quinta-feira, novembro 18, 2010

Uma [re]vista do que somos

O professor-doutor Carlos Alberto (foto), diretor das Faculdades Euclides da Cunha, idealizou a revista "Visões Amazônicas". Mas não existe só a idealização. "Visões Amazônicas" tem capital para sua independência.

A maioria de suas páginas, porém, carece ainda de palavras porque as pessoas não escrevem. Há mais de três meses, eu enviei a um professor universitário quatro questões e, até o momento, não li as respostas.

Temos independência e verba, mas não temos autores para escreverem seus artigos, suas matérias, suas monografias.

Colocar em páginas palavras questionadoras e inquietantes sobre o Acre, longe do lugar comum dos políticos e da padronização jornalística local, por isso uma [re]vista do que somos nesta parte da maior floresta do mundo, por isso "Visões Amazônicas".

Quantas monografias de recém-formados, quantas dissertações de mestres e quantas teses de doutores permanecem sepultadas em bibliotecas nunca visitadas pela maioria da população? Quantos saberes sobre o Acre conservam-se em páginas jamais lidas por uma gente simples?

As Faculdades Euclides da Cunha acreditam que monografias, dissertações e teses possam se transformar - sem que percam a qualidade - em textos simples para que sejam lidos por mais pessoas em vários locais da cidade, porque esse saber não pode ser demarcado somente pelas paredes de bibliotecas. Esse saber precisa estar também em consultórios médicos e dentários, em salões de beleza, em grades de supermercados, em clínicas de estética, em comércios da periferia.

Além de uma produção acadêmica adequada a uma revista popular, "Visões Amazônicas" edita textos jornalísticos desobedientes a padrões anacrônicos, por exemplo, página policial e entrevista. A página policial não tem o direito de marginalizar indivíduos conforme o boletim de ocorrência da delegacia. O repórter de "Visões" precisa transcender os fatos a ponto de inverter, por meio de investigação, a relação de valores entre marginal e autoridade. No caso da entrevista, o entrevistador da revista não pode manter um monólogo com o entrevistado. Um jornalismo comprometido, portanto, não com a verdade do senso comum, mas capaz de revelar a mentira que há por trás dessa verdade.

No Acre, precisamos de ideias, de outras falas. Precisamos de visões.

Resposta a Josafá

Meu amigo, se você estivesse no Rio de Janeiro durante um mês lendo jornal, teus olhinhos, que não são azuis, ficariam arregalados com as informações. Hoje, houve tiroteio na avenida Rio Branco, detalhe, em plena luz do dia. O PM morreu no local. Um pedestre foi mantido como escudo. O marginal foi executado por outros PM.

A Cidade Maravilhosa não é lugar para trabalhar, tudo aqui cheira a engarrafamento. Outra: quando comparam a violência em Rio Branco à do Rio de Janeiro, eu rio, eu rio, eu rio.

Claro que o Acre tem seu lado ruim, por exemplo, ausência de um bom cinema com filmes autorais, teatro fora do circuito nacional e pagamento em 20 vezes nas Casas Bahia; mas, para trabalhar, eu gosto muito, porque não há engarrafamento, meu deslocamento ainda é rápido.

Também não espero que as coisas melhorem mais ainda no Acre, faço minhas críticas neste blogue sem esperança de ver uma Frente Popular menos burra, de ver um PT menos viciado pelo poder. Na vida, Josafá, não existe esperança, só existe a morte, o fim de todas as esperanças.

A minha vida no meu Acre é tranquila, calma. O Rio, há muito tempo, deixou de ter paz. O Cristo Redentor, meu amigo, se não for cínico, é indiferente. Além disso, mesmo com o custo de vida mais caro no Acre, professor na terra de Galvez recebe melhor.

Agora você me dá licença, porque uma bala perdida atingiu minha fé nos homens.