terça-feira, junho 24, 2008

Casa de Leitura e Letramento. E a Literatura?

DE Aldo Nascimento

Na semana passada, o escritor Milton Hatoum conheceu um projeto do governo estadual, a Casa de Leitura. Ainda na semana passada, a Secretaria Estadual de Educação ofereceu um curso de letramento aos professores do ensino médio. Embora essas iniciativas do Estado sejam muito positivas, existe o avesso. Criaram a Casa de Leitura, porém não há leitura nas escolas públicas do ensino médio. O letramento como curso ocorreu, mas a leitura, segundo o letramento, inexiste em sala de aula

Fala-se tanto em ler; no entanto, até hoje, a disciplina Literatura permanece conforme o currículo formal da Secretaria Estadual de Educação, ou seja, segundo o historicismo literário. A Literatura na escola não é fonte de leitura ou de letramento porque, para o currículo formal, essa disciplina não passa de biografias e de características de época. Não só a secretaria. Por causa de alguns doutores de Letras, o recém-formado leciona para reproduzir o historicismo dos livros didáticos.

Velhas aulas congeladas no tempo. Como quebrar essa espessa geleira didática? Compreender as origens desse historicismo, um começo. O germe encontra-se na Academia Francesa, fundada em 1635 por Richelieu. Foi ela a criadora das condições para que seus autores e suas obras tivessem uma função social, a saber: servir de arrimo da unidade nacional

Nesse século, o 17, não havia a França como nação, mas um conjunto de unidades sobrepostas com leis próprias, sistemas de peso e de medidas particulares e dialetos distintos. Isso significa que esse proto-historicismo literário serviu para a unidade política

Em 1785, 150 anos depois, o alemão Karl Phillipp Moritz protagonizou a classificação, a triagem e a hierarquização de textos por meio de seu livro Rumo à unificação de todas as Belas Artes e Letras sob o conceito de auto-suficiência

Os dicionários registram também essa trilogia classificação-triagem-hierarquização. Em Portugal, o termo “literatura” é dicionarizado pela primeira vez em 1727, no Supplemento ao Vocabulario Portuguez.

Em 1789, Antonio de Moraes Silva exclui o termo literatura em seu Dicionário da Lingua Portugueza. Em 1831, o termo retorna com a definição de Bluteau, vinculando literatura a um conjunto de obras definido não por afinidades estéticas ou formais, mas por terem sido produzidas em determinado tempo ou território

Essa dicionarização da palavra “literatura” chega ao auge com a Biblioteca Lusitana, de Diogo Barbosa Machado, publicada entre 1741 e 1759, quando classifica as obras em função do nome, do sobrenome, do local de nascimento. O português ofereceu e dedicou sua obra a D. João V por ser espelho e sustentação da nacionalidade. Seu trabalho, portanto, assemelha-se ao de Richelieu, fundador da Academia Francesa

No Brasil, século 19, Sílvio Romero [1851-1914] edificou trabalho monumental de história social dos escritores brasileiros – em que se estuda meio, raça, ambiente social, costumes – do que propriamente a literatura “porque para mim a expressão literatura tem a amplitude que lhe dão os críticos e historiadores alemães”, escreveu Romero em História da literatura brasileira, um dos líderes da Escola de Recife

Com esses brevíssimos exemplos, percebe-se que o historicismo literário é vassalo criado para carregar a unidade nacional. O livro Educação literária como metáfora social, de Cyana Leahy-Dios, tece críticas a esse paradigma de literatura na escola quando afirma que “a organização pedagógica da literatura se assemelha a um móvel de gavetas, com divisões e compartimentos para unidades isoladas, um artefato anacronicamente positivista em um mundo pós-moderno”.

DiminutivosSe ele colocou uma “pequena cruz” em seu túmulo, colocou uma “cruzeta”. Se o “verão foi curto”, foi um “veranico”. A ponte, se é pequena, é um “pontilhão”. E se o animal for pequeno? Diminutivo de animal, “animalejo”. E qual o diminutivo de “guerra”? Guerrilha. Se a “câmara dos vereadores” é pequena, chama-se “camarim dos vereadores”. Palácio pequeno é “palacete”; entretanto, como a LÍNGUA não é exata como a matemática, “palacete” significa também “casa muito grande” e “luxuosa”.

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