De Aldo Nascimento
Quando saí da Linha Amarela para entrar em Jacarepaguá, o carro parou sob o sinal vermelho. Foi quando uma criança ofereceu suas mercadorias à maioria dos brancos que dirige automóveis. No Rio de Janeiro, menores, muitos, tantos, vendem doces, balas, água, refrigerantes na Barra da Tijuca, em Ipanema, no Leblon – bairros dos ricos e dos brancos.
Quando o menor deixou três pacotes plásticos de bala no retrovisor, era uma tarde de 2 de fevereiro de 2008 e, no banco traseiro do carro, uma negra petista no jornal O Globo era manchete: Gastos com cartão derrubam ministra.
Nesse dia, dois negros em condições sociais bem opostas cruzaram meu destino: a então ministra da Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro; e o vendedor ambulante Marcelo da Silva Rodrigues, de 9 anos.
Condições sociais bem opostas. Ela usa o cartão corporativo. Ele, o cartão do Programa Bolsa-Família. Mesma cor, a negra, porém o contraste permanece. Marcelo mora em uma nova senzala, a favela Cidade de Deus, em Jacarepaguá. Matilde chegou à casa-grande, o Palácio do Planalto. Marcelo consome droga com a grana de vendedor de rua. Com o dinheiro público, Matilde consumiu, no dia 21 de junho de 2007, R$ 322,74 na Miski Rotisserie, restaurante de comida árabe no Jardim Paulista, em São Paulo. O lugar foi freqüentado por ela sete vezes no ano passado.
Em 31 de outubro a 5 de novembro de 2007, Matilde usou o cartão do bolsa-família, perdão, cartão corporativo para pagar R$ 2,6 mil pela locação de um veículo Astra luxuoso, sendo que entre os dias 1 a 4, feriadão de Finados, ela não tinha agenda em São Paulo. Antes, em 10 de outubro, ela tinha gastado R$ 460 no free shop.
Em 2007, o gasto mensal de Matilde foi de R$ 14,2 mil, 14 vezes mais que a média. No mesmo ano, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, teve uma despesa de R$ 2,4 mil. Em período igual, Matilde gastou R$ 171,5 mil por meio do cartão corporativo.
Certas mulheres nunca deveriam sair de casa. Minha mãe, dona Dilma Tavares do Nascimento, sempre preparou o almoço e a janta da família. Aos 66 anos, ela ainda usa avental quando lava os pratos e os enxuga. Mamãe é honesta. Matilde se alimenta em restaurante de comida árabe com dinheiro público. Muito longe da senzala, Matilde quis ser branca, gastar dinheiro igual a brancos ricos que usaram dinheiro público em proveito próprio. Matilde não é negra - é burguesa.
Se Marcelo foi picado uma vez pelo mosquito da dengue no Rio de Janeiro, a negra Matilde foi picada pela mosca azul em Brasília. Na pele da ex-ministra, cai bem, muito bem, o livro A Mosca azul – reflexões sobre o poder, de Frei Beto.
“O militante de esquerda é vulnerável a erros. Erra-se movido pela presunção, pela arrogância, pela ambição desmesurada. Erra-se pela falta de contato direto com os que são a razão de ser de sua causa: os pobres. (...). Um militante de esquerda pode perder tudo – a liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral. Ao desmoralizar-se, enxovalha a causa que defende e encarna. Presta um inestimável serviço à direita (...).”
Quando saí da Linha Amarela para entrar em Jacarepaguá, o carro parou sob o sinal vermelho. Foi quando uma criança ofereceu suas mercadorias à maioria dos brancos que dirige automóveis. No Rio de Janeiro, menores, muitos, tantos, vendem doces, balas, água, refrigerantes na Barra da Tijuca, em Ipanema, no Leblon – bairros dos ricos e dos brancos.
Quando o menor deixou três pacotes plásticos de bala no retrovisor, era uma tarde de 2 de fevereiro de 2008 e, no banco traseiro do carro, uma negra petista no jornal O Globo era manchete: Gastos com cartão derrubam ministra.
Nesse dia, dois negros em condições sociais bem opostas cruzaram meu destino: a então ministra da Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro; e o vendedor ambulante Marcelo da Silva Rodrigues, de 9 anos.
Condições sociais bem opostas. Ela usa o cartão corporativo. Ele, o cartão do Programa Bolsa-Família. Mesma cor, a negra, porém o contraste permanece. Marcelo mora em uma nova senzala, a favela Cidade de Deus, em Jacarepaguá. Matilde chegou à casa-grande, o Palácio do Planalto. Marcelo consome droga com a grana de vendedor de rua. Com o dinheiro público, Matilde consumiu, no dia 21 de junho de 2007, R$ 322,74 na Miski Rotisserie, restaurante de comida árabe no Jardim Paulista, em São Paulo. O lugar foi freqüentado por ela sete vezes no ano passado.
Em 31 de outubro a 5 de novembro de 2007, Matilde usou o cartão do bolsa-família, perdão, cartão corporativo para pagar R$ 2,6 mil pela locação de um veículo Astra luxuoso, sendo que entre os dias 1 a 4, feriadão de Finados, ela não tinha agenda em São Paulo. Antes, em 10 de outubro, ela tinha gastado R$ 460 no free shop.
Em 2007, o gasto mensal de Matilde foi de R$ 14,2 mil, 14 vezes mais que a média. No mesmo ano, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, teve uma despesa de R$ 2,4 mil. Em período igual, Matilde gastou R$ 171,5 mil por meio do cartão corporativo.
Certas mulheres nunca deveriam sair de casa. Minha mãe, dona Dilma Tavares do Nascimento, sempre preparou o almoço e a janta da família. Aos 66 anos, ela ainda usa avental quando lava os pratos e os enxuga. Mamãe é honesta. Matilde se alimenta em restaurante de comida árabe com dinheiro público. Muito longe da senzala, Matilde quis ser branca, gastar dinheiro igual a brancos ricos que usaram dinheiro público em proveito próprio. Matilde não é negra - é burguesa.
Se Marcelo foi picado uma vez pelo mosquito da dengue no Rio de Janeiro, a negra Matilde foi picada pela mosca azul em Brasília. Na pele da ex-ministra, cai bem, muito bem, o livro A Mosca azul – reflexões sobre o poder, de Frei Beto.
“O militante de esquerda é vulnerável a erros. Erra-se movido pela presunção, pela arrogância, pela ambição desmesurada. Erra-se pela falta de contato direto com os que são a razão de ser de sua causa: os pobres. (...). Um militante de esquerda pode perder tudo – a liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral. Ao desmoralizar-se, enxovalha a causa que defende e encarna. Presta um inestimável serviço à direita (...).”
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