domingo, agosto 23, 2015

Estou bem




Domingo, inverno carioca é brisa fria pela janela e sol sem castigo. Não há nuvens. Acordei por volta das 9 horas e, como sempre, leio o que me interessa nos jornais O Globo e Folha de São Paulo.

Depois, abro um livro, dois. Meu trabalho é ler. Meu trabalho, entender as palavras neste dia tão calmo para retirar do belo livro "Experiência do Nada como Princípio do Mundo", de Guy Van de Beuque, professor da UFRJ, esta frase-oracional: "O pássaro é vermelho".

Diz o autor: "Nossa atenção se atém ao 'pássaro' e ao 'vermelho' de sua plumagem. O 'é', de tão pequeno, não atrai nosso olhar. É um mero conectivo, apenas uma palavra de ligação. O 'ser', então, nem se fala, parece uma mera abstração retirada do 'é'. Por sua presença constante, o ser nos passa despercebido, e mal conseguimos reparar nessa força que se impõe como a ligação de tudo que é."

O senso comum usa todo dia é, mas usa como praxis jamais pensada. Usa-se porque é comum. No entanto, existe uma profundidade do "ser", do "é", uma profundidade que nos lança à vertigem, por exemplo, na obra "Ser e Tempo", de Martin Heidegger.



No Brasil, há duas traduções, gosto das duas, mas a tradução de Fausto Castilho, que levou mais de 60 anos, é menos obscura do que a tradução de Márcia de Sá Cavalcante. A de Fausto flui mais.

Se filosofia "é recomeço", como pensa Heidegger, esse recomeço se chama por meio dos conceitos, por meio das categorias, por meio das palavras. Heidegger pensa a palavra.

A fim de saber o que é o ser, o pensador alemão pergunta o que (é) perguntar. E ele responde: "Jedes Fragen ein Suche" ou "todo perguntar é uma busca".

Ele inventou a relação entre "pergunta" e "busca"? Ele reproduziu isso? Não, jamais. Para afirmar isso, ele foi à palavra PERGUNTA segundo os gregos, não conforme os romanos.



E aí permita-me este texto meu:
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Em grego, “perguntar” é εрωτώ; e “pergunta”, εрώτηση. O sentido profundo da palavra “pergunta”, acolhido pelo significante grego εрώτηση, morreu no exato momento em que se transliterou esse significante para o latim vulgar como praecunto e para o latim clássico como percontāre.

Com efeito, se em latim “pergunta” implica “o todo inteiro”, em grego o sentido da palavra “pergunta” (εрώτηση) acessa a ideia mítica do deus Eros (Éрως), e, assim sendo, habita, na própria palavra “pergunta”, a ação de cortejar ou de enamorar o que é, visto que, por ser impulso que nos aproxima em direção ao que é, “perguntar” (εрωτώ) nos movimenta ao encontro amoroso, ao íntimo.

Se a filosofia, ao ver, pergunta, é porque o que é visto atrai; mas o atrair, sabemos, que namora o que é, já mora na pergunta. Uma vez atraída, a filosofia, que vê, pergunta sabendo que perguntar já é atração.
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Há na palavra "pergunta" um princípio, princípio que não tem nada a ver com a minha OPINIÃO.

Manhã de domingo, tenho andado tão bem com a vida.


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