como jornalista, não é dócil.
Texto de Aldo Nascimento
Com miríade de hipertextos disseminados por feixes de luz, prolifera todo tipo de informação em blogs e em sítios - não escrevo site, esta palavra estranha, porque na minha LÍNGUA há outra que substitui o estrangeiro.
No Acre, entretanto, poucos proliferam boa crítica e boa escrita. O blog, sabemos, oferta, por exemplo, a liberdade de escrever, porém a liberdade não implica escrever o que quiser e como quiser, porque, se for assim, não haverá encontro entre leitor e o que é lido. Somos livres, isso sim, para edificar o melhor para olhos que nos leem.
Diante dessa proliferação, fique a melhor escrita. Com tantos blogs, com tantos sítios, permaneça a melhor crítica. No Acre, raríssimos blogs e sítios são bem escritos. Suja-se a língua portuguesa com erros; emporcalham-na com superficialidades profundas, regidas por clichês, por bordões.
Escrever bem. Entre páginas, a escrita de Albert Camus [1913-1960 ] encanta-me por sua elegância, requinte. Jean Daniel, um de seus melhores amigos, conta que Camus encontrava-se exultante quando entrou certa vez em uma boate com seus colegas do jornal Combat, um periódico que resistia à ocupação nazista.
Naquele dia, a edição tinha sido ótima. Ao entrar no bar, o franco-argelino exclamou: "Vale a pena lutar por uma profissão como esta!". Antes de ser um dos maiores pensadores do século 20 e de receber o prêmio Nobel de Literatura em 1957, Albert Camus foi jornalista.
Qual a diferença entre nossas jornalistas e o jornalista Camus? Para mim, uma: só “vale a pena lutar por uma profissão com esta” quando pulsa o vigor incansável de um ideal.
Qual ideal de nossas jornalistas? Sabemos que um homem com poder é um homem que esconde alguma coisa; porém nossas jornalistas, quando moídas e modeladas pela máquina redacional, não desejam des-cobrir o discurso do poder sobre educação, sobre saúde pública ou sobre manejo sustentável. Escrevem para agradar, porque o ideal, se existe um, é se manter no emprego, é se dar bem com todos para, quem sabe, assegurar algo melhor depois. São escravas dóceis sem exigências.
As jornalistas são as mais despossuídas de senso crítico em suas matérias. Indiferentes a des-cobrir algo por que valha a pena lutar, seus textos agradam a todos, principalmente, ao poder. Há mais de dez anos nas Redações acrianas, eu não conheci uma jornalista - e muito menos uma escrita feminina - que exalasse o aroma da contestação ou o charme elegante da crítica.
Na Redação de um jornal, elas são mais domésticas do que na cozinha. Não agradam aos maridos, mas satisfazem as exigências do poder com uma escrita que ainda reproduz o gênero masculino, ou seja, distante, objetiva, dependente do objeto tratado. A escrita de nossas jornalistas, portanto, assemelha-se ao narrador do realismo-naturalista do século 19.
Mulheres que escrevem, mas não conforme o gênero feminino. Buscar esse caminho, o do gênero feminino, no entanto, não passa pelo jornalismo. Explico. Assim como a escrita da História se refez por meio da Literatura, a escrita do Jornalismo também se recriou por meio dessa mesma Literatura. Entre 1930 e 1960, surge o jornalismo literário. Mentira. Bem antes, em 1700, há registros de elementos literários no jornalismo. É verdade que, em fevereiro de 1972, a New York Magazine publicou o artigo O nascimento do new journalism, escrito por Tom Wolfe, mas esse americano não foi quem iniciou o amalgamamento entre jornalismo e literatura. As jornalistas precisam recorrer à literatura para que seus textos não reproduzam o gênero masculino.
Neste espaço de jornal, como não tenho mais linhas para estender minha palavra vã, deixo para teus olhos esta publicação da Rocco: Ficar ou não ficar, de Tom Wolfe, obra em que o jornalismo se comunica com a literatura, leitura obrigatória para as nossas jornalistas que escrevem como homens - às vezes, melhor pôr a mesa para a família, permanecer em casa, colocar as sandálias nos pés cansados do bom marido.
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