Em Rio Branco, na passarela Joaquim Macedo, o jovem José Gonçalves Neto, de Manaus, pulou para morrer no rio Acre. Desempregado, doente, sem dinheiro e longe de uma família indiferente a ele, José recebeu da plateia que assistia a seu drama o riso, o deboche. "Seu corno, pula, pula, porque corno tem que morrer."
Salvo pelos bombeiros, José teve depois um ataque de epilepsia. "Isso é cena", disse um popular da plateia.
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
------------------------------------
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
________________
"Os ombros suportam o mundo", de Drummond
Um comentário:
drummond disse tudo.
Postar um comentário