terça-feira, março 23, 2010

De objeto a signo

Lembro-me das aulas de gramática em minha adolescência. Lá estavam os termos em condições de sujeito, de objeto direto preposicionado. Analisávamos. Classificávamos. Estudar a língua portuguesa assemelhava-se à matemática: analisar.

Analisávamos porque as palavras eram objetos, não pertenciam à vida, ao sentido. Distantes de nós, elas eram sujeitos e predicados, porém sujeitos e predicados não existiam nas ruas, em casa, nos livros, nas poesias de Drummond; sujeitos e predicados existiam somente na escola.

Revisitando Proust e os Signos, de Gilles Deleuze, onde os signos não são objetos, o autor me diz que "alguém só se torna marceneiro tornando-se sensível aos signos da madeira". Em Deleuze, a arte e a filosofia, Roberto Machado abre ainda mais meus olhos quando afirma que "o sentido, ou a essência, vive enrolado no signo, no que nos força a pensar, e só é pensado quando somos coagidos ou forçados".

Escrever jamais foi sujeito oculto.