domingo, abril 26, 2009

Olhos do Rio Grande do Sul

"O prédio é o da Biblioteca Pública, no centro de Porto Alegre, uma construção da década de 10,
durante os governos positivistas. O exterior consta nichos com o calendário positivista", palavras de minha amiga virtual.

Seus olhos são do Rio Grande do Sul e encontraram na rede minhas palavras lançadas do Acre.

Professora da rede estadual, os olhos a que eu me refiro pertencem à Ivone Bengochea, uma amiga virtual que leciona Filosofia no ensino médio e na faculdade. Seu olhar sobre o PT gaúcho, sobre o PSDB. Uma entrevista breve como uma piscada.

Sem aspas, ela fala.

Eu coordeno o Centro de Estudos de Filosofia e Humanidades, o Pensare. Nasci no município de Rio Grande, num lugarejo chamado Corujas, talvez o destino tenha me guiado para a Faculdade de Filosofia. Meu avô era escrivão, registrava tudo e me ensinou a gostar da palavra escrita.

Abin
-Agência Brasileira de Inteligência
Moro em Porto Alegre, desde do final da década de 70, vivenciei o calor da luta pela liberdades democráticas, onde aprendi muito, participei da primeira greve do magistério, em 1979, tudinho registrado na ficha da Abin.

Amigos
Percorri o Brasil nos encontros de professores e na luta pelo retorno obrigatório da Filosofia e da Sociologia. Gosto de andar pelas ruas da cidade, de conversar com os amigos no café - sou movida a amigos, não sei viver sem eles.

Trabalhei na escola pública por 25 anos, paralelamente no ensino privado universitário. Atualmente, sou pesquisadora e oficineira e presto assessoria na área do ensino de filosofia e do potencial das cidades como espaços educativos. Algumas coisinhas publicadas e outras à procura de um editor

LÍNGUA - No Rio Grande do Sul, houve um período em que o PT governou. Foi então que perguntei sobre quais transformações o PT realizou na escola pública.
Sobre a vida, eu deponho à esquerda. O PT representou a esperança, o alento da nossa geração na caminhada pela democracia. Quando o PT ganhou a prefeitura, a cidade, aconteceram transformações interessantes: o orçamento participativo, grandes eventos na área da cultura, criação de espaços públicos de discussão. A rede pública municipal foi ampliada, com experiências educacionais inovadoras como o construtivismo e o sistema de ciclos etc. As escolas municipais ficam na periferia urbana, em comunidades muito carentes. Cumprimento do plano de carreira que a gestão anterior tinha deixado. No estado, quando o PT assumiu a educação, deixou a desejar, não foi exitosa como a da Prefeitura. Dói muito lembrar o que aconteceu.

LÍNGUA - Hoje, qual o salário de professor?
Tanto no Estado como no município, a carga horária é de 20 e 40 horas. Um professor do município de Porto Alegre inicia sua carreira, com 20 horas semanais, em torno de 1.200,00. Mesmo sendo um salário razoável, o fim da bimestralidade (retirada ainda no último governo do PT) tem causado desgaste econômico. No Estado, o professor inciante recebe em torno de 500,00 por 20 horas, existe um estratagema chamado parcela autônoma que complementa para não ficar abaixo do salário mínimo. O último governo do PT na prefeitura retirou a bimestralidade, foi um dos desgastes da gestão petista.

LÍNGUA - Se o PT realizou um trabalho tão bom em Porto Alegre, por que tem perdido eleições?
Uma pergunta complexa é muito difícil de responder, vou tentar. A cultura e a política gaúcha foi muito influenciada pelo Positivismo de Augusto Comte, aqui e no Rio de Janeiro tem templo positivista, onde se cultuam a doutrina positivistas. Temos registros iconográficos como monumentos, arquitetura e governos como Julio de Castilhos Borges de Medeiros, a nossa Constituição até 1989 era nitidamente castilista. Getúlio Vargas era influenciado pelo positivismo. Se, por um lado, tivemos movimentos pela Legalidade, por exemplo, existem forças ultraconservadoras. Geisel, Costa e Silva eram gaúchos, Figueiredo estudou no Colégio Militar de Porto Alegre, o general Golbery também. Porto Alegre, como as demais capitais, era área de segurança, o primeiro governo eleito pós-64 foi o de Collares, PDT, em 1985, populista mas autoritário, depois veio o PT. Foi uma aposta que deu certo. Mas, nos 16 anos, muita coisa aconteceu. O poder é afrodisíaco, muitos militantes deslumbraram-se, aproveitaram e esqueceram que existe a roda inexorável do poder. Uns ganham, outros perdem. Não leram Maquiavel certamente ou leram mal. O governo Lula teve reflexos negativos por aqui. O PT se isolou, correu sozinho. A oposição se uniu: PMDB, PDT, PTB, PSDB, PPS, Democratas contra PT e o minúsculo PC do B. Ganharam e reelegeram o Fogaça. O PT é ainda uma força política considerável, mas precisa costurar as alianças para retornar ao governo do Estado.

LÍNGUA - Como tem sido o governo atual do PSDB?
O PSDB não é partido grande aqui no Estado, ganhou com a s alianças e o isolamento do PT. A Yeda Crusius sempre foi uma deputada conservadora, não tem trajetória como o José Serra. É autoritária, seu governo é permeado pela polêmica interna,ela e o vice José Feijó dos Democratas são adversários. Desde que assumiu trocou várias vezes o secretariado, alguns assessores diretos indiciados em corrupção como a do DETRAN. A Brigada Militar é extremamente repressiva com os movimentos sociais. Professores, sindicalistas, os sem-terra tiveram confrontos resultando em pessoas feridas. O plantio desmedido de eucaliptos tem devastado o ambiente, enfrentamos catástrofes ecológicas com estiagem etc. Na educação, o confronto é direto com investidas pela modificação do plano de carreira, fechamento de escolas, salas de aulas lotadas, falta de professores em várias disciplinas. A secretária de Educação é a professora Mariza Abreu, ex militante política e dirigente do CPERS-Sindicato. Ironia.