Irmã de minha saudosa e muito amada avó, minha tia-avó Vera deixou um brinquedo na sala com esta única finalidade: seus netos não poderiam tocar nele. "Há outros brinquedos, nesses, eles podem mexer, mas aquele que está sala é intocável."
Por que isso, tia? "Porque eles devem aprender que na vida há limites, restrições; que na vida existe o não".
Leia este artigo publicado no JB, da drª MARIA ISABEL, professora de psicologia.
A importancia de um não, o não de Eloá
Criando um Monstro.
O que pode criar um monstro? O que leva um rapaz de 22 anos a estragar a própria vida e a vida de outras duas jovens por... Nada? Será que é índole?
Talvez, a mídia? A influência da televisão? A situação social da violência?
Traumas? Raiva contida? Deficiência social ou mental? Permissividade da sociedade?
O que faz alguém achar que pode comprar armas de fogo, entrar na casa de uma família, fazer reféns, assustar e desalojar vizinhos, ocupar a polícia por mais de 100 horas e atirar em duas pessoas inocentes?
O rapaz deu a resposta: 'ela não quis falar comigo'.
A garota disse não, não quero mais falar com você.
E o garoto, dizendo que ama, não aceitou um não. Seu desejo era mais importante.
Não quero ser mais um desses psicólogos de araque que infestam os programas vespertinos de televisão.
Que explicam tudo de maneira muito simplista e falam descontextualizadamente sobre a vida dos outros sem serem chamados.
Mas ontem, enquanto não conseguia dormir pensando nesse absurdo todo, pensei que o não da menina Eloá foi o único.
Faltaram muitos outros nãos nessa história toda.
Faltou um pai e uma mãe dizerem que a filha de 12 anos NÃO podia namorar um rapaz de 19.
Faltou uma outra mãe dizer que NÃO iria sucumbir ao medo e ir lá tirar o filho do tal apartamento a puxões de orelha.
Faltou outros pais dizerem que NÃO iriam atender ao pedido de um policial maluco de deixar a filha voltar para o cativeiro de onde, com sorte, já tinha escapado com vida.
Faltou a polícia dizer NÃO ao próprio planejamento errôneo de mandar a garota de volta pra lá.
Faltou o governo dizer NÃO ao sensacionalismo da imprensa em torno do caso, que permitiu que o tal seqüestrador converssasse e chorasse compulsivamente em todos os programas de TV que o procuraram.
Simples assim. NÃO.
Vejo que cada vez mais os pais e professores morrem de medo de dizer não às crianças.
Mulheres ainda têm medo de dizer não aos maridos (e alguns maridos temem dizer não às esposas). Pessoas têm medo de dizer não aos amigos.
Noras que não conseguem dizer não às sogras.
Chefes que não dizem não aos subordinados.
Gente que não consegue dizer não aos próprios desejos.
E assim são criados alguns monstros. Talvez alguns não cheguem a seqüestrar pessoas.
Mas têm pequenos surtos quando escutam um não, seja do guarda de trânsito, do chefe, do professor, da namorada, do gerente do banco.
Essas pessoas acabam crendo que abusar é normal. E é legal.
Os pais dizem, 'não posso traumatizar meu filho'. E não é raro eu ver alguns tomando tapas de bebês com 1 ou 2 anos.
Outros gastam o que não têm em brinquedos todos os dias e festas de aniversário faraônicas para suas crias. Sem falar nos adolescentes.
Hoje em dia, é difícil ouvir alguém dizer: Não, você não pode bater no seu amiguinho.
Não, você não vai assistir a uma novela feita para adultos.
Não, você não vai fumar maconha enquanto for contra a lei.
Não, você não vai passar a madrugada na rua.
Não, você não vai dirigir sem carteira de habilitação.
Não, você não vai beber uma cervejinha enquanto não fizer 18 anos.
Não, essas pessoas não são companhias pra você.
Não, hoje você não vai ganhar brinquedo ou comer salgadinho e chocolate.
Não, aqui não é lugar para você ficar.
Não, você não vai faltar na escola sem estar doente.
Não, essa conversa não é pra você se meter.
Não, com isto você não vai brincar.
Não, hoje você está de castigo e não vai brincar no parque.
Crianças e adolescentes que crescem sem ouvir bons, justos e firmes NÃOS crescem sem saber que o mundo não é só deles.
E aí, no primeiro não que a vida dá ( e a vida dá muitos ) surtam.
Usam drogas.
Compram armas.
Transam sem camisinha.
Batem em professores.
Furam o pneu do carro do chefe.
Chutam mendigos e prostitutas na rua. E daí por diante.
Não estou defendendo a volta da educação rígida e sem diálogo, pelo contrário.
Acredito piamente que crianças e adolescentes tratados com um amor real, sem culpa, tranqüilo e livre, conseguem perfeitamente entender uma sanção do pai ou da mãe, um tapa, um castigo, um não. Intuem que o amor dos adultos pelas crianças não é só prazer - é também responsabilidade.
E quem ouve uns nãos de vez em quando também aprende a dizê-los quando é preciso.
Acaba aprendendo que é importante dizer não a algumas pessoas que tentam abusar de nós de diversas maneiras, com respeito e firmeza, mesmo que sejam pessoas que nos amem.
O não protege, ensina e prepara. Por mais que seja difícil, eu tento dizer não aos seres humanos que cruzam o meu caminho quando acredito que é hora - e tento respeitar também os nãos que recebo. Nem sempre consigo, mas tento.
Acredito que é aí que está a verdadeira prova de amor.
E é também aí que está a solução para a violência cada vez mais desmedida e absurda dos nossos dias.
sábado, novembro 29, 2008
Não & Não
sexta-feira, novembro 28, 2008
Ufac...
A Universidade Federal do Acre (Ufac) foi uma das 14 instituições de federais de ensino superior do país onde o Tribunal de Contas da União (TCU) encontrou irregularidades em contratos e em convênios firmados. As irregularidades foram encontradas nos 464 convênios e contratos que o TCU fiscalizou entre julho e setembro deste ano.
Fundações de apoio
O objetivo da fiscalização do TCU foi examinar o relacionamento das universidades públicas com suas fundações de apoio. As fundações foram criadas na década de 90 com o fim de garantir mais autonomia na gestão dos recursos das universidades.
Distância perigosa
Mas o relatório do TCU avalia que “essa autonomia universitária às avessas, promovida por intermédio de fundações privadas de apoio, significou também um perigoso distanciamento das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) do ambiente de controle propiciado pela contabilidade pública e pelo trânsito dos recursos públicos por dentro do Sistema Integrado de Administração Financeira, do governo federal (Siafi)".
As irregularidades
As principais irregularidades encontradas pelo TCU nas universidades federais referem-se à contratação de pessoal e a serviços sem licitação, falta de transparência na prestação de contas e a não-observância de deliberações de órgãos de controle (internos e externos).
Gestão informalSegundo o TCU, em muitos casos, os contratos tinham a função de produzir recursos excedentes que eram guardados pelas fundações, mas geridos informalmente por reitores, chefes de departamento e coordenadores de cursos.
Prazo para correção
O TCU determinou um prazo de 180 dias para que as universidades corrijam as irregularidades. Entre as medidas que devem ser tomadas, está a disponibilização na Internet dos dados e do andamento dos projetos que estão sendo desenvolvidos em parceria, bem como os recursos envolvidos em cada um deles.
Contas específicas
Outra recomendação do TCU é a criação de contas bancárias e contábeis específicas para cada projeto firmado com as fundações de apoio. Em abril, os Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia publicaram uma portaria para tornar mais rígido o repasse de recursos das fundações para as universidades.
Movimento Sindical
Tanto para problematizar sobre educação pública, o que ouvimos desses indivíduos são palavras toscas sobre educação pública. Há exceções. Poucas. Muito poucas. Quase nada.
O texto abaixo não se refere a esses dois sindicatos, mas se refere a dinheiro de outros filiados.
A luta continua, a minha, a tua, que trabalhamos.
quinta-feira, novembro 27, 2008
Ao Jornalismo
A questão do Enem é séria e pulsa um silêncio sobre a escola pública. No Acre, a fala que expressa conhecimento é a do político. Poucos os questionam quando o assunto é, por exemplo, escola pública. Dizem que está tudo bem, que a Frente Popular revolucionou a educação pública, e o amém de jornalistas e de professores é ouvido em igrejas sem Deus. Muitos estão de joelhos. Rezam em templo cínico de classe social.
Sem tempo para atualizar este blog, ainda sim preparo um texto sobre o Enem no Acre. Publicarei na próxima terça-feira, dia 2 de dezembro. Sabe, Jornalista, não me acho o melhor, porque sei que o melhor manifesta-se quando um corpo, o docente, articula-se para transformar a vida de jovens por meio da Literatura, da História, da Filosofia, da Redação. Como já foi dito, não existe indivíduo, existem relações.
Quem assiste às minhas aulas, se for sincero, dirá que eu não esmoreço em sala. Os livros me transformaram, por isso alunos não vêem em mim marcas do descaso, do relaxamento, do cansaço. Luto para que suas vidas sejam transformadas pela cultura, pelo conhecimento, pelos livros. E, acredite, faço pouco ainda. Preciso melhorar mais e mais, sempre. Sempre. Até para morrer, meu caro, temos que ser melhores. É no fundo do poço - Nietzsche ensina-me - que encontramos a fonte de água mais pura.
A realidade escolar, entretanto, não se reduz a mim. Dependo de outros, de relações. Com as palavras, luto, mas Drummond me diz que a luta é vã mal rompe a manhã. Lutamos, porém, meu caro, sempre perdemos. "Viver é não conseguir", fala Fernando Pessoa. Tenho noção do fim, da perda, da traição mais nojenta, mas, ainda sim, busco dar sentido à vida quando leciono. Aprecio o mito de Sísifo.
Sobre minhas aulas na Universidade Federal do Acre, um dia, quem sabe, conto aos teus olhos detalhes sobre o que certos servidores fazem com uma instituição pública. Guardo processos contra mim com muito carinho, porque são registros absurdos sobre o curso de Letras. Absurdos. É um documento histórico. Hoje, depois daquela ausência de ética pública, depois da arbitrariedade daquela farândola, eu rio dos que aparentam ser sérios e cultos.
Estou vivo como nunca para (me) incomodar a brisa, a folha. O fruto.
segunda-feira, novembro 24, 2008
Sem face
Nessa parte de teu texto, você surtou. Vá ao médico.
Quem está na secretaria que faça bem. Quem está em sala que faça bem. Eu desejo a sala. Só uma observação: especifique de que forma eu contribuo para piorar.
sexta-feira, novembro 21, 2008
Enem Enem Enem
Conversando com um professor de uma escola particular, ele me disse que leciona para 11 turmas e, por mês, recebe menos que um professor da rede pública. Por ser escola privada, aluno de classe média é mais inteligente, tem mais recursos em casa? Não acredito nas respostas.
Os anos passam, e a escola pública acreana perde sempre para a escola privada. Se derem respostas a esse fato, acredite, serão desculpas.
terça-feira, novembro 18, 2008
Reitora
quinta-feira, novembro 13, 2008
A desembargadora está errada?
TCU acaba com farra em carros oficiais na Advocacia-Geral da União no Acre
De Ana Paula Batalha
Consta no relatório de outubro e divulgado recentemente pela auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) o uso indevido de um bem público a serviço de uma funcionária. O caso foi levado ao órgão após gravações do servidor público federal Getúlio França de Almeida, do quadro de pessoal da Advocacia-Geral da União (AGU), na Secretaria de Controle Externo no Acre.
Nas gravações, constam informações e documentos circunstanciando possíveis práticas de irregularidades em relação ao uso de veículo locado pela AGU.
Segundo o relatório, no final de 2006, a Procuradoria da União no Estado do Acre (PU-AC) teve aumentada sua frota de veículos locados, de dois para quatro carros, o que seria desnecessário à medida que os dois veículos atendiam toda demanda da procuradoria.
No caso, um automóvel atendia ao gabinete do procurador-chefe, conduzindo-o a audiências, além de transportar os servidores a serviço. O outro veículo, que deveria atender aos demais serviços do órgão, atendia com exclusividade Sueli Alves Marques, coordenadora da Procuradoria da União no Estado do Acre.
“Com o incremento da frota, em desvio de finalidade, o veículo Corsa, placas AOI-9474, passou a atender unicamente a funcionária, com utilização abusiva para fins particulares durante e fora do expediente”, diz o relatório.
O relatório diz ainda que a servidora passou a conduzir o veículo até a sua residência, guardando-o em sua garagem residencial, além de utilizá-lo em lugares proibidos por lei, como supermercado, casa de diversão, boate, restaurantes e aeroporto e a disponibilizá-lo para o uso pessoal de seu filho. Essas condutas foram demonstradas em diversos vídeos.
Não bastasse isso, foram apresentadas provas que, além de não portar os dizeres exigidos pelas normas - serviço público federal, uso exclusivo em serviço -, o veículo circulava na cidade exibindo conteúdo publicitário de evento festivo a ser realizado na boate Excalibur (Miss Mister Excalibur).
O documento ressalta ainda que as razões apresentadas por Sueli não trazem justificativas aceitáveis para a utilização do veículo fora das situações de serviço. Com base nos elementos constantes nos autos — especialmente nos boletins mensais de controle dos veículos, nos DVDs anexados à contracapa dos autos principais e nas justificativas trazidas pela representada —, conclui-se, segundo o documento, que todos os quilômetros rodados foram custeados pela Advocacia-Geral da União uma vez que a quilometragem inicial registrada em um determinado dia sempre coincide com a quilometragem final referente ao dia útil anterior.
A servidora afirma que o uso do veículo não se deu de forma ilegal uma vez que o valor da franquia (estipulada em 2,5 mil km-mês) não foi ultrapassado.
“Ela dá a entender que, como alcançou no período considerado apenas 65% da quilometragem mensal contratada, os demais 35% poderiam ser utilizados livremente, não trazendo qualquer prejuízo ao erário, porque a franquia contratual cobria tudo”, consta.
A servidora, pelo que consta no relatório, deixou de utilizar o veículo locado fora do horário de expediente a partir de novembro de 2007.
Por esse motivo, o TCU adotou aplicação da multa à servidora pelo uso irregular para fins particulares do veículo locado pelo órgão, além de ter determinado à Procuradoria da União no Estado do Acre tomar providências especificadas quanto às irregularidades encontradas.
quarta-feira, novembro 12, 2008
Máquina pública

Pegando carona no blogue do Altino Machado, a desembargadora Marisa Santos (foto), do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, tem lá suas razões, e elas estão bem claras nas palavras acima.
A máquina pública é eficiente?
Conheço diretores de escolas que se ausentam durante dias e ainda privilegiam funcionários públicos, ofertando a eles as famosas dobras, mas só que muitos nem comparecem às escolas.
Conheci servidor público que usava dinheiro público de instituição de ensino superior para promover festinhas na faculdade.
Conheço servidor público que trabalha para qualificar o erário e conheço servidor público que trabalha para não qualificar o erário, mas recebem o mesmo salário. Trabalhar mal ou bem mantém o servidor na máquina mesmo assim, ele não será "demitido".
A desmbargadora disse: "Vocês não têm o direito de trabalhar mal. Estão ganhando muito bem. Uma FC3, R$ 1.200 em média a mais para trabalhar mal".
Semelhança
segunda-feira, novembro 10, 2008
Os canalhas deveriam ir primeiro

Jamais vi Pheyndews triste. Às vezes, seu humor crítico expunha um Acre sem infância: “Aqui, Aldo, perde-se a virgindade com a chupeta”. Com piadas ácidas, ele era um acreano que não ocultava as imperfeições de sua terra com frases feitas ou com ufanismo de tolos.
Quando ele disse que crianças perdem a virgindade com chupetas, não havia ainda a internete no Acre para constatar por meio de imagens uma realidade socioeconômica que deformava a infância e a pré-adolescência. No Acre de hoje, como em várias partes deste “berço esplêndido”, meninas de 10 anos abrem as pernas em uma rede de orcute, expondo em seus prostíbulos virtuais fotos de um erotismo infantil diante do rosto velado da Justiça.
“Dizem sempre que quem bebe a água do rio Acre não vai embora daqui, eu não acredito nisso. Eu, na verdade, não aconselho nem beber a água desse rio, porque está muito poluída”, e ria. Com sua morte, além da ironia, perde-se parte da memória política deste Estado, a política que jornais não publicam. Sepultar essa memória me incomoda, porque a fala subterrânea de políticos, a fala ocultada pelo silêncio, só alguns a ouviram, e Pheyndews foi um deles. Mas, no lugar de um livro, uma lápide para sua memória.
Pheyndews faz parte de uma época em que não precisava passar pela faculdade para ser jornalista. Seu texto imprimia personalidade, postura que muitos recém-formados evitam por medo, por alienação. Quando saem da faculdade, focas se acomodam com frases feitas, comestruturas sintáticas e semânticas empobrecidas pela repetição de outros. Diferente desses acadêmicos, Pheyndews não era clichê.
Entre nós, quando nos encontrávamos, havia um cumprimento muito acima da formalidade, do padrão, do comum. No lugar de um forte aperto de mãos entre dois machos, nós dávamos um pulinho bem gay e batíamos as mãozinhas no alto com um gritinho mais gay ainda. Eu gostava muito dele. Estive no velório e vê-lo em um caixão foi se deparar com uma profunda tristeza. Gente boa, esse “Pheyndews”.
No ambiente de trabalho, ele não armava para prejudicar os outros, porque não escorria por sua boca o muco da arrogância. Nunca me desdenhou na Redação. Há nesta terra pessoas por quem oferto admiração, apreço, o Pheyndews sempre será um desses acreanos por quem terei afeição. Como escrevi antes, os canalhas deveriam ir primeiro, sempre primeiro.
sábado, novembro 08, 2008
quarta-feira, novembro 05, 2008
Pedofilia e Morte

Duas notícias me perturbaram hoje.
No Paraná, uma criança de 9 anos foi estuprada e esquartejada, os restos foram colocados em uma mala.
Na Bahia, um menino de 8 anos foi estuprado, e, para matá-lo, os anormais desgraçados atiraram 40 vezes.
Em 2011, Antônio Manoel, condenado por estuprar menores, entrará em regime semi-aberto. De graça, comeu à custa do dinheiro do contribuinte.
Deputados federais não alteram leis, crianças são estupradas e assassinadas. O bom de tudo isso é que não foi com o teu filho, não é mesmo? Somos um dos países mais cristãos da Terra. Além disso, em 2014, a Copa do Mundo será no Brasil. Seremos hexacampeões.
Peço a Deus que proteja a minha filha e a tua; mas, segundo Nietzsche, Deus está morto. Eu acho que os assassinos são brasileiros e mataram-no em algum canto escuro do Congresso. Para mim, futebol não é paixão nacional. Paixão nacional é a impunidade ou penas leves como as mãos de certos políticos.
terça-feira, novembro 04, 2008
domingo, novembro 02, 2008
Intervenções Urbanas

Atrás do palco, a Candelária compunha o cenário político que se completava com uma avenida populista, a Getúlio Vargas. O deus Tempo contava 1989, ano em que assisti no Rio de Janeiro ao comício de Lulalá, candidato a presidente da República.
Se era muito difícil chegar a Brasília, sonhava com o Partido dos Trabalhadores no poder estadual ou municipal para promover uma transformação radical na cultura. Mas o PT no Rio de Janeiro se complicou e só pude ver o partido de Henfil no poder quando, anos depois, em 1994, já no Acre, Jorge Viana deixou suas digitais na prefeitura da capital e depois no Palácio Rio Branco.
Mas o sonho de ver uma transformação radical na cultura não se realizou, porque, quando o cenário é o teatro, o Partido dos Trabalhadores apresenta-se de forma conservadora, acanhada. Não me refiro à Usina de Cultura João Donato, espaço à margem do centro e delimitado por paredes. Refiro-me a intervenções no espaço urbano por meio da ficção, por meio da voz do teatro. Uma ação estética imprópria para amadores.
Quem apreciei realizando essa ação no espaço urbano foi Ivan de Castela. O PT, contudo, apropriou-se desse nome para ser imagem de governo. Enquadraram-no. Reconfiguraram o artista. O poder calou a voz ficcional. Em seu lugar, burocratas remunerados da cultura emitem seus ruídos pela TV, pseudo-intelectuais escolhidos pelo dedo descriterioso da amizade ou pelo lastro genético de famílias tradicionais acreanas. Há exceções, eu sei, são poucas.
Ontem, pela manhã, entrei no ônibus para trabalhar no centro de Rio Branco. Recebo pouco menos de R$ 500 por mês, e meu trabalho me aliena. Vindo do bairro Calafate, a rotina realista guia meu destino há anos. Hoje, porém, a surpresa abriu meus olhos, tocou em meus ouvidos.
Com roupas coloridas, diferentes do comum, dois artistas falaram da vida, das injustiças, da ordem do mundo e, no final, já no terminal de ônibus, disseram nomes que nunca ouvi: Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto, Fernando Pessoa, Cruz e Sousa, Paulo Leminski.
Depois, com muita calma, explicaram: “Essa apresentação foi uma maneira de mostrar a vocês poetas que precisam estar vivos na vida, porque suas palavras raras dizem o que o mundo cala.” Colocou a mão no bolso e retirou um papel. “Chamamos ‘atrás da folha’ verso, isto é, por meio do verso, lemos o que está atrás das coisas, do mundo, da realidade.”
Mas a surpresa não tinha chegado ao fim. Quando saí do ônibus, já no terminal de ônibus, muitos, mais de 30 Ivans, com seus trajes de artistas, expressaram outras poesias por meio de vozes que me emocionaram.
Quem bom saber que o PT surpreende os trabalhadores com um ótimo teatro de rua. O PT mostrou ser diferente de outros partidos quando o assunto é cultura. Nesse aspecto, ele é revolucionário.
Duas vezes por semana, essas intervenções ocorrem em Rio Branco, porque, sem os versos desses poetas consagrados, o ônibus que vem dos lugares sem teatro conduz tristezas, emudecimento, a morte das palavras. São passageiros empobrecidos pelo cansaço de uma rotina que desencanta a vida.
Sonho... ainda sonho.