Crítica: Obra reunida confirma Leminski no topo da poesia brasileira
RODRIGO GARCIA LOPES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um dos grandes acontecimentos literários do ano no Brasil. É o que já se pode dizer do lançamento de "Toda Poesia", de Paulo Leminski.
Aguardado por um público cada vez mais cativo e que não para de crescer, o livro reúne a obra poética do autor paranaense, interrompida aos 44 anos.
Seus principais livros há muito estavam fora de catálogo, tornando-se raridades. Agora o leitor tem a chance de comprovar a vitalidade, inteligência e multiplicidade de sua obra.
Ovidio Vieira/Folhapress | ||
Paulo Leminski nas ruas de São Paulo em foto de 1983 |
O livro traz mais de 600 poemas. Se perde ao não reproduzir a relação simbiótica que sua poesia estabelece com fotos de Jack Pires ("Quarenta Clics") e desenhos de João Suplicy ("Winterverno"), por outro lado recupera poemas que ficaram de fora de "Caprichos & Relaxos".
Polêmico e polimorfo, poucos como Leminski foram, depois de morto, tão esculhambados por seus próprios pares. Eram comuns os epítetos de "poeta-piada", "mero frasista polêmico", "poeta pop".
Principalmente depois que "Caprichos & Relaxos" tornou-se um best-seller e ele virou uma grande referência, com o pecado de também fazer sucesso na MPB.
Leminski conseguiu, como escreve Wisnik, uma "aliança entre concentração e desconcentração" que poucos poetas alcançaram. O escritor fazia uma poesia que chegava junto e não ficava puxando assunto.
EXPERIMENTALISTA
Eruditíssimo, com domínio total da linguagem, como prova no romance "Catatau", foi além do concretismo e da poesia marginal (que ele não repetiu simplesmente).
É um dos mais importantes poetas brasileiros de todos os tempos. Entre outras coisas, resgatou a "logopeia" (a dança do intelecto entre as palavras) para uma poesia brasileira cada vez mais asséptica e formalista.
Ao lado de obras-primas (o concreto "Metamorfose") e peças imprescindíveis, como "um deus também é o vento", "O Velho Leon e Natália em Coyoacán", "Iceberg", "Aviso aos Náufragos", "Invernáculo" e "um homem com uma dor" (momentos que fundem imagem, música e pensamento), temos poemas descartáveis ("amar é um elo").
"Toda Poesia" é desigual? Sim, como é desigual "Poesia Completa", de Carlos Drummond de Andrade.
Com a diferença de que Leminski, experimentalista nato, tinha consciência de que "errava muito", assumindo riscos. O poeta nos quer por inteiro, desejo já expresso no título "Caprichos & Relaxos".
Num tempo em que boa parte dos poetas parece escrever cada vez mais para si mesmos ou para a crítica, num campo literário infestado de políticas de compadrio e ausente de
verdadeiras discussões de valores estéticos, onde há muita pose e pouca poesia, "Toda Poesia" chega em boa hora.
RODRIGO GARCIA LOPES, poeta e compositor, está lançando seu segundo CD, "Canções do Estúdio Realidade".
TODA POESIA
AUTOR Paulo Leminski
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 46 (424 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
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