quarta-feira, dezembro 15, 2010

"O Pequeno Príncipe"

Ficou tão fácil transar. As ofertas, muitas. Tantos corpos no mercado. A demanda, imensa. Nesses tempos de vulgaridade alegre, falta aquele ser humano único.

Ficou tão fácil transar. Difícil ficou “entrelaçar”. Ficou difícil “criar laços”.

Porque sempre estão à sua caça, ela foge dos humanos. Mas fugir aqui significa mais do que não ser apanhada; representa não ser tocada. Assim, para fugir, a caça despista os caçadores, engana-os. Mente para viver. Sua liberdade, portanto, é não se expor ao outro.

Até que...

"O Pequeno Príncipe" surge para ela. Inicia-se um dos mais belos diálogos para crianças, jovens e adultos.

- Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

Como ser único? de que forma ser para o outro o incomum? como não ser igual a cem mil outros?

- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E isso me incomoda um pouco", e a raposa dá a resposta definitiva. "Mas, se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como fossem música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

A única resposta dada pela raposa: cativar. Transar ficou tão fácil. Difícil é "criar laços", isto é, cativar, ser cativante.

Dessa forma, o Pequeno Príncipe, o ser que cativou, será, por causa de seu cabelo dourado, recordado quando a raposa olhar o campo de trigo.

Última...

Ontem, por meio da fotógrafa Talita, conheci as palavras do blogue "Confraria dos Últimos Românticos". Gostei. É uma juventude que sabe pensar. Em tempos de crise do romantismo, esse blogue escreve sua própria fragilidade.

Recomendo aos que não são vulgares.