De Aldo Nascimento
Na última terça-feira, dia 24, publiquei neste jornal o artigo “Acreano, uma mentira morfológica", onde, de forma muito detalhada, expliquei o porquê de escrever acriano. Sobre isso, uma pessoa disse-me: “Tanta pobreza neste Estado e pessoas perdem tempo com algo que já foi decretado pelo presidente da República”, criticou. “Isso é insignificante.”
Concordo, é insignificante, não será por causa de um fonema (unidade mínina não significativa) que a memória e a identidade de uma gente se perderão. Todavia, por outro lado, entre o “e” e o “i” oculta-se uma palavra que deveria nos ensinar: escola. Saber escrever depende, primeiro, dela.
Quando políticos defendem “acreano” em um blogue - sim, aportuguesei - da Assembleia Legislativa do Acre, eles menosprezam o ensino de Língua Portuguesa na escola. Um professor, caso tenha boa formação acadêmica, lecionará a morfologia correta, qual seja: acriano. Mais: afirmará que Francisco Mangabeira, por desconhecimento, quando registrou acreano no belo hino, cometeu um erro morfológico. Não cabe à Assembleia Legislativa, portanto, ser escola.
Assim como um bom professor de História não admite diante de alunos que houve revolução acreana, um bom professor de Língua Portuguesa não pode ensinar a seus pupilos que “acreano” representa o vernáculo. “Acreano” foi um desvio morfológico cometido pela ignorância, verdade mantida pelos usuários, ou seja, verdade fora da palavra.
A língua, entretanto, eu seu, vive de seu próprio erro. Se a comunidade registrou “gols” ao longo do tempo, quem se atreve a escrever “goles” ou “gois” em uma matéria esportiva? A própria preposição surgiu do latim impuro, vulgar, ou seja, surgiu do erro. Regências verbais não são fixas, digo, são vivas e, por causa disso, transformam-se no tempo. Se dizemos obedecer ao pai, podemos dizer também obedecer o pai; mas, dependendo do lugar, falamos obedecer ao pai e não obedecer o pai.
Como desvio, erro morfológico, “acreano” existe; porém, por não representar o vernáculo, não deveria estar no hino ou em documentos do Estado, porque essa forma se opõe ao saber escolar, à língua padrão, à gramática normativa. Sou favorável a “acreano” desde que permaneça à margem de registros institucionais, de registros oficiais.
Agora, se deputados desejam escrever “acreano” mesmo com o Acordo Ortográfico, escrevam, mas deixe a escola fora disso, porque não é na Assembleia Legislativa que se aprende a escrever.
Na última terça-feira, dia 24, publiquei neste jornal o artigo “Acreano, uma mentira morfológica", onde, de forma muito detalhada, expliquei o porquê de escrever acriano. Sobre isso, uma pessoa disse-me: “Tanta pobreza neste Estado e pessoas perdem tempo com algo que já foi decretado pelo presidente da República”, criticou. “Isso é insignificante.”
Concordo, é insignificante, não será por causa de um fonema (unidade mínina não significativa) que a memória e a identidade de uma gente se perderão. Todavia, por outro lado, entre o “e” e o “i” oculta-se uma palavra que deveria nos ensinar: escola. Saber escrever depende, primeiro, dela.
Quando políticos defendem “acreano” em um blogue - sim, aportuguesei - da Assembleia Legislativa do Acre, eles menosprezam o ensino de Língua Portuguesa na escola. Um professor, caso tenha boa formação acadêmica, lecionará a morfologia correta, qual seja: acriano. Mais: afirmará que Francisco Mangabeira, por desconhecimento, quando registrou acreano no belo hino, cometeu um erro morfológico. Não cabe à Assembleia Legislativa, portanto, ser escola.
Assim como um bom professor de História não admite diante de alunos que houve revolução acreana, um bom professor de Língua Portuguesa não pode ensinar a seus pupilos que “acreano” representa o vernáculo. “Acreano” foi um desvio morfológico cometido pela ignorância, verdade mantida pelos usuários, ou seja, verdade fora da palavra.
A língua, entretanto, eu seu, vive de seu próprio erro. Se a comunidade registrou “gols” ao longo do tempo, quem se atreve a escrever “goles” ou “gois” em uma matéria esportiva? A própria preposição surgiu do latim impuro, vulgar, ou seja, surgiu do erro. Regências verbais não são fixas, digo, são vivas e, por causa disso, transformam-se no tempo. Se dizemos obedecer ao pai, podemos dizer também obedecer o pai; mas, dependendo do lugar, falamos obedecer ao pai e não obedecer o pai.
Como desvio, erro morfológico, “acreano” existe; porém, por não representar o vernáculo, não deveria estar no hino ou em documentos do Estado, porque essa forma se opõe ao saber escolar, à língua padrão, à gramática normativa. Sou favorável a “acreano” desde que permaneça à margem de registros institucionais, de registros oficiais.
Agora, se deputados desejam escrever “acreano” mesmo com o Acordo Ortográfico, escrevam, mas deixe a escola fora disso, porque não é na Assembleia Legislativa que se aprende a escrever.