quinta-feira, junho 19, 2008

Uma mãe

Hoje, depois de algum tempo, a mãe de um aluno compareceu à escola. Seu filho é indiferente às aulas e se comporta de forma nociva para a sua própria idade. É abusado, não respeita, pensa que sabe tudo. Professores reclamam de seu comportamento de 15 anos.

Muito humilde, seu rosto aparentava ter sido muito humilhado pela vida. Suas declarações me comoveram. Ela trabalha como voluntária de uma creche e, dessa maneira, passando o dia todo fora de casa, seu filho não fica em casa. O pai trabalha.

Na rua, o rapaz encarnou posturas de grupos. O meneio do corpo e o trejeito da fala encarnam uma ginga urbana. Não estuda. Nem leva caderno à escola. Não tá nem aí.

Alguns burocratas do ar-condicionado acreditam que escola realiza milagre, bastando que o professor lecione de forma prazerosa. Burocratas pedagógicos não gostam da sala de aula, porque não existe ar-condicionado.

Na creche, a mãe recebe alimento para levar para casa. A renda familiar não chega a R$ 500. A mãe decidiu colocar o filho no turno da noite para estudar com ela. De dia, ele irá trabalhar.

Às vezes, para certos alunos, só a vida educa. A pretensão fútil, o atrevimento tolo, sabemos, irão cair com a força da vida, do tempo. Não adianta falar muito, não adianta aula prazerosa do professor, porque será a vida que educará com seus limites, com suas dores, com suas decepções.

Colegas de profissão, alguns, generalizam, dizem que "os alunos não querem nada". Se eu fosse médico, deveria curar meus pacientes em um hospital. Somos médicos da alma e sempre devemos dar o melhor - e é pouco - de nós para transformar.

Essa, a profissão escolhida. Entrar em sala com vida, dizer bom dia a todos, ser educado, rígido, amoroso, bater de frente com as palavras, fazer cara feia, brincar com eles em uma gincana, mostrar paixão, criticá-los, criticar-se, colocar ordem, teatralizar as aulas, provocar risos. Ser exemplo para seus alunos, ser uma referência quando não houver referência.

Sabemos que a morte virá, mas, até lá, antes que o tempo nos consuma, lutar para edificar o melhor, por exemplo, em sala de aula.

Um comentário:

VÍTOR FARIAS disse...

A DESPEITO DE SUA CONTRADIÇÃO LATENTE QUANDO COMBATE O DISCURSO DOS QUE VOCÊ CHAMA DE "BUROCRATAS DO AR-CONDICIONADO" E AO MESMO TEMPO PROPÕEM UM COMPORTAMNETO ARTÍSTICO DO PROFESSOR, SEU TEXTO É MUITO BOM. NO ENTANTO, HÁ UMA RESSALVA: A VIDA JAMAIS EDUCARÁ COMO A ESCOLA, COMO VOCÊ DEVE SABER; A VIDA NAO CURA COMO OS "MÉDICOS DA ALMA". ELA FERE E O MAIOR EXEMPLO DESSA CHAGA É A PERSONAGEM REAL QUE ILUSTRA SUA NARRATIVA. GRAÇAS A TODOS, QUE EXISTEM OS "BUROCRATAS DO AR-CONDICIONADO", QUE SE ESMERRAM NO OFÍCIO DE DESENVOLVER UM APERFEIÇOAMENTO DAQUELES QUE TRABALHAM NO CALOR,QUE SE PREOCUPAM E NÃO SE ESQUECEM DOS "COLEGAS DE PROFISSÃO" MAS QUE SE UNEM, COMO ARTISTAS, NA DEFESA DA ARTE DE EDUCAR, QUE PASSA LONGE DA FALÁCIA BARATA DAS TECLAS DE UM COMPUTADOR.