sexta-feira, outubro 17, 2008

Escola pública: não leia na escola (1)

No começo de 2008, lecionei para uma turma de primeiro ano. Como sempre, fui rígido sem perder a ternura jamais. Meses depois, alunos dessa turma me chamaram para uma festa e, com uma câmera, brincaram com o meu rosto. Essas são as minhas caras quando a coordenadora disse que...










ler livro em sala para alunos é perder tempo. "O aluno deve ler em casa", disse. É preciso ter muita calma nessa hora. Leitura de um romance em sala depende não de um professor, mas do corpo docente, no caso, do Conselho de Disciplina de Língua Portuguesa.

A questão é que o conselho deveria funcionar segundo o que uma coordenadora tem como objetivo, como meta. Sem meta, sem objetivos, sem uma ação educacional clara, os conselhos não têm vida. O Plano Político Pedagógico, como sabemos, depende também do funcionamento dos conselhos.

O que a escola pública pensa sobre leitura? Cada professor irá responder no papel para depois entregar à coordenadora de ensino? Se não há outra idéia melhor, eu tenho proposto há anos a reunião sistemática dos conselhos de disciplina. Eu disse SISTEMÁTICA. Quem define leitura na escola é o corpo docente por meio do conselho. Escola é ação conjunta.

Na escola Heloísa Mourão Marques, o conselho deliberou há mais de um ano que leitura em sala deve existir. Não sei se houve registro em ata e muito menos onde está essa ata, o fato é que detalhes sobre essa leitura não ficaram especificados. Retirar o que da leitura?

Se sou criticado por ler em sala de aula para meus alunos, ignora-se, por outro lado, o que cobro deles embora o conselho não tenha determinado o que cobrar. Sem saber o que leciono e como leciono, escrevei à minha crítica sobre minha leitura em sala.

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Desde agosto, leio o romance Rebeldes, do húngaro Sándor Mórai. Com antecedência, peço à coordenadora Izanilde marcar o dia em que lerei na sala de vídeo ou no teatro, porque são espaço onde o silêncio pulsa.
Nos primeiros dias, marcamos verbos, marcamos o uso dos pronomes oblíquos, algumas regências verbais, só para dar exemplo. Em outro momento, as cenas criadas pelo narrador, importantes como descrição e como interpretação.

Ora, tais observações textuais não são dadas ao relento, ao acaso, mas porque se relacionam à produção textual dos alunos, ou seja, em suas redações, surgem problemas verbais e pronominais. No desenvolvimento redacional, cobrarei o uso de pronome oblíquo para evitar a repetição do substantivo.

Fora essas observações, o sentido da leitura. Por que ler Rebeldes? A violência avoluma-se em nossa realidade, e esse romance apresenta um mundo ficcional que expõe a violência de adolescentes.

Na condição de leitor, desejo compreender o porquê dessa violência, o que não ocorre no filme Sociedade dos poetas mortos. Por qual motivo os adolescentes desse filme não cultuam a violência? Em uma prova dissertativa, eles compararão o livro ao filme. Quero que compreendam a importância da ordem (no filme) e as conseqüências da desordem (no livro).

Bem, depois me dizem que livro lido em sala não tem importância, só para quem não se habitou a ler.