quarta-feira, março 31, 2010

O Homem que eu Amava

De Aldo Nascimento

Nesses meus anos, jamais ouvi um homem afirmar que ama outro homem. Quando criança, quando adolescente, o sexo masculino aprende na rua a bater em outra criança, em outro adolescente.

Assim, pelas mãos rudes de ser macho, esculpimos em nós a negação do sensível. Entre homens, não se propaga “eu te amo”, por isso somos homens.

Entretanto, contra essa violência de “não dizer eu te amo”, exponho neste blogue o meu amor pelo Homem, entenda, não confesso aqui o Amor pelo “meu homem”, mas meu Amor pelo Homem, porque eu não amaria qualquer homem. O Amor, sabemos, exige qualidade.

O Homem a quem me refiro encarnava qualidades. Alto, corpulento, olhos azuis, a sua beleza, entretanto, não morava na casa das aparências ou na superfície vã de sua imagem. A lembrança eterna do Amor não habita na pele perecível mas nela: a Alma.

Que Alma grandiosa esse Homem tinha! Generosas como criança, suas mãos delicadas sempre se estendiam para acolher seu semelhante. Sempre.

Quando eu o conheci em 1992, ele apareceu no alojamento da faculdade de Cruzeiro do Sul para me convidar a almoçar em sua casa. Ofertar o alimento, eu o conheci como oferenda, como quem se oferece como amigo.

Ontem, recebi a notícia de que o Homem que eu amava faleceu. Existe o Amor de pai. Existe o Amor de filho. Existe o Amor de esposa. Existe também o Amor de amigo. O médico Matheus foi meu amigo-irmão, um ser humano raro, Homem por quem eu tinha carinho, ternura, respeito. Amor.

terça-feira, março 30, 2010

Soneto do Amor Total












Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinícius de Moraes

domingo, março 28, 2010

Melhor a tradição

No dia 21 de março, recebi uma aluna de uma escola pública acriana. Ela pediu transferência depois de um mês.

Olhei seu caderno e não havia sequer uma redação. No segundo do ensino médio, ela não tinha refeito um texto em sala.

Para não ficar só nisso, as aulas de literatura não têm relação com os atuais parâmetros curriculares. Li no caderno o nome Gonçalves Dias e suas características, e chamam isso de literatura. Pior ainda é que a escola, dizem, é modelo.

A aluna sai de uma escola e, quando entra em outra escola pública, percebe que não há relação de conteúdo entre as duas unidades de ensino. O sistem não funciona.

Se é para permanecer assim, melhor retornar ao modelo clássico de currículo formal.

sábado, março 27, 2010

Renato, o Russo

Neste domingo, irei a muitas igrejas para pedir a Deus que devolva a certos jovens o bom gosto musical. Perderam o paladar auditivo, por isso ouvem os ruídos de Cavaleiros do Forró, de Calcinha Preta, de Dejavu, de Aviões do Forró. Que o Senhor tenha piedade de seus tímpanos!!!

Creio que esse mau gosto ou mesmo a falta dele é coisa do diabo, só pode ser. O tinhoso se apossa da audição e, no interior do ouvido, age em nome de um horrendo pecado sonoro.

Oremos! Rezemos!
Para que o mal saia de seus tímpanos, para que a salvação eleve e leve-os a boas letras, a bons ritmos, a boas harmonias, peço ao Senhor que neste dia esses jovens sintam as letras de Legião Urbana na voz inconfundível dele, Renato Russo, que hoje chegaria ao mar inquieto de seus 50 anos.

Saia, diabo, desses ouvidos porque eles não te pertencem!

terça-feira, março 23, 2010

De objeto a signo

Lembro-me das aulas de gramática em minha adolescência. Lá estavam os termos em condições de sujeito, de objeto direto preposicionado. Analisávamos. Classificávamos. Estudar a língua portuguesa assemelhava-se à matemática: analisar.

Analisávamos porque as palavras eram objetos, não pertenciam à vida, ao sentido. Distantes de nós, elas eram sujeitos e predicados, porém sujeitos e predicados não existiam nas ruas, em casa, nos livros, nas poesias de Drummond; sujeitos e predicados existiam somente na escola.

Revisitando Proust e os Signos, de Gilles Deleuze, onde os signos não são objetos, o autor me diz que "alguém só se torna marceneiro tornando-se sensível aos signos da madeira". Em Deleuze, a arte e a filosofia, Roberto Machado abre ainda mais meus olhos quando afirma que "o sentido, ou a essência, vive enrolado no signo, no que nos força a pensar, e só é pensado quando somos coagidos ou forçados".

Escrever jamais foi sujeito oculto.

domingo, março 21, 2010

A bebida dos deuses

O caderno Mais!, da Folha de São Paulo, publicou um ótimo texto sobre ayahuasca. Leia-o!

A viagem
Autora de "Fumaça Negra", musicóloga Margaret de Wys diz que os médicos não acreditam que tenha se curado com hoasca; feito de cipó e arbusto, chá alucinógeno lança altas doses de serotonina no sistema nervoso central

A hoasca confere status de realidade às experiências interiores

MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA

O poder da ayahuasca sobre a vida de uma pessoa pode ser devastador -em geral, para o bem. A americana Margaret de Wys que o diga. Depois do contato com a bebida alucinógena originária da Amazônia, conhecida no Brasil como hoasca, sua carreira de compositora sofreu um baque e o casamento acabou, mas ela se curou de um câncer de mama.

O tumor havia sido diagnosticado em 1999. Com simpatia pelo xamanismo, De Wys (pronuncia-se "di uaiz"), rumou para a Guatemala. Queria buscar uma cura entre os participantes de uma cerimônia maia de caráter ecumênico, com curandeiros de vários países. Ali encontrou o equatoriano Carlos e, por suas mãos, a hoasca.

"Eu enxergo dentro de você -suas veias, seus órgãos, seu sangue, suas células", anunciou-lhe Carlos, da etnia shuar (ou jivaro), na cerimônia em que beberam o preparado do cipó Banisteriopsis caapi e das folhas de Psychotria viridis.

"A fumaça negra está presa em seu peito. Venha para o Equador e eu a curarei."

"Black Smoke - A Woman's Journey of Healing, Wild Love, and Transformation in the Amazon" (Fumaça Negra, ed. Sterling, 240 págs., US$ 19,95, R$ 36) é o título do livro que a professora do Bard College, de Nova York, publicou há um ano sobre "a jornada de cura, amor selvagem e transformação de uma mulher na Amazônia", como diz o subtítulo.

"Carlos" é um nome fictício que ela deu, na obra, à sua paixão sul-americana. Após a publicação, De Wys passou a organizar pequenos grupos de americanos para conhecer os poderes do shuar (a primeira viagem, em fevereiro, tinha cinco pessoas).

Entre a Guatemala e o Equador, ela se submeteu a uma lumpectomia (retirada de tumor e tecidos adjacentes) nos EUA. Não seguiu, contudo, o tratamento prescrito pelos médicos americanos: seis semanas de radioterapia e cinco anos do antitumoral tamoxifeno.

"Fico aterrorizada com remédios ocidentais", diz, "por causa dos efeitos colaterais".

Todos os anos ela faz exames para verificar se o tumor voltou, e o resultado é sempre negativo. "Você não tem mais nada no peito, não enxergo nada", disse-lhe Carlos há poucos meses, durante sua última visita ao Equador.

"Nem eu", respondeu-lhe a compositora. "Mas os médicos não acreditam em cura."

Na iniciação com "natem" (nome shuar para a hoasca) há dez anos, porém, De Wys viu de tudo. Suas "mirações", como se diz entre praticantes brasileiros do Santo Daime e da União do Vegetal, incluíram entrar na boca de uma sucuri do tamanho de uma garagem.

Numa das alucinações, uma onça macho invadiu o corpo de Carlos, e outra, fêmea, o da americana. "O jaguar em Carlos era selvagem e brutal", contou De Wys à jornalista Roberta Louis em entrevista publicada pela "Bomb Magazine".

Hoje, sua relação com o equatoriano é estritamente profissional, ressalva.

Olhos bem fechados
O poder da hoasca sobre a mente deriva dos potentes alcalóides presentes no cipó B. caapi e no arbusto P. viridis empregados no preparo do chá.

O arbusto é rico na substância alucinógena dimetiltriptamina (DMT), que não tem efeito quando ingerido. Mas a DMT conta com a ajuda da harmina e da harmalina do cipó para chegar ao sistema nervoso central, onde juntas iniciam a subversão da consciência.

O mecanismo básico é uma inundação de serotonina, neurotransmissor com múltiplos e complexos efeitos no corpo e no cérebro.

Pessoas deprimidas, por exemplo, costumam ter baixos teores de serotonina. A fluoxetina (Prozac) consegue melhorar sua vida porque impede a recaptação (retirada) do neurotransmissor no espaço livre entre os neurônios, reforçando a comunicação entre eles.

Há uma tradição de pelo menos duas décadas de pesquisa sobre a hoasca no Brasil.

Uma equipe de dez neurocientistas da USP de Ribeirão Preto, do Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmond e Lily Safra, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e do Centro IBM JB Watson (Nova York) tem apresentado em congressos um trabalho com algumas revelações surpreendentes sobre a beberagem. Seis deles já experimentaram a hoasca.

Draulio de Araujo, Sidarta Ribeiro e seus colegas trabalharam com dez usuários frequentes do chá. Todos eram membros do grupo de Mestre Pelicano (irmão do cartunista Glauco) em Ribeirão Preto. O manuscrito tem o título "Vendo com os Olhos Fechados".

O grupo de pesquisa registrou imagens de atividade cerebral obtidas por ressonância magnética funcional durante tarefas visuais antes e depois da ingestão de 0,2 litro do chá.

A tarefa tinha três passos: contemplar uma imagem familiar por 21 segundos, depois fechar os olhos e imaginar a foto mostrada, e, por fim, olhar uma versão embaralhada da mesma imagem.

Três testes psiquiátricos padronizados avaliaram sintomas psicóticos, despersonalização/desrealização e sintomas maníacos dos participantes. Como era de esperar, todos tiveram aumento de sintomas depois de tomar o chá.

Todos também relataram aumento da capacidade de imaginação no segundo passo da tarefa, com as cenas tornando-se muito mais vívidas e reais -apesar dos olhos bem fechados. As áreas cerebrais mais ativadas estão associadas com a recuperação de memórias episódicas (fatos, lugares, pessoas), a ação intencional e o processamento visual.

Sua ordem unida, contudo, é reorganizada pela hoasca. Na vigília sem o chá, sensações interiores são intencionalmente interpretadas à luz de memórias e servem de base para a ação, a cada momento.

Revelações místicas
Sob a ação do chá, a imaginação chega ao poder, de certo modo, com a área visual primária (BA17) tomando a dianteira da ativação das áreas frontais envolvidas na vida consciente. Nessa sequência, as imagens compostas pela imaginação sem peias aparecem para a mente como fatos.

"A hoasca confere status de realidade às experiências interiores", resumem os neurocientistas. "É compreensível, portanto, por que a hoasca foi culturalmente selecionada ao longo de muitos séculos por xamãs da floresta tropical para facilitar revelações místicas de natureza visual."

"As mirações são tão reais quanto a percepção visual de elementos externos, pelo menos no que diz respeito à modulação observada no sistema visual primário", explica Draulio de Araujo.

"Foi uma baita surpresa", afirma Sidarta Ribeiro. "Esperávamos que as áreas frontais assumissem a liderança."

Tais conclusões, no entanto, "explicam" (aspas de Ribeiro, em comunicação por e-mail) como ocorrem as mirações, sem excluir nem confirmar interpretações místicas.

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No Brasil, a hoasca foi retirada em 1987 da lista de substâncias proibidas
É uma droga muito mais benigna para o organismo do que a heroína e a cocaína

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Na tradição de pesquisa sobre a hoasca, ganhou fama um artigo publicado em fevereiro de 1996 por cientistas brasileiros, americanos e finlandeses no periódico "The Journal of Nervous & Mental Disease".

Tinha como primeiro autor Charles Grob, da Universidade da Califórnia.

Era tudo de bom: 15 usuários do chá na União do Vegetal, comparados com 15 não usuários no grupo de controle, se mostraram mais reflexivos, leais, estoicos, frugais, ordeiros e persistentes. E ainda mais confiantes, relaxados, otimistas, despreocupados, desinibidos, enérgicos...

O estudo chegou a ser usado em tribunais americanos na batalha iniciada em 1999 por Jeffrey Bronfman em favor da legalidade da hoasca. Representante da União do Vegetal nos EUA e um dos herdeiros do império Seagram de bebidas alcoólicas, Bronfman teve três tambores da bebida confiscados como droga ilegal.

O caso só se encerraria em fevereiro de 2006, quando a Suprema Corte confirmou decisões anteriores determinando a devolução da hoasca e a legalidade de seu uso em contexto religioso.

No Brasil, a hoasca foi retirada da lista de substâncias proibidas em 1987, e a decisão sofre contestações desde então. No entanto, foi reconfirmada em 25 de janeiro deste ano pela resolução nº 1 do Conad (Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas).

Apesar do reconhecimento da legitimidade do uso religioso do chá, parece haver consenso de que se trata, sim, de uma droga. "Certamente, como o LSD, a maconha, o álcool e o café", afirma o neurocientista Sidarta Ribeiro.

"É uma droga muito mais benigna para o organismo do que a heroína e a cocaína, pois não há overdose conhecida, nem adição [vício] pronunciada."

Potencial perturbador
Henrique Carneiro, especialista em história de alimentos e bebidas da USP, concorda que o chá não é fisiologicamente perigoso: "Psicologicamente, depende. É uma substância com potencial perturbador para quem não é experiente, ou dependendo do ambiente -um ambiente sereno tende a garantir boas experiências".

Para Ribeiro, a hoasca não deve ser dada a quem estiver no limiar de psicose, grávida ou for criança. "Pessoas com tendências psicóticas? Mentes frágeis? Esquece!", sentencia De Wys, que não admite gente desse tipo em seus grupos.

Mas ela sustenta que Carlos já curou esquizofrenia com a hoasca -e até gangrena.

Seu fascínio pelas curas que evita chamar de "miraculosas" -pois, para os xamãs, elas e os espíritos envolvidos fazem parte da ordem natural do mundo- também a trouxe "quatro ou cinco vezes ao Brasil".

Quem a atraiu foi o médium João de Deus, de Abadiânia (GO), mas ela aproveitou para conhecer terreiros de umbanda. Tudo para escrever um novo livro, concentrado em curandeiros do Brasil e da África do Sul.

Para a americana, Carlos e João de Deus, de certo modo, têm práticas similares, na medida em que se comunicam com espíritos ou os incorporam para realizar as curas.

Há uma grande diferença, porém: Carlos o faz de forma "consciente".

É ver para crer.

sábado, março 20, 2010

Pedagogia, a primeira semana

Na segunda semana de março, minhas aulas na faculdade de pedagogia iniciaram-se com a origem da gramática, tendo como base "Crátilo", de Platão, e "A vertente grega da gramática tradicional", de Maria Helena.

Platão definitivamente submeteu a palavra à condição de objeto, analisando e classificando-a. Não só isso. Como representante da razão clássica, ele, conforme sua concepção de língua, organizou a ação do corpo docente na escola.

Hoje, essa organização inexiste porque o modelo platônico foi desmoronado pela presença do texto e da leitura em sala de aula.

Com o fim da tradicional organização escolar, quando professores lecionavam fonologia, morfologia e sintaxe, o professor de leitura e de texto, passando por momento de crise, precisa se reorganizar fora de sala para fundamentar na prática um novo currículo oculto.

Se a palavra não passava de objeto para Platão, Bakhtin rompe com essa tradição em "Estética da criação verbal".

Bem, clique em Faculdade Euclides da Cunha e leia o conteúdo da aula.

quinta-feira, março 18, 2010

de 28 para 13

Às vezes, transformar significa colocar algo ou alguém em seu devido lugar. Transformar pode ser, portanto, colocar na ordem. Em um passado recente, na escola Heloísa Mourão Marques, as coisas estavam fora do lugar.

Em 2008, a ordem começou a tormar forma, a ter rosto. Nesse ano, houve 28 ocorrências policiais. Um ano depois, 13 ocorrências. Esses números são a consequência de gestora que encarna a imagem da autoridade (antipática). "Uma coisa que eu sei fazer é mandar", disse certa em uma reunião com os professores.

No passado, sem a imagem da autoridade, a violência domesticava alunos e, para evitar essa violência, o policial, não o gestor, é quem colocava ordem. "Hoje, as ocorrências na nossa escola têm mais um caráter educativo", observou a gestora.

Heloísa Mourão Marques é outra...

domingo, março 14, 2010

Makro vende mais barato

Hoje, comprei em dois locais: Makro e Araújo. Sem a menor dúvida, o Makro vende mais barato.

Em Rio Branco, Acre, Araújo e Gonçalves não são mais referências de supermercados que vendem mais barato.

Veja os números.

Nescau
Araújo: R$ 3.79
Makro: R$ 2.76
R$ 1.03

Azeite Galo
Araújo: R$ 17.59
Makro: R$ 15.45
R$ 2.14

1 quilo de açúcar
Araújo: R$ 2.44
Makro: R$ 2.37
R$ 0.07

Papel higiênico
Araújo: R$ 6.50
Makro: R$ 5.56
R$ 0.94

Sabão líquido
Araújo: R$ 0.98
Makro: R$ 0.94
R$ 0.04

Sabão em pó
Araújo: R$ 2.99
Makro: R$ 2.39
R$ 0.60

Amaciante
Araújo: R$ 5.35
Makro: R$ 3.99
R$ 1.36

Atum
Araújo: R$ 4.69
Makro: R$ 3.96
R$ 0.73

Ingrediente de feijoada
Araújo: R$ 10.69
Makro: R$ 7.50
R$ 3.19

Arroz Urbano
Araújo: R$ 12.98
Makro: R$ 9.55
R$ 3.43

Macarrão
Araújo: R$ 1.79
Makro: R$ 1.69
R$ 0.10

Sulco Dell Vale
Araújo: R$ 4.49
Makro: R$ 3.58
R$ 0.91

Só com esses produtos, a economia chega a R$ 14.54. Com essa sobra, compra-se mais de 1 quilo de alcatra.

quinta-feira, março 11, 2010

A democracia é 10

Há mais de uma semana, um cartaz do Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Estado do Acre, o Sinteac, encontra-se colado na entrada da escola Heloísa Mourão Marques, ao lado externo da porta da sala dos professores.

No cartaz, o corpo docente é convocado a uma paralisação.

O sinal toca, e os alunos caminham às salas. Enquanto isso, os professores reúnem-se para aprovar em cima da hora uma paralisação. O cartaz estava colado há dias, há mais de uma semana.

Votos contados, dez professores aprovam a paralisação. Os alunos retornam às suas casas.

"Tudo bem que a maioria votou a favor, mas o cartaz está na escola há dias e só agora vocês se reúnem para não haver aulas quando os alunos já estão em sala, isso é uma desconsideração pelos alunos", disse a professora-diretora Osmarina.

Minha crítica

Vindo do grego krinein, "crítica" implica julgamento. Interessante observar que "julgar" tem a mesma origem de "judiciário". "Criticar" significa, segundo Houaiss, "avaliar", "ponderar".

Escrita, lanço minha crítica aos olhos de dez professores que votaram, conforme eles acreditam, em uma paralisação. É preciso considerar, no entanto, que a paralisação da educação não se assemelha à paralisação bancária. Esta não repõe os dias parados. Aquela adia o fim do ano letivo à medida que o professor não leciona.

Parece ser uma verdade absoluta: o professor para um dia e, depois, repõe a aula. Nesse sentido, que pressão a rede pública de ensino pode exercer sobre a secretaria se está garantida a reposição de aula? O ano letivo será atrasado, mas isso é problema dos professores.

Pois bem, pessoas que passaram por uma faculdade votaram em uma "reposição de aula" porque estão convictas de que, com essa "paralisação", o sindicato pressionará o governo. Serei eufêmico: pouco inteligente. Paralisação ou greve de escola pública não passa de um erro crasso contra o bom senso.

Democracia

Entre nós, o critério da democracia é o número, ou seja, a maioria, neste caso, 10 professores votaram a favor da paralisação. Mas será isso democracria? Será democracia o desejo de uma maioria?

Democracia não é a maioria se manifestar, mas a melhor ideia prevalecer muito acima do desejo de grupo. A ideia. O melhor. O justo. O bom senso. Repor aula é bom senso? Votar em uma paralisação que não pressiona o poder é a melhor ideia?

Em minha pura tolice, cheguei a pensar que, quando formado, quando passasse por uma faculdade, bons debates e inquietantes reflexões sedimentariam ideais na escola. Enganei-me: a escola não é lugar de ideais, por exemplo, democráticos.

Ela é o lugar onde a democracia, sem bons debates e sem inquietantes reflexões, não passa de uma maioria que impõe não apenas o seu corporativismo, mas a incapacidade de perceber que as velhas formas de luta do Sinteac caducaram no século 19.

Escrevo em vão. Na escola, democracia é maioria, é isto: número - tudo a ver com uma época que vive "A era do vazio", de Gilles Lipovetsky.

Prolongaram o calendário escolar.

terça-feira, março 09, 2010

À amiga virtual do Rio Grande do Sul

Ivone, não existe igualdade entre o sexo masculino e o sexo feminino. Não existe igualdade porque, por meio dessa diferença entre esses dois sexos, o menino aprende com a menina.

Você já reparou que o menino alegra-se quando exibe seu pênis? Tenho uma filha com 12 anos e eu não receberia nada bem a notícia de que a Lara exibiu seu órgão genital em sala de aula. Você concorda comigo que ele pode exibir o pênis, mas ela não pode exibir sua vulva. A diferença existe.

Imagine agora um menino de 5 anos mostrando seu pipiu aos coleguinhas. Imaginou, Ivone? Repare como ele, por meio de seu pequeno órgão, inibe as meninas, constrange-as. O seu pipiu pode sair da calça, pode ser balançado, apontado, ou seja, o pênis dessa criança pode se impor publicamente.

Esse mundo, Ivone, pertence ao masculino e discordo dele. Se eu soubesse que meu filho tinha exibido seu pênis em uma sala de aula, ele aprenderia com a mãe e com um pai de alma feminina os valores nobres da mulher , um deles: a compostura ou, se quiser, o decoro público, ou, se quiser ainda, não violentar, ou, se quiser ainda, o respeito pelo outro.

Penso estar sendo muito claro em meu texto. Outro exemplo, eu encontro no filme O contador de histórias. Na Febem, Roberto Carlos aprende a ser violento em um espaço onde é marcante a ausência não da mulher, mas de signos que representam o domínio simbólico do feminino.

A única mulher que encarna esses signos é Margherit, uma pedagoga francesa. O garoto, submetido à devassidão do mundo masculino, isto é, à destruição, conhece essa educadora para aprender um outro valor simbólico do gênero feminino: a delicadeza. E entenda: delicadeza significa a força de edificar o bom, o belo.

Ivone, eu poderia tecer mais e mais sobre o assunto, mas acredito que neste limite está bem clara a minha exposição, a de que não existe igualdade entre os sexos. Os meninos devem aprender com as meninas por não haver igualdade entre eles.

segunda-feira, março 08, 2010

Discórdia vinda do Sul, tchê!








Ivone Bengochea, do Rio Grande do Sul, não gostou do que escrevi em "Um livro e uma matéria de jornal". Minha amiga virtual, ela não me compreende quando rabisco algo sobre as feministas neste blogue.

Ivone, já disse a teus olhos que o feminismo não fala uma só língua. Entretanto, uma ideia de feminismo se perdeu ao longo dos anos, ideia defendida por Käthe Schirmacher, por Marguerite Durand, por exemplo.

Jogo pesado contra um feminismo tolo, um modelo que serviu ao capital, à indústria. Esse tipo é um erro. Não sou contra o feminismo, mas contra uma concepção dele. O feminismo que você defende não fugiu ao domínio masculino.

Ivone, sei que estou devendo a ti a leitura de Drummond, estou em falta. Por favor, tenha paciência.

Um abraço suave em teu destino!

domingo, março 07, 2010

Um Livro e uma Matéria de jornal

Na matéria do jornal Folha de São Paulo, mais mulheres têm carreiras "masculinas". E não falta este enfadonho clichê feminista: "as mulheres estão conquistando seu espaço". Ocupar espaço na cidade, convenhamos, Platão, há 300 anos antes de Cristo, escrevera isso em A República.

Elas ocupam o espaço físico de uma profissão; porém, quando se trata de linguagem simbólica, quem domina é o masculino. Melhor ouvir uma feminista acriana ou ler A Dominação Masculina, de Pierre Bourdieu?

A ordem masculina permanece inabalada. Elas podem ocupar espaços masculinos, entretanto a dominação perpetua-se masculinazada por ser essa dominação simbólica. Toda feminista é tola, menos Käthe Schirmacher, Marguerite Durand, Katti Anker, Ellen Key, por exemplo.

Pierre Bourdieu (1930-2002)










Autor de A Dominação Masculina

Rafael Andrade/Foto Imagem









Maria Neusa Machad, 33, e Maria Aparecida Lemoa, 40, entre as poucas motoristas de ônibus de São Paulo

Nos últimos 30 anos, cresceu a presença de mulheres em funções consideradas masculinas, mas o inverso não ocorreu.

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Nos últimos 30 anos, as mulheres aumentaram sua presença em ocupações tradicionalmente masculinas. O inverso, no entanto, não ocorreu, e profissões que sempre foram consideradas femininas permanecem com baixos percentuais de homens atuando.

A constatação é da pesquisadora Regina Madalozzo, do Insper, que comparou na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) o percentual de mulheres em 21 ocupações entre 1978 e 2008.

No final da década de 70, menos de um quinto dos advogados e médicos eram mulheres. Hoje, elas são quase metade dos profissionais dessas áreas.

Algumas carreiras seguem altamente masculinas, mas, mesmo nelas, é possível identificar aumento da participação feminina. Entre engenheiros, por exemplo, a proporção foi de 5% para 11%. Entre policiais e detetives, de 2% para 13%.

Se elas demonstram vontade e capacidade de atuar em ocupações onde eram minoria, o mesmo não se pode dizer dos homens em relação a áreas majoritariamente femininas.

Em 30 anos, houve pouca ou nenhuma alteração nos percentuais masculinos de enfermeiros, professores, profissionais de creche ou costureiros.

"Embora ganhando menos que os homens nas mesmas ocupações, as mulheres estão entrando em áreas tradicionalmente masculinas. Eles, no entanto, não aceitam, ou não são bem aceitos, em profissões dadas como femininas", afirma Regina Madalozzo.

Ela explica que o perfil mais feminino de algumas ocupações é explicado pela similaridade dessas funções com o trabalho doméstico. "As mulheres entraram no mercado em profissões relacionadas ao cuidado. Isso era entendido como extensão do que faziam em casa."

Salários
A desigualdade entre salários de homens e mulheres diminuiu no Brasil nos últimos 30 anos, mas o diferencial é, quase sempre, a favor dos homens.

Dados tabulados pela Folha a partir da Pnad de 2008 mostram que, de um total de 61 ocupações analisadas, em apenas seis o rendimento das mulheres por hora de trabalho superava o de homens.

Mesmo em profissões em que a participação masculina é inferior a 20%, o rendimento delas é, em média, menor.

Secretários do sexo feminino, por exemplo, representam apenas 7% do total, mas recebem por hora 32% a mais que mulheres na mesma profissão.

Nas poucas áreas em que as mulheres têm rendimentos maiores, Regina Madalozzo explica que, frequentemente, isso ocorre porque o nível de escolaridade delas é superior ao dos homens na mesma profissão.

Um exemplo disso pode ser constatado entre guardas e vigias, ocupação em que as mulheres são apenas 5% do total.

O rendimento médio por hora de trabalho delas é 10% superior ao de homens. Mais da metade (53%) dessas profissionais têm ao menos nível médio completo. Entre homens, esta proporção não passa de 31%.

quinta-feira, março 04, 2010

Um blogue a Tiago Tavares

Tiago, existe um livro que meus olhos apreciam muito: O Carteiro e o Poeta. Folheamos nessa obra literária o valor da amizade entre dois homens. No passado, acreditei em duas amizades e estendi minhas mãos a elas para, em troca, receber o gesto dos canalhas.

Eles lecionam em uma universidade. Dois pulhas. Infelizmente, eu não os considero humanos e, em mim, despertaram a mais fria e sólida insensibilidade. A vida, entretanto, continua e, mesmo assim, precisamos crer na amizade, nem todos, sabemos, fedem a velhacos.

Como você pôde ler, cultivo em mim um mal que me alegra, não sou bem aquilo que você escreveu em seu blogue. Por outro lado, ainda preservo ideais.

Sou grato por suas palavras. Você tem apenas 21 anos e, com essa pouca idade, vejo um espírito transformador; um homem dedicado ao ato de lecionar para muito além do senso comum.

Um abraço em teu destino!








quarta-feira, março 03, 2010

Um novo blogue novo

Os alunos do terceiro ano do ensino médio criaram um charmoso blogue.

Que juventude fascinante! É um pessoal muuuuuuuuuito bom, um dos exemplos da escola Heloísa Mourão Marques.

A professora de História Sezimária os levou ao CDIH, da Universidade Federal do Acre, para eles lerem a história em jornais pautados pelo passado.

Motivar a criação de blogues é essencial na escola. No ano passado, cometi alguns erros nesse sentido; porém, neste ano, providenciei algumas alterações, só que ainda não estão boas - preciso pensar em outras possibilidades.

Professora Sezimária, parabéns!
Alunos, inquietem-se!
Acesse o terceiro ano A da escola HMM

terça-feira, março 02, 2010

Gramática: vírgula

"Esse um não é numeral e, sim, artigo."

O Celso Pedro Luft não defende o "sim" entre duas vírgulas. Ele argumenta que "e sim" é uma unidade inseparável.

Não se trata de um termo deslocado na frase-oracional, porque, se o colocarmos no final, o sentido é outro.

Vejamos: "esse um não é numeral e artigo sim." O lugar desse "sim" só pode ser ao lado de "e" segundo Luft. Inseperável de "e", "e sim", segundo Celso, é uma locução adversativa. Para ele, as palavras "e sim" significam "mas", e não "e".

Para Celso Pedro Luft, o correto é "esse um não é numeral, e sim artigo."

Justificam-se as duas vírgulas se colocarmos o "mas" porque, sozinho, o "mas" é adversativo.

"Esse um não é numeral; mas, sim, artigo."