sexta-feira, setembro 25, 2009

Blogue aberto a Moisés Diniz

Deputado,

Li com muita atenção a matéria sobre seu projeto, publicada neste blogue (abaixo). Trata-se de um atraso, deputado, quando evangélicos submetem o Estado à vontade de dogmas.

Sou professor da rede pública estadual e, em minhas salas, há alunos homossexuais. Na semana passada, no canto de um corredor, deparei-me com um aluno chorando. Estudioso, educado, bom ser humano, sua homossexualidade não se esfrega na vulgaridade.

Parei para ouvi-lo. Disse-me que seu pai bateu nele durante um bom tempo com galho fino de goiabeira e, agora, aos 16 anos, esse mesmo pai disse à esposa que não tolera mais ver o filho ser protegido pela mãe. "Minha casa não é lugar de viado."

"Por causa de mim, meu pai vai sair de casa, ele vai deixar a minha mãe", disse-me.

Sua avô é evangélica e não aceita o neto como ele é. Um dia que você tiver maturidade para amar alguém e ser amado, realize essa união com dignidade, com respeito. Mas, antes desse amor, estude, dedique-se ao saber para conseguir no futuro um bom emprego e assim não depender de pessoas, por exemplo, de sua família.

Disse isso e mais, mas sei que foi pouco. A injustiça das igrejas evangélicas sobrepõe-se ao equilíbrio da educação. Penso que a escola onde leciono deveria criar a temática homossexual de forma interdisciplinar, um saber entre história, literatura, biologia.

Deputado, a questão é seríssima, lamentável seu caráter recuar perante o fanatismo.

E agora, deputado?

Deputado diz que pode rever projeto contra a homofobia
Texto não é meu

O deputado estadual Moisés Diniz (PC do B), líder do governo na Assembleia Legislativa, vem sofrendo uma campanha implacável e desumana liderada por alguns pastores de Rio Branco, pelo fato de ter apresentado projeto de lei contra a homofobia.

Devido a campanha pesada dos pastores, o deputado está disposto a rever o seu projeto contra a homofobia. Diniz tinha apresentado projeto na Aleac, aprovado por 15 votos a 6, que cria o Dia Estadual de Combate a Homofobia.

“A cada dois dias um homossexual é assassinado no Brasil. O nosso projeto era contra isso, a favor da vida. Eu não pensava que fosse possível ter ódio onde se prega o amor ao próximo”, desabafou o deputado.

O que mais estranha nesse episódio é que o bombardeio e o ódio contra o projeto do parlamentar comunista esteja partindo de um grupo de pastores que deveria ter na essência de suas pregações a defesa da vida e o amor ao próximo, regra e essência dos ensinamentos de Jesus que esses pastores afirmam defender no palco de seus templos.

Esses pastores chegaram ao absurdo de se reunir com o governador Binho Marques, ontem pela manhã, e pedir a ele que vete o projeto.

O parlamentar disse que ficou surpreso com a repercussão do projeto. Ontem à tarde Diniz telefonou para alguns pastores e informou que está disposto a rever o projeto. Detalhe: um outro grupo desses religiosos já se manifestou contrário a campanha que os colegas vêm pregando contra o deputado.

“Eu estou disposto a pedir ao governador que vete o meu projeto. É triste isso, mas eu não recebi nenhum apoio, apenas oposição”, afirmou o líder. A Tribuna apurou que essa campanha contra o projeto do deputado teve apenas um lado: pastores contra. E que nenhum sindicato ou associação da sociedade civil, por exemplo, se manifestou. O recuo de Diniz é exatamente porque apenas um lado está tomando partido.

Os pastores estão na contramão da sociedade moderna, já que o projeto nasceu para combater uma discriminação que gera morte. O deputado não apresentou nada ligado a religião e não propôs nenhum debate religioso, apenas um dia de combate a homofobia, um dia para a defesa da vida.

O projeto de Diniz, ao qual A Tribuna teve acesso, não defende que o cidadão seja homossexual, mas prega a luta contra a perseguição, contra o preconceito que produz a morte.

O deputado disse que há 25 anos já filiava pastores evangélicos no PCdoB em Tarauacá, demonstrando ser um profundo defensor da liberdade religiosa. Disse ainda que não vai constranger os deputados que votaram a favor e nem o governador.

“Eu continuo acreditando que Deus ama a todos os homens, principalmente os pecadores. Não vou entrar em debate religioso e nem insuflar ânimos. Deus vai julgar o que nós estamos fazendo agora”, concluiu.

De alunos e aos alunos

Em minha casa, guardo com muito carinho processos que pessoas moveram contra mim. Para rir delas - e rio muito -, já fui processado por não lecionar gramática em sala de aula, por lecionar produção textual. Até ler Monteiro Lobato para alunos do ensino fundamental foi motivo de processo.

Na Universidade Federal do Acre, consta em um processo que eu lecionava "A República", de Platão, em Literatura Infanto-Juvenil, e isso, acredite, repito, foi motivo para eu ser processado .

O tempo... é preciso paciência para que o rosto das horas e dos dias revele seus traços serenos de verdade. É preciso esperar. No passado dessas folhas processuais até hoje, coleciono em meu álbum minutos, horas, dias, semanas, meses, anos.

À sombra das folhas mortas de outono, é preciso esperar sem jamais deixar de acolher na memória de minha história nomes que me traíram em páginas desses processos.

Como me esquecer de João de Carvalho? como me esquecer de Milton Chamarelli? esquecer-me de Vicente Serqueira, como? Não me esqueço desses nomes - há mais - como quem não se esquece do Deus, o do Velho Testamento.

Ainda permaneço muito vivo em sala de aula, e meus alunos, os mais dedicados, os mais interessados, os inquietos, os que incomodam a mediocridade, reconhecem a voracidade carinhosa de minhas aulas e a desobediência de minha paixão por lecionar. Deles, recebo o mais sincero respeito e admiração após 10 anos, após 15 anos.

Recentemente, a turma A, segundo ano do ensino médio da escola Heloísa Mourão Marques, criou uma festa para o corpo docente, e eu, em minha condição humana, não pude deixar de me emocionar diante de alunos inteligentes, esforçados, amorosos, inquietos. Mesmo os que não passaram, mesmo eles, creia-me, não deixaram de reconhecer a minha vontade de transformar suas vidas por meio da educação, da cultura, do saber.

Deus sabe o quanto desejo revê-los no futuro como adultos vitoriosos em suas profissões, e isso significa dizer servir suas profissões com paixão aos seus semelhantes, porque a essência do trabalho não se reduz a receber o salário no final do mês, porém transformar, para melhor, a vida do semelhante.

Fui teu professor para que tu nunca te esqueças de mim como obstáculo ultrapassado por seu esforço e por sua inteligência. Quem não me transpos, paciência, ainda não era a tua hora, o teu tempo.

Dois alunos passaram pelo obstáculo e deixaram estas palavras neste blogue.

"Professor, como aluna, posso dizer que suas aulas são excelentes!!!. Outros professores de outras disciplinas até se questionam se o senhor, um homem tão rígido, tem um 'mel' que conquista os alunos! Bom seria se todos os professores utilizassem métodos assim, que, além de descontraírem, estimulam o aprendizado! Abraços!"

"Por isso que eu o admiro como professor, como pessoa. Sinto falta das tuas aulas. Um abraço!"