Houve uma época em que os jornais editavam inteligência e pautavam cultura. O Jornal do Brasil, por exemplo, publicava as entrevistas de Clarice Lispector [1920-1977], além de seus artigos.
Textos muito bem escritos, linhas que faziam o leitor se sentir humano, eu disse humano, não burro.
A editora Rocco publicou essas entrevistas em um charmoso livro, Clarice Lispector, entrevistas. Entre tantos entrevistados, Emerson Fittipaldi, Paulo Autran, Pablo Neruda, Zagallo, João Saldanha, Tarcísio Meira, Jardel Filho, Elis Regina.
Neste blogue, separo: Nelson Rodrigues. Escreve Clarice.
"Avisei a Nelson Rodrigues que desejava uma entrevista diferente. É um homem tão cheio de facetas que lhe pedi apenas uma: a da verdade. Ele aceitou e cumpriu.
- Você é da esquerda ou da direita?
- Eu me recuso absolutamente a ser de esquerda ou de direita. Eu sou um sujeito que defende ferozmente a sua solidão. Cheguei a essa atitude diante de duas coisas, lendo dois volumes sobre a guerra civil na História. Verifiquei então o óbvio ululante: de parte a parte todos eram canalhas. Rigorosamente todos. Eu não quero ser nem canalha da esquerda nem canalha da direita.
- Nelson, você se referiu à solidão. Você se sente um homem só?
- Do ponto de vista amoroso eu encontrei Lúcia. E é preciso especificar: a grande, a perfeita solidão exige uma companhia ideal."
Outro estrevistado: Hélio Pellegrino.
"- Que é o amor?
- Amor é surpresa, susto esplêndido - descoberta do mundo. Amor é dom, demasia, presente. Dou-me ao Outro e, aberto à sua alteridade, por mediação dele, recebo dele o dom de mim, a graça de existir, por ter-me dado."
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No Acre, vivemos o período mais pobre de seu jornalismo. Triste.
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