domingo, junho 17, 2012

Jornal A Gazeta

O que há de mais verdadeiro nos jornais acrianos são as datas. Fora esse tempo contado, os erros de português são precisos como os relógios suíços. Aqui, o leitor desaprende.


Hoje, por R$ 2, comprei A Gazeta. Comparado a O Globo, do Rio de Janeiro, R$ 4 aos domingos, embora receba subsídios do governo, o jornal acriano é muito caro por faltar nele o que mais enobrece a espécie humana: a inteligência.


Publicam-se jornais no Acre não para (e)levar a informação e a cultura à população, mas com a finalidade de fazer circular a imagem do governo com o português bem... bem embaçado.


Português 1. Paguei R$ 2 para ler isto: “os partidos da oposição tem uma semana decisiva”. 

Anos atrás, o professor de Português diria que não se fala “tem aula”, mas que “há aula”. Ao pé da letra, ninguém “tem aula”, assim como ninguém “tem uma semana”. Tem-se um livro, mas não se tem uma semana. Melhor teria sido escrever “semana decisiva para os partidos de oposição”.



Português 2. Paguei R$ 2 para ler isto: “os partidos de oposição tem uma semana decisiva”.

O repórter fez a concordância verbal entre “oposição” e “tem”, porém a concordância é com “os partidos”, ou seja, deveria ter escrito “têm”, com acento.

Português 3. Paguei R$ 2 para ler isto: “Senado prestará homenagem aos 50 anos do Acre Estado”.



Entre Acre e estado deveria haver um hífen: Acre-estado. Nos bons manuais do jornalismo, só se coloca estado em caixa-alta quando o seu sentido for o de Nação, que não é o caso.


Português
4. Paguei R$ 2 para ler isto: “o revendedor de jóias, Isaías Peres da Silva, 39 anos, teve sua residência, no bairro Sobral, invadida pela segunda vez neste ano.”

Por ser uma paroxítona com ditongo decrescente (oi), não se acentua, assim como “jiboia”, é a nova ortografia.

Quem disse que há vírgula depois de “joia”? Colocam-se vírgulas quando escrevemos “a presidenta da República, Dilma Rousseff, esteve no Acre”, mas nós não as colocamos quando escrevemos “o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso governou bem”.


Motivo: a primeira é oração subordinada adjetiva explicativa; e a segunda, restritiva. O correto é escrever “o revendedor de joias Isaías Peres da Silva, 39 anos, (...)”, por ser uma oração subordinada adjetiva restritiva.


Ronda Gramática

No último sábado, dia 16, final de tarde, a sede do jornal A Gazeta foi invadida pela Polícia Ortográfica. Porque os jornalistas resistiram à prisão, houve um forte tiroteio, deixando a Acentuação morta e a Concordância Verbal ferida.

O comandante Evanildo Bechara, da Operação Mãos Sujas de Erros de Português, afirmou que a tropa de elite da Polícia Ortográfica cansou-se de ver tanto erro nas páginas de A Gazeta. “Não podemos tolerar mais essa desobediência, esse descaso com a língua-padrão”, disse o militar.

Armado com um 38, o repórter Rutemberg Crispim atirou contra a língua, a portuguesa, ferindo Concordância Verbal com um tiro de raspão em “os partidos tem”. Quando se preparava para matar outra regra gramatical, o soldado Celso Cunha jogou na cara de Rutemberg o Manual da Folha de São Paulo, deixando-o desacordado.

Cúmplice de Rutemberg, Lenilda Cavalcante também resistiu à prisão gramatical, sendo baleada na 5ª série vertebral da coluna. Foi ela-ele quem matou pelas costas Jóia com “requintes de crueldade” e com outros clichês.

Em seu depoimento, Lenilda soltou o verbo com a regência errada.

“Técnicos da Língua Portuguesa da Secretaria de Educação do Acre me disseram que não é preciso estudar mais gramática, que nas escolas públicas alunos só estudam gêneros textuais, não obedecem regras, por isso eu atiro para qualquer canto da acentuação e da vírgula”.

Os meliantes foram conduzidos ao presídio Celso Pedro Luft, onde estudarão noções básicas de bom comportamento gramatical.