terça-feira, junho 05, 2007

Assassinato em escola pública

Meu blog não é lido por muitas pessoas, e a educação não é notícia no Acre como é notícia o assalto em páginas policiais.

Ontem, às 22 horas, um carro desgovernado bateu contra um poste quando um cãozinho fazia xixi.

João mata mulher com 69 facadas.

Polícia apreende 69 quilos de maconha.

Todo dia a mesma notícia sem importância. Nomes mudam. Os fatos, os mesmos. Diante disso, a educação ainda consegue ser menor.

Restou-me este inexpressivo blog, bolha à deriva do tumulto, à deriva dos jornais, à deriva dos enfadonhos fatos policiais.

Aqui, neste espaço, a educação é fato. Eis a matéria.
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Morte em escola estadual

Na terça-feira, 29 de maio, jornais acreanos não noticiaram a morte no corredor da escola estadual, porque assassinato na educação importa muito menos do que um carro bater em poste.

Por volta das 8 horas, o corpo levou vários tiros. O professor-diretor Lulu não chegou a tempo para prender os assassinos, mas a PM realizou o cerco e os três meliantes foram presos.

João da Silva, de 15 anos; Silva da Silva João, de 16 anos; e João da Silva João, de 17 anos, mataram Aula, de 78 anos, com "requintes de crueldade" - frase feita horrível - para perturbar a ordem escolar.

Depois que esfaquearam a idosa na cabeça, saíram de sala de aula para causar tumulto no corredor, impedindo que o professor Bakunin lecionasse sobre anarquismo. Uma inspetora, muito religiosa, abriu a Bíblia para pedir a Deus paciência. Outra inspetora fazia tricô. Uma outra não se moveu por causa de sua condição de pedra.

Como o fato ocorreu pela manhã, o diretor ainda escova os dentes e passava batom. A escola pública pode esperar.

"Esse problema se arrasta há anos com uma perna só", reclama a professora. "Os alunos não viajam para a Europa neste período do ano e resolvem ser turistas na escola".

Sem solução, o professor, entregue à indiferença dos que deveriam colocar ordem, retirou o revólver da cintura e suicidou-se em sala de aula. Os alunos pularam de alegria. "Ele morreu, viva".