
O que o governo espera do professor em sala de aula, nós negaríamos o governo entre as quatro paredes, ou seja, nada de leitura, nada de texto, nada de letramento, nada de qualidade de ensino. O nome dessa desobediência civil seria “operação nota azul”. Como canta o talentoso grupo Los Poronga, "criando atalhos a golpes de insatisfações, faço escultura em luz de lampião, (...). Tudo ao contrário então."
Diante de câmeras de tevê, representantes do sindicato, movidos pela inteligência e por um bom português, diriam:
- Nós, professores, estamos em sala negando o que o poder deseja de nós. No lugar de dizer o que esperam de nós, diremos que ler não é importante, que estudar não é importante, que ser professor não é importante. Nossa greve não é parar a escola, mas fazer com que o aluno pare de pensar, por exemplo, por meio de provas objetivas fáceis.
Gosto do pensamento anarquista porque nega o sistema dentro dele. Martin Luther King [1929-1968] e Mahatma Gandhi [1869-1948], por exemplo, realizaram ações conforme o pensamento anárquico.
Nos ônibus, os negros só podiam se sentar atrás, nas últimas cadeiras. Na frente, o negro deveria ceder o espaço ao branco. Luther King percebeu que uma maioria negra pagava passagens. Sendo assim, por meio de uma ótima comunicação, os negros foram convencidos a não entrar em ônibus. Eles andariam a pé. Os empresários sentiram no bolso o prejuízo porque a greve materializou um prejuízo.
Quando os ingleses desejaram mudar o modo de se vestir dos indianos, Gandhi propôs ao povo tecer sua própria roupa. As fábricas inglesas faliram.
Mas é impossível propor o novo quando entre meus pares circula há anos um discurso sindical envelhecido. O que é velho, sabemos, merece todo respeito, não é verdade?
No pensamento sindical, é preciso criar o fato visível, a sociedade precisa ver pela tevê que os professores pararam as aulas. O sindicato quer medir força com o governo, precisa mostrar que as escolas pararam. Quem pode mais? Da forma como as coisas estão colocadas, o governo.
A hegemonia da informação
Depois de uma minoria aprovar uma greve por tempo indeterminado, inicia-se a guerra de informação entre o governo e o Sindicato dos Professores Licenciados do Acre (Sinplac).
A questão aqui não se reduz a dizer que o governo tem a imprensa rio-branquense na mão, mas admitir por meio de uma autocrítica que o Sinplac não criou até hoje um jornalismo sindical eficaz e inteligente.
O sindicato não possui força informativa. Suas palavras, imprensas em panfletos, ecoam na contramão da história moderna. No panfleto, a palavra sindical é tarefeira, obreira, autômata; não é palavra persuasiva.
Como se ainda não fosse pouco, o sindicato não tem programa de rádio criado – eu disse “criado” – por ótimos profissionais da área e, se tivesse, seria muito malfeito por sindicalistas que ignoram a “sedução de comunicar”.
Quando se trata de informação, a luta será entre profissionais (o governo) e os amadores (o sindicato). Não aprendemos com o tempo.
Um comentário:
"Operação nota azul"?
Interessante, muito interessante.
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