Parte I
Jozafá Batista, meu querido amigo,
Jozafá Batista, meu querido amigo,
os conceitos não existem segundo nossa opinião. Para que haja a conceituação, é preciso haver um profundo pensar não de pessoas comuns como nós, mas de gênios, cujo pensar atravessou séculos e séculos.
Nosso pensar não é original, por isso recorremos a nomes que atravessaram séculos e optamos por alguns.
Não é minha ideia quando digo: o real é movimento, e é movimento por ser contingente, por ser acidente; e é acidente por nos encontrarmos no mundo sensível, cuja marca é a contradição, ou seja, a instabilidade.
Hegel |
Essa é a natureza do real. Como disse certa vez a você, até em um mosteiro pulsa essa instabilidade, pois o mosteiro é real, é variação. Não pertence à natureza (humana) o Uno, porque o Uno é estabilidade, imobilidade.
Uma vez humana, em nenhuma instituição existe o Uno, por exemplo, na Polícia Federal ou na Receita Federal. Nesses espaços, existe o Uno? todos são do PSDB? tudo é interesse político? todos são contra o PT?
Como diz Gilvan Fogel, "o real, a realidade do real é movimento de realização de realidade, isto é, ação". Não existe, portanto, a ideia do homogêneo, do absoluto no real, isto é, "todos os brasileiros", "todos na Polícia Federal", "a Polícia Federal age de forma política".
Parte II
O senso comum ignora, mas ele reproduz a ideia de Parmênides, que é a ideia da não contradição, e reproduz a não contradição porque Parmênides atravessou séculos e séculos - muito diferente de Heráclito, que é a ideia da contradição.
No século VI d. C, Heráclito passa a ser ocultado e só é des-coberto de forma bem ampla no século XX.
No entanto, mesmo não de forma bem ampla, só com alguns fragmentos, Hegel lê Heráclito e, embora seja outra contradição, mas tendo como base o pensamento desse grego, Hegel fundamenta a ideia da contradição.
Se Hegel escreveu "Fenomenologia do Espírito" ou "Fenomenologia da Mente" (1807) e "A Lógica da Ciência", não foi só por causa das obras de Kant, mas também por causa de Heráclito. Com Hegel, com Heráclito, com Platão, aprendemos que no tempo nada é absoluto, nem a totalidade.
Sobre a totalidade, pensamento que o senso comum reproduz, eu digo o seguinte a partir de Hegel, que o senso comum, nesse caso, o de Hegel, não reproduz: a totalidade final é tão una, única, homogênea e autônoma quanto à identidade primeira e primordial (a tese), porque ela, a totalidade final, é síntese e, por causa disso, por ser síntese, é identidade e negatividade enquanto nova tese, mas uma tese que já é devir. Assim, há nessa nova tese, que é síntese, estabilidade, imobilidade, fixidez, tal qual a identidade primeira (A=A). No entanto, ao sair de si mesma por causa da negatividade (fora de si), possibilita outra totalidade final, que também possui uma identidade primeira.
Dessa forma, a identidade primeira é homogênea porque não há nela a negatividade, porém tão somente a estabilidade, a imobilidade de A=A. Como na totalidade final tese e antítese têm uma suspensão - o que Hegel chama de "aufheben" (não há no português termo com o mesmo sentido) -, ocorre também na totalidade o uno, o único, o homogêneo, isto é, uma nova tese, uma identidade, sabendo que essa nova tese já um devir.
Heráclito |
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