Última postagem deste ano. Quando retornarei, ainda não sei. A única verdade é que tenho de me ausentar por um longo tempo. Silêncio.
Mas, antes, deixo a teus olhos os versos de um poeta que me fascina pelo vigor desobediente de sua inquieta juventude. A poesia chama-se "Minha boêmia".
Lá ia eu, de mãos nos bolsos descosidos;
Meu paletó também tornava-se ideal;
Sob o céu, Musa, eu fui teu súdito ideal,
Puxa vida! a sonhar amores destemidos!
O meu único par de calças tinha furos.
- Pequeno Polegar do sonho ao meu redor
Rimas espalho. Albergo-me à Usa Maior.
- Os meus astros no céu rangem frêmitos puros.
Sentado, eu os ouvia, à beira do caminho,
Nas noites de setembro, onde senti qual vinho
O orvalho a rorejar-me a fronte em comoção;
Onde, rimando em meio a imensidões fantásticas,
Eu tomava, qual lira, as botinas elásticas
E tangia um dos pés junto ao meu coração!
Aprecio esses versos por causa de sua vertiginosa liberdade ("Albergo-me à Ursa Maior"). Sob estrelas, hospeda-se. Esse é o maior bem de um ser humano, a liberdade. Mas quem pensa que ela significa fazer o que bem entende... engana-se.
Somos livres para haver o encontro, porque, se muitas vezes não sabemos explicar, pelo menos sentimos na pele que o outro nos liberta. Penso que a liberdade só possui esse sentido. Quando estamos sozinhos, estamos presos a nós mesmos, angustiados por grades que não vemos.
É o outro que nos oferta o gozo. Rimos porque estamos com alguém. Rir sozinho é loucura. Ausência de liberdade implica o que o Espírito não pode realizar, e uma das maiores realizações é se comover no momento de um encontro. Ser afetado. Afetar alguém.
Mas, depois, no final de tudo, estaremos sozinhos. A velhice virá. A dor brotará em nós. Não se negocia com a morte. No final, sempre perdemos nas esquinas solitárias, nas multidões que não nos enxergam.
No leito de um hospital, sempre perdemos os amigos. Em nossa própria casa, perderemos nossa mãe. No final, já disse, sozinhos ficaremos diante da tevê ou da tarde chuvosa.
Mas que o fim não nos desanime. Se a liberdade nos deu os encontros que agora pulsam em nós como boas lembranças, deixemos nos lábios a doçura do sorriso porque tudo, tudo mesmo, foi liberdade.
Para conhecer melhor o autor dos versos de "Minha boêmia", assista ao filme "Eclipse de uma paixão". Arthur Rimbaud fascina.
Agora, tenho de ir para o silêncio de minhas lembranças.
Mas, antes, deixo a teus olhos os versos de um poeta que me fascina pelo vigor desobediente de sua inquieta juventude. A poesia chama-se "Minha boêmia".
Lá ia eu, de mãos nos bolsos descosidos;
Meu paletó também tornava-se ideal;
Sob o céu, Musa, eu fui teu súdito ideal,
Puxa vida! a sonhar amores destemidos!
O meu único par de calças tinha furos.
- Pequeno Polegar do sonho ao meu redor
Rimas espalho. Albergo-me à Usa Maior.
- Os meus astros no céu rangem frêmitos puros.
Sentado, eu os ouvia, à beira do caminho,
Nas noites de setembro, onde senti qual vinho
O orvalho a rorejar-me a fronte em comoção;
Onde, rimando em meio a imensidões fantásticas,
Eu tomava, qual lira, as botinas elásticas
E tangia um dos pés junto ao meu coração!
Aprecio esses versos por causa de sua vertiginosa liberdade ("Albergo-me à Ursa Maior"). Sob estrelas, hospeda-se. Esse é o maior bem de um ser humano, a liberdade. Mas quem pensa que ela significa fazer o que bem entende... engana-se.
Somos livres para haver o encontro, porque, se muitas vezes não sabemos explicar, pelo menos sentimos na pele que o outro nos liberta. Penso que a liberdade só possui esse sentido. Quando estamos sozinhos, estamos presos a nós mesmos, angustiados por grades que não vemos.
É o outro que nos oferta o gozo. Rimos porque estamos com alguém. Rir sozinho é loucura. Ausência de liberdade implica o que o Espírito não pode realizar, e uma das maiores realizações é se comover no momento de um encontro. Ser afetado. Afetar alguém.
Mas, depois, no final de tudo, estaremos sozinhos. A velhice virá. A dor brotará em nós. Não se negocia com a morte. No final, sempre perdemos nas esquinas solitárias, nas multidões que não nos enxergam.
No leito de um hospital, sempre perdemos os amigos. Em nossa própria casa, perderemos nossa mãe. No final, já disse, sozinhos ficaremos diante da tevê ou da tarde chuvosa.
Mas que o fim não nos desanime. Se a liberdade nos deu os encontros que agora pulsam em nós como boas lembranças, deixemos nos lábios a doçura do sorriso porque tudo, tudo mesmo, foi liberdade.
Para conhecer melhor o autor dos versos de "Minha boêmia", assista ao filme "Eclipse de uma paixão". Arthur Rimbaud fascina.
Agora, tenho de ir para o silêncio de minhas lembranças.
Um comentário:
Volte logo, amigo Aldo.
Que a taça da felicidade transborde nos rios dos anos que virão. bj Ivone
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