sábado, junho 10, 2006

Dia dos Namorados 1

Os Corpos dos Namorados

Criado para ser encontro, o Corpo sussurra, na pele do ser apaixonado, a mais profunda carência. Sozinho, o corpo seria triste, visto que negaria sua própria natureza, que é sentir outro corpo, sentindo-se. O Prazer nos alegra!
E é assim que o desejo e é assim que, aos poucos, me aproximo. Em gestos delicados, condenso agora toda emoção em um toque, mas, antes que eu o tocasse, precipitei-me em suor. As mãos gelaram-se. Meu Corpo, orgulhoso, estremeceu-se. Ao te tocar, perceba, fragilizo-me.
Sim, eu sinto. Mais: por meio de ti, eu me sinto. Se não fosse você, sozinho, eu desconheceria a desmedida de minha felicidade, que é, sob os desvios de tuas carícias, sentir minha carne suavizar-se.
Tua pele... na minha... minha carne, já molhada e febril, confessa: ofereces a mim o prazer de estar onde sempre desejei estar – em teu Corpo, lugar-carne que me acolhe; extrai de mim a certeza de que estou viva, imensa, alegre. Quase infinita.
Perceba. Sou oferenda entregue a essa humana carência de ser desejada por ti. Feliz carícia que desliza. Fragiliza-me. Retira-me da solidão. Por causa de ti, faço-me presente para não mais, a mim, pertencer. Olhe, escute-me, eu te amo!
Imerso em suor e entre gemidos, eu, também, a amo, mais ainda, quando meu Corpo entra em transe; mais ainda, quando minha carne se declara insana. Corpo que se contorce. Agiganta-se. Foge ao controle. Rebela-se. Transpira. Geme. Grita. Exagera.
Já pressinto o gozo, sensação de que irei, por alguns segundos, me desencarnar. Minha carne já pode sentir o sabor suado dessa vertigem. Quando gozamos, tenho a impressão de que somos lançados ao não-lugar, restando a essa breve viagem fechar os olhos e... e... hummmmmmmm! Deus, isso é milagre.
Agora, após o orgasmo, meu Corpo, cansado e feliz, tomba sobre o teu, e, ao teu ouvido, sussurro que, sem você, eu jamais poderia sentir, sozinho, o que senti em minha carne e em meu espírito.
Tu foste o caminho por onde cheguei, mais sensível, a mim mesmo. Por meio de ti, sou devolvido a mim muito mais feliz. Só o Outro, você, essa minha diferença, possibilitou o excesso. Saboreando tua carne, movimentando-me ao seu bel-prazer, vivi a alegria de não mais a mim pertencer. Fui teu. Saborosamente, teu.

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