terça-feira, janeiro 15, 2013

Finalmente retornou. Vou comprar

Lançamento: O arco e a lira, de Octavio Paz

jan 15th, 2013 | Autor Toinho Castro | Categoria: Hoje na Blooks
Super lançamento para que aprecia poesia! Publicado originalmente em 1956 e fora das prateleiras há bastante tempo O arco e a lira, do poeta e ensaísta mexicano Octavio Paz (1914-1998), ganha uma belíssima reedição pela Cosac Naify, num acordo com a editora mexicana Fondo de Cultura Económica. A parceria promete mais literatura de primeira ao longo de 2013, inclusive com lançamento de mais um título de Paz, Filhos do lodo, espécie de continuação de O arco e a lira.

O arco e a lira é uma profunda reflexão sobre o fazer poético, um dos ensaios mais importantes da literatura mundial. Tê-lo de volta às prateleiras é importante pelo valor de uma obra como essa mas também pelo que ela traz de valor à própria poesia, como objeto da atenção dos leitores e editores. O livro é simples: a poesia é importante. O poeta, esse mensageiro estranho, precisa ser ouvido e sua mensagem processada, refletida, colocada na ordem da vida. Viva a presença da obre de Paz entre nós.
A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Súplica ao vazio, diálogo com a ausência, é alimentada pelo tédio, pela angústia e pelo desespero. Oração, litania, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história: em seu seio resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem adquire, afinal, a consciência de ser algo mais que passagem. Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não-dirigido. Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar em forma superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da Idéia. Loucura, êxtase, logos. Regresso à infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do limbo. Jogo, trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo. Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo, e métricas e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular c minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todas as faces, embora exista quem afirme que não tem nenhuma: o poema é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana!
Como não reconhecer em cada uma dessas fórmulas o poeta que as justifica e que, ao encarná-las, lhes dá vida? Expressões de algo vivido e padecido, não temos outro remédio senão aderirmos a elas – condenados a abandonar a primeira pela segunda e esta pela seguinte. Sua própria autenticidade mostra que a experiência que justifica cada um desses conceitos os transcende. Será preciso, portanto, interrogar os testemunhos diretos da experiência poética. A unidade da poesia só pode ser apreendida através do trato desnudo com o poema.
Um poema é uma obra. A poesia se polariza, se congrega c se isola num produto humano: quadro, canção, tragédia. O poético é poesia em estado amorfo; o poema é criação, poesia que se ergue. Só no poema a poesia se recolhe e se revela plenamente. É lícito perguntar ao poema pelo ser da poesia, se deixamos de concebê-lo como uma forma capaz de se encher com qualquer conteúdo. O poema não é uma forma literária, mas o lugar de encontro entre a poesia e o homem.
O poema é um organismo verbal que contém, suscita ou emite poesia. Forma e substância são a mesma coisa. Mal desviamos os olhos do poético para fixá-los no poema, aparece-nos a multiplicidade de formas que assume esse ser que pensávamos único. Como nos apoderarmos da poesia se cada poema se mostra como algo diferente e irredutível?
A forma mais alta da prosa é o discurso, no sentido estrito dessa palavra. No discurso as palavras aspiram a se constituir em significado unívoco. Esse trabalho implica reflexão e análise. Ao mesmo tempo introduz um ideal inatingível, já que a palavra se nega a ser mero conceito, significado sem outra coisa mais. Cada palavra – à parte suas propriedades físicas – encerra uma pluralidade de sentidos. Assim, a atividade do prosador se exerce contra a natureza própria da palavra.
A palavra, finalmente em liberdade, mostra todas as suas entranhas, todos os seus sentidos e alusões, como um fruto maduro ou como um foguete no momento de explodir no céu. O poeta põe em liberdade sua matéria. O prosador aprisiona-a.
O poema, sem deixar de ser palavra e história, transcende a história. Sob condição de examinar com mais atenção em que consiste esse ultrapassar a história, podemos concluir que a plural idade de poemas não nega, antes afirma, a unidade da poesia.

O Acre não existe



Conversando com um parente, ele me disse que o Acre não existe. Concordei. E aqui, meu primo, digo-lhe o porquê de o Acre não existir.

1. O rio Tietê não é rio. O rio Tietê é esgoto a céu aberto. Nesse sentido, São Paulo não existe;

2. No Acre, assaltante jamais explodiu caixa eletrônico;

3. No Acre, no interior, quem planta nunca passa fome;

4. No Acre, motorista não fica três horas em engarrafamento, porque não existe engarrafamento;

5. No Acre, ônibus não é assaltado;

6. No Acre, no interior, não existe miséria, e a pobreza é mais rica do que a pobreza de São Paulo e do Rio de Janeiro;

7. No Acre, a saúde pública é melhor do que a saúde pública do Rio de Janeiro;

8. No Acre, a vida de índio é melhor do que a vida de assalariado de São Paulo e do Rio de Janeiro;

9. No Acre, não existe bala perdida;

10. Realmente, meu primo, o Acre não existe.