quinta-feira, julho 31, 2008

Uma poesia para umedecer teus olhos

A multidão não poetiza a vida. Não se misture a ela. Abra um livro e ouça com os olhos o silêncio das palavras escritas. Ouça agora Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
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Há Poetas que são Artistas

E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...

Que triste não saber florir
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um
E ver se está bem, e tirar se não está
Quando a única casa artística é a Terra
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.

Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira
E olho para as flores e sorrio
Não sei se elas me
Nem sei eu as compreendo a elas
Mas sei que a verdade está nelas e em
E na nossa comum
De nos deixarmos ir e viver pela
E levar ao solo pelas Estações
E deixar que o vento cante para
E não termos sonhos no nosso sono.

quarta-feira, julho 30, 2008

A uma reitora

De Aldo Nascimento
A Ufac a uma acreana

Na semana passada, meus olhos reviram folhas processuais, um documento forjado por alguns falsos intelectuais da Universidade Federal do Acre. De 1992 a 1997, lecionei no Departamento de Letras e, antes de sair pela porta da frente, contratei os serviços dos advogados Gomercindo Clovis Garcia Rodrigues e Carlos Antônio Brito Marques para limpar minha pasta funcional.

Nessas folhas, registram-se absurdos, acusações insólitas, arbitrariedade de velhacos que se julga acima de procedimentos equânimes das instituições. Para se ter idéia dessa comicidade barnabeniana, fui processado por lecionar A República, de Platão, em Literatura Infantil.

Nem todos, entretanto, igualam-se na Faculdade de Letras, porque alguns professores não são doutores para tramar. Existem acreanos com elevado espírito público e com um caráter que dignifica o gesto humano. Poderia citar alguns nomes, mas, em período eleitoral, reconheço o nome da professora-doutora Olinda Batista Assmar.

Mas quem sou para escrevinhar sobre a futura reitora da Universidade Federal do Acre? Na época de processo forjado, um mero professor substituto, algo sem importância, uma individualidade que poderia ter sido desdenhada pela professora-doutora Olinda, porque, com seu nome consolidado na Universidade Federal do Acre, sua assinatura poderia estar em documentos contra mim; entretanto, ao procurar seu nome em folhas desse passado, eu não o encontro.

Não existe assinatura de Olinda Batista Assmar em nenhum processo contra mim. A pergunta é pertinente: por quê? Ora, certos doutores não perdem tempo tramando com a súcia; certos doutores pesquisam, produzem conhecimento. Olinda tem legado. Em seus 30 anos de Universidade, essa dama acreana publicou mais de 104 títulos em livros, em anais de congressos, de simpósios, de seminários, de mesas-redondas, de conferências. Seu título de doutora, portanto, não é ornado com plumas e paetês.

Seu título, no entanto, torna-se menor quando comparado ao seu caráter. Ao falar, não sentimos o mau hálito da arrogância, da prepotência, mas a expressão de uma funcionária pública que não trama com a finalidade sádica de perseguir colegas de profissão e muito menos se submete a intrigas. Ela não usa máscaras, olha no olho e diz.

Candidata à reitora em outra oportunidade, dediquei-me à sua campanha e muito vezes ouvi de alguns tolos que Olinda pertencia à direita. Conheço pessoas de esquerda que não têm a moral e o zelo pela coisa pública como Olinda Batista Assmar.

Hoje, mais de dez anos depois, escrevo este texto como forma de reconhecer uma ex-colega de trabalho que, em mais de uma assembléia departamental, colocou-se não a favor de mim, mais a favor de procedimentos corretos dentro de uma instituição de ensino superior. Sabemos que uma súcia de barnabés não pode se apropriar de parte de uma universidade pública como se fosse o quintal de sua casa ou o terreiro de quimbanda de um babacalorixá.

Sei que este texto é muito pouco, mas minhas palavras não são pequenas como são os canalhas. Não cheguei a este Estado ontem. O tempo não pára. Sou menos desconhecido do que 16 anos atrás. Hoje, jovens que foram meus alunos no ensino médio estudam na Universidade Federal do Acre e, quem sabe, lêem minhas palavras agora. A eles, peço que votem na chapa Olinda-Pascoal como gesto que reconhece dois doutores que buscam o poder não como vaidade pessoal, mas buscam o poder para servir melhor à sua Pátria, ao seu Estado e aos seus semelhantes.

Ronda Gramatical

Em nossas redações de jornal, copia-se o que está escrito em além-livro. Se na Globo escreve-se “super cine”, nosso jornalista copia. Se está escrito “pronto socorro”, ele copia na matéria. Se compra um xampu com “anti-caspa”, ele copia “anti-caspa”. Se está escrito “Mega-Sena”, ele copia “Mega-Sena” na reportagem. Se está escrito “stand”, ele copia. Se está escrito “skate”, ele repete em seu texto jornalístico. Se abastece o carro no “auto posto”, o repórter leva essa grafia para o jornal. Se vai preparar um misto quente em um “mini grill”, reproduz como está escrito no aparelho. Isso significa que somos pautados graficamente por produtos de supermercados, por casas lotéricas, pela TV, pelas palavras espalhadas nas ruas. Na condição insignificante de péssimo revisor, queimei minhas gramáticas. A escrita correta encontra-se nas casas lotéricas, no xampu (ou será shampoo?).

terça-feira, julho 29, 2008

A CUT e 3%

Ontem, um professor me parou na rua para dizer que o governo não deu aumento de 3% em julho, mas deu 2.975%, ou seja, faltaram 5o centavos no bolso dele.

"Se você for somar os 5o centavos de todos os funcionários da educação, vai dar uma grana boa", disse. "Eu quero meu dinheiro."

O presidente do Sindicato dos Trabalhahdores da Educação do Acre, Manoel Lima, até o momento, não disse algo sobre isso.

Por falar no presidente, eu peço que não me perturbe com suas paralisações infecundas; deixe-me trabalhar em paz. Não sou filiado ao Sinteac, mas, a cada ano, o sindicato tira de meu bolso a injusta contribuição sindical do meu bolso.

A CUT é favorável ao imposto sindical e, o que é pior, foi a favor de que a grana dos sindicatos não fosse submetida ao Tribunal de Contas da União (TCU).

Só espero que o presidente, antes de sair do Sinteac, submeta o sindicato a uma auditoria séria.

Açeçôr di Inprençá

"Objetivo principal é dar oportunidade para que todos tenham acesso ao lazer e esporte O projeto Comunidade Ativa realiza novas capacitações para a melhorar a utilização dos kits com materiais esportivos. A iniciativa acontece nas regionais 3 e 4, antes da entrega do material doado. O recebimento do benefício depende do preenchimento de um formulário na própria Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer (Setul), que coordena o projeto, para que possam ser escolhidas as comunidades beneficiadas. São feitas duas inscrições ao ano. A próxima inscrição acontece de 20 de outubro à 20 de novembro."
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Impossível corrigir o jornal A TRIBUNA todinho. Muito texto e pouco tempo para um infeliz só. Os textos do governo são publicados como escrevinham.

Escrever "de 20 de outubro à 20 de novembro" passa a péssima imagem de uma assessoria. O governo deveria zelar pela língua portuguesa.

segunda-feira, julho 28, 2008

É proibido rir do poder











No domingo, achei algumas charges que furtei do Braga. Nesta, o velho Narciso recebe os traços de um político primata, homem público sem noção do que seja civilização. Braga me disse certa vez que Narciso nunca o processou por isso.

Depois da esquerda no poder, ficou proibido o riso político no Acre. Acabaram-se as charges. "Somos muito perfeitos para que o riso nos deforme", diz o poder.

Marta Suplicy, candidata à prefeitura de São Paulo, não cede entrevistas ao CQC. Chamado de "filhote da ditadura", Paulo Maluf sempre se permite ser ironizado pela trupe de Marcelo Tas.

Na década de 80, Henfil propagava a idéia de um PT que sabia rir. Um PT criativo. O poder seduz.

sábado, julho 26, 2008

LÍNGUA

Brasil vai adotar acordo ortográfico até 2012, diz MEC

DA FOLHA ONLINE

O acordo ortográfico será adotado definitivamente pelo Brasil "no máximo em 2011 ou 2012" disse nesta sexta-feira à Agência Lusa o ministro da Educação, Fernando Haddad.O ministro, que falava à imprensa na entrada da 7ª reunião de cúpula da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), afirmou que, nos próximos 30 dias, o decreto presidencial sobre o acordo ortográfico estará sob consulta pública, antes de ser publicado oficialmente em setembro ou outubro.

Escola

Como é difícil transformar uma escola pública acreana. À margem da imprensa e sem visibilidade, a escola ainda permanece emudecida, por exemplo, na Assembléia Legislativa, lugar em que a educação deveria estar submetida a grandes debates, a grandes idéias educacionais.

Hoje, com a professora-gestora Osmarina, tenho a mais absoluta convicção de que a escola pública depende de um gestor compromissado com o erário. Um administrador que, primeiro, trabalhe para, aí sim, exigir dos outros trabalho. Gestor público deve dar exemplo.

Em administrações anteriores, professor de Educação Física não trabalhava, mas, todo mês, sem desconto, seu dinheiro estava na conta. Conversando com um funcionário, ele me disse que havia funcionário de apoio que aparecia na escola a cada 15 dias. Diretores sabiam, mas como poderiam cobrar se ficavam mais de 30 dias sem pisar na escola?

Acordos escusos com tais funcionários eram feitos antes da eleição para que a preguiça e o descaso "educassem" o cinismo de alguns. Por tais acordos, ganhavam dobra pós-eleição. Para quem abre muito a boca contra o incorreto em uma unidade de ensino, lecionar em uma escola pública no Acre ainda é muito difícil quando se tem a infelicidade da pseudodemocracia escolar votar em um candidato compromissado com o dinheiro que recebe como diretor, com a falsidade, com a arbitrariedade, com a preguiça.

A democracia escolhe, mas nem sempre escolhe o melhor.

Quem muda a escola é a direção, é um gestor, é sua equipe. Heloísa Mourão Marques está se transformando aos poucos para o que é melhor, e o melhor é debater boas idéias em uma reunião com todos, aprová-las conforme a maioria e executá-las com paixão e com disciplina.

Nestas eleições municipais, mais uma vez, as falas da oposição desqualificarão, por exemplo, o tema educação. A oposição acreana não é útil nem para a democracia.

sexta-feira, julho 25, 2008

Seios, de Cruz e Sousa

Magnólias tropicais, frutos cheirosos
Das árvores do Mal fascinadoras,
Das negras mancenilhas tentadoras,
Dos vagos narcotismos venenosos.

Oásis brancos e miraculosos
Das frementes volúpias pecadoras
Nas paragens fatais, aterradoras
Do Tédio, nos desertos tenebrosos…

Seios de aroma embriagador e langue,
Da aurora de ouro do esplendor do sangue,
A alma de sensações tantalizando.

Ó seios virginais, tálamos vivos
Onde do amor nos êxtases lascivos
Velhos faunos febris dormem sonhando…

quinta-feira, julho 24, 2008

Paixão para Lecionar

Neste semestre, há quatro leituras para meus alunos do segundo ano: dois livros e dois filmes. Eles assitirão à Sociedade dos Poetas Mortos e aO Sorriso de Mona Lisa. Nesses textos cinematográficos, compreender conceitos clássicos, românticos e expressionistas por meio das imagens.

Perceber o choque entre clássicos e romântico-expressionistas.

Os livros: Álbum de Família e Rebeldes. Neste, um bando de adolescentes que encarnam uma Hungria destruída pela guerra até que suas vidas são transformadas pela arte. Naquele, a destruição, a violência, a total ausência da compaixão, do amor, do sagrado, ou seja, oposto aos dois filmes e ao outro livro.

Rebeldes será lido em sala e, além da interpretação, os alunos farão anotações gramaticais no texto. Álbum de Família
será lido por eles em casa por um grupo de quatro alunos.

Além do trabalho escrito à mão, haverá prova oral para confirmar se sabem ou não sabem o que escreveram no trabalho. Esse tipo de procedimento foi determinado pelo Conselho de Disciplina de Língua Portuguesa.

segunda-feira, julho 21, 2008

Mictório

Fonte, de Duchamp

Podemos até adiantar uma hora, mas ainda permanecemos atrasados quando o assunto é circuito cultural. Podemos construir uma estrada em direção ao Pacífico, só que não estamos na rota do cinema nacional e muito menos na rota do teatro brasileiro e das exposições de arte.

Só agora, após 91 anos, os brasileiros puderam estranhar a arte de Marcel Duchamp [1887-1968] no Museu de Arte Moderna de São Paulo, espaço cultural que fica em meio à paisagem criada pelos jardins de Burle Marx, dentro de um parque projetado por Oscar Niemeyer.

O Masp recebeu uma das obras mais famosas de Duchamp, Fonte, de 1917, exposta pela primeira vez em Nova York, assinada com o nome R. Mutt. Trata-se de um mictório, isso mesmo, um objeto industrial por si mesmo na condição de arte. Quando afirmou na época estar “mais interessado nas idéias do que no produto final”, Duchamp tinha indicado uma trilha para pensarmos sobre Fonte

Mas que idéia existe de expor um mictório como obra de arte? O que vejo é que diante de nós não há mais a criação, mas a fabricação de um objeto como arte, mas, retirado do seu habitat natural ou normal, o banheiro masculino, provoca em nós estranhamento. Representante da arte pop, Andy Warhol também deslocou objetos do seu habitat natural para que pudéssemos estranhar o que seria normal, no caso de Marcel Duchamp, em um banheiro masculino. No Museu de Arte Moderna, o mictório não é mais familiar, mas é idéia que nos faz estranhar o que é normal, um objeto

Vivemos cercados de objetos, o processo industrial deposita em nós o desejo de consumi-los, a própria pornografia não deixa de ser uma fábrica de gozo na linha de montagem. No mundo das fábricas, há tão-somente a função do objeto, por isso o mictório - Fonte faz lembrar formas de uma mulher, mas como depósito da borra masculina

Quem ousaria urinar na arte de Rodin [1840-1917] ou de Camille Claudel [1864-1943]? Mas, na obra de Marcel Duchamp, o convite foi feito. Divisor de duas estéticas, existe obra de arte ante e depois de Duchamp. Hoje, depois de Fonte, arte não é para ser contemplada – ela é descartável, é coisa, objeto

Já que esse franco-americano expôs um objeto, sugiro aos teus olhos, leitor(a), a provocante leitura de “O sitema dos objetos”, de Jean Baudrillard. Debruce tuas pupilas sobre esse livro e saia dele, se for capaz, com outra noção do que seja uma rede de objetos

Ronda Gramatical

Ontem, às 23h23, a jornalista Anacréia apareceu morta na redação de um jornal acreano com um objeto direto cravado no cérebro. Segundo peritos gramaticais, antes da repórter morrer, houve uma briga no ambiente de trabalho entre ela e Regência Verbal.

“Anacréia sempre insultava Regência com ‘implicava em’ todo dia”, conta um colega de trabalho. “Mas ontem Regência perdeu a paciência.”

Quando Anacréia acabou de copiar um texto da internete e coloca seu nome, Regência Verbal atingiu seu cérebro com um objeto direto, mas, antes do golpe gramatical fatal, Regência expeliu seu ódio.

“Tome, sua maldita, não se usa preposição quando o verbo ‘implicar’ tem sentido de ‘dar a entender’”.

No IML, constatou-se algo de que se desconfiava: a jornalista era anencéfala. No sepultamento, no lugar de flores, amigos jogaram gramáticas em seu túmulo.

quinta-feira, julho 17, 2008

Dizem que sou louca por eu ser assim











Sempre soube que árvore nasce no chão, mas algumas gostam de contrariar a espécie e, como são loucas, nascem em prédio para chamar atenção, puro exibicionismo.

Foto de atento Selmo Melo.

segunda-feira, julho 14, 2008

sábado, julho 12, 2008

Mário, o Quintana

Transcedência

Mas um belo poema - já não será a Outra Vida?


Até terça!

Transparência escolar

Quando disse à gestora Osmarina colocar um sítio da escola Heloísa Mourão Marques na internete, a única e absoluta intenção foi proporcionar a uma instituição pública isto: transparência.

A escola deve, por causa de uma democracia ética, expor o que ela pensa, por exemplo, no Conselho Escolar. Com os avanços tecnológicos estão aí, o conselho deve ser filmado para, em um sítio da escola, um pai acessá-lo por meio da internete. Alunos e pais precisam ver e ouvir o que ocorre em um conselho, o mesmo para conselhos de disciplina e de turma.

Hoje, em uma reunião escolar, a gestora foi filmada quando falava aos professores. Essa filmagem será colocada neste blog.

Osmarina confirmou que em 2009 a escola terá um sítio na internete para colocar toda informação sobre a escola. Nesse sítio, professores poderão hospedar seus blogs, seus projetos. Criaremos um jornal virtual, jornal escrito pelos alunos.

sexta-feira, julho 11, 2008

Veio da Ufac

Por motivo óbvio, o texto abaixo não foi assinado. Refere-se ao candidato a vice, o professor-doutor Vicente Cegueira.

"A UFAC, mais uma vez, vive um momento ímpar de sua história. A disputa eleitoral entre uma pessoa altamente preparada, qualificada, humana, profissional, acadêmica por excelência, com um adversário da pior qualidade, uma pessoa que empobrece o ambiente universitário e diminui a espécie humana quando se diz humano."

Forte. Professor-doutor, como não sou amante de injustiças, escreverei um texto como tributo ao seu imaculado nome. Serei lacônico como navalha.

Todo dia, penso neles, inclusive, em vós, e vós não fazeis idéia do orixá que me acompanha. Sabeis, "meu amigo", que, igual a Fausto, o de Goethe, também faço meus pactos. O mal que pulsa em mim, por causa de certos elementos, indivíduos, de ti, perpetua-se para muito além da carne. Como está escrito na Bíblia, tudo tem seu tempo.

Vós, sabemos, sois um erro de Deus na Terra.

quinta-feira, julho 10, 2008

Uma gestão

Gestação e gestão convergem para uma única origem. Na escola Heloísa Mourão Marques, quatros mulheres - diretora e coordenadoras de ensino - geram aos poucos uma nova escola pública.

Leciono há cinco anos nessa unidade de ensino, nunca me avaliaram como deve uma instituição avaliar. A escola ignora qualidades em documentos, mas se permite a comentários sobre os defeitos de seus profissionais. Até hoje, o que temos são "palpites sobre" ou "achismos sobre" o professor A e sobre a professora B.

Se tem olhos azuis ou se usa lentes verdes, se é simpático como Faustão ou se é indiferente e sabe sorrir como político, a direção comentará na Secretaria de Educação que esse profissional agrada. Mas, se for um Aldo, aquela funcionária dirá que esse tipinho de professor é problemático.

Dessa maneira, à revelia de interpretações, a fofoca ou o comentário maldoso expõe, às escondidas, o funcionário indesejado. Em minhas costas, carrego alguns processos.

Agora, pela primeira vez, uma gestão escolar inicia um trabalho exemplar que deixará na pasta funcional do professor quem ele é na escola por meio de uma avaliação equilibrada, justa. Documentar a vida escolar dos professores.

Quem são? Eu, por exemplo, sou um homem sem olhos azuis.

A professora-gestora Osmarina está no caminho correto, reto, justo. Funcionário de uma escola não pode ser refém de fofoquinhas. Escola não é casa-de-mãe-joana.

quarta-feira, julho 09, 2008

Resposta a um blogueiro

"Pra passar de ano o aluno também deve apresentar média 7, qual a diferença entre o "estudo" e a fanfarra na formação do cidadão? Vai ter concurso de estudo, agora?"

Há princípios universais que independem do desejo de uma pessoa. Na família, eles existem. Na escola, eles existem. Na igreja, eles existem. Mas quais? Um deles, a ordem - conceito deformado por alguns.

A importância da ordem implica colocar a parte em um todo, o indivíduo como parte de uma Pátria. Por meio da ordem, agrega-se o indivíduo ao universal. Ora, a escola não se reduz a empilhar tijolos com cimento, mas dar às suas paredes dimensão simbólica. E, não havendo ordem, não há o simbólico na escola.

A fanfarra, sendo belos uniformes e belas músicas, representa um ordem estética que disciplina, que busca o melhor. Quem não possui postura - notas boas e comportamento adequado à escola - para ser parte de uma fanfarra não pode compor essa estética musical.

Mas entenda: haver ordem para saber desobedecer, para criar o novo, para haver outras possibilidades. Para mim, isso fica evidente em três filmes: Sociedade dos Poetas Mortos, O Sorriso de Mona Lisa e Ao Mestre com Carinho.

Um abraço, blogueiro!

terça-feira, julho 08, 2008

Fanfarra não toca Hino Nacional nas escolas

Matéria do governo e meu brevíssimo comentário
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Concurso de Fanfarras reúne 2.000 estudantes e 28 bandas

Organização prevê nível alto e requinte entre os grupos concorrentes

Pelo menos, dois mil estudantes deverão participar do desfile das 28 corporações musicais do 8º Concurso de Bandas e Fanfarras neste sábado, dia 12, no estacionamento da Arena da Floresta.

Em 2007, ano em que o certame foi organizado pela Associação de Bandas e Fanfarras, 17 grupos concorreram à premiação, que é a viagem ao Rio e a São Paulo para participar da fase nacional.

"A participação está sendo recorde neste ano", disse Janete Zaire, que prevê "muitas surpresas" no evento, especialmente, quanto ao vestuário. "Tem muita gente comprando roupa em outros Estados, fora do Acre", informou a organizadora.

As apresentações começam às 9 horas e a abertura oficial será às 16 horas.

O governo do Estado investe substancialmente em bandas e em fanfarras como meio de elevar o civismo e autodisciplina entre os estudantes. Neste ano, segundo Janete, estão sendo aplicados R$ 350 mil em pagamento de instrutor, coreógrafo, aquisição de equipamentos e outras atividades.

Elevar o civismo - Até onde eu sei, nas escolas públicas acreanas, não se reverencia o Hino Nacional. A fanfarra tem existido, isso sim, como espetáculo.

Além de fortalecer o desejo pelo estudo, o concurso tem como objetivos estimular a criação de bandas e fanfarras; promover o intercâmbio entre os integrantes, mediante competição sadia; incentivar as corporações musicais no aprimoramento de métodos e técnicas e contribuir para o desenvolvimento do pensamento cívico e autodisciplina, necessários à formação integral do cidadão. Para participar de uma banda ou fanfarra, o aluno tem de apresentar média de 7 como nota escolar.

O concurso é organizado pelo governo do Estado por meio das Secretarias de Educação e de Esporte, Turismo e Lazer. (AN do Acre)

Duas alunas e uma dissertação



Muitos alunos que chegaram à turma do primeiro ano do ensino médio (E) não reescreveram seus textos em anos anteriores. Chegaram a mim sem noção de linhas, de espaço, de processo de paragrafação.

Em sala, reconstruímos os textos dos alunos várias vezes. Fiz questão de marcar nos textos estas questões: retomar idéias, evitar generalizações, vírgula, ponto contínuo, concordância simples, ortografia, organização de pensamento.

Alguns alunos, minoria, conseguem. Uma maioria não. O texto acima pertence às alunas Vânia e Kelly. Comparado ao texto que elas escreveram no início do ano letivo, houve um avanço considerável.

Se essas alunas estudassem em uma sala com alunos com o mesmo rendimento, avançaríamos mais, bem mais.

Consegui transformar a escrita dessas alunas, há outros, poucos, eu sei, mas há outros que melhoram a sua escrita. Não foi em vão.

segunda-feira, julho 07, 2008

Da lotérica à escola


DE Aldo Nascimento

Posso falar minha felicidade, legal? Minha felicidade...
acho que não tem mais jeito de eu ser feliz, não tenho
mais ninguém, não tenho pai, não tenho mãe, não
mais porra nenhuma
.”
A fala de um menor de rua no início do filme Ônibus 174

Na semana passada, um adolescente de 17 anos e outro de 12 assaltaram uma casa lotérica em Rio Branco. Usando a mãe e o filho de 2 anos como escudos, o mais velho refugiou-se em uma escola pública

Quando esse fato chegou aos meus olhos na forma de texto jornalístico, logo associei o adolescente de 17 anos ao protagonista do filme Ônibus 174, Sandro Rosa Nascimento, de 22 anos. Na época, quem leu os jornais ou assistiu à notícia pela TV, sem dúvida alguma, reagiu diferente após ter visto o belíssimo documentário de José Padilha

Por meio dos jornais, Sandro foi notícia, sensacionalismo; elemento submetido a uma linguagem ordinária, funcional, imediatista. No cinema, entretanto, sua vida nos comove, promove reflexão. A arte cinematográfica devolve a Sandro sua condição humana e social. O texto jornalístico “cobre o fato” e oculta a verdade. “O fato é um aspecto secundário da realidade”, escreve Mário Quintana [1906-1994]. Ignoremos a vulgaridade espetaculosa da imprensa

Dois adolescentes que não pertencem a facções, a quadrilhas. Não são profissionais do crime. Quero dizer com isso que me recuso a acreditar que esses garotos tenham o sotaque da violência carioca. Aqui, em Rio Branco, os que vivem à margem da lei não degolam policiais militares na rua. Mermão, os caras não era malandro, era dois pregos que entrou na parada errada, sacou?

E lá estavam os dois buchas na casa lotérica. Megassena acumulada em R$ 23 milhões, mas o de 17 anos arrisca um palpite em outro jogo: 38 na cabeça... de uma mãe e de um filho de 2 anos. Por que não contar também com a sorte? Mas pobre é azarado. Os tiras chegam para limpar a área, pobreza, ainda mais armada, suja a praça bonita, reformada. Difícil é reformar a desigualdade social.

A polícia cerca. Sandro arrasta os reféns a uma escola pública. Onde se está seu boletim escolar? Mas qual a importância do boletim escolar de um pobre? Nenhuma. O que importa, agora, é o boletim de ocorrência

Como no documentário Ônibus 174, o Sandro daqui não mata, não se mata; não é assassino, suicida. Apostar no 38 na cabeça foi um blefe. Preso, a multidão ecoa seu delírio de “mata, mata”. Repórteres buscam o melhor ângulo, mas, como não é função de jornalista abstrair fatos, a matéria os mantém na superfície da realidade

O espetáculo termina. O assaltante da casa lotérica é jogado no camburão sem saber que, só com R$ 3, poderia ter tido o mesmo destino de um pobre de Santa Catarina, ganhar R$ 23 milhões na megassena. Que azar! O jeito então é, quando sair da cadeia, entrar não em uma escola pública, mas em uma particular, sempre as melhores no ranking do Enem

Agora, longe das belas praças, dos prédios reformados, o espaço público está limpo, tudo voltou ao normal em Rio Branco, porque, quando o pobre permanece resignado em seu devido lugar, a ordem está em paz. Quando não permanece, morre: o Sandro do Rio de Janeiro foi assassinado por policiais, o Sandro de Rio Branco jamais renascerá na sociedade acreana.
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Ronda Gramatical

O sonho de Salvatore Cacciola era ser policial ortográfico para corrigir os erros dos pobres. Um bem-nascido recebe ótima educação. Por causa disso, ficou em primeiro lugar no concurso da Polícia Gramatical. Na semana passada, o capitão Cacciola ouviu algo desagradável quando passava em frente a uma casa lotérica de Rio Branco. “Me dá o dinheiro que tá aí, porra!”, ordenou. Cacciola logo percebeu que era um elemento com pouca escolaridade. Sacou a Gramática de Celso Cunha e atirou a colocação do pronome oblíquo na LÍNGUA do delinqüente pronominal. No boletim de ocorrência, o policial retificou, escrevendo que “o inculto deveria ter dito ‘dê-me o dinheiro que está com a senhora, por favor!’”.

sábado, julho 05, 2008

Cabeça de repórter

"Perto de completar um mês que os rio-branquenses vêm tentando alterar o sistema biológico, em questão da mudança do fuso horário, ainda há questionamentos sérios. Entre eles, inclusive o mais debatido ultimamente, está sendo o horário de entrada dos alunos matutinos nas escolas, tanto nas públicas quanto nas particulares."

Estou pensando em publicar uma obra-prima com o seguinte título: Repórter também pensa. O texto acima estará na primeira página.

Quanto ao texto, posso dizer que já alterei o meu sistema biológico. Coloquei o intestino no lugar dos pulmões e o coração no lugar do fígado.

Mas a mudança mais radical foi colocar meu cérebro no lugar do ânus e o ânus no lugar do cérebro.

Se eu não estiver enganado, a repórter quis dizer relógio biológico.

sexta-feira, julho 04, 2008

E os gestores de escola?

TCE divulga a lista dos maus gestores
que poderão ser condenados à inelegibilidade

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) entregou no final da tarde de ontem ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) a lista dos gestores que poderão ser impedidos de concorrer às eleições deste ano.

O documento possui 57 nomes de políticos que tiveram suas prestações de contas reprovadas ou que foram multados por alguma irregularidade julgada nos últimos cinco anos.

No ranking dos maus gestores, existem prefeitos, vereadores, secretários, presidentes de fundações e instituições, como, por exemplo, o extinto Banacre.

De acordo com a lista de condenação, são tantos problemas que existem nomes de políticos que são citados mais de cinco vezes no documento entregue ao TRE. Entre os mais famosos, estão o ex-prefeito de Plácido de Castro, Luiz Pereira de Lima; de Tarauacá, Jasone Ferreira da Silva; a ex-vereadora de Senador Guiomard Maria do Socorro Prado; e o ex-prefeito de Rio Branco, Mauri Sérgio.

A Assembléia Legislativa do Acre poderia criar uma lei que proibisse o péssimo gestor escolar - aquele que deixou a escola sem verba - de ser candidato a diretor de escola, pois uma unidade de ensino é tão importante quanto uma prefeitura.

quinta-feira, julho 03, 2008

É triste!

Triste a morte de José Alexandre Leite Leitão. Boa pessoa, cheguei a trocar idéias com ele, poucas. Homossexual com um caráter que não se encontra em muitos homens. Ele não merecia isso.

Fico muito triste quando os bons partem.

Blog aberto à professora Olinda Batista

Prezada Professora-Doutora Olinda Batista Assmar,

Se falamos bem do lugar em que moramos, isso se deve a pessoas. Eu, mero professor substituto da Universidade Federal do Acre, conheci a senhora no Departamento de Letras em 1993 e presenciei até 1997 tantas articulações contra a sua pessoa.

Ainda nesse departamento, em muitos momentos, a senhora posicionou-se a meu favor contra arbitrariedades articuladas, por exemplo, pelo professor-doutor Vicente. Antes de sair do departamento, limpei meu nome na pasta funcional por meio do ótimo advogado Gumercindo.

Guardo com muito zelo os processos que manipularam contra mim, eles representam o absurdo, uma documentação insólita forjada por um grupo que se acha acima da coisa pública.

Quando a senhora foi candidata naquela época, diziam que Olinda Batista era da direita. Quem dera que alguns da esquerda tivessem a moldura de teu belo caráter.

"O tempo não pára", nada melhor do que o tempo para (des)cobrir a máscara de alguns. O tempo passou, professora, e meu respeito e minha admiração sempre permanecerão.

Espero que a senhora e Pascoal sejam vitoriosos.

Desnecessário

"Com a greve dos Correios completando quatro dias hoje, o centro de distribuição da estatal contabiliza 72 mil objetos acumulados por falta de carteiros para realizar o serviço de entrega."

Sim, claro, se há greve, só poderia faltar carteiros para realizar o serviço de entrega. É semelhante dizer se os carteiros estão sem braços, eles não poderão entregar as cartas com as mãos.

Não sei se isso é óbvio ou eu estou sendo chato demais.

quarta-feira, julho 02, 2008

Da Megassena à escola












Na terça-feira, dia 8, com mais calma, escreverei na coluna do jornal A TRIBUNA sobre o que ocorreu hoje. Há 16 anos no Acre, nunca assisti a algo semelhante. Os jornais possuem a vã ilusão de que mostram a verdade. No filme Ônibus 174, é a arte do cinema que revela a verdade.

Por que esse adolescente de 17 anos não matou a mulher e a criança? A sua vida vale pouco, quase nada. Por que não matou? Poderia. Não tinha mais nada a perder. Depois, um tiro nele.

Sua violência poupou a criança de 2 anos e a mãe. Para mim, existiu um gesto de perdão. Ele não foi tão mau.
Chico Buarque canta...

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega em Rio Branco
na casa lotérica
na escola
com dinheiro, relógio,
criança, mãe
Rezo até ele chegar
Cá no Sobral
Essa onda de assaltos
Tá um horror
Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Pra ele me ninar
De repente acordo
Olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
no centro de Rio Branco
Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

terça-feira, julho 01, 2008

CQC entre Marta e Maluf

Marta Suplicy (PT) não permitiu ser entrevistada pelo CQC. O repórter foi expulso da convenção.

Paulo Maluf permitiu que fosse entrevistado.

eRRei eRRei eRRei

Como é bom reconhecer o próprio erro. Se aponto erros nas escritas alheias, não poderia deixar de apontar meus erros quando vejo um ou quando apontam vários. Alunos do Iesacre riram de "homem morre eletrificado", publicado no jornal A TRIBUNA. Está errado? Segundo minha pesquisa, sim.

"Um homem morre eletrocutado" é o correto.