Ontem, como em outros tantos dias, jornalistas, a maioria, escrevinharam sobre assassinato em um bairro qualquer, sobre drogas apreendidas, sobre alguma superficialidade do que é insignificante.
No Acre, por causa de governo e de proprietários de jornais, as pautas, além de iguais, enfadonhas, agridem a inteligência de um cão sem raça.
Escrever sobre referenciais curriculares não se nivela a informar que a Polícia Militar prendeu mais um traficante; porém, como dono de jornal e repórteres não têm boas referências, os traficantes nos pautam. Que importância existe em um encontro na Secretaria de Educação sobre referenciais curriculares? Traficantes, repito-me, sempre nos pautam, menos a educação pública.
No dia 7 de dezembro, estarei para reconhecer avanços e criticar atrasos nesse encontro. Os referenciais de Literatura e de Língua Poortuguesa da Secretaria de Educação do Acre alegraram-me. Gostei muito. Pensei em publicar um artigo na TRIBUNA sobre isso; porém, por falta de um tempo largo, estou impossibilitado. Ainda sim, destaco uma breve consideração.
Historicismo
Finalmente, após anos e anos, a secretaria apresenta o fim do historicismo literário, essa maldição defendida, por exemplo, pela professora Laélia, da Universidade Federal do Acre. A Faculdade de Letras, até ontem, concebia esse historicismo na graduação.
Em 1975, nos cadernos da PUC-RJ, professores como José Guilherme Merquior já criticavam os estudos de literatura segundo uma concepção de história. Registra-se no referencial da secretaria:
"É importante ressaltar ainda outro ponto importante: o ensino de literatura, que efetivamente deve acontecer no Ensino Médio, deve dar-se de modo articulado às práticas de leitura (PCNEM, 2000) e contemplar a experiência literária do aluno através de propostas que permitam não apenas verificar sua capacidade geral de leitura, mas também avaliar as particularidades do texto literário, sem com isso exigir um domínio de conteúdos específicos (datas, autores, Escolas Literárias, entre outros) trabalhados de forma descontextualizada."
Essa Literatura tornou-se mais complexa, menos tola ou menos fácil para o professor lecionar e, por causa disso, esse professor deverá ser outro, também menos tolo. Somente em 2009, o Estado do Acre aponta um caminho desalienado para a Literatura. Chegou muito atrasado mas chegou.
No entanto, sair de uma tradição congelada no tempo para, em um segundo momento, de repente, quebrar esse gelo com o novo, convenhamos, representa uma transição, os percalços são inevitáveis. A confusão instalou-se entre nós. As incertezas nos desorientam.
Aprecio o novo, a sua natureza me seduz; mas, mesmo assim, não viro as costas para a tradição. Nesse momento, sou prudente - opto pelos dois caminhos para a literatura na escola pública até que a transição passe.
Um comentário:
Bem, caro Aldo, tenho lido o seu blogue. Belas palavras são ditas aqui. Mas não deixo de fazer uma ressalva a essa postagem, quando você cita a Profª. Laélia. Não a vejo tão defensora da história da literatura. Com ela conversei mais sobre estética da recepção, entre outras coisas. Outra ressalva: José Guilherme Merquior, que você também cita, escreveu o livro “De Anchieta a Euclides — Breve história da literatura brasileira”, de 1977. Talvez ele tenha mudado de ideia.
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