Indicadores da escola particular
elevam desempenho do Acre no Enem
Professora de escola pública há 15 anos, Mônica Maria de Carvalho Araújo, de 36 anos, tem três filhos e uma jornada de trabalho exaustiva. Além das quatro horas na sala de aula da escola Roberto Sanches Mubárac, ela precisa dedicar mais três ao planejamento. São sete horas por dia, de segunda a sexta. Em ano de greve dos professores, aos sábados também.
O local de trabalho de Mônica passou por algumas melhorias nos últimos anos. Os professores foram valorizados, ganham melhor. Mas a maioria das salas ainda não tem ar-condicionado nem espaço para a informática, e cada professor dá aula para turmas com 40 e 45 crianças - o recomendado pela Unesco é metade disso.
“É preciso ter amor. Meus filhos, por exemplo, eu só vejo à noite, porque não tenho tempo durante o dia. Quando não estou aqui, estou planejando as aulas”, explica Mônica Maria Carvalho, que ganha R$ 1,4 mil mensais por tanto sacrifício.
O marido, diarista, complementa a renda doméstica, mas a família se ressente da ausência materna. E também sonha com o dia em que a profissão da mãe compense tanto sacrifício.
Mas o horizonte não é promissor. Esses pequenos e grandes problemas, de fato bem mais graves no passado que hoje, ainda tendem a ampliar a já considerável distância entre os indicadores da educação pública e privada.
Prova disso é o recente Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): o comemorado salto da educação acreana foi puxado, ironicamente, pelas escolas particulares.
Na prova objetiva, contendo questões de várias matérias e pontuação entre 0 e 100, os alunos da rede pública tiraram 42,91 pontos. Os das escolas particulares alcançaram 59,34, puxando a média do Acre.
O milagre da redação
Mas não foi na prova objetiva o grande empurrão das escolas particulares sobre as públicas. Prova disso é que, nelas, a nota final do Acre está entre as cinco piores do país. Se contabilizadas somente as escolas públicas, o Acre “sobe” para o quarto pior lugar.
A grande revelação foi a prova de redação, onde tanto escolas públicas quanto particulares obtiveram ótimos índices. As públicas faturaram 54,57 pontos, o 14º melhor lugar do ranking nacional e 9 pontos acima do obtido no Enem do ano passado.
No entanto, o salto das escolas particulares foi muito maior. A pontuação de 63,45 pontos é a melhor de toda a Região Norte, está acima da média nacional (apenas 55,99 pontos), e, de quebra, é a quarta melhor colocação de todo o país nessa categoria.
Na divulgação do desempenho por Estado, o Enem somou as escolas públicas às particulares. O resultado para o Acre foi óbvio: uma das melhores colocações em redação do país. Orgulhosa, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) atribuiu as notas às políticas de treinamento e de valorização dos professores.
Mônica Maria, a professora entrevistada pela reportagem, não discorda. Ela agradece ao governo Binho pelos cursos, pelas capacitações e pelas melhorias salariais. Mas não deixa de perceber algo interessante.
“Se o sujeito quiser ser professor, pensando em ganhar dinheiro, é melhor desistir. É preciso ter muito amor, muito mesmo. E disposição para fazer muito sacrifício”, revela a mestre, cujos filhos são, tais quais os seus alunos, crianças.
Confira os números e compare
Enem 2006 – rede pública
30,27 foi a média na prova objetiva, 25º lugar do ranking.
47,10 foi a média na prova de redação, 23º do ranking.
Enem 2006 – rede privada
41,35 foi a média na prova objetiva, 22º lugar do ranking.
60,31 foi a média na redação, 8º lugar do ranking.
Na média nacional, os participantes do Enem 2006 obtiveram 36,90 na parte objetiva e 52,08 na redação.
Enem 2007 – rede pública
42,91 foi a média na prova objetiva, 23º lugar do ranking.
54,57 foi a média na redação, 14º lugar do ranking.
Enem 2007 – rede privada
59,34 foi a média na prova objetiva, 25º lugar do ranking.
63,45 foi a média na redação, 4º lugar do ranking.
Na média nacional, os participantes do Enem 2007 obtiveram 51,52 na parte objetiva e 55,99 na redação.