segunda-feira, agosto 18, 2008

Jornalista escreve

"Além dos novos equipamentos, as outras mudanças estão na emergência clínica, que irá reforçar o setor de observação 1 e também as alterações na emergência clínica toráxica."

Acho legal reinventar palavras, sair da monotonia ortográfica.

Ronda Gramatical

A foto revela o momento em que
jornalistas do governo
são presos com 65 quilos de droga










Na última sexta-feira, às 13h13, a Polícia Ortográfica realizou uma batida na Agência Nacional do Acre. Ao todo, 65 quilos de droga gramatical pura estavam nas mãos de assessores de comunicação, tudo enrolado em textos jornalísticos que comprometem a crase, a concordância nominal, o hífen. “Eu não sei como isso veio parar aqui, policial, eu sou alfabetizado”, defendeu-se um dos meliantes.

No boletim de ocorrência, registra-se que um deles, viciado em erros, colocou um acento grave, indicador do fenômeno da crase, antes de todos. Todos foram levados para a unidade de recuperação gramatical Celso Cunha e responderão em suas celas à Lei 5.765, de 18 de dezembro de 1971.

Ariane Cadaxo e Leila Galvão

À esquerda, Ariane Cadaxo
À direita, Leila Galvão

É o milagre do photoshop


Da poesia

Receita de Mulher





As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental.
Vinícius de Moraes

DE Aldo Nascimento

Na semana passada, o jornalista Gilberto Lobo, da TRIBUNA, publicou uma boa e irônica matéria sobre a campanha política da imagem acima da campanha política das idéias. Duas mulheres, Ariane Cadaxo (PC do B) e Leila Galvão (PT), duas representantes da esquerda acreana, saíram do salão de beleza de um photoshop, das mãos de um designer - esse desenhista industrial que dá cor ao cabelo, maquia rostos - para o glamour da passarela eleitoral. Na era do vazio, a esquerda também vive das aparências

A princípio, não consigo reparar nenhum problema em um photoshop retirar o aparelho de dente de uma candidata ou limpar as marcas de acnes do rosto de uma outra. O ruim para a democracia é quando não sabemos quais são suas idéias sobre, por exemplo, a educação.

Para os jornais, os assessores de comunicação escrevinham amenidades, textos que informam sobre a insignificância, sobre o que não tem a mínima importância. Aparência sobre aparência. Lendo matérias desses assessores políticos, até agora, não me deparei com uma idéia significativa ou inovadora sobre educação pública. Os próprios releases desses candidatos não passam de uma enfadonha aparência textual

As mulheres podem até achá-lo sedutor, atraente, bonito, charmoso, mas o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, não é apenas aparência. O cara pensa. Em Minas, ele formou uma parceria muito boa com o AfroRegge, unindo esse grupo à Polícia Militar a fim de diminuir os índices de violência. Mas Aécio não parou aí. O PSDB mineiro, diferente do PT acreano, está oferecendo novos caminhos para a gestão pública. Há mais de dez anos como funcionário do Estado, eu reconheço os avanços, mas tenho uma compreensão nítida de que permanecemos estagnados em alguns pontos, um deles: gestão escolar. Posso entrar em sala de aula e, se eu lecionar mal durante o ano letivo, para a Secretaria de Educação, meu salário iguala-se ao de um colega que obtém resultados melhores do que eu.

O jornalista Fábio Portela, da revista Veja, abre sua curta matéria desta semana dizendo que “só o espírito público leva um funcionário do governo a se dedicar com afinco ao trabalho e produzir resultados para a população. Como não há um sistema de méritos na gestão pública, ninguém ganha mais e, muitas vezes, nem sequer é promovido por sua dedicação. A estabilidade no cargo e as promoções automáticas por tempo de serviço acomodam os servidores”.

Nas escolas acreanas, o poder público ignora a qualidade de professores, porque inexiste um acompanhamento sistemático na própria unidade escolar. Na escola Heloísa Mourão Marques, por exemplo, a gestora Osmarina, por iniciativa própria, organiza as pastas funcionais de seus funcionários para que sua gestão reconheça servidores que se dedicam ao erário. Isso, porém, repito, parte de uma ação individual de uma gestora, o sistema não funciona assim.

Posso me esforçar para colocar a escola Heloísa Mourão em uma boa colocação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas tamanho esforço se nivela a um colega que nem leciona redação em sala de aula. “Quem não se esforça não recebe”, disse o governador de Minas Gerais. Só para dar um outro exemplo. No Amazonas, o governador Eduardo Braga estabeleceu metas de arrecadação. Quando a Secretaria da Fazenda cumpre tais metas, os funcionários recebem o 14º salário

Incomoda-me candidato receber voto por aparência. No Acre, a oposição de um Petecão ou de um Bocalom, por carecer de boas críticas, empobrece a democracia. PT e PC do B têm o dever cívico de qualificar a democracia por meio de boas idéias. Que Ariane Cadaxo e Leila Galvão me perdoem, mas beleza, na política, não é fundamental.