de sua incapacidade pequeno-burguesa de
escolher entre o economismo da
burguesia e o comunismo do
proletário. Enquanto Karl Marx diminui o pensamento de Proudhon por este não
ocupar um dos extremos, a dialética proudhoniana, sem síntese, é movimento que
acontece Entre. Ainda Marx: “a natureza de Proudhon leva-o à dialética; porém,
jamais tendo entendido a dialética científica, não alçava senão o sofisma”
(MENEZES, 1966, p. 36). Com essas
palavras, o pensador alemão, sem saber, talvez, possibilitou o encontro entre
Platão e Proudhon nas páginas de O
Sofista. Marx estava certo: o anarquista francês é um sofista pelo motivo
de sua dialética conduzi-lo ao que está Entre a tese e a antítese, ainda que
com diferentes nuanças da dialética platônica, porque, enquanto Platão chamou
de falso a multiplicidade sofista,
que se movimenta no vago, Proudhon chamou de falso a unidade pela razão de ela
(se) fixar a partir da negação do movimento, reduzindo todas as diferenças à
unidade, o que não corresponde à natureza ou à vida, pois tudo é relação. .
Ao
ter dito que Proudhon é incapaz de escolher entre o economismo da burguesia e o comunismo
do proletário (MENEZES, 1966, p. 36), Marx tende a um dos extremos da luta
política; e Proudhon, ao Entre. Em
1848, aos 39 anos, Proudhon, segundo Célestin Bouglé, “assume deliberadamente a
defesa dos operários insurretos. Mas, no fundo, o escândalo insurrecional
repugna-lhe” (BOUGLÉ, 2015, p. 114), pois seu anarquismo não é o do confronto
direto. “Essas mobilizações do povo em armas nas ruas não lhe dizem nada que
valha” (2015, p. 114).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quem afirma que a
guerra é só confronto corpo a corpo ou violência bruta e direta, Platão nos
diz, há mais de dois mil anos, que a guerra da representação é a guerra das
guerras, pois sua natureza, não se reduzindo ao orgânico como instrumento de
violência, amplia-se como jogo estético do engano. A representação, por ser o
real, é a duplicidade do rosto, muito bem pensada por Giorgio Agamben em Meios sem fim: “o meu rosto é o meu fora: ponto de indiferença em relação a
todas as minhas propriedades, em relação àquilo que é próprio e àquilo que é
exterior” (2015, p. 94).
Indiferente, isto é, nem bom nem mau, o rosto é Entre.
Representado por César Bórgia - rosto preferido de Maquiavel -, podemos afirmar
que o poder é Neutro porquanto a sua natureza é a da representação. Mais: como
escreve Pál Pelbart, “o Fora será sempre um Entre” (2009, p. 107), e tanto o
Fora quanto o Entre são o Neutro, “um estado intensivo cujo poder de
microcorrosão é capaz de desmanchar cristalizações capturantes, liberando o
movimento para fora dos circuitos existentes” (2009, 82).
Na guerra da mentira nobre ou do Neutro, Proudhon usa o
símbolo maior do capitalismo em 1848, o Banco; e, como toda representação, o
Banco de Troca engana, porém engana o crédito capitalista. Ao ter pensado a
dialética serial, Proudhon encontra o Entre, que, não havendo síntese,
assemelha-se à mentira falsa de Platão, porque esta também não tem síntese, mas
a dialética proudhoniana não foge à representação, movimentando-se, portanto,
em direção à mentira nobre, posto que esta permanece na representação.
REFERÊNCIAS
AGAMBEN, Giorgio. Meios sem fim. Traduzido por Davi Pessoa
Carneiro. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
BARTHES,
Roland. O neutro. Traduzido por Ivone
Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BOUGLÉ,
Célestin. A sociologia de Proudhon.
Traduzido por Plínio Augusto Coêlho. São Paulo: Intermezzo; Edusp, 2015.
CABRAL,
Pedro Corrêa. Xambioá, guerrilha no
Araguaia. São Paulo: Record, 1993.
DELEUZE,
Gilles; GUATTARI, Felix. Kafka, para uma literatura menor. Lisboa:
Assírio & Alvim, 2003.
ERIC,
Havelock. Prefácio a Platão.
Traduzido por Enid Abreu Dobránzsky. Campinas: Papirus, 1996.
MENEZES,
Djacir. Proudhon, Hegel e a dialética. Rio de Janeiro:
Zahar, 1966.
MAQUIAVEL.
O príncipe. Traduzido por Diogo Pires
Aurélio. São Paulo: 34, 2017.
NIETZSCHE,
Friedrich. A genealogia da moral. São
Paulo: Moraes, 1991.
PELBART,
Peter Pál. Da clausura do fora ao fora da
clausura: loucura e desrazão. São Paulo: Iluminuras, 2009.
PLATÃO.
As leis. Traduzido por Edson Bini.
São Paulo: Edipro, 2010.
____.
A república. 6.ed. Traduzido por
Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1990.
____.
O sofista. Traduzido por Henrique
Murachco, por Juvino Maia Jr. e por José Trindade Santos. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 2011.
____.
Timeu. Traduzido por Edson Bini. São
Paulo: Edipro, 2012.
PROUDHON,
Pierre-Joseph. De la création de l’ordre
dans l’humanité ou principles d’organization politique. 2ª. ed. Paris:
Garnier, 1849.
____.
A solução do problema social.
Traduzido por Plínio Augusto Coêlho. São Paulo: Intermezzo; Edusp, 2015.