quarta-feira, fevereiro 29, 2012

O nível das águas. O nível de ensino

 Com o nível das águas retornando ao

normal, a Rio Branco que mora à margem do rio Acre emerge aos poucos; dois problemas, entretanto, permanecem submersos na falta de solução: leitura e escrita na escola pública.

Na alagação, diferente das chuvas de Petrópolis, Rio de Janeiro, onde morreram mais de mil pessoas, a natureza no Acre causa danos materiais.

E qual dano causa não saber ler e nem escrever bem para alunos de uma classe social?

Leitura
Ler em sala significa desconstruir o texto, apresentando ao aluno sua organização interna e seu sentido. Após corrigir as redações de duas turmas do segundo ano do ensino médio, constata-se que nenhum aluno entendeu a proposta do Enem de 2011.  Eles não souberam ler.

Escrita
Refazer texto em sala é tarefa árdua, devendo começar pelo parágrafo e, uma vez no parágrafo, analisar frase-oracional por frase-oracional para colocar o devido ponto contínuo. Durante um longo período, a escola pública não soube ensinar o aluno a colocar pontos contínuos e vírgulas.

E ainda propagou-se nas escolas que professor de Língua Portuguesa não precisa ensinar gramática de forma isolada, mas ensiná-la só no texto. Trata-se de um engano, porque é preciso ensinar no texto e também de forma tradicional por motivos óbvios.

O nível das águas estão baixando. O nível da qualidade de escrita e leitura nas escolas públicas acrianas continua muito baixo.



 

                     

         

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Seja professor




1.451

Ministério da Educação 
divulgou na tarde desta segunda-feira (27) que o piso salarial nacional dos professores será reajustado em 22,22% e seu valor passa a ser de R$ 1.451,00 como remuneração mínima do professor de nível médio e jornada de 40 horas semanais. A decisão é retroativa para 1º de janeiro deste ano.Segundo o MEC, a correção reflete a variação ocorrida no valor anual mínimo por aluno definido nacionalmente no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) de 2011, em relação ao valor de 2010. O piso aplicado em 2011 foi de R$ 1.187, e em 2010, de R$ 1.024.

A aplicação do piso é obrigatória para estados e municípios de acordo com a lei federal número 11.738, de 16 de junho de 2008. Estados e municípios podem alegar não ter verba para o pagamento deste valor e, com isso, acessar recursos federais para complementar a folha de pagamento. No entanto, desde 2008, nenhum estado ou município recebeu os recursos porque, segundo o MEC, não conseguiu comprovar a falta de verbas para esse fim.

domingo, fevereiro 26, 2012

A solidariedade dos ex-governadores



Ex-governador Orleir Messias Cameli


            Ex-governador Romildo Magalhães


Ex-governador Jorge Viana


Ex-governador Arnóbio Marques


Diante de tantas pessoas em situação difícil por causa da alagação, os ex-governadores acrianos reuniram-se para um gesto inédito no Brasil - suas pensões agora só serão destinadas a políticas públicas para os mais necessitados.

Na última sexta, dia 24, todos os ex-governadores depositaram integralmente suas pensões na conta corrente do Banco do Brasil. Depois desse gesto solidário, eles se recusaram a receber as pensões, porque, segundo eles, todos foram eleitos para melhorar as condições sociais dos mais pobres, e não eleitos para receber uma verba pública até a morte.

"Depois dessa alagação, seria vergonhoso receber uma pensão vitalícia por ter sido governador, não fomos eleitos para ficar aposentados após quatro anos de mandato. Fomos eleitos para servir e não para nós nos servirmos do dinheiro público sem trabalhar", observou um ex-governador - ele pediu para não ser identificado.

Sem exceção, todos os ex-governadores concordaram. Quando eu soube disso, confesso que me emocionei, porque nunca pensei que homens públicos fossem ser tão sensíveis e éticos.



    

sábado, fevereiro 25, 2012

Jogo de um só erro


Se você conhece o jogo dos sete erros, não será difícil acertar no jogo de um só erro.

Foto 1



                                                                                                                                              Foto 2





Professor, profissão perigo


Quando o PSDB paga mais do que o PT

O jornal "Globo" publicou uma matéria sobre a falta de professor na rede pública do Rio de Janeiro.

Em São Paulo, o salário inicial de um professor chega ao limite de R$ 1.989,00. No Acre, lecionar para cinco turmas vale menos do que R$ 1.800,00. O custo de vida acriano é maior do que em São Paulo.



sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Governantes não me comovem



Governantes tentam me comover, propagando a imagem de que muitos desabrigados sofrem por causa da alagação. O poder busca extrair de mim solidariedade. 

Mais: me faz sentir responsável. Preciso agir. Preciso sair de meu mundo para doar um pouco de meu tempo a outros que precisam mais do que eu. Devo ser cristão.

Mas quem disse que eu preciso dos apelos dos governantes? E quem disse aos governantes - esses políticos - que eles me comovem? Telefono:

"Meu amigo, minha humilde casa está aberta para você".

"Obrigado, Aldo, se a coisa piorar, vou precisar de ti", disse meu amigo.

Eu escolho a quem entregarei minha doação. Uma velha senhora?... Uma avó muito idosa sem marido e com três netos?... Sem foto, sem propaganda, eu escolho.

Meu dinheiro é solidário. Mas e o nosso dinheiro público? O que governantes fazem com ele? Para que serve o dinheiro público? Ora, serve, por exemplo, para REGULAR O ESPAÇO PÚBLICO À MARGEM DO RIO ACRE.

Eu não posso regular espaço público, só os políticos, só eles, nem Deus pode regular o espaço público à margem do rio Acre, porque o Senhor não põe mão em dinheiro.

Eu penso que Deus deveria pôr a mão em verba pública, pois o Senhor é justo, não os políticos. Mas isso é outro assunto.

Por que não construíram em 13 anos casas populares longe das margens, longe das regiões mais alagadas de Rio Branco?

Por que não aparelharam em 13 anos muito bem a Defesa Civil? Por que não colocaram a Defesa Civil em locais críticos e estratégicos muito antes da alagação?

Em âmbito federal, não há lei que regulamente verba destinada à Defesa Civil. Em âmbito estadual, existe lei? Quantos barcos há na Defesa Civil acriana? Quanto remos? Quantos salva-vidas existem na Defesa Civil? Em momento de alagação, pobre usa salva-vida? Alagado recebe par de bota?

Por que as pessoas não são avisadas e retiradas com antecedências de suas casas e colocadas em ABRIGOS CONFORTÁVEIS ou, PELO MENOS, DIGNOS AO QUE É HUMANO?

O Mercado Velho, dizem, agora está novo. O dinheiro público agiu rápido para construir uma imagem bonita da capital. Por que esse mesmo dinheiro não agiu rápido também para áreas alagadiças?

A capital, concordo, deve ficar atraente. Mas radicalizar o uso do dinheiro público para os mais necessitados não é atraente para os governantes?

Construir estrada cortando o Acre recebe o batismo-clichê de progresso e de desenvolvimento. Regular as margens por meio de leis e por meio de verba pública para evitar pessoas desabrigadas não é progresso e desenvolvimento?

Quanto de dinheiro público grupos políticos gastam para pagar suas propagandas de governo?

O dinheiro público constrói rápido um estádio de futebol. Por que esse dinheiro também não destruiu em 13 anos casebres erguidos em áreas impróprias?    

Governantes não precisam dizer a mim o que fazer nesta hora, porque políticos não me dão conta do que gastam, com que gastam, como gastam, para quem gastam.

Quando os pobres dirão a eles o que de justo fazer com o dinheiro público? Ou será que tudo ficará na mão de Deus na próxima alagação, outra vez?


Se eu estivesse com minha família em algum abrigo público, eu não aceitaria solidariedade de político, porque, deles, desses homens públicos que recebem muito bem todo mês, eu exijo esta justiça social - moradias e bairros melhores para todos.    

    

Águas profundas. Matérias superficiais

  
Lecionado Literatura, perguntei aos alunos a diferença entre realidade e ficção, e os que responderam disseram que a realidade mostra a verdade.

O Carnaval, que é uma festa da ficção, não tem nenhuma relação com a verdade, porque, segundo eles, Carnaval é desordem, ilusão.

Na linha desse raciocínio, o texto jornalístico, só ele e não o texto ficcional, revela a verdade porque o jornalista apresenta a realidade "como ela é".

Mas como pode a realidade mostrar a verdade se a realidade só é a superfície? A verdade está na e é a superfície? O que se apresenta a meus olhos é a verdade?

Não me alongarei sobre isso. Apenas afirmo que o texto jornalístico limita-se a registrar o que todos veem... todos veem o rio subindo (sim, "rio subindo" não está errado por se tratar de uma figura de linguagem).

Imagens e mais imagens, e o repórter escreve e fala daquilo que todos ouvem e veem, a palavra presa à realidade, à imagem. A palavra é literal, denotativa, isto é, "estado bruto". A palavra é matéria. A palavra é "ob-jetiva".

Nesse sentido, a imprensa escrita acriana, sem fazer uso da conotação, do jornalismo literário, nega o "sub-jetivo". Mas qual o sentido de "sub-jetivo"?

A palavra, em si mesma, em sua história e em sua relação com estéticas específicas (por exemplo, o Barroco, o Romantismo, o Simbolismo) é senhora de um sentido original. "Sub-jetivo" não é "dar a opinião particular". Se ignoramos o sentido primeiro, original, autêntico da palavra, não podemos pensar o pensamento.

Vejamos o seu oposto: "ob-jetivo". Em sua raiz, "aquilo que se põe à nossa frente, impedindo-nos a passagem, é o objeto", nos ensina Mário Eduardo Viaro.

"Ob-" significa "oposição"; e "-jetivo", "lançar". "Objetivo" tem o sentido de "lançamento obstruído, impedido". Mas o que foi "impedido de ser lançado"? O "sub-jetivo" não impede o lançamento, o movimento, o ir ao encontro.

Para responder, a palavra "objetivo" encontra-se na narrativa naturalista, realista; está trancada no quartel militar; marcha na parada do  Dia 7 de Setembro; estende-se no texto jornalístico.

"Ob-jetivo" não se encontra no Barroco, no Romantismo, no Simbolismo; não se encontra no Carnaval.

Se "algo" não foi lançado, não se "pro-jetou", não houve movimento, encontro, ou seja, prevalece o "distanciamento" em relação ao que se vê, por isso o jornalista não se envolve com a matéria, com a realidade.

Ele se envolveria se seu texto fosse "sub-jetivo". Por meio da tevê, podemos apreciar a "sub-jetividade" da jornalista Neide Duarte ou do jornalista esportivo Régis Roising , oposto ao texto objetivo de Léo Batista.

Mas o que é "sub-jetivo"? Essa palavra, mais, esse conceito, reside no Romantismo e, mais ainda, no Simbolismo. Vive em "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector, narrativa oposta à objetividade de "Vidas Secas", de Graciliano Ramos.

Sim, mas o que é "sub-jetivo"?

"Sub-", para muitos, é "abaixo", mas o que está abaixo não significa "menor", "inferior"; o que está abaixo é "profundo", palavra que se encontra no dicionário latino. Dessa forma, uma vez profundo, nega-se a "superfície" do texto objetivo, a "superfície" da realidade. O "sub-jetivo" (des)cobre o que a realidade oculta, e oculta porque "obstrui" por meio da aparência. O narrador em Clarice é profundo; o de Graciliano, superfície.

No Acre, o jornalista limita-se a acompanhar a aferição do nível do rio. Tudo muito "objetivo". Tudo muito na superfície das águas.

Onde está a verdade dessa alagação?


segunda-feira, fevereiro 20, 2012

Momo e o desserviço da TV Aldeia


Há um bom tempo - acredito que lá pelos anos da década de 1990 -, deixei um bom texto no jornal Página 20 sobre o sentido original de Momo, o rei do império carnavalesco.

Infelizmente, em meu computador, esse texto não se encontra. Perdi-o. Se eu quiser revê-lo, deverei ir ao jornal onde o publiquei.




No Acre, o Carnaval é uma festa estranha ao espírito de Momo, por isso escrevi sobre o regedor dessa festa popular, com a finalidade de mostrar que o que se fala no Acre de Carnaval não há nenhuma relação com o mito de Momo.  

Como em outros lugares, assistimos aqui à morte desse reino porque seus súditos, sem a devida irreverência da criatividade, perambulam sobre o cadáver do rei. O Carnaval acriano assemelha-se mais à procissão dos mortos.

Na capital acriana, não vemos a cidade ornamentada, desenhada, coberta pela fantasia, enfeitada, fato oposto ao que ocorre com o Natal, que acontece no centro da capital. Outra festa  manifesta-se no centro, 7 de Setembro.

Nessas festas, as pessoas, segundo ouço, sabem o que significa o sagrado (Natal) e a ordem (Dia da Pátria), porque os significados encontram-se estabilizados nos significantes. Entretanto, o mesmo não ocorre com a festa momesca: qual o sentido da palavra Momo? o que significa a palavra fantasia? o que quer dizer diversão?

Agora, pergunte a um cidadão que assiste à parada militar o que é ordem. O senhor gosta da ordem? Possivelmente, ele dirá "sim". Mas pergunte a ele se ele gosta da "desordem" do Carnaval? Ele dirá que "não" porque a festa de Momo recebeu outra significação dos jornalistas, das igrejas, dos políticos, da tevê. 

Cercadinho

Quem já leu sobre cultura popular e sobre o Carnaval sabe muito bem que o reino de Momo no Acre pode ser tudo, menos popular. Aqui, as mãos dos governantes oficiais colocam Momo em um cercadinho sob o olhar da polícia, dos bombeiros, dos médicos e do comércio, porque o Carnaval acriano já tem o estigma da violência, porque a desordem, segundo eles, deve estar sob controle.

“É melhor concentrar a festa num único local e garantir a segurança neste espaço. A Polícia Militar não teria condições de manter o policiamento necessário em todos os bairros e nos abrigos ao mesmo tempo, porque, em cada bar, em cada esquina, haveria uma festa. As pessoas sairiam às ruas para brincar de qualquer jeito e seria muito difícil lidar com a situação, mantendo a segurança de toda a população”,
explicou o governador Tião Viana.
 


"Brincar de qualquer jeito". No Carnaval acriano, portanto, a brincadeira é desorganizada. Entretanto, a "brincadeira", segundo o livro "Homo ludens", de Johan Huizinga, tem a sua razão, a sua ordem, sendo oposta à ideia de "qualquer jeito". Mas o Carnaval acriano é isto: "brincar de qualquer jeito", por isso o cercadinho.

Pela Tevê

Todo ano, jornalistas da TV Acre, por exemplo, ecoando a voz das autoridades, entrevistam, entrevistam e entrevista patentes militares. A população precisa se sentir segura. A TV Aldeia, por sua vez (pasmem!), sem cumprir sua missão cultural, reproduz a fala das emissoras comerciais, ou seja, não sabe o que fala do Carnaval, transmitindo um desserviço ao reinado de Momo.

A TV Aldeia, primeiro, deveria saber o real sentido da felicidade do Carnaval, porque, se soubesse, os jornalistas que estão na pista apareceriam fantasiados, digo, muito bem fantasiados. Reafirmo "muito bem" porque o conceito de fantasia pede bom gosto  pelo simples motivo de fantasia se opor à matéria, ao objeto, à coisa.

Não só. A TV Aldeia, por emitir, em tese, cultura, deveria apresentar aos telespectadores livros sobre o Carnaval. Faustão em seu programa apresenta livros, Regina Casé em seu programa apresenta livros, Jô Soares apresenta livros, mas a TV Aldeia não apresenta.

Pelos Livros

Lemos bons livros para buscar também o sentido original das palavras, sentido que não encontramos na rua, na TV Aldeia, nas reportagens de tevê.

"Elogio da Loucura" é um desses livros. Nele, (des)cobrimos o senhor do Carnaval, Momo, cujo significado que dizer "aquele que imita".

Quem esse rei imita?

Ele segura o cetro, usa a coroa e senta-se no trono. Na condição de rei, portanto, ele tem o poder, mas seu poder não só se opõe ao poder dos governantes oficiais como também o deforma, porque quem "imita" altera a forma copiada.

Momo imita o poder oficial, isto é, por ser mímico, deforma aqueles que exercem o poder, desorganiza-o. Como rege a prudência de o governante oficial ser sério, austero, Momo é o avesso, ou seja, ele é o bobo - "(...), o privilégio que têm os bobos de poder falar com a toda a sinceridade e franqueza", escreveu Erasmo de Rotterdam no século XVI.

O bobo ri de quem governa, mas no Carnaval acriano sempre respeitamos o poder.

Momo é a Loucura de quem fala Erasmo em seu belíssimo livro.

Outros livros sobre o Carnaval fascinam, entre eles, estes: "História da Feiúra", organizado por Umberto Eco; "História do Riso e do Escárnio", de Georges Monois; "A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento", de Mikhail Bakhtin; "Homo Ludens", de Johan Huizinga.

Poderia escrever mais sobre Momo, mas prefiro me repetir, afirmando que lemos bons livros para buscar também o sentido original das palavras, sentido que não encontramos na rua, na TV Aldeia, nas reportagens de tevê, porque nesses locais Momo não passa de um impostor chulo.

TV Acre desatualizada e o vice

Hoje, por volta das 11h20min, liguei a televisão para saber sobre o nível do rio Acre.

A TV Acre apresentou imagens de sábado, dia 18. Eu querendo saber sobre a situação de hoje, dia 20, e ela me apresenta uma reportagem repetida.

Se for para ser assim, fico sabendo da enchente acriana por meio do UOL.

Em outro momento, aparece o vice-governador, passando a imagem de que tudo está sob controle em Rio Branco. A tevê cede espaço para a autoridade falar. Repito: falar, não para ser questionada.

O vice poderia ter sido questionado se a tevê apresentasse, antes da entrevista, uma reportagem da real situação dos alojados, por exemplo, no Parque de Exposição Castelo Branco.

Confrontar a realidade dos abrigos com as palavras das autoridades, mas isso seria pedir demais.

Se desejam tanto ocupar o poder, se dizem em campanha que farão melhor do que os adversários, eles têm o dever e a obrigação de erguer, com o dinheiro público, o melhor para os desabrigados.

domingo, fevereiro 19, 2012

Ronda Gramatical


Senador acriano encontra-se no "chadrez" 



Enquanto as águas do rio Acre sobem, o senador Petecão, do PSD, baixou o nível da ortografia ao deixar escrevinhado em seu miniblogue "Chapuri".

A população de Xapuri quis linchá-lo com os dicionários Houaiss e Aurélio, mas Petecão conseguiu fugir, 
passando a ser caçado pela Polícia Ortográfica como meliante gramatical.

"Não podemos admitir que um senador da República continue a falar e a escrever errado. Petecão tem um currículo extenso de crimes contra a Língua Portuguesa", observou o capitão Evanildo Bechara. "Ele é um péssimo exemplo para o jardim de infância, a creche,  para a escola primária, o Poronga e as bibliotecas."

Ontem, em Rio Branco, às 23h55min, quando pulava no bloco "Chapuri, Princezinha do Mar" , ele foi rapidamente identificado. 
Petecão não resistiu à prisão.

"Mas o senador resiste a falar e a escrever corretamente aqui no presídio", disse o seu único colega de cela, "Xapolim".




Águas profundas. Matérias superficiais

CHEIA DO RIO ACRE DESABRIGA
MAIS DE 600 FAMÍLIAS EM RIO BRANCO

Jorge Viana visita desabrigados
e garante recursos da Defesa Civil para o Acre

Momento de desgraça para muitos serve de interesse político para  poucos. Quem lê os jornais acrianos pode observar que a imprensa rio-branquense faz questão de destacar que político "visita", que político "solidariza-se" e, no caso do Página 20 (acima), o político "garante recursos da Defesa Civil".

Não surge uma matéria profunda e sensível. Profunda no sentido de informar a quantia de dinheiro público usada nas enchentes  e  a quantia, em uma política de prevenção. Sensível no sentido de o repórter dar voz por meio do jornal aos desabrigados.

Mas, para tanto, o repórter deve escrever muito bem a ponto de elaborar um jornalismo literário, algo, por sinal, impossível por aqui. Os jornais de Rio Branco não sensibilizam o leitor. Faz-se o comum, o superficial, o trivial, o padrão - o político "visitou".

Enquanto as águas do rio Acre são profundas, os jornais propagam superficialidades.

sexta-feira, fevereiro 17, 2012

O rio

As águas do rio Acre
quando chegam a Rio Branco 

não são só águas: 

são pobrezas boiando
são à deriva muitos prantos


As águas do rio Acre
quando chegam a Rio Branco
não só acurralam restos de criança:


também transmitem de políticos esta cínica doença:
"tenham fé! tenham esperança!"

E o ditado popular não se cansa:
"quem bebe da água do rio Acre não volta"

Mas só nas enchentes de cada ano novo
os pobres nesta água se banham

Eles nunca voltam. Ficam.
As águas do rio Acre
humilham.Não limpam.

    

quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Coisa de político acriano


No Acre, político se mete até em língua portuguesa, não no sentido de qualidade de ensino. "Deve ser escrito 'acreano', porque essa forma tradicional tem a ver com a identidade de nosso povo", afirma o político. História para boi pastar.

No entanto, quando se trata de propaganda de governo, o político da língua portuguesa não diz "o carapanã da dengue". Repete-se o que é dito no Rio de Janeiro, em São Paulo - "O mosquito da dengue".  

Ora, nobres deputados, isso sim tem a ver com a identidade linguística desta região. Combate-se "acriano", mas se aceita "mosquito", vocabulário estranho à cultura acriana.

"Carapanã" é identidade de uma região, o que nos diferencia do outro. Servir-se de "carapanã" é considerar "o grupo indígena que habita o Noroeste do Amazonas (Área Indígena Alto Rio Negro, Médio Rio Negro I, Yauareté I e Yauareté II), junto ao médio rio Solimões (Áreas Indígenas Méria e Miratu) e a República da Colômbia".

E "mosquito"? Diminutivo de "mosca". Não gosto.

Quando visito parentes no Rio de Janeiro, sempre digo "carapanã". Eles riem de mim. Eu rio mais deles.

domingo, fevereiro 12, 2012

Quem quer a Ufac?

Voltei à rotina. Compro os jornais de Rio Branco e leio severas críticas de deputados à reitora Olinda Batista Assmar. Não sabia que deputado acriano soubesse pensar qualidade de ensino público.

Então aí vai o meu primeiro texto do ano.

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Após a vitória eleitoral de Fernando Henrique em 1994, o então ministro da Educação, professor Paulo Renato, do PSDB, criou o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) para aferir qualidade de ensino no país do samba e do futebol. A primeira prova ocorreu em 1998. 

No final do século 20, o que ocorria com a educação pública acriana? O de sempre: nada. Até hoje, os sindicatos não lutam por qualidade de ensino. Até hoje, a Assembleia Legislativa do Acre desconhece como haver uma melhor gestão escolar. Até hoje, as câmaras dos vereadores não sabem propor uma escola pública melhor. Até hoje, o governo faz da educação popular discurso político.

Duvido de que possamos encontrar debates profundos registrados na assembléia ou na Câmara de Vereadores de Rio Branco. Duvido de que alguma inteligência tenha pensado qualidade de ensino. Duvido.  Deputados e vereadores nunca colocaram a educação pública em um debate constante porque, simplesmente, seus filhos estudam em escolas particulares. 

Educação deveria ser pauta semanal dos jornalistas; no entanto, quando a noticiam, os jornais limitam-se a informar que alunos retornaram às escolas. O jornal O Globo, do Rio de Janeiro, tem uma página dedicada, uma vez por semana, à escola. No Acre, os proprietários da informação não têm o menor interesse no assunto.

Como o tempo não pode esperar pela boa vontade desses homens públicos e desses sindicalistas, o Enem, ideia do PSDB, tem (des)coberto o quadro negro da nossa educação popular. Serei específico. Sempre no início do ano, peço aos alunos textos dissertativos. Em 2012, não foi diferente. Dei a eles a redação do Enem-2011 e, depois de terem lido a proposta, escreveram. Leia um dos textos.

                Viver em rede no século XXI

            Agora no século XXI ficou melhor pois nós apredemos aconviver com As pessoas  negras apredemos a respeitar o racismo no nosso mundo de hoje.
            Hoje em dia também as tecnológicas Estão muito a vançadas pois agora temos PC temos internet rápida temos Orkut, fecebok, também temos MSN!! etc...
            Hoje nós podemos olhar para o mundo e dizer que estamos muito bem com as tecnológicas que uns oferece tantas coisas boas para nós curtimus.
           Tempos atras não era bem assim as televisões era preto e branco não tinhar cor definida era totalmente tudo estranho. Agora nos assistimos em televisão colorida.                                                          
           olha como mudou pra melhor.
           Existe agora no século XXI progeto para a consiencia negra.                                                                 
          Existe paradas gay.


O texto acima pertence a uma aluna do 2º ano do ensino médio; porém, como revela o Enem, nossos alunos do ensino médio escrevem como alunos da 5ª série. Entre 28 textos da turma, nenhum aluno soube usar corretamente as vírgulas; 13 alunos usaram algum ponto contínuo, nem sempre correto; 16 alunos têm cacografia; 5 alunos têm letra ilegível; os 28 não entenderam a proposta do Enem; os conteúdos, além de previsíveis e superficiais, apresentam-se de forma confusa.  

O texto acima tem seu processo de paragrafação comprometido, e esse problema encontra-se em todos os 28 textos da turma. Além disso, todos estão em desacordo com a competência 1 do Enem: domínio da língua padrão. Alunos escrevem “faiz”; confundem “mas” com “mais”; ignoram o plural do verbo “ter” na terceira pessoa; aboliram os acentos ortográficos; ignoram concordâncias verbais mais simples (“existe casos”).

Até chegarem ao 2º ano do ensino médio, passaram-se nove anos de erros sobre erros. Meus alunos querem a Universidade Federal do Acre, mas os políticos e os sindicalistas acrianos nunca discursaram e nunca lutaram para qualificar a escola pública – seus filhos estudam em escola particular.

Vivo da escola pública, meu sustento sai do meu ato de lecionar. O político, sabemos, não vive da educação: o da situação se aproveita dela para dizer que a educação pública vai bem, e o da oposição não sabe o que diz. Estamos muito mal servidos.

O professor de Língua Portuguesa leciona para dez turmas (quatrocentos alunos). Como manter qualidade com essa quantidade? Não mantém. Como corrigir 400 redações? Não são corrigidas, por isso, quando o aluno chega ao ensino médio, ele escreve como quem estivesse na 5ª série.

Além da quantidade de aluno em sala e a quantidade de turma, há outras questões. Deputados e sindicalistas têm propostas para qualificar o ensino de Língua Portuguesa?