Das esquinas dos bairros Aeroporto Velho, Sobral, João Eduardo, Airton Sena até às ruas dos bairros Floresta, Estação Experimental, Tucumã, não vi sinais de vida de uma gente fantasiada para afirmar a identidade do Carnaval. No Acre, os súditos de Momo são insípidos.
Não parte dos bairros rio-branquenses a espontaneidade criativa de blocos ou a originalidade irreverente de grupos fantasiados. À noite, nesses espaços urbanos, preserva-se uma tristeza emudecida. Sem risos pelas ruas, sem mascarados, sem o escárnio das fantasias, o Momo acriano não passa de um roto.
Diante desse rei deformado, resta ao dinheiro público definir e organizar o espaço para que esse reinado adquira formas paraestatais. No Acre, um grupo político no poder define o início e o término da festa, concentrando contribuintes em um lugar cerceado pelo comércio e pelo aparato de Estado. Momo não se espalha pela cidade de Rio Branco, é mais seguro e econômico, segundo a ordem pública, vigiá-lo de perto em um redil. Depois, diante da câmera de TV, o policial militar afirma com satisfação que manteve Momo sob controle. Aqui, o governo organiza até trio elétrico.
Dinheiro público no Carnaval, entretanto, não é exclusividade acriana. No Rio de Janeiro, o caso que mais me chamou atenção ocorreu com a escola de samba São Clemente. Passando por dificuldade financeira, a escola de Botafogo pediu ajuda a César Maia, então prefeito. Ele disse que ajudaria com o dinheiro do contribuinte desde que a escola não apresentasse na Sapucaí um desfile irreverente, desobediente, avesso à normalidade da passarela. Com outras palavras, a São Clemente não poderia apresentar um Carnaval crítico, devendo se submeter, portanto, à domesticação da verba pública, assim como ocorre com as outras escolas de samba. A São Clemente se recusou, preferindo manter um Carnaval autêntico, ou seja, irreverente, desobediente, avesso.
Assim como ocorre no Rio de Janeiro, o poder público acriano corrompe, deforma e aliena o reinado de Momo, e a TV Aldeia, que pertence a um grupo político-partidário, ainda reforça essa aculturação do Carnaval por meio de sua transmissão infantil. Infelizmente, a TV Aldeia não sabe o que fala sobre o Carnaval, porque o que ainda fala não é Carnaval.
Para evitar essa transmissão que não (des)cobre o significado simbólico dessa festa popular, sugiro estudar A História do Riso, de Georges Minois; Carnavais, Malandros e Heróis, de Roberto D’Matta; e A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento, de Mikhail Bakhtin. Antes que o prefeito entregue a chave ao rei Momo em 2010, os âncoras da TV Aldeia precisam saber o que falam sobre o Carnaval.
Se a procissão e a parada militar cultuam a reverência, o rei Momo não reverencia os santos e nem as autoridades. Seu reinado, segundo Mikhail Bakhtin, Roberto D’Mata e Georges Minois, promove a inversão ou o avesso depois que recebe a chave do prefeito. Filho do Sono e da Noite, esse mito não merecia que o poder público organizasse o controle contra ele.
Não parte dos bairros rio-branquenses a espontaneidade criativa de blocos ou a originalidade irreverente de grupos fantasiados. À noite, nesses espaços urbanos, preserva-se uma tristeza emudecida. Sem risos pelas ruas, sem mascarados, sem o escárnio das fantasias, o Momo acriano não passa de um roto.
Diante desse rei deformado, resta ao dinheiro público definir e organizar o espaço para que esse reinado adquira formas paraestatais. No Acre, um grupo político no poder define o início e o término da festa, concentrando contribuintes em um lugar cerceado pelo comércio e pelo aparato de Estado. Momo não se espalha pela cidade de Rio Branco, é mais seguro e econômico, segundo a ordem pública, vigiá-lo de perto em um redil. Depois, diante da câmera de TV, o policial militar afirma com satisfação que manteve Momo sob controle. Aqui, o governo organiza até trio elétrico.
Dinheiro público no Carnaval, entretanto, não é exclusividade acriana. No Rio de Janeiro, o caso que mais me chamou atenção ocorreu com a escola de samba São Clemente. Passando por dificuldade financeira, a escola de Botafogo pediu ajuda a César Maia, então prefeito. Ele disse que ajudaria com o dinheiro do contribuinte desde que a escola não apresentasse na Sapucaí um desfile irreverente, desobediente, avesso à normalidade da passarela. Com outras palavras, a São Clemente não poderia apresentar um Carnaval crítico, devendo se submeter, portanto, à domesticação da verba pública, assim como ocorre com as outras escolas de samba. A São Clemente se recusou, preferindo manter um Carnaval autêntico, ou seja, irreverente, desobediente, avesso.
Assim como ocorre no Rio de Janeiro, o poder público acriano corrompe, deforma e aliena o reinado de Momo, e a TV Aldeia, que pertence a um grupo político-partidário, ainda reforça essa aculturação do Carnaval por meio de sua transmissão infantil. Infelizmente, a TV Aldeia não sabe o que fala sobre o Carnaval, porque o que ainda fala não é Carnaval.
Para evitar essa transmissão que não (des)cobre o significado simbólico dessa festa popular, sugiro estudar A História do Riso, de Georges Minois; Carnavais, Malandros e Heróis, de Roberto D’Matta; e A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento, de Mikhail Bakhtin. Antes que o prefeito entregue a chave ao rei Momo em 2010, os âncoras da TV Aldeia precisam saber o que falam sobre o Carnaval.
Se a procissão e a parada militar cultuam a reverência, o rei Momo não reverencia os santos e nem as autoridades. Seu reinado, segundo Mikhail Bakhtin, Roberto D’Mata e Georges Minois, promove a inversão ou o avesso depois que recebe a chave do prefeito. Filho do Sono e da Noite, esse mito não merecia que o poder público organizasse o controle contra ele.
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