quinta-feira, agosto 14, 2008

Seringalista e Seringueiros

Publicam nos jornais de hoje que Antônio Santana de Sousa, dono de um posto de gasolina, isto é, pessoa que tem poder econômico, não viu a cor de R$ 7 milhões em seu caixa.

Quem condenar sem antes ser julgado pela Justiça?

Ora, a acusação partiu do homem rico, dono de posto, e os jornais (ou tribunais de justiça) condenaram Sabrina Gondim de Barros, Marluce Honorato de Andrade, Luciane Freitas Barbosa, Patrícia Areal Leme e Jurivaldo Amâncio de Góes a alguns dias de exposição na imprensa.

Quem são? Alguns são frentistas? Mas o que é um desprezível frentista? Gente? Não, frentista não é gente, não é humano: é pobre. Quando ocorre algo, por exemplo, com empresários, jornais retiram o nome ou a matéria, porque eles são humanos, ou seja, devem ir a julgamento primeiro. É justo.

A isso, senhores, chamamos liberdade de imprensa.

Uma boa idéia

Ainda guardo comigo um jornal escrito por alunos da quinta série. Foi uma experiência inovadora e sempre ignorada pela Secretaria de Educação do Acre.

Podem falar mal de Antônio Stélio - eu reconheço alguns de seus defeitos -, mas não posso ignorar que Stélio dava liberdade ao Página 20 para criar. Sem ele, este jornal não teria sido publicado.

Ainda sonho com essa realidade educacional. Espero que, na administração da Osmarina, possamos criar um jornal com os alunos, páginas escritas por eles. Fazer pauta em sala de aula e sair da escola para entrevistar, ouvir pessoas do bairro, ouvir professores, elaborar boas críticas, elaborar propostas, ou seja, criar textos que não se reduzam à sala de aula, mas que tenham uma dimensão social.

Uma breve história

Na capa deste jornal, aparece um aluno que revi mais tarde em Rio Branco. Ele tinha assassinado, em legítima defesa, um homem que tentou matar seu irmão. Pobre, sem um bom advogado para pagar, ele me disse que ficou na cadeia por um tempo.

Um jornal escolar poderia entrevistar esse meu ex-aluno para falar de sua vida, de seu período na cadeia, de seus sonhos, mas, como a Frente Popular na Secretaria de Educação nunca me acenou com uma real possibilidade de criar um jornal na escola Heloísa Mourão Marques, a língua portuguesa só serve para obter bons resultados no Enem.

Eu não falo de holofotes para o Enem. Eu falo de uma lingua portuguesa com jornalismo na escola como trabalho social. Eu soube que na Secretaria de Educação há processos arquivados, documentos contra mim, mas não há em minha pasta funcional um jornal escrito por meus alunos como trabalho inovador na escola. Existem acusações e, quanto a um reconhecimento, recebo indiferença.

Hoje, uma colega me perguntou qual o sentido de estar vivo neste país. Calei-me na hora. Nesta bolha (blog), digo que o sentido da vida é lutar para construir o melhor, mas sabendo que amanhã é dia de morrer para ser lembrado, no máximo, em uma missa de sétimo dia.

Quero dizer com isso que leciono em salas quentes, lugares onde o ventilador não dá sinal de vida, sem esperar nenhum escroque reconhecimento do poder, e nem o quero. No fundo, eu sei, para muito além de relacionamentos pessoais, o poder me explora, me vigia, mente segundo seus interesses. Faz isso não por ser de esquerda ou de direita, mas porque é isto: poder.

Desejo, isso sim, o reconhecimento daqueles que estudaram comigo em sala, alunos que ultrapassaram os muros que coloquei diante deles. Jovens que param na rua para me cumprimentar, porque esses, só eles, sabem quem sou em uma sala de aula.

A Secretaria de Educação não sabe quem sou em sala de aula e, mesmo que soubesse...

Como disse Fernando Pessoa aos meus olhos, "viver é não conseguir". Ando tão feliz.

Blog a Framarg

Ao elogiar meu texto, você acabou erguendo um texto sensível, bonito. Obrigado por tuas palavras, gosto quando uma inteligência aporta neste blog. Um abraço em teu destino e deixo um sorriso nesta foto.

"Há um ditado catalão que afirma: “no mar não há o teu, não há o meu; no mar tudo é teu, tudo é meu”. Adorei seu comentário acerca do homem de “ombros largos”. Arístocles é realmente emblemático, traduz o pensamento de um povo que decidiu criar e seguir sua luz.Confesso-lhe ter enorme saudade do tempo em que eu, “formatando” este pensador á realidade da escola, trazia enumeradas versões do mundo sobre o pensamento grego. A história não é menor que a literatura, são cegos no mesmo beco escuro, é também capaz de fazer, como dizem os alemães “experienciação”.Agora, dentro dos cinco lados de uma parede branca, faço sonhos de voltar à sala de aula. Tenho certeza de que não posso quedar-me “chorando a bíblia junto ao aquecedor”. Se algumas vezes me perdi em meus erros, receios e defeitos, tenho claro ser um grande mar o local em que estava.E se realmente for isso, tem razão o poema da Catalunha, e te assassino com os versos dele: “no mar não há o teu, não há o meu....

um abraço.
8/12/2008 07:46:00 AM