sábado, dezembro 08, 2007

Clarice Lispector

Por que lemos narrativas ficcionais? Lá fora, a realidade não transfigura os objetos. A superfície da realidade encontra-se aprisionada em si mesma. A essa superfície, fixa-se a linguagem ordinária.

Em Signos, Maurice Merleau-Ponty escreve:

"
É preciso que ela seja poesia, isto é, que desperte e reconvoque por inteiro o nosso puro poder de expressar, para além das coisas já ditas ou já vistas."

Clarice é senhora de uma narrativa em que pulsa as inquietações do eu-lírico a fim de que a superfície seja transfigurada, por exemplo, em A Hora da Estrela.

A realidade por meio de sua narrativa passa por uma "deformação coerente", diria Ponty. Tamanha deformação expulsa a superfície dos objetos e da realidade.

Profunda, Clarice não pode ser entendida por leitores superficiais.

Hoje, sem que muitos saibam, ela faleceu há 30 anos, em 9 de dezembro de 1977.