sábado, abril 14, 2012

A língua do povo. A língua do comércio

Rimos de pessoas simples quando a escrita delas circula pela internete. Rir de quem estudou pouco, ou não estudou, ou estudou em escolas públicas tão ruins.

No interior do Acre, onde a escola rural jamais foi prioridade de governos, rimos desta frase: 

A língua é uma consequência do meio social
e, também, de políticas públicas de educação

Rimos da escrita que mora no mato, mas não rimos do erro que está no moderno computador de um grande supermercado.

Rimos dos pobres, não do empresário que não sabe colocar uma vírgula em uma frase-oracional tão simples.

O erro do supermercado, esse sim, é inadmissível, porque ele se encontra em um meio social que se diz muito bem alfabetizado.   
 
Não rimos do erro que não está na zona rural

Quando leio "Restauran
te: du:
povo
",

lembro-me de versos de Oswald de Andrade:

- Midá um bejo na minha testa
- Praquê?
- Eu gosto
- Ocê tá brocha hoje
- Foi ar que deu.

Ou das palavras de Macunaíma: "Caterina era mas uma boneca de cera carnaúba posta ali pelo gigante" ou "(...) seguindo com arame do Governo não é milhor?".

Quando leio "Restauran
te: du:
povo
",

lembro-me de personagens de Guimarães Rosa.

O erro popular de uma gente no interior do Acre ou dos personagens Chicó e João Grilo é uma maneira de negar a cultura daqueles que exercem o domínio da "fala correta" em tribunais, em igrejas, em palácio de governo
.

Ou em supermercado.