quarta-feira, novembro 22, 2006

EntreVista com Mano Brow, 35 anos

DENISE BRITO
Colaboração para a Folha
A descrição de uma realidade dura e crua, de pobreza e de discriminação pela polícia e pela sociedade são constantes nas letras do rap, como é o caso do pioneiro Racionais MCs. Em 18 anos de estrada, prestes a lançar o quinto CD e mantendo a mesma formação original, Ice Blue, Edy Rock, KL Jay e Mano Brown conseguiram uma posição ímpar no cenário do rap. Trata-se do único grupo que obteve projeção nacional mantendo-se à distância da grande mídia. Mano Brown, 35, falou ao Folhateen sobre o fato de companheiros ingressarem na grande mídia e sobre outros temas ligados aos rumos do país.

FOLHATEEN - Qual a sua opinião sobre os colegas que fizeram contratos com a grande mídia?
MANO BROWN - Somos jovens cheios de vontade de vencer e, às vezes, somos arrogantes. Quando a mídia abriu as pernas e disse "vem", a gente falou "não". Mas, se hoje chegou o momento de alguns companheiros ocuparem a mídia, eu não vou oprimir a vontade deles. Sou a favor da liberdade.
FOLHATEEN - Você se refere também ao Thaíde, que começou junto com vocês e hoje está numa minissérie da Globo?
BROWN - O Thaíde não tem o pensamento igual ao nosso, mas temos mais coisas em comum do que diferenças. Ele conhece o rap, está na estrada há anos e conhece os espinhos. Cada um defende com amor as suas razões, e elas não são iguais. Porque os pretos não têm todos as mesmas idéias.
FOLHATEEN - Você apoiou o Lula nas eleições? Chegou a pedir voto?
BROWN - Democracia é isso. Pedi voto para o Lula em shows. Fui pelo olhar e pelas idéias dele.

FOLHATEEN - Houve mudanças no panorama da vida na periferia nesses últimos anos?
BROWN - Eu não sei até que ponto conseguimos fazer esse tipo de análise. Vejo pequenas mudanças. Uma que me deixou contente foi um aumento do pequeno comércio nas ruas das favelas. Salões de beleza, pizzarias, locadoras, e os bares perdendo espaço. Acho que prefiro não ver as mudanças para não perder a ambição de fazer outras. Eu sempre quero mais.

FOLHATEEN - O que você gostaria de ver mudar?
BROWN - Tenho sonhos românticos, com a população ouvindo música nas ruas, se dedicando a uma atividade dentro de seu próprio bairro, fazendo academia, cuidando do corpo, tendo uma boa alimentação... Mas isso tudo não está tão longe. Há metas próximas, como a divulgação da prática de esportes. O ser humano atrás da favela também pode ser sensível.

FOLHATEEN - O crescimento do rap atrapalha ou ajuda o movimento?
BROWN - Quando você se impõe e passa a ser uma coletividade não é ruim; é bom para o rap. Ao mesmo tempo, os valores não são aqueles que se gostaria de difundir. Há muita valorização de roupas, aparência, cabelo. Ainda mais para nós, que somos pretos, se vestir melhor faz muita diferença. Mas não me agrada ver os irmãos escravos de marcas. É a escravidão do século 21. É ficar pondo comida na boca do monstro.

FOLHATEEN - Como você vê o alcance do discurso do rap?
BROWN - Esse discurso contra a elite foi defendido por toda uma geração. De 1988 até hoje, 2006. Algumas idéias foram insistentemente repetidas durante uma época, em palavras, em discos. Essa mensagem de vencer, de lutar, seja negro, tenha orgulho, não abaixe a cabeça, responda, estamos juntos. Como filosofia de vida, a primeira que aprendi e fielmente tentei seguir foi "se imponha, você não depende deles, muitos de nós já foram esmagados".

Rap & Rap & Rap

O poder, antropofágico que é, comeu o hip hop. Se antes sua exposição criticava a realidade social, agora, ironia, representa ascensão individual, como é o caso de Thaíde.
"O rap de protesto acabou", diz DJ Hum

Colaboração para a Folha, Denise Brito
A forma de divulgar o rap e toda a produção cultural do hip hop é motivo de polêmica no seu próprio meio. Para alguns, é preciso mudar o discurso, descartar o tom crítico e politizado e se abrir ao grande público para se tornar um produto vendável, gerador de lucro, com o mero objetivo de divertir as massas.
Os puristas, no entanto, acreditam que desvincular o movimento de seu discurso inicial é sinal de corrupção ao sistema que tanto já combateram. Nesse cenário polêmico, figuram com diferentes posições alguns ícones da primeira geração do hip hop nacional.
O MC Thaíde e DJ Hum, que estrearam juntos em 1988 com "Corpo Fechado", de batida seca e letra dura e crítica, hoje desfrutam de forte projeção na mídia e se vêem cobrados pelos colegas do underground atual.
Thaíde, 39, saiu da apresentação de um programa da MTV após cinco anos para ir para a Globo, a emissora mais combatida por ele no passado, participar da série "Antônia"."Naquela época, a gente tinha necessidade de martelar aquilo (as críticas).
Hoje eu acredito em popularizar o hip hop para fazê-lo dar lucro, para adquirir bens através do nosso trabalho. A gente não consegue isso fechado dentro do nosso próprio mundo, fazendo música para os amigos...
O amigo sempre fala que está tudo bom e aí fica difícil melhorar a qualidade para entrar na programação de uma rádio", afirma."Muita gente me acusa de vendido, e as críticas já me incomodaram muito, hoje, não mais. Eu vou fazer 40 anos, não posso ter a mesma mentalidade daquela época.
"DJ Hum, 40, tornou-se produtor musical e lançou o projeto Motirô, do hit "Senhorita", que ganhou as pistas e as rádios com melodia dançante e letra sobre amor adolescente. "O rap de protesto acabou, foi daquela geração", justifica Hum.
"Já relatamos muito a violência, mas o cotidiano não é só isso, é também casar, ir ao mercado, se divertir. Falar da violência é mais fácil que vender a paz."GrafiteOs irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, os Gêmeos, 32, que ainda pivetes dançavam break e grafitavam no largo São Bento, hoje desenvolvem carreira internacional como artistas plásticos e se desvincularam do movimento.
"Quisemos sair fora para não ficarmos presos em uma cultura só, americanizada, e partir para uma nossa, do nosso país, muito mais rica", diz Otávio."É normal que aconteça assim quando um movimento se expande.
A galera da São Bento hoje está casada, com filhos, mas o trabalho social e a atitude continuam. Nos mantemos fiéis aos valores difundidos por Afrika Bambaataa (um dos fundadores do hip hop): paz, união e diversão", diz Gustavo.

Bastantes satisfeitos

“Nós estamos bastantes satisfeitos com o resultado da reunião, ficou acertado que uma outra reunião será realizada com as autoridades da segurança para tratar o assunto e nós acreditamos que alguns pontos da portaria serão revistos", disse Hamilton Brito, empresário."
  1. "Bastantes satisfeitos" - Por favor, "bastante satisfeitos". Nesse caso, trata-se de um advérbio e, por isso, não se flexiona.
  2. "Tratar o assunto" - Melhor escrever "tratar sobre o assunto".

Previsão é que & Lei Chico Mendes

"Neste ano, a previsão é que o Estado chegue a 2.245 toneladas de produção de borracha com o subsídio de R$ 0,70 pelo quilo do produto. O subsídio foi instituído em janeiro de 1999, com a Lei Chico Mendes, de autoria do então deputado Ronald Polanco. De lá para cá, tornou-se uma das grandes ferramentas de melhoria da renda e da qualidade de vida de milhares de famílias extrativistas."
  1. "Previsão é que" - Ao consultar o Dicionário Prático de Regência Nominal, de Celso Pedro Luft, encontramos "previsão de, previsão sobre e previsão quanto a. Nesse caso, "a previsão é de que o Estado a 2.245 toneladas.

  2. "Lei Chico Mendes" - Sobre isso, O Manual de Redação e Estilo, de Eduardo Martins, esclarece na página 160. Assesssor de comunicação deveria consultar esse bom manual. O correto é "lei Chico Mendes".