segunda-feira, outubro 13, 2008

Blog aberto ao deputado Calixto

Deputado estadual,

Li com muita atenção seu texto sobre minha postagem a respeito de uma ex-aluna minha. Ela me chamou e me disse que ainda se recordava de minhas aulas. Lembrou-se quando eu li em sala de aula o livro Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach.

O fato de eu ter sido lembrado só me revelou a paixão que possuo por lecionar, por lecionar há 20 anos. Sei que, na condição de professor, posso muito pouco, bem menos que um deputado. Uma lembrança, um livro, meu limite para transformar a vida de uma pessoa, quase nada.

O destino dela tem suas particularidades, algo ignorado por nós dois. Ex-alunos meus conseguiram ingressar na Universidade Federal do Acre (Ufac) depois de estudaram na escola pública acreana, reorganizada pela Frente Popular. Penso que sua observação sobre essa ex-aluna entregar panfleto na rua é pertinente, mas superficial quando joga a culpa no Partido dos Trabalhadores. Como eu disse, repito, ex-alunos meus estudam na Ufac, não entregam panfleto em rua.

Sabe, deputado, como simples professor deste Estado, minha situação profissional é bem menos pior do que no passado ou bem melhor do que antes. O PT apontou outros caminhos para a educação, melhores. Não sou estúpido a ponto de dizer não. Votei e votarei sempre no PT para lecionar na escola pública de hoje. Leciono neste meu Estado, parte de minha Pátria, há 16 anos, 11 nas escolas públicas, e sei o que tenho hoje e o que não tenho.

Não se trata de ser petista, pois seria pouco, trata-se de ser um professor que pensa, acima de tudo, na educação pública por eu me dedicar a ela. A oposição, entretanto, não pensa nessa educação, porque se limita a agredir ou a desqualificar o governo em nome de um estéril maniqueísmo nocivo à democracia.

A oposição, com seu agouro, gralha aos ouvidos da pobreza, mas os pobres já foram seduzidos por um Acre e por um país menos injusto. Os índices sociais acreanos são melhores. Queria muito, deputado, que não houvesse pobreza neste Estado para que a oposição começasse a ter idéias inteligentes sobre educação, por exemplo. Sem a pobreza - pobreza que o PT não ergueu neste Acre -, a oposição morre. Alguns se alimentam politicamente de cadáveres.

Sim, eu sei, o PT apresenta falhas na educação, questões bem específicas a ela, ignoradas por uma oposição que não sabe elevar o debate acima de uma ex-aluna que entrega panfleto na rua ou de um ex-aluno que hoje estuda na Ufac.

Sobre ser petista, mantenho com o PT acreano uma relação ambígua, e isso não que dizer ter duas caras. Digo ambígua no sentido de reconhecer e de criticá-lo com equilíbrio a fim de querer sempre o melhor para quem precisa mais do que eu. Tenho fome de justiça, deputado; mas, no passado, políticos superfaturam o prato de comida com o "sopão enche o bucho".

Não mudei o destino dessa minha ex-aluna - e, como o senhor escreveu, nem o PT -, mas, pelo menos, ela reconheceu em mim a paixão de lecionar em um Estado que não me humilha mais em sala de aula.

O Cavaleiro Andante



Texto de Aldo Nascimento
Montagem de Gilberto Lobo

No início do século 17, em 1605, Miguel de Cervantes Saavedra publicou sua obra-prima, Dom Quixote de la Mancha, supõe-se que tenha escrito na prisão. Na primeira página, em seu primeiro parágrafo, leio que esse personagem é seco de carnes, enxuto de rosto e amigo da caça.

Em tempos hodiernos, o meu Dom Quixote também é seco de carnes, enxuto de rosto e amigo da caça, e sua arma, para pegar a presa, tem sido o sonho. Meu sonhador caça, há muitos anos, o voto para ser vereador de Rio Branco. No lugar do cavalo Rocinante, uma bicicleta. No lugar de Sancho Pança, Deus. No lugar de Dulcinéia, a vida.

Cabides sempre estiveram nas instituições
Neste ano, com 2.117 votos caçados, Manoel Waldir Teixeira de Souza foi um dos 14 escolhidos para trabalhar pouco e ganhar muito na Câmara de Vereadores de Rio Branco. Muitos, entretanto, manifestaram surpresa. Muitos. “Como pode tamanha criatura com 1m44 de altura representar a coisa pública?!”.

Confesso que a surpresa não chegou a mim, porque, há muitos anos, cabide sempre esteve na Assembléia Legislativa, na Câmara de Vereadores, no Poder Judiciário. Sim, sempre houve cabide de emprego. Agora, nada mais justo do que o verdadeiro Cabide ocupar seu espaço no erário para fazer justiça com as próprias eleições, digo, com as próprias mãos.

Políticos se enriquecem
No sítio
www.politicosdobrasil.com.br, acessamos o patrimônio de políticos acreanos que se multiplicou por dez no período de oito anos. Em nome do povo, da justiça social, enriquecem-se com o dinheiro público. Mas, se Cabide é povo, a justiça não veio para ele. Começará a vir em janeiro quando entrar na Casa Legislativa. “Não tenho minha casa ainda, moro com um amigo de infância”, disse o Dom Quixote acreano. Um de seus sonhos pessoais, este: construir sua casa. Cabide é o povo que não escolheu seu representante de esquerda ou populista, mas o povo escolhido ou que se escolheu para conseguir sua moradia, trabalhando muito pouco.

Vamos encher o Legislativo de Cabides?
Já pensou 14 Cabides eleitos nas próximas eleições municipais? Imagino a propaganda eleitoral: “Vote em mim, eu sou o povo, só quero ficar quatro anos na Câmara de Vereadores para construir minha casa, prometo meter a mão só no meu salário para comprar tijolos, pagar o cimento. Vote em mim, porque, nas próximas eleições, o sorteado poderá ser você, que é pobre igual a mim, igual a Cabide.”

Que voto de protesto?
Seria voto de protesto? Pela TV, não vi nenhuma pessoa ao lado de Cabide com rostinho de quem protesta contra alguma coisa. Assisti, isso sim, ao povão querendo tirar vantagem, por meio de Dom Quixote, da mufunfa que circula na Câmara de Vereadores. Muitos desejam ser assessores. Muitos querem se pendurar no Cabide. Não houve nenhum protesto, só risos, euforia.

Morreram-se as ideologias
Em uma época de pós-ideologia, quando João Amazonas (PC do B) senta-se à mesa com Roberto Campos (PP) por meio da Frente Popular, Márcio Batista (PC do B), pastor Jonas (PSB), Concita (PT) não convenceram os eleitores; porém, com sua fala de caipira, fala de quem fica à margem da gramática normativa, um pobre seco de carnes, enxuto de rosto, ele, Cabide, nos comove.

Espero que Dom Quixote não seja modelado pela formalidade, às vezes falsa, do poder institucionalizado como alguns da esquerda já foram. Ainda quero ver Cabide ir à Câmara de Vereadores com sua bicicleta. Ainda desejo ouvir seus discursos com uma LÍNGUA portuguesa que desobedece à norma gramatical. Que o poder formal não o deforme, não tire desse autêntico acreano quixotesco a verdade pura de ser humilde. Se Manoel Waldir Teixeira de Souza não for seduzido pelas aparências do poder, Cabide terá caçado mais um voto:) o meu.