quinta-feira, maio 26, 2011

Cative-me!

Para interpretar, meu olhos, antes, observaram a Expo-Acre por três anos.

Certa vez, meus olhos testemunharam uma criança com a família. O pai segurava a câmera, e a mãe ajeitava a pose da menina.

O local era uma baia. Ao lado da inocente, um boi também saiu na foto.

Muitos, em dia de Expo-Acre, saem de suas casas para contemplar bovídeos. Dizem que as crianças adoram, dizem.

Mas, no lugar de bois, imagino o governo da Frente Popular criar um espaço imenso somente para as crianças, um lugar de alegria autêntica, ingênua; no lugar de quadrúpedes, teatro infantil, leitura, parques, contadores de estórias, cinema.

No Acre, quando falamos de (contra)cultura infantil, a terra é árida, principalmente, nas periferias. Não há representações desse mundo nem nas escolas públicas, o que há são caricaturas do mundo infantil, deformações.

CATIVAR

A mãe conta estória para a filha dormir, mas, para mim, a Literatura Infantil deve despertar as crianças, abrir seus olhos para o belo, o sensível, o universal. "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry, pertence a uma literatura que não adormece crianças.

Nessa obra, as palavras transcendem o dicionário porque receberam dramatização. "Cativar", por exemplo, só tem sentido - mais do que significado - porque aprendemos com ela que esse verbo só pode ser conjugado a dois. Cativar é encontro e, onde pulsa o encontro, onde existe o eu, existe o drama. Deixamos de ser indivíduos isolados.

No entanto, quando vejo no filme a raposa no trigal, percebo que "cativar" é também "ficar só". A raposa, uma vez cativada, não pode evitar uma marca do destino [humano], a perda. Um dia, seja pela morte, seja por outra partida, a vida é a perda física de quem nos cativou, nesse caso, o pequeno príncipe.

No trigal, sozinha por causa da ação do verbo cativar, a raposa sabe que "o essencial é invisível aos olhos", isto é, ela não se serve mais da presença física do pequeno príncipe, mas só ela, sozinha, vê os cabelos do menino na forma de trigo. Só ela vê o invisível.

Crianças deveriam ser proibidas de entrar na Expo-Acre.

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