domingo, dezembro 02, 2012

Não se lê na escola. Lê-se no presídio

Na condição de diretor da Biblioteca da Floresta, Marcos Afonso é indiferente à ausência de leitura nas escolas públicas acrianas.

Quando se trabalha no oásis da leitura - sala climatizada, silêncio, estetização do ambiente -, distancia-se da realidade árida das salas de aula.

A escola acriana é um deserto de leitura. 
 


Não há nem sala de leitura no ensino médio.


A Secretaria de Educação do Acre afirma, por sua vez, que a leitura não pode ser uma obrigação na escola; ela, a leitura, deve ser um processo natural.

Natural como o estudo da matemática, não é verdade?

A leitura deveria ser uma prática estética inerente à escola, assim como a Bíblia é inerente à igreja.

O juiz Márcio Umberto Bragaglia da Vara Criminal de Joaçaba, Santa Catarina, ordenou que 23 detentos do presídio regional lessem "Crime e Castigo", de Dostoiévski.

Além do livro doado a cada marginal, o juiz também ordenou distribuir dicionários.

Como bônus pela avalização da obra, que será acompanhada pelo juiz, o preso poderá ter até quatro dias de redução de sua pena.

A leitura no presídio é um processo natural? Leitura na escola, longe de ser um processo natural, é uma decisão política.




Eles são os mais responsáveis

Há um discurso que joga cada letra culpada na imagem do professor. É ele quem precisa assistir aos cursos da secretaria para qualificar a educação pública.


O professor precisa se capacitar.

No entanto, o dinheiro que chega à escola independe dos professores, muito menos o modelo de gestão escolar ou a quantidade de aluno em sala de aula.

Mas quem capacita os políticos acrianos?

A escola pública depende de políticas públicas acima de interesses partidários. A falta de qualidade de ensino, por exemplo, depende, e muito, de homens públicos.

São eles quem coloca em sala 45 alunos e são eles quem dobra a quantidade de turma. No estado, professores lecionam para mais de 20 turmas. Um professor de Língua Portuguesa leciona para 10.

Em países desenvolvidos - Inglaterra, por exemplo -, em sala há 15 alunos, governador.


Uma fonte da secretaria afirmou a mim que o estado tirou a semestralidade do professor com a uma única finalidade: economizar.

No entanto, essa mesma secretaria sabia, segundo dados, que os números indicavam menos qualidade de ensino com a anualidade.

O PT e o PC do B jamais colocaram a semestralidade em debate na sociedade acriana. A relação entre professor e secretaria sempre foi vertical.

O professor é submetido a cursos infecundos do estado para, conforme dizem, se capacitar.

Quem, entretanto, capacita os discursos políticos de nossos homens públicos na Assembleia Legislativa?