Em época de Carnaval, a inteligência, tão raríssima na TV, desaparece quando, por exemplo, aquele repórter pergunta ao folião se o Carnaval está alegre ou quando aquele folião diz que o Carnaval está alegre. Detalhe: repórter e folião concluíram o ensino superior.
Se isso é superior, estive com Georges Minois em Rio Branco para entrevistá-lo sobre o reino de Momo. Minois não é repórter e nem trabalha na TV Aldeia. Historiador francês, ele publicou História do riso e do escárnio, um belíssimo livro sobre o Carnaval.
EntreVista
Minois, há três dias você assiste ao Carnaval de Rio Branco, qual sua observação?
Georges Minois - Diferente do que o russo Bakhtin escreveu, o riso na Idade Média é usado a serviço dos poderes, ou seja, ele é mais conservador do que destruidor. Em Rio Branco, o riso de Momo é domesticado, não zomba dos que exercem o poder em Rio Branco. Aqui, o poder público organiza o Carnaval conforme seu entendimento. Organiza para dominar sua subversão simbólica.
Subversão simbólica?
Georges Minois - Sim, Momo é um mito que subverte a ordem dos deuses, ou seja, ele coloca em seu reino o poder do avesso. No Acre, o governo do Estado organiza o Carnaval para alterar o sentido dessa festa e, nesse sentido, o poder não aparece do avesso por meio do riso, do sarcasmo.
O poder sempre buscou domesticar Momo?
Georges Minois - Eu digo em meu livro que o Carnaval muda de tom no século XVI. Eu poderia lhe dar vários exemplos, mas fico com o que ocorreu nas cidades flamengas. Nelas, o imperador interdita a festa do Rei dos Bobos. Nessa época, o cômico é substituído pelo didatismo, como ocorre em Rio Branco. Aqui, a interdição existe, ela é sutil.
Suas últimas palavras.
Georges Minois - Isso que está aí não é Carnaval, o poder público matou o sentido original do reindo de Momo, e o que restou ao povo foi brincar sobre seu cadáver.
Se isso é superior, estive com Georges Minois em Rio Branco para entrevistá-lo sobre o reino de Momo. Minois não é repórter e nem trabalha na TV Aldeia. Historiador francês, ele publicou História do riso e do escárnio, um belíssimo livro sobre o Carnaval.
EntreVista
Minois, há três dias você assiste ao Carnaval de Rio Branco, qual sua observação?
Georges Minois - Diferente do que o russo Bakhtin escreveu, o riso na Idade Média é usado a serviço dos poderes, ou seja, ele é mais conservador do que destruidor. Em Rio Branco, o riso de Momo é domesticado, não zomba dos que exercem o poder em Rio Branco. Aqui, o poder público organiza o Carnaval conforme seu entendimento. Organiza para dominar sua subversão simbólica.
Subversão simbólica?
Georges Minois - Sim, Momo é um mito que subverte a ordem dos deuses, ou seja, ele coloca em seu reino o poder do avesso. No Acre, o governo do Estado organiza o Carnaval para alterar o sentido dessa festa e, nesse sentido, o poder não aparece do avesso por meio do riso, do sarcasmo.
O poder sempre buscou domesticar Momo?
Georges Minois - Eu digo em meu livro que o Carnaval muda de tom no século XVI. Eu poderia lhe dar vários exemplos, mas fico com o que ocorreu nas cidades flamengas. Nelas, o imperador interdita a festa do Rei dos Bobos. Nessa época, o cômico é substituído pelo didatismo, como ocorre em Rio Branco. Aqui, a interdição existe, ela é sutil.
Suas últimas palavras.
Georges Minois - Isso que está aí não é Carnaval, o poder público matou o sentido original do reindo de Momo, e o que restou ao povo foi brincar sobre seu cadáver.
Um comentário:
Infelizmente, na atualidade, os sistemas de poder dominante aprenderam a absorver e anular tudo o que é potencialmente subversivo. O "carnaval popular" do PT já não inclui a crítica à política e ao poder. O que mais me entristece é ver os antigos ativistas de esquerda cinicamente colaborando para isso. E o povo, o povo se vendendo tão barato.
Postar um comentário