terça-feira, dezembro 07, 2010

De volta ao futuro [da escola]

Ontem, ao colocar os pés na escola, alunos colocaram em mim seus afetos. Escola. Há 20 anos, dedico minhas palavras a ela como um sacerdote prega a palavra em uma igreja, só que eu sou uma comunhão entre o sagrado e o profano, a obediência e a desordem.

Hoje, após tantos anos, aprendi a contragosto que a igreja ensina mais [e pior] do que a escola. Se no templo o preconceito contra homossexuais é questão de fé, a escola não sabe educar para que o homossexualismo seja humanizado. Escola pública é lugar onde não se aprende.

Aprende-se na igreja. O fanatismo nos educa. A Bíblia é nosso único livro. Na escola, não se lê; só os pastores [ sem muita ilustração] leem e seduzem a massa de fiéis à ignorância.

A vida, que é absurdo, não passa de inutilidade. Somos como Sísifo: estamos condenados a carregar a pedra ao topo do monte para deixar a pedra rolar, para levá-la outra vez ao topo do monte.

A vida, tamanho de pedra, não tem sentido; Albert Camus, no entanto, nos ensina que, embora seja pedra, devemos dar a ela sentido. Quando levamos a pedra, nesse momento, devemos dar sentido ao nosso ato.

Por isso, recebo o afeto de meus alunos porque, nesses 20 anos, ainda consigo dar sentido à palavra que pulsa na sala de aula. Confesso, contudo, que minhas palavras andam cansadas de mim.

Elas querem ir embora de minha alma. Confesso que restam poucas forças para mantê-las em mim. Algumas partiram em uma noite fria, chovia. Outras se mataram com o punhal da descrença nos homens. Sinto que não posso salvá-las.

Sinto que, sem elas, morro aos poucos. Mas ainda tenho afetos de meus alunos. Afetos, palavra que ainda permanece viva, não foi embora.

Professor Josenir Calixto

Ontem, na Secretaria de Educação, eu soube que o atual diretor do ensino médio, professor Josenir Calixto, poderá lecionar em 2011 na escola Heloísa Mourão. Mais: poderá se candidatar a gestor da escola.

O que penso sobre isso?

Bem, se eu não cometer suicídio antes, se eu não pedir licença-prêmio antes, se eu não pedir afastamento sem ônus antes ou se eu não ir embora do Acre antes, o professor Josenir Calixto terá meu irrestrito apoio, e olha que eu consigo alguns votos.

Espero que ele venha.