Deputado, antes de mais nada, não farei uso do pronome de tratamento; minha sinceridade será informal.
Sua resposta a meu texto publicado na TRIBUNA e neste inexpressivo blogue fugiu à questão, qual seja: a morfologia de uma palavra segundo a escola e não conforme os políticos.
Pois bem, digo-lhe que não conto com a oposição acriana para enriquecer a democracia ou as ideias apaixonantes sobre qualidade de ensino porque essa oposição padece de anencefalia. Mais: ela perdeu o mouse da história. A sociedade civil, por sua vez, encontra-se em letargia. E o movimento sindical parou.
Restou a mim, ainda, a Frente Popular, digo, os representantes da multiesquerda que habitam nesse grupo político. Entretanto, erguida por mortais, duas esquerdas, PT e PC do B, apresentam falhas e contradições.
De tão crítica, ela agora só se elogia. Você mesmo, Moisés, elogia-se e elogia a Frente Popular quando escreveu sobre educação pública para se opor ao que eu escrevi. Há quase 12 anos no poder, o discurso sobre educação pública petrificou-se; você, entretanto, não percebeu essa paralisia.
Abaixo, tecerei minhas observações bem pequenas sobre teus argumentos.
Texto do deputado Moisés Dinis (PC do B), líder do governo
Em dois lugares distintos, com o mesmo objetivo, o professor Aldo Nascimento desautoriza a Assembléia Legislativa do Acre a discutir o adjetivo gentílico acreano ou acriano. Veja o que ele diz:
Obs 1: Desautoriza? Deputado, longe de seu circunlóquio, eu fui muito claro "como a água do Saerb" em meu texto. Ora, não posso desautorizar uma instituição quando essa mesma instituição não possui a função social de falar sobre morfologia. À escola, cabe ensinar que "acriano" é a forma correta. Isso está muito claro: aprende-se a escrever na escola e não em assembleias legislativas.
1. “Agora, se deputados desejam escrever “acreano” mesmo com o Acordo Ortográfico, escrevam, mas deixe a escola fora disso, porque não é na Assembleia Legislativa que se aprende a escrever”.
2. “Aos deputados acrianos, digo-lhes o seguinte: lutem na Assembleia Legislativa por um Acre justo, lutem por uma escola pública melhor. "Acriano" ou "acreano" não é da competência de suas sessões, mas da escola. É a escola, com bons professores, que ensina a escrever”.
Estimado professor Aldo Nascimento,
Nós, deputados estaduais do Acre, pedimos desculpa por não termos pedido autorização a vossa senhoria. É que nós aprovamos algumas leis ligadas à educação, sem a vossa devida autorização:
a) Dobramos o salário dos professores, através da aprovação do PCCR, levando o Acre a pagar um salário melhor do que São Paulo;
1. Um exemplo possível. João dos Santos, formado há uma semana, deseja lecionar na rede pública. Ontem, ele se submeteu a um concurso e passou para ser professor do Estado. O novo professor da rede pública encontra-se na letra A. Com um só contrato, seu salário inicial é pouco para manter sua família, uma esposa e um filho. João terá que esperar alguns anos para se submeter a outro concurso e, se passar, assinará seu segundo contrato. Outra questão, o custo de vida em São Paulo não se assemelha ao do Acre;
2. Se o salário de um professor iniciante é tão bom, pague a seu assessor o que um professor iniciante recebe por mês com um único contrato; e
3. Por outro lado, eu, mais de anos no Estado, recebo bem mais do que colegas do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. Nós, nesse sentido, damos um banho no PSDB e no PMDB. Prefiro ganhar minha vida como professor no Acre a ter que lecionar em escolas públicas gaúchas ou cariocas. Claro que devemos receber mais, porém, havendo bom salário, havendo escolas equipadas, o corpo docente deve se empenhar para obter bons resultados com a Secretaria de Educação. Em outras palavras, mesmo com suas contradições, a Frente Popular deve ficar no poder até quando não souber se superar. E espero que sempre se supere.
b) Aprovamos a implantação do ensino médio nos municípios isolados;
1. Eis aqui a função da assembleia: legislar. Mas o que tem a ver isso com morfologia?
c) Instituímos a isonomia salarial;
1. Eis aqui a função da assembleia: legislar. Mas o que tem a ver isso com morfologia?
d) Aprovamos os cursos de nível superior para todos os professores do Acre, incluindo os professores rurais e indígenas;
1. Eis aqui a função da assembleia: legislar. Mas o que tem a ver isso com morfologia?
e) Aumentamos de 25 para 30% os recursos destinados à educação, um exemplo para o Brasil;
1. Eis aqui a função da assembleia: legislar. Mas o que tem a ver isso com morfologia?
f) Autorizamos a reforma e a reconstrução de nossas escolas, tornando-as belos lugares de produção do saber.
1. Eis aqui a função da assembleia: legislar. Mas o que tem a ver isso com morfologia?;
2. Sua defesa da educação pública acriana, como eu disse antes no início, petrificou-se no tempo porque não aponta novos caminhos. A esquerda é mais do que reforma escolar, mais do que aumento salarial; e
3. Moisés, qualidade da disciplina LÍNGUA Portuguesa passa pela gestão escolar? A democracia escolar não precisa ser aprimorada? Não é preciso redefinir as funções do coordenador de ensino? A escola pública não deveria ser administrada por quem é formado em administração?
E não podemos discutir a nossa própria memória lingüística?
1. Deputado, a questão, primeira, é a palavra em si, ou seja, sua morfologia, sua lógica interna, o que se ensina na escola, na faculdade.
O que é isso, professor?
1. Deputado, avançamos muito, nossos índices educacionais estão melhorando, reconheço e elogio. Aquele Acre, não quero revê-lo outra vez na Secretaria de Educação. Isso, entretanto, não exclui minhas críticas, que devem ser sensatas e éticas; e
2. Só criticamos quando, pelo menos para mim, sabemos que o criticado tem capacidade para melhorar ainda mais. Em um passado recente, eu não criticava: ria deles, dos desgovernos. Nunca ri da Frente Popular. Quanto à sua condição de deputado, acredite, eu aprecio seu caráter, sua fome de justiça, sua integridade como homem público; mas, como digo, eu amo minha mãe, e critico-a, reconhecendo suas virtudes.
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