sexta-feira, março 02, 2007

Não leia, por favor!!!

Houve um tempo em que eu publicava o nome em meu blog. Parei. Hoje, não publico os nomes dos repórteres e nem das instituições de ensino. Preservamos a identidade, mas não poderia deixar de publicar aqui parte de um texto escrito por um universitário.

No sétimo período, não sei o que seus professores lhe ensinaram para que ele produzisse o texto abaixo. É uma vergonha para o Estado colocar no mercado de trabalho profissionais que só contam de 1 até 5 e soletram de A até C.

Os alunos deveriam exigir de seus professores a absoluta qualidade, mas são os primeiros que rejeitam as cobranças. O resultado nos espanta aqui.

Um acadêmica observação:
antes de produzir matérias, o universitário, quando estagiasse, deveria, primeiro, corrigir textos dos jornalistas para, depois, somente depois, produzir seu próprio texto.
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"Circo Portugal trás também o fantástico Globo da morte com a apresentação de 5 motos simultaneamente os únicos em toda a América Latina a executar tal apresentação e os mesmos giram no Globo a uma velocidade de 80 a 100 Km por hora.

O circo tem hoje uma das Melhores estruturas para dar conforto e segurança ao publico as arquibancadas foram trocadas por cadeiras e camarotes.Existem também uma praça de alimentação diversificada na entrada do circo.
Circo Portugual nasceu em Portugual mais precisamente na cidade de Braga e tudo começou no cassino de Estoril e a Família Portugual já esta na sua sexta geração e a base da empresa é na cidade de Brasília e entre os artistas e funcionários tem um total de 120 pessoas sendo destes 30 artistas com 16 mulheres.
A ultima apresentação do circo Portugal antes de Rio Branco foi nas cidades de Campo Grande (MS),Rondonópolis (MT) , Cuiabá (MT) e por ultimo na Cidade de Porto Velho o circo deverá permanecer na cidade pelo menos uns 20 dias, por isso não percão."
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Se fosse um médico muito mal formado, cadáveres espalhariam-se pelas ruas. Como é educação, como o corpo é a palavra, não sentimos o odor desagradável.

Amazônia: de Galvez a Chico Mendes







Não conheço nenhum abismo ou penhasco na Floresta Amazônica, mas a Glória Perez colocou a audiência de sua minissérie em queda livre.

Os números são inferiores à minissérie JK. Sua audiência não se compara às cenas de Hoje é Dia de Maria.
Amazônia: de Galvez e Chico Mendes despenca na audiência como O Clone e América.
O que fazer? Uma microssérie estreará em julho, é A Pedra do Reino, dirigida pela inteligência sensível dele, o mesmo diretor de Lavoura Arcaica e Hoje é Dia de Maria, sim, ele: Luiz Fernando Carvalho. Luiz baseia-se no texto de Ariano Suassuna.
Muito oposto à proposta estética de Glória Perez e de Marcos Schechtman (foto à esquerda), Luiz Fernando é senhor de um trabalho artesanal, imaginário. É como ele mesmo diz.
"O desafio é manter o mistério, a ambigüidade, o diálogo entre o que você vê e o que não vê. O desafio é diminuir a alta definição."
Abaixo, um texto de
_Carla__Neves________
Apesar de contar de maneira interessante a pouco conhecida História do Acre, a trama de Glória Perez peca pelas cenas previsíveis e pela escassez de cenários. Não se nota ousadia na câmara e na edição. O diretor Marcos Schechtman sempre opta pelos enquadramentos mais óbvios.
Além disso, muitas vezes, nota-se uma falta de fidelidade histórica, principalmente no que diz respeito aos seringueiros. Eles defendem posições política e ecológica impensáveis para o período histórico retratado na trama.
Em contrapartida, Amazônia prende a atenção através da minuciosa produção de arte e da maneira detalhada de retratar os contrastes sociais nos áureos tempos da extração da borracha. Outro acerto da minissérie está em reunir um elenco experiente, lindas paisagens da Amazônia, um figurino impecável e uma dosagem perfeita de ficção e realidade.
A escalação de José de Abreu e José Wilker foi acertada. Ao lado de Christianne Torloni, que encarna a espanhola Maria Alonso, Wilker está primoroso como o engajado Galvez. José de Abreu, por sua vez, esbanja segurança como o autoritário coronel Firmino. São bem verossímeis as cenas em que o ácido dono de seringal maltrata os seus colonos.
Débora Bloch também constrói uma agradável Beatriz, que decide ir para Manaus morar com a irmã, dizendo a todos que ficou viúva. A atriz está tão bem na minissérie que, até sem falar, consegue se expressar melhor do que muitos dos seus colegas de elenco. O mais surpreendente, porém, tem sido o grande desempenho de Jackson Antunes como Bastião, que encarna um nordestino que migra para o Acre na tentativa de ganhar dinheiro com a extração do látex.
A atuação de Regina Casé é de idêntico acerto. Como a impagável parteira Maria Ninfa, a atriz consegue divertir o público. É impressionante a maneira como ela torna engraçadas as situações mais miseráveis da minissérie.
Assim como Regina Casé, Antônio Calloni tem feito bonito como o Padre José, inspirado em uma figura real e muito querida pelo povo acreano. O ator acertou em cheio ao abandonar o seu insosso Gustavo, de Páginas da Vida, para se dedicar à composição do padre que faz partos, distribui remédios e conselhos e adora contar histórias mirabolantes para os seringueiros.
Nem a mudança de horário, que tem aborrecido alguns admiradores da minissérie que odeiam o Big Brother, e tampouco uma certa idilização da saga da borracha, ofuscam o brilho da trama de Glória Perez, tão envolvente que vale a pena esperá-la. Mesmo que seja até tarde da noite.

Sobre violência

A razão distorcida
Crítico comenta artigo do filósofo Renato Janine Ribeiro
publicado no Mais! de 18/2, sobre a violência no Brasil

ANDREA LOMBARDI
ESPECIAL PARA A FOLHA

S ou estrangeiro. Há 25 anos resolvi morar no Brasil, por achar que aqui o convívio era decididamente mais tolerante, menos carrancudo e mais leve do que na velha Europa. Confesso que, nesse meio tempo, nunca tinha lido um acúmulo de idéias tão corriqueiras, brutais e potencialmente perigosas como as contidas no artigo do Renato Janine Ribeiro (Mais! de 18/2), com outros textos, escritos para debater o ínico e monstruoso crime, que levou a vida do menino João, no Rio.
Confesso que estava esperando uma reação irracional, daquele Brasil profundo e recalcado: uma defesa de medidas extremas. Confesso que imaginava (há um certo tempo) que alguém viria a ocupar o lugar de uma extrema direita, que no Brasil nunca teve a coagem de se apresentar de forma explícita, legítimos continuadores de uma tradição que havia antes do golpe de 64. Fiquei surpreso e, sinceramente indignado, pois o texto do Ribeiro nas entrelinhas pode levar à incitação ao crime ("Quando penso que desses infanticidas, os próprios colegas da prisão se livrarão, confesso sentir um consolo").
Sou professor numa universidade pública (fui e sou ainda colega de Ribeiro). Mas, se ser intelectual resultar em algo parecido ao que alega em seu texto, vou preferir abdicar de minha profissão. Pois o papel do intelectual, em minha opinião, é apontar para um caminho na literatura e na leitura, que é o contrário ao corriqueiro e ao banal. Existe uma ética na leitura, que defendo, pela qual os leitores (sejam docentes, recém-alfabetizados ou alunos, sejam amadores ou apaixonados) devem exercer sua responsabilidade sempre e novamente, tentando decifrar no texto o que está escrito e o que está nas entrelinhas, o que é evidente e o que é recôndito, o que é banal e o que é novo e criativo e o que, a partir do texto, em nova leitura se possa dizer.
O leitor deve ser sempre como um regente de uma partitura: criativo e atento, apaixonado e cuidadoso. A sensibilidade e a razão (distorcidas no artigo em questão) devem estar a serviço de uma leitura nova e original, que defenda e abra sempre mais novos espaços de liberdade (alguns o chamaram de livre-arbítrio, e essa definição parece ter vingado, pelo menos na letra). Considero-me um simples leitor, e a leitura que Ribeiro fez do episódio resulta numa acúmulo de banalidades e patentes inverdades, desmontando a aura de intelectual que reivindica, fornecendo suas munições a um movimento realmente reacionário, de justiceiros, de cegos vingadores (o que vai pensar dessas idéias um aluno de um curso de ética?).
Aponto três aspectos, dos tantos problemáticos, do texto. 1. No texto há um apelo a Deus, blasfemo para um crente, paradoxal e oportunista para um intelectual iluminista. 2. Reitera-se uma posição brutal e perigosa, que parte da defesa da pena de morte, para conclamar a fatos e iniciativas mais graves: "Se não defendo a pena de morte é apenas por que acho que é pouco". "(Eles) deveriam ter uma morte hedionda." "Torço para que, na cadeia, os assassinos recebam sua paga." 3. Entre as inverdades brilha: "Não vejo diferença entre eles e os nazistas". Os nazistas optavam pelo mal, como esses assassinos. "Sei que os pobres são honestos, mais até que os ricos". "O que vivemos não é diferente do nazismo".
Revisão das idéias Eu, como muitos, respeitava e gostava de Ribeiro. Respeito também que possa ter revisto suas próprias idéias, mas julgo prudente lembrar que um obscuro jornalista socialista na Itália resolveu inventar a mais modernas das ditaduras reacionárias. E que havia um banal pintor de paisagens, na Áustria, que se tornou o realizador de uma imensa arquitetura da destruição.
Respondo aqui à última das afirmações do texto, por sentir-me diretamente atingido, pois sou de origem judaica e acredito ser o dever de todos esclarecer as condições em que o nazismo e o fascismo nasceram e proliferaram. Uma dessas condições foi a queima dos livros, real e metafórica, o apelo a reações irracionais contra a tradição humanista e erudita da Alemanha e da Europa.
O nazismo foi uma ditadura (não uma iniciativa de um homem do mal), que cristalizou de forma monstruosa os sentimentos de medo contra o desemprego, contra a criatividade artísticas desenfreiada das vanguardas e de medo contra o apelo à oralidade e à liberdade do leitor, numa nova versão do antisemitismo. A violência crônica e brutal contra o pobre menino é provavelmente expressão de uma doença crônica, que convive com essa nossa sociedade contemporânea, em suas entrelinhas ou em suas entranhas.
É pensando na patologia desses casos que devem ser tratados que se justifica uma reação da sociedade, utilizando-se de instrumentos específicos e o bom senso, como o psicanalista Renato Mezan, sensatamente sugere, em seu artigo publicado na mesma edição do Mais!. Pois essa nossa sociedade proclama a felicidade e vive a neurose, almeja a paz dos sentidos e não consegue vencer o medo, a angústia e o pânico. Mas os cidadãos comuns trancados e queimados pelo tráfico no Rio no final de 2006, o índio queimado há alguns anos em Brasília e os linchamentos são um triste primado do Brasil e expressão de intolerância profunda.
São índices de uma violência que sempre existiu (leia-se "Totem e Tabu" [de Freud] ou qualquer estatística sobre estupros e violência doméstica para ter uma confirmação). Não há solução "final" para o problema da violência (nem para qualquer outro problema, mesmo social). Lutar para diminuir a idade penal e defender a instituição da pena de morte mostram unicamente a dependência do mais corriqueiro e brutal senso comum, o contrário do bom senso. Essa sociedade esconde a doença com toda a gama de antidepressivos liderados pelo Prozac e seus derivados.
As palavras de Ribeiro soam como o equivalente ao Viagra, feito para mostrar mais roxo do que é realmente e revelam que a idade e a preparação intelectual não necessariamente trazem sabedoria. Não me sinto mais tão estrangeiro, não tenho certeza de que quero ser considerado um intelectual ou um professor, mas sinto-me tão humanista e ligado à ética quanto quando cheguei. Escolhi o Brasil, há quase um quarto de século, por ser mais tolerante, mais aberto do que a velha Itália. Hoje quero defender essa escolha.
Penso que contra a violência, contra a pena de morte, contra a corrupção que autoriza descrença, desengajamento, hipocrisia e cinismo, é necessário retomar uma atitude inconformada. Ou melhor: rebelde. Fazendo, talvez, como fizeram, há alguns anos, os ambientalistas no Rio, que com um gesto simpático, abraçaram a Lagoa de Freitas. Declarando talvez como há 50 anos o fazia veementemente o fundador do situacionismo -Guy Debord- ou [o cineasta] Pasolini, seu inconformismo com a sociedade do bem-estar e da apatia. Protestando como em 1968, com milhões de jovens no mundo inteiro, para chegar a gritar hoje (talvez?): "O bom senso ao poder" que ecoa o "poder da imaginação" de então. Qualquer coisa, menos a indiferença pós-moderna, como escreveu um autêntico intelectual carioca.
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ANDREA LOMBARDI é professor de língua e literatura italianas na Universidade Federal do RJ e membro da pós-graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.