"Amontoamento populaceiro. Ali tudo está misturado: o santo e o bandido, o fidalgo e o judeu e todos os animais da arca de Noé", de Nietzsche,
Assim falou Zaratustra.
Hoje, protestantes marcharam para Jesus em um dia lindo de Santo Antônio e dois dias após a procissão de Corpus Christi, festa da Igreja Católica. Das fotos de Debora Mangrich, escolhi esta por dois motivos: espaço e posição dos fiéis.
Eles terminaram a marcha para Jesus onde se erguem o Palácio Rio Branco, símbolo do Poder Executivo, e o prédio do Poder Legislativo. Por que religiosos terminaram uma marcha diante desses dois poderes e não diante de uma igreja?
Até onde eu sei, Jesus nos acolhe na igreja; pastores, porém, oram na Assembleia Legislativa do Acre e em câmaras de vereadores. São pastores-políticos e são políticos-pastores. Jesus, que é do PT, do PSB, do PMDB, do DEM etc, em verdade, deixou os limites da igreja para fazer política partidária.
E, nessa política, não há Jesus que promova a união, o entendimento. A pastora Antônia Lúcia, exemplo clássico desses desunidos interesses partidários, hostilizou, em nome do Senhor, a senadora Marina Silva, também protestante.
Mais do que multidão, o rebanho marchou não como ovelhas fiéis, mas como fiéis-eleitoras ou eleitoras-fiéis com intenções claras de que seus pastores ocupem cadeiras dos Poderes Executivo e Legislativo. A igreja é pouca para eles, por isso terminaram a marcha entre o executar e o legislar.
Jesus, refém dessa gelatina bíblica, deposita sua fé no Poder Legislativo para criar leis, por exemplo, contra homossexuais, esses "anormais sujos" que merecem ser castigados pela ira do Senhor, que é deles. "O sangue de Jesus tem Poder" Legislativo.
Se no passado o pastor Moisés buscava a terra prometida para fugir da opressão egípcia, nossos pastores buscam o dinheiro público das assembleias e das câmaras para semear a justica divina contra os impuros.
Quem conhece um pouco a comunhão entre ex-governador Garotinho e igrejas protestantes sabe muito bem como o dinheiro público era usado por "Deus".
Prefiro terminar este texto com falas dele entre aspas: Nietzsche.
Quando olhei o rebanho, eu disse... "encontrei mais perigos entre os homens do que entre os animais", por isso o meu "criador não procura cadáveres, procura colaboradores que inscrevam valores novos ou tábuas novas".
"Não devo ser pastor nem coveiro." "A revolta é a nobreza do escravo", mas o rebanho, por não ser nem escravo, nunca se revolta. Aqueles pastores, reparai, "vede, pois, esses adquirem riquezas, e fazem-se mais pobres. Querem o poder, esses ineptos, e primeiro de tudo o palanquim do poder: muito dinheiro!".
Assim, quando virei as costas para o rebanho com seus pastores, "o diabo disse-me assim um dia: 'Deus também tem o seu próprio inferno: é amar aos homens."
E eu disse a um pastor. Eu sei que o senhor, pastor, ama seu rebanho, mas eu digo mais, ame-o como as mães amam seus filhos - "quando se ouviu dizer que uma mãe quisesse ser paga do seu amor?".
"Você diz isso porque ignora o que seja a Igreja", disse-me. Desliguei a TV quando outro pastor pregava. "Igreja - respondi - é uma espécie de Estado, e a espécie mais enganosa."