A palavra, sabemos, é instável; não é senhora de um só significado, de um só sentido, por isso que ela “é” e “não é”. Por ter a natureza da inconstância. a palavra não pode dizer a verdade, porque, para haver verdade, é preciso existir a constância de A = A.
Para o político, a verdade sempre deve ser dita, pois, como trabalha para o bem dos cidadãos, sua palavra não pode ser ambígua, sua palavra não pode ter duas caras. Mas em que espaço a palavra do político comporta-se como verdade fosse? Pergunto porque a palavra do político precisa de um ambiente que acomode a verdade, que a acolha com segurança. A verdade transmite estabilidade.
Mas que ambiente é esse onde se acomoda a verdade a fim de o político transmitir com segurança a palavra? Ora, esse espaço é o espaço público, mas o entendamos como lugar onde a palavra fica às claras. Diante das câmeras de televisão, perante a multidão sem rosto, o político promete com a face toda exposta à luz do dia ou exposta à luz dos holofotes da TV. Como poderia ser sua palavra mentirosa se o político encontra-se tão exposto? O senso comum acredita que a verdade se manifesta porque, ao estar a palavra às claras, a luz retira da palavra do político toda ambiguidade, ou seja, retira dela toda inconstância. À luz do dia, a palavra é firme. A verdade, dizem, é luz.
Entretanto, diferente da crença bobinha do senso comum, a verdade jamais poderia se manifestar às claras, porque a verdade não é fácil de ser encontrada, não é valor disponível à luz do dia ou à luz dos holofotes de TV. O que é fácil só é fácil por estar exposto à luz. A verdade, concordemos, não é fácil, como é fácil encontrar objetos à luz do dia. A verdade é difícil na vida, trajetória de uma vida inteira. A verdade, portanto, é busca.
Mas por que buscamos a verdade? É busca porque ela precisa ser encontrada e, para encontrá-la, precisamos saber onde ela está. Ora, se não sabemos onde ela está, e por isso a buscamos, é porque a verdade, que não é fácil encontrar, encontra-se ocultada. Buscamos a verdade para des-cobrir. A verdade não é fácil como são fáceis de ver os objetos à luz do dia. A verdade é segredo à sombra do espaço público, à sombra dos holofotes de TV, à sombra do que o político diz à multidão.
Para o senso comum, a palavra no espaço público é palavra verdadeira, pois ela é dita às claras. Mas é no espaço privado, oculto, à sombra das multidões, onde a palavra não é fácil ser encontrada. À sombra do que é fácil ser encontrado, a verdade é ouvida por poucos, por exemplo, pelo juiz Sérgio Moro. Em latim, “sigilo” significa “marca pequena”, e a “marca pequena” foi quebrada pelo juiz. O que é pequeno, sabemos, não é fácil de ver; porém, uma vez quebrado o sigilo, o que estava oculto, escondido, à sombra da multidão, sai de seu pequeno lugar (conversa pessoal ao telefone) para “assombrar” a luz do dia.
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