Hoje, no Ideal, a LiteraTura passou pela sala de aula conforme determina a Universidade Federal do Acre. Os anos passam e a receita, a mesma: períodos de época, historicismo e ainda há professor que coloca a biografia do romancista, do poeta.
Por acaso estudamos '"produto cartesiano" com a biografia de René Descartes?
A LiteraTura padece no ensino médio e no pré-vestibular, porque intelectuais de Letras não respiram outras possibilidades. Hoje, uma aluna do Ideal apresentou-me três autores: Mário Quintana, Oswald de Andrade e Érico Veríssimo. Ela, também, estuda para a UnB.
Por falta de criatividade e de inteligência, dez livros, mantidos até hoje para a prova de Literatura, desanimam os jovens à leitura. Melhor reproduzir cópias sobre os livros e lê-las.
Em sala, hoje, lecionei sobre Arcadismo. Há anos, busco sair do clichê "pastores" ou coisa do gênero. Compreendo que precisamos partir dos conceitos, porque são eles que me (re)apresentam a vida, o mundo. Se o Arcadismo chama-se também Neoclassicismo, apresentei uma ótima tradução da obra "A República", de Platão, um fragmento, ei-lo: "Mas, para nós, ficaríamos com um poeta e um narrador de histórias mais austero e menos aprazível, tendo em conta a sua utilidade, a fim de que ele imite para nós a fala do homem de bem e se exprima segundo aquele modelo que de início regulamos, quando tentávamos educar os militares." Aqui, termos relacionados ao Arcadismo. Um, no entanto, não se relaciona, qual seja: aprazível. Por que o Arcadismo controla o aprazível a ponto da arte árcade ser austera e regulada pela Razão? Por que o Arcadismo evita o prazer? Por que os amantes não se tocam na poesia árcade? Para mim, os jovens precisam repensar o prazer por meio da Literatura. Árcade, filho de Zeus e de Calisto - leia "Mitologia Grega", de Junito Brandão -, nasceu para civilizar os campos em que o deus Pã (ou Pan) tocava sua flauta. Árcade, portanto, representa a ordem, conseqüência da Razão. Se formos ao dicionário grego, "arkeo" siginifica "afastar o mal" e "arkos" quer dizer "limite", "cuidar", "medir". Que mal é esse? Limitar o quê? Ora, o corpo, esse templo dos sentidos, do desejo, do prazer. Como escreveu Platão, o poeta não pode ser aprazível, nesse caso, o árcade. O que há no prazer para que ele não pulse na linguagem do Arcadismo? Penso que, por meio dessa pergunta, o Arcadismo torna-se interessante para jovens que precisam repensar o prazer no mundo atual. Amanhã, continuarei sobre isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário