No último domingo, por volta das 9 horas, o telefone tocou. Quando atendi, uma voz masculina disse “seu revisor de merda, A TRIBUNA é o único jornal do país que publica blogue, será que não sabe que o correto é blog?”.
Óbvio que nós, brasileiros, somos falantes da LÍNGUA portuguesa. Nossa identidade linguística difere-se da LÍNGUA inglesa. Blog, como sabemos, pertence à cultura norte-americana e inglesa. Trata-se, portanto, de um micro-organismo gráfico estranho a um corpo social que fala português.
Há duas semanas, comprei o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), da Academia Brasileira de Letras, páginas que deveriam estar sobre a mesa de nossos jornalistas. Os imortais registraram blogue, não prevalecendo, pois, a grafia inglesa em minha LÍNGUA-PÁTRIA.
Ao longo dos anos, aprendi a olhar algumas palavras não só como estrangeiras, mas como indivíduos forasteiros que invadem com nosso consentimento a cultura linguística de minha amada Pátria. Em Lisboa, não há um só comércio com nome inglês. Por pertencer à cultura inglesa, os portugueses nem falam e muito menos escrevem gol mas golo. Com efeito, não dizem goleiro, e sim guarda-redes. Na França, seus falantes escrevem Hollywood como a palavra é pronunciada em francês. Por que isso ocorre? Entre outras, esta resposta: guerras contra a dominação de uma nação sobre a outra na história do continente europeu.
No Brasil - e aprendemos com o padre José Anchieta desde 1587 -, o processo de colonização da igreja católica infiltrou-se nas palavras do povo tupi para alterar o comportamento desses nativos. Sei que o inglês blog não alterará nosso comportamento, porém me sinto bem quando visto essa palavra com as roupas de nosso significante: b-l-o-g-u-e. Se fôssemos portugueses, substituiríamos blog por bolha; se fôssemos lusitanos, escreveríamos sítio e não site. Por que não escrevemos? Porque fomos colonizados; e os portugueses, colonizadores.
Em Rio Branco, o governo do Estado, que não é inglês ou norte-americano, nomeia um espaço do Parque da Maternidade com a grafia “circuito skate”. Se a palavra já foi aportuguesada, se já existe a conversão, o governo deveria ter registrado “circuito esqueite”. O aportuguesamento é um processo natural, mas alguns insistem na norte-americanização de nosso idioma.
Como escrevi antes, a Academia Brasileira de Letras registrou blogue no VOLP; entretanto – e aí eu não entendi – deixou a grafia internet. Quem registra internete é o gramático Celso Pedro Luft. Se nomes consagrados aportuguesaram, não há sentido manter a escrita segundo a cultura de outro país. Já pensou se nós escrevêssemos faux-bourdon e não forró? E se ainda registrássemos shampoo e não xampu? Pena que não há registro oficial de xou para substituir show, mas podemos escrever espetáculo no lugar da palavra inglesa.
“É bom saber que você está preocupado com a forma de escrever”, e desliguei o telefone. É preciso muita paciência com os alfabetizados funcionais.
Óbvio que nós, brasileiros, somos falantes da LÍNGUA portuguesa. Nossa identidade linguística difere-se da LÍNGUA inglesa. Blog, como sabemos, pertence à cultura norte-americana e inglesa. Trata-se, portanto, de um micro-organismo gráfico estranho a um corpo social que fala português.
Há duas semanas, comprei o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), da Academia Brasileira de Letras, páginas que deveriam estar sobre a mesa de nossos jornalistas. Os imortais registraram blogue, não prevalecendo, pois, a grafia inglesa em minha LÍNGUA-PÁTRIA.
Ao longo dos anos, aprendi a olhar algumas palavras não só como estrangeiras, mas como indivíduos forasteiros que invadem com nosso consentimento a cultura linguística de minha amada Pátria. Em Lisboa, não há um só comércio com nome inglês. Por pertencer à cultura inglesa, os portugueses nem falam e muito menos escrevem gol mas golo. Com efeito, não dizem goleiro, e sim guarda-redes. Na França, seus falantes escrevem Hollywood como a palavra é pronunciada em francês. Por que isso ocorre? Entre outras, esta resposta: guerras contra a dominação de uma nação sobre a outra na história do continente europeu.
No Brasil - e aprendemos com o padre José Anchieta desde 1587 -, o processo de colonização da igreja católica infiltrou-se nas palavras do povo tupi para alterar o comportamento desses nativos. Sei que o inglês blog não alterará nosso comportamento, porém me sinto bem quando visto essa palavra com as roupas de nosso significante: b-l-o-g-u-e. Se fôssemos portugueses, substituiríamos blog por bolha; se fôssemos lusitanos, escreveríamos sítio e não site. Por que não escrevemos? Porque fomos colonizados; e os portugueses, colonizadores.
Em Rio Branco, o governo do Estado, que não é inglês ou norte-americano, nomeia um espaço do Parque da Maternidade com a grafia “circuito skate”. Se a palavra já foi aportuguesada, se já existe a conversão, o governo deveria ter registrado “circuito esqueite”. O aportuguesamento é um processo natural, mas alguns insistem na norte-americanização de nosso idioma.
Como escrevi antes, a Academia Brasileira de Letras registrou blogue no VOLP; entretanto – e aí eu não entendi – deixou a grafia internet. Quem registra internete é o gramático Celso Pedro Luft. Se nomes consagrados aportuguesaram, não há sentido manter a escrita segundo a cultura de outro país. Já pensou se nós escrevêssemos faux-bourdon e não forró? E se ainda registrássemos shampoo e não xampu? Pena que não há registro oficial de xou para substituir show, mas podemos escrever espetáculo no lugar da palavra inglesa.
“É bom saber que você está preocupado com a forma de escrever”, e desliguei o telefone. É preciso muita paciência com os alfabetizados funcionais.
Um comentário:
O pobre miserável perdeu uma excelente chance de ficar calado: poderia pesquisar e aumentar seu limitado universo cognitivo, mas preferiu permanecer na condição de 'alfabetizado funcional' e 'colonizado'. E ainda deve se achar instruído por comprar religiosamente seu jornalzinho domingo de manhã...
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