terça-feira, dezembro 28, 2010

Quando chegarmos...

à Região dos Lagos.

Em Maricá, Rio de Janeiro, as ondas e as areias - menos em Ponta Negra - exibem imagem selvagem.

Em certos trechos, sentimos o cheiro da solidão. Gosto de suas praias por ficar diante do deserto do mar e no deserto da praia.

Igual a uma igreja, o silêncio de Maricá é sagrado. Limpa-me.

Muitas vezes, nessas praias, juramos Amor Eterno, mas nem o mar é eterno. Nada se eterniza no que é humano. Se você me disser que Abelardo e Heloísa, que Romeu e Julieta e que Tristão e Isolda são eternos, digo-lhe apenas que esses casais nunca viveram juntos o peso das horas.

O movimento romântico do século 19 os idealizou porque a morte os separou antes do convívio, antes de surgirem os erros, as decepções. Eles podem até atravessar a moldura do tempo, mas isso ainda não é eterno, até o Deus do Novo Testamento não é igual ao Velho.

Eu te decepcionei, mas você também me decepcionou. Somos mortais. Nesses anos, des-cobrimos nossas falhas, e o eterno tornou-se menor. Talvez agora, quem sabe, o Amor dê sinais de vida nesse espaço menor, tamanho dos erros humanos.

Será que seremos capazes? Será que pulsa em nós tamanha força? Me responda quando as ondas de Maricá molharem nosso cansaço.
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No dia 30 de janeiro, retornarei a este blogue. Que em 31 de dezembro, à meia-noite, você erga um brinde à vida recomeçada.

terça-feira, dezembro 21, 2010

Tenho de ir!

Última postagem deste ano. Quando retornarei, ainda não sei. A única verdade é que tenho de me ausentar por um longo tempo. Silêncio.

Mas, antes, deixo a teus olhos os versos de um poeta que me fascina pelo vigor desobediente de sua inquieta juventude. A poesia chama-se "Minha boêmia".

Lá ia eu, de mãos nos bolsos descosidos;
Meu paletó também tornava-se ideal;
Sob o céu, Musa, eu fui teu súdito ideal,
Puxa vida! a sonhar amores destemidos!

O meu único par de calças tinha furos.
- Pequeno Polegar do sonho ao meu redor
Rimas espalho. Albergo-me à Usa Maior.
- Os meus astros no céu rangem frêmitos puros.

Sentado, eu os ouvia, à beira do caminho,
Nas noites de setembro, onde senti qual vinho
O orvalho a rorejar-me a fronte em comoção;

Onde, rimando em meio a imensidões fantásticas,
Eu tomava, qual lira, as botinas elásticas
E tangia um dos pés junto ao meu coração!

Aprecio esses versos por causa de sua vertiginosa liberdade ("Albergo-me à Ursa Maior"). Sob estrelas, hospeda-se. Esse é o maior bem de um ser humano, a liberdade. Mas quem pensa que ela significa fazer o que bem entende... engana-se.

Somos livres para haver o encontro, porque, se muitas vezes não sabemos explicar, pelo menos sentimos na pele que o outro nos liberta. Penso que a liberdade só possui esse sentido. Quando estamos sozinhos, estamos presos a nós mesmos, angustiados por grades que não vemos.

É o outro que nos oferta o gozo. Rimos porque estamos com alguém. Rir sozinho é loucura. Ausência de liberdade implica o que o Espírito não pode realizar, e uma das maiores realizações é se comover no momento de um encontro. Ser afetado. Afetar alguém.

Mas, depois, no final de tudo, estaremos sozinhos. A velhice virá. A dor brotará em nós. Não se negocia com a morte. No final, sempre perdemos nas esquinas solitárias, nas multidões que não nos enxergam.

No leito de um hospital, sempre perdemos os amigos. Em nossa própria casa, perderemos nossa mãe. No final, já disse, sozinhos ficaremos diante da tevê ou da tarde chuvosa.

Mas que o fim não nos desanime. Se a liberdade nos deu os encontros que agora pulsam em nós como boas lembranças, deixemos nos lábios a doçura do sorriso porque tudo, tudo mesmo, foi liberdade.

Para conhecer melhor o autor dos versos de "Minha boêmia", assista ao filme "Eclipse de uma paixão". Arthur Rimbaud fascina.

Agora, tenho de ir para o silêncio de minhas lembranças.

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Muita calma nesta hora

"Professor, queremos informar ao senhor que em seu pagamento deste mês haverá uma quantia menor", telefonou uma funcionária da Secretaria de Educação.

"Quanto?"

"Não sabemos."

Na sexta, vi meu contracheque. A secretaria depositou menos R$ 670.

Feliz Natal!

quinta-feira, dezembro 16, 2010

O Deus que ofertei aos olhos teus

Havia teus seios erguidos. Havia tua bunda sorrindo. Havia tua vulva escondida. Havia tuas coxas indo...

Mas a felicidade de um encontro mais íntimo não habita em tuas partes "sem-vergonhas". Eu desejava tão somente me erguer acima de teus montes firmes, de teu ventre suado, de tua relva úmida.

Eu desejava tão somente contemplar a paisagem de teu rosto. Era teu rosto que eu desejava, porque nele, naquele momento de transe, eu fixei a verdade de meus olhos nos teus para dizer...

abençoada seja a vida, meus Deus, nesta hora em que meu gozo me salva da vulgaridade do mundo.

E, quando minha carne se alargou mais ainda sobre a tua, no momento-luz de meu libertário gemido, arregalei minha visão para, em meu êxtase, evocar o nome do meus Deus na cama.

Deve haver algo de Espírito Santo no orgasmo de quem se ama.

Aprendi contigo que o que menos importa na cama é o corpo. Era teu rosto que eu desejava para ofertar o meu Deus aos olhos teus.







quarta-feira, dezembro 15, 2010

"O Pequeno Príncipe"

Ficou tão fácil transar. As ofertas, muitas. Tantos corpos no mercado. A demanda, imensa. Nesses tempos de vulgaridade alegre, falta aquele ser humano único.

Ficou tão fácil transar. Difícil ficou “entrelaçar”. Ficou difícil “criar laços”.

Porque sempre estão à sua caça, ela foge dos humanos. Mas fugir aqui significa mais do que não ser apanhada; representa não ser tocada. Assim, para fugir, a caça despista os caçadores, engana-os. Mente para viver. Sua liberdade, portanto, é não se expor ao outro.

Até que...

"O Pequeno Príncipe" surge para ela. Inicia-se um dos mais belos diálogos para crianças, jovens e adultos.

- Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

Como ser único? de que forma ser para o outro o incomum? como não ser igual a cem mil outros?

- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E isso me incomoda um pouco", e a raposa dá a resposta definitiva. "Mas, se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como fossem música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

A única resposta dada pela raposa: cativar. Transar ficou tão fácil. Difícil é "criar laços", isto é, cativar, ser cativante.

Dessa forma, o Pequeno Príncipe, o ser que cativou, será, por causa de seu cabelo dourado, recordado quando a raposa olhar o campo de trigo.

Última...

Ontem, por meio da fotógrafa Talita, conheci as palavras do blogue "Confraria dos Últimos Românticos". Gostei. É uma juventude que sabe pensar. Em tempos de crise do romantismo, esse blogue escreve sua própria fragilidade.

Recomendo aos que não são vulgares.

terça-feira, dezembro 07, 2010

De volta ao futuro [da escola]

Ontem, ao colocar os pés na escola, alunos colocaram em mim seus afetos. Escola. Há 20 anos, dedico minhas palavras a ela como um sacerdote prega a palavra em uma igreja, só que eu sou uma comunhão entre o sagrado e o profano, a obediência e a desordem.

Hoje, após tantos anos, aprendi a contragosto que a igreja ensina mais [e pior] do que a escola. Se no templo o preconceito contra homossexuais é questão de fé, a escola não sabe educar para que o homossexualismo seja humanizado. Escola pública é lugar onde não se aprende.

Aprende-se na igreja. O fanatismo nos educa. A Bíblia é nosso único livro. Na escola, não se lê; só os pastores [ sem muita ilustração] leem e seduzem a massa de fiéis à ignorância.

A vida, que é absurdo, não passa de inutilidade. Somos como Sísifo: estamos condenados a carregar a pedra ao topo do monte para deixar a pedra rolar, para levá-la outra vez ao topo do monte.

A vida, tamanho de pedra, não tem sentido; Albert Camus, no entanto, nos ensina que, embora seja pedra, devemos dar a ela sentido. Quando levamos a pedra, nesse momento, devemos dar sentido ao nosso ato.

Por isso, recebo o afeto de meus alunos porque, nesses 20 anos, ainda consigo dar sentido à palavra que pulsa na sala de aula. Confesso, contudo, que minhas palavras andam cansadas de mim.

Elas querem ir embora de minha alma. Confesso que restam poucas forças para mantê-las em mim. Algumas partiram em uma noite fria, chovia. Outras se mataram com o punhal da descrença nos homens. Sinto que não posso salvá-las.

Sinto que, sem elas, morro aos poucos. Mas ainda tenho afetos de meus alunos. Afetos, palavra que ainda permanece viva, não foi embora.

Professor Josenir Calixto

Ontem, na Secretaria de Educação, eu soube que o atual diretor do ensino médio, professor Josenir Calixto, poderá lecionar em 2011 na escola Heloísa Mourão. Mais: poderá se candidatar a gestor da escola.

O que penso sobre isso?

Bem, se eu não cometer suicídio antes, se eu não pedir licença-prêmio antes, se eu não pedir afastamento sem ônus antes ou se eu não ir embora do Acre antes, o professor Josenir Calixto terá meu irrestrito apoio, e olha que eu consigo alguns votos.

Espero que ele venha.

domingo, novembro 28, 2010

O Rio que passa pelo Acre


O governo da Frente Popular importa umas boas merdas do Rio de Janeiro. A última bosta que boiará no rio Acre chama-se Latino; ele infectará o solo acriano com alienação.

De quem partiu a ideia de gastar dinheiro público com o excremento "Festa no Apê?"

Por que não contrataram O Rappa? Por que não contrataram Gabriel, o Pensador? Por que não contrataram o AfroRegge? Por que não contrataram Negra Ly? Por que não contrataram Túlio Dek? Por que não contrataram Marcelo D2? Por que não contrataram Fernandinha Abreu?

Será que nesta merda tem o dedo do Dudê?

Seja quem for do governo, eu penso que deveria morar no Rio de Janeiro durante uns meses para conhecer a autêntica música popular. Um pessoal alienado que está no governo deveria, primeiro, deixar de ser alienado para, depois, importar a boa cultura musical do Rio de Janeiro.

É uma gente deslumbrada com a Cidade Maravilhosa e que não entende porra nenhuma de cultura popular. Se gostam tanto de Latino, ouçam seus ruídos em suas casas. O povo do Acre merece algo melhor.

Uma dúvida: se o Acre exportou as belas e inteligentes letras do grupo Los Porongas, por que importar do Rio de Janeiro as fezes de Latino?

quinta-feira, novembro 25, 2010

Orai e vigiai... armado!

Nesses últimos dias, Jesus Cristo desarmado no Rio de Janeiro é inútil.

Só a fé não remove favelas e só as armas removem traficantes.

segunda-feira, novembro 22, 2010

Sobre tua face



De todas as montanhas,
De todas as planícies,
De todos os mares,

aqui, eu, nu sobre teu corpo,
instantes antes de meu gozo,
contemplo a mais bela paisagem:

teu rosto.

domingo, novembro 21, 2010

Jormais retalhados

1)
Entre todos os estados, o Acre fica na terceira posição como o mais dependente do Fundo de Participação dos Estados, o FPE.

O primeiro é Amapá (60,9%). O segundo, Roraima (57,9%). O Acre fica com 52,6% de dependência, ou seja, de cada R$ 100 das receitas do estado, R$ 52,6 são do FPE.

Hoje, 85% do fundo destinam-se às regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A Constituição de 1988 determina que 21,5% da receita do IR e IPI sejam repassados aos estados.

O governo da Frente Popular estima que os cortes do FPE atingiram R$ 400 milhões nos últimos quatro anos, sendo R$ 200 milhões só em 20010.

2)
Hoje, Ferreira Gullar, poeta, escreveu em "O Globo" que não aceita na arte o vale-tudo. Literatura é arte, isto é, nem todos são escritores. No final, ele afirma: "As pessoas são iguais em direito, mas não em qualidades."

3)
Temos uma noção errada de elite. Pois bem, essa elite ameaça o futuro do governo de Dilma Rousseff com greve. Alega-se baixo salário. O salário dessa elite gira em torno de R$ 12,7 mil.

Boa parte desse pessoal está entre os 5% mais ricos do país. O nome dessa elite? Servidores da Justiça.

4)
Em São Paulo, sindicalistas desviam dinheiro de contratos de planos de saúde da categoria. No Acre, Sinplac e Sinteac não realizam auditorias em suas contas. Não sei o que fazem com o meu dinheiro.

sexta-feira, novembro 19, 2010

Deuses negros


Ao dia da Consciência Negra, ofereço minhas palavras.

Bendita seja a cor negra de deuses que dançam, cantam e riem. Se no passado o deus dos brancos chicoteava a carne negra na senzala com a verdade bíblica, bendita seja hoje a cor de teus antepassados que não leram a Tábua de Moisés.

Os terreiros são mais alegres que as igrejas.

Se não havia o corpo de Cristo como hóstia, havia o tronco. Se não havia o sangue de Cristo como vinho, havia o suor da escravidão.

Se não havia sermão, havia gemido. Se não havia castiçal, havia grilhões. Se não havia missa, havia macumba. Se não havia Jesus, havia orixás.

Se não havia o perdão, havia o negro a cantar e a bailar.

Os terreiros são mais alegres que as igrejas.

quinta-feira, novembro 18, 2010

Uma [re]vista do que somos

O professor-doutor Carlos Alberto (foto), diretor das Faculdades Euclides da Cunha, idealizou a revista "Visões Amazônicas". Mas não existe só a idealização. "Visões Amazônicas" tem capital para sua independência.

A maioria de suas páginas, porém, carece ainda de palavras porque as pessoas não escrevem. Há mais de três meses, eu enviei a um professor universitário quatro questões e, até o momento, não li as respostas.

Temos independência e verba, mas não temos autores para escreverem seus artigos, suas matérias, suas monografias.

Colocar em páginas palavras questionadoras e inquietantes sobre o Acre, longe do lugar comum dos políticos e da padronização jornalística local, por isso uma [re]vista do que somos nesta parte da maior floresta do mundo, por isso "Visões Amazônicas".

Quantas monografias de recém-formados, quantas dissertações de mestres e quantas teses de doutores permanecem sepultadas em bibliotecas nunca visitadas pela maioria da população? Quantos saberes sobre o Acre conservam-se em páginas jamais lidas por uma gente simples?

As Faculdades Euclides da Cunha acreditam que monografias, dissertações e teses possam se transformar - sem que percam a qualidade - em textos simples para que sejam lidos por mais pessoas em vários locais da cidade, porque esse saber não pode ser demarcado somente pelas paredes de bibliotecas. Esse saber precisa estar também em consultórios médicos e dentários, em salões de beleza, em grades de supermercados, em clínicas de estética, em comércios da periferia.

Além de uma produção acadêmica adequada a uma revista popular, "Visões Amazônicas" edita textos jornalísticos desobedientes a padrões anacrônicos, por exemplo, página policial e entrevista. A página policial não tem o direito de marginalizar indivíduos conforme o boletim de ocorrência da delegacia. O repórter de "Visões" precisa transcender os fatos a ponto de inverter, por meio de investigação, a relação de valores entre marginal e autoridade. No caso da entrevista, o entrevistador da revista não pode manter um monólogo com o entrevistado. Um jornalismo comprometido, portanto, não com a verdade do senso comum, mas capaz de revelar a mentira que há por trás dessa verdade.

No Acre, precisamos de ideias, de outras falas. Precisamos de visões.

Resposta a Josafá

Meu amigo, se você estivesse no Rio de Janeiro durante um mês lendo jornal, teus olhinhos, que não são azuis, ficariam arregalados com as informações. Hoje, houve tiroteio na avenida Rio Branco, detalhe, em plena luz do dia. O PM morreu no local. Um pedestre foi mantido como escudo. O marginal foi executado por outros PM.

A Cidade Maravilhosa não é lugar para trabalhar, tudo aqui cheira a engarrafamento. Outra: quando comparam a violência em Rio Branco à do Rio de Janeiro, eu rio, eu rio, eu rio.

Claro que o Acre tem seu lado ruim, por exemplo, ausência de um bom cinema com filmes autorais, teatro fora do circuito nacional e pagamento em 20 vezes nas Casas Bahia; mas, para trabalhar, eu gosto muito, porque não há engarrafamento, meu deslocamento ainda é rápido.

Também não espero que as coisas melhorem mais ainda no Acre, faço minhas críticas neste blogue sem esperança de ver uma Frente Popular menos burra, de ver um PT menos viciado pelo poder. Na vida, Josafá, não existe esperança, só existe a morte, o fim de todas as esperanças.

A minha vida no meu Acre é tranquila, calma. O Rio, há muito tempo, deixou de ter paz. O Cristo Redentor, meu amigo, se não for cínico, é indiferente. Além disso, mesmo com o custo de vida mais caro no Acre, professor na terra de Galvez recebe melhor.

Agora você me dá licença, porque uma bala perdida atingiu minha fé nos homens.





domingo, novembro 14, 2010

O tempo, as compras, Mony e as notícias

Região dos Lagos, Rio de Janeiro. Chove em Maricá. Pela manhã, comprei os jornais "O Globo" e "Folha de São Paulo", tudo por R$ 8.

No Acre, não há "O Globo", e "Folha de São Paulo" custa aos domingos R$ 7. Tudo é mais caro.

Ontem, comprei verduras e fruta para a minha amorosa mãe. Pela "Folha de São Paulo", adicionei à minha biblioteca "O Livro Vermelho", de Mao Tsé-Tung.

No dia 24, meu pai irá ao médico para saber o grau da vista direita.

Hoje, mais uma vez, almoçamos em paz. Meu irmão, à esquerda; e minha amada esposa, Mony, à direita. Na cabeceira, meu pai; diante de mim, Dilma, o espírito da casa. Depois das conversas, eu e Mony fomos dormir.

Às 17 horas, fomos assistir na sala ao belíssimo filme "O escafandro e a borboleta", do diretor Julian Schnabel, premiado em Cannes, em 2007. Filmes devem provocar a inteligência e sensibilizar, por isso essa película de Julian.

Amar também significa (com-par)tilhar momentos agradáveis à alma, por exemplo, filmes. Mony é este amor eterno com quem divido meu destino. Aprendemos o sabor de viver quando assistimos a filmes que educam.

Nesses quase seis anos de amor-paixão-amizade, muitos são os filmes.

Também dividimos as leituras de jornais. Destaco algumas:

A Frente Popular deveria aprender com o PMDB

1) No Rio de Janeiro, capital, a Unidade de Polícia Pacificadora não se compara ao que o PT acriano pensa sobre segurança pública. Na terra do Cristo Redentor, segurança não se limita a policiais.

Uma união entre governo, empresários e população tem transformado a realidade social das favelas. No jornal "O Dia" de hoje, uma foto destaca um PM tocando violão com jovens, isso quer dizer que policiais militares promovem encontros culturais.

Trata-se do projeto "Vozes & Acordes", com aulas gratuitas sob a batuta do soldado Fausto Oliveira da Cunha. No Acre, o PT, com uma concepção de segurança pública pífia, até hoje, após 12 anos, ignora a relação entre cultura e quartel.

O PT acriano é atrasado porque ainda pensa que segurança é caso de polícia.

Doze anos de pobreza

2) Leio na "Folha de São Paulo" que o Acre é um dos estados da Região Norte que mais precisam de dinheiro para acabar com a miséria. Ocupa a segunda posição. Por cada acriano, são R$ 9,55 por mês para a terra de Galvez e R$ 9,63 para o Amapá.

Será que as pensões dos ex-governadores ajudariam?

No Norte, temos 1,4 milhão de indigentes (renda familiar per capita de R$ 70) e 2,3 milhões de pobres (renda familiar per capita de R$ 140).

sexta-feira, novembro 12, 2010

Uma troca literária entre dois professores

Gleyson Moura, professor da escola estadual Leôncio Carvalho, realiza um projeto literário nesse espaço escolar, em Rio Branco, Acre. Ele pediu para eu comentar sobre o projeto depois de ler a matéria no sítio ac24horas. Li e questionei o projeto.

Depois, meu colega de profissão enviou algumas apreciações. Vamos a elas com meus comentários.

Há tanto por dizer que nem sei se caberá nesse espaço. Vamos, então, ao bom e velho sistema de enumeração.

1. Sempre gostei de um bom debate sobre literatura. Respeito as suas idéias e inteligência, por isso as provocações;

Gosto muito de uma boa provocação para que, neste caso, a realidade literária na escola seja repensada.

2. Concordo que o grau de teorização sobre literatura em nossas escolas é muito baixo, existem degraus pelos quais é preciso ascender. Mas, para isso, é necessário pensar estratégias que desenvolvam nos alunos o gosto pelo texto literário. Trazer para a sala de aula pessoas apaixonadas por literatura para compartilhar conosco dessa paixão, falar sobre seus textos (consagrados ou não), suas relações com nosso espaço vivido e sobre o processo de composição, pareceu-me uma boa estratégia. É um começo.

A leitura na escola acriana inexiste, professor não lê para seus alunos. Há anos, desde quando lecionava no Rio de Janeiro, de 1990 a 1992, eu lia bons romances para meus alunos. Após 20 anos de sala de aula, aprimorei minha forma de lecionar literatura. Hoje, realizo uma comunhão entre ótimos filmes e ótimos textos literários. E para isso, Gleyson, não basta só a paixão, é fundamental uma sólida e flexível base teórica.

Toinho Alves e outros que se acham escritores podem ser apaixonados, mas isso não basta, é pouco. Sem leitura de autores básicos, como Roland Barthes, Blanchot, Iser, Deleuze, Antônio Cândido, Anazildo Vasconcelos, Luís Costa Lima e outros, a paixão é vazia.

Imagine Toinho falar sobre medicina ou direito, imaginou? Se ele não está credenciado para falar sobre direito, por que estaria para literatura?

Outra questão. Para aluno apreciar a leitura, alguém deve ler para ele, é preciso haver uma referência. Para muitas classes sociais, a única referência como leitor é o pastor da igreja. Além de o professor ler em sala, em uma lugar adequado, ele deve partir de alguma escolas ou escolas literárias para manter sua interpretação.

Na escola Heloísa Mourão Marques, eu leio no auditório, onde existe o conforto do silêncio. Se desejamos despertar nos alunos paixão por leitura, por exemplo, ficcional, a escola deve exercitar a leitura em sala, e não alguns escolhidos de forma não muito criteriosa falarem sem base teórica sobre literatura.

Por que a Secretaria de Educação não realiza seminário entre autores consagrados e alunos? Toinho Alves faz parte do poder, é amigo do poder, ele poderia viabilizar isso, mas... Agora entenda: realizar encontros bienais.

3. Nesse ponto, pergunte aos seus alunos o que eles pensam a esse respeito.

Posso saber o que pensam, mas eu queria que a SEE possibilitasse escritores nacionais na escolas públicas. Construir viadutos custa mais caro.

4. Aliás, se estiver na cidade, gostaria de contar com sua participação, em nosso projeto, como avaliador, entre outros avaliadores que estou convocando (data provável em 06 de dezembro, ainda por definir); Senão, como visitante. Também gostaria de levar dois ou três grupos para apresentar para os seus alunos, como uma forma de treino;

Olha, deveria entrar, na avaliação escolar, apresentação de filmes relacionados à literatura. Depois, debates entre alunos e professores. A escola poderia ser um espaço para o cinema-livro. Quanto à minha participação, não sou o mais indicado. Quanto a meus alunos receberem algum grupo, tudo bem.

5. Obviamente, uma interpretação subjetiva deve ser apoiada por argumentos que a comprovem, e isso não tem deixado de acontecer no projeto que estou ajudando a coordenar;

Você diz mas creio que tais não têm base teórica. Li o que Toinho Alves fala de poesia, e eu só lamento.

6. Não se trata de nivelar ou de banalizar a literatura. Trata-se da fruição do texto literário, independente do autor pertencer ou não à grande literatura. Como disse Octávio Paz, "as redes de pescar palavras são feitas de palavras.";

Só pesca bem quem sabe pescar. Precisamos pescar, primeiro, teóricos literários para depois fisgar as palavras corretas, adequadas, apropriadas.

7. É necessário primeiramente conhecer o texto, para só então poder-se avaliar seu mérito ou desmérito. Seu valor literário independe da maneira como foi publicado;

É preciso haver o reconhecimento nacional para colocar tais autores no currículo escolar. Para eu conhecer o Acre, não preciso de pseudoescritores acrianos; posso entender o Acre por meio de Mário de Andrade, de Ariano Suassuna, de Milton Hatoum.

8. Sobre Gilles Deleuze, ainda estou lendo "A ilha deserta". depois falaremos sobre isso;

Não li "A ilha deserta". Sobre literatura, li alguns livros dele, por exemplo, "Proust e os signos".

9. Por fim, concluo que está na hora de ter o meu próprio blogue e parar de ocupar tanto espaço nos blogue dos outros.

Nada disso. Penso ser muito bom você colocar suas experiências profissionais. Quando ele estiver pronto, me avise para eu colocar no meu blogue.

Depois de minhas críticas, saiba que penso ser positiva a sua ideia. Discordo, mas respeito muito a sua iniciativa. Embora Toinho Alves não seja a pessoa mais indicada para falar de literatura para alunos, ainda sim, é válido.

quinta-feira, novembro 11, 2010

Meu colega de profissão Gleyson Moura (2),

não deixe que teus olhos leiam minhas palavras com (anti)patia, porque ideias devem estar muito acima de nomes. Recortarei teu texto e, uma vez assim, colocarei minhas apreciações.

"Na verdade, Toinho Alves não afirmou que Carlos Drummond de Andrade é romântico. Se assim pareceu, isso se deve a uma falha de redação do jornalista que publicou a matéria. Mesmo que tivesse afirmado isso, seria uma interpretação pessoal, subjetiva (o que também interessa ao projeto)."

Se eu admitir teu pensamento, um aluno poderá afirmar que Castro Alves é realista porque prevalece a interpretação pessoal. Ora, para interpretar, para criar um discurso, o falante deve dominar categorias analíticas ou conceitos. Se afirmo que Castro Alves é romântico, eu tenho de dominar os conceitos que habitam sua poesia.

Quero dizer com isso que não existe "interpretação pessoal", mas busca, por exemplo, por conceitos. Evidente que Drummond não é romântico; ele pode ser também romântico em uma poesia. Na escola, professores e livros didáticos afirmam que Olavo Bilac é poeta parnasiano. No entanto, já li poesia de Bilac com toda densidade romântica.

Gleyson, a interpretação precisa de base teórica. Existem estudos antes de minha opinião vazia sobre Carlos Drummond de Andrade.

Sobre o conceito "subjetivo", não pense que essa categoria significa o falante estar separado do conceito "universal". Oposta ao parnasianismo, a escola romântica é subjetiva, mas sua subjetividade cria uma ponte para o universal.

"Para alguém que defende o espírito livre e a subjetividade, você parece muito preso aos cânones da 'Grande Literatura'."

Espírito livre não quer dizer a afirmação do meu eu como se eu fosse um ser desagregado. Sou livre e subjetivo para buscar conceitos universais. Sim, defendo os clássicos na escola pública. Entre a escritora Clarice Lispector e o alfabetizado Alan Rick, meu aluno, para o bem de sua alma, deve ler Clarice Lispector. Entre o alfabetizado Toinho Alves e o escritor Raduan Nassar, meu aluno deve ler "Lavoura Arcaica".

Não sou simpático à ideia de que tudo se nivela, de que tudo é literário. Não é. Raduan Nassar é consagrado pelos críticos nacionais e internacionais. Até o relativismo tem seu limite. Literatura não é vale-tudo.

"Penso que a literatura é algo de todos, do cotidiano, de todos os lugares, a cada instante; deste lado da vida 'que amávamos com uma paixão insaciável que o senhor não se atreveu nem sequer a imaginar, com medo de saber o que nós estávamos fartos de saber que era árdua e efémera, mas que não havia outra, senhor general, porque nós sabíamos quem éramos'. (Gabriel García Márquez, O Outono do Patriarca). Agora, uma pergunta: Qual a sua concepção de literatura, professor?"

Eu tenho leituras ao logo de minha vida. E saiba: não li o suficiente. Meu limite me envergonha. Minha concepção parte de autores consagrados, eles me ensinam - Deleuze, um deles; outro, Blanchot; mais, Barthes.

O livro "Proust e os signos", de Gilles Deleuze, defende uma concepção de literatura que me seduz por sua fina inteligência. Minha concepção de literatura encontra-se em Virgínia Woff, Oscar Wide, Clarice Lispector, Raduan Nassar, Rimbaud, Mallarmé, Cruz e Sousa, Ariano Suassuna.

Não o li ainda, mas Proust é outro.

Publicar [com dinheiro público] um ou dois, ou três, ou quatro, cinco livros no Acre não justifica eu dizer que sou escritor ou poeta. A arte exige mérito, e não amigos do poder.

quarta-feira, novembro 10, 2010

Meu colega de profissão Gleyson Moura,

você pediu para eu comentar sobre o projeto de literatura da escola pública Leôncio de Carvalho. Pois bem, estou aqui para não ser simpático. Como início, destaco o texto do sítio www.ac24horas.com:

"Talvez o grande problema de ensinar a literatura na escola esteja na garantia dos alunos conhecerem as obras literárias. Para vencer esse desafio, uma iniciativa dinâmica, liderada pelo professor de Língua Portuguesa, Gleisson Moura, trouxe para sala de aula, escritores como Mauro Modesto, Antônio Alves e Nilda Dantas."

Como o grande problema de ensinar literatura na escola é garantir aos alunos leitura de obras literárias, o projeto da escola traz escritores como Antônio Alves, Modesto de Abreu e Nilda Dantas.


Mais abaixo, leio "os escritores Alan Rick e Silvio Martinello. A proposta é trazer para a sala de aula, além da literatura universal, as experiências dos autores acreanos, suas formas de pensar, escrever e observar o mundo. Foi nesse contexto que o escritor e jornalista Antonio Alves [o Toinho] viajou, falando da literatura romântica de Érico Veríssimo, Carlos Drumond de Andrade e ouvindo seus próprios textos, escritos no blog Tempo Algum".

Além de Alan Rick ser escritor, além de Silvio Martinello ser escritor, Toinho afirmou que Carlos Drummond de Andrade é romântico. Aí você pede para eu comentar sobre esse projeto.

Devo ser simpático?

Mais tarde, quem sabe, escreverei sobre essa "literatura" em sua escola. Agora, o que tenho a dizer é que esse projeto merece um boletim de ocorrência. Não se trata de literatura. Trata-se de um crime contra a literatura. Esse projeto é caso de polícia.

sábado, novembro 06, 2010

Digo Dicas, Indico-as

Ontem, após um sol que mais se assemelhava a um verão intenso, chove muito hoje. Que lugar acolhedor quando estamos com saúde em casa, principalmente, com quem amamos -esposa, pai, mãe, irmão.

Em tempo de recolhimento, livros, afeto, carinho e bons filmes formam uma ótima paisagem com o frio.

Diferente do Acre, alugo aqui DVDs com preço bem menor. Na quinta, aluguei seis filmes. Preço: R$ 10. Se fosse no Acre, pagaria no mínimo R$ 24 pelos seis.

E não é só isso. Filme em cartaz no Rio de Janeiro encontra-se já em locadoras de Maricá. Hoje, assisti ao belíssimo "Vincere". Na sexta, ontem, emocionei-me com "Brilho de uma paixão", sobre a vida de John Keats, poeta romântico inglês do século 19. Na quinta, foi a vez de "O segredo de seus olhos", premiado filme argentino.

Não sei quando chegarão ao Acre - se é que chegarão -, mas, caso cheguem, embora mais caros em Rio Branco, vale a pena assistir a essas películas autorais, mais ainda com a mulher que tanto amo, Mony.

quarta-feira, novembro 03, 2010

Livres


Que a vida seja assim

espessa como brisa suave
livre como folha

desprendida do galho

Que a vida seja assim

entre mim e você
atalhos




A você, Mony, minha poesia.

domingo, outubro 31, 2010

Dilma vota em Dilma

Aos 69 anos, minha mãe Dilma saiu de casa para votar em Dilma, do PT. "Sei que Lula melhorou a vida dos mais sofridos", disse para justificar sua escolha.

Se minha mãe é maioria em casa, Dilma Rousseff é maioria no Congresso. Não há mais desculpas com a tal "governabilidade". O PT tem agora a obrigação de realizar as reformas.

Reforma, por exemplo, política. Dilma, minha mãe, espera por tais reformas.

quinta-feira, outubro 28, 2010

Ele é o cara

Thales Antonio Pinheiro Scherer, da escola Heloísa Mourão Marques, foi premiado na etapa estadual da Olimpíada de Língua Portuguesa (edição de 2010) e está classificado para a fase regional, categoria de artigo de opinião.

Alunos da 3ª série do ensino médio, Thales foi o primeiro colocado no município de Rio de Branco e o segundo no estado, com o artigo "Luz para Todos", dissertando sobre os apagões na capital do Acre.

Lecionei para a inteligência de Thlales no 2º ano do ensino médio, ano passado. Sempre atento, ele sempre assistiu às minhas aulas de Redação com dedicação. Escrevia e reescrevia o texto o quanto fosse necessário.

Muitos colegas de profissão só sabem reclamar dos alunos, como se os alunos não tivessem algo a reclamar dos professores. "Não querem nada, eu faço a minha parte, se não quiserem, eu ganho do mesmo jeito", afirma aquele pseudoprofissional.

Thales é muito para esse tipinho de falso professor. Alunos iguais a esse quieto rapaz me dizem que meu trabalho nunca está bom, que preciso melhorar sempre. Se vacilar, somos nós, professores, que parecemos tolos diante desse modelo de juventude.

A ti, meu amigo, digo-lhe apenas que eu queria que a escola pública brasileira fosse outra, mas, como não é, espero que nosso breve encontro nesta vida tenha ofertado a teu destino um professor que expressou a paixão pelo ato inquieto de lecionar.

Sei que deixei falhas, mas sei também que não fui mais um em sala de aula. Tentei mostra a ti a importância da palavra pensada e da palavras bem organizada com outras palavras. As vírgulas, sabemos, são muito importantes para tamanha organização. Não se esqueça dos bons verbos. Amplie seu vocabulário como quem amplia as boas amizades.

Alimente-se de bons livros, Thales, porque esse alimento combate a pior de todas as doenças: a ignorância. E saiba: adquirimos conhecimento para que não sejamos humilhados. Que no futuro próximo tenha sua apaixonada profissão e, quando receber seu primeiro salário, meu amigo, compre um livro.

Mas saiba também que trabalhamos não para receber dinheiro; trabalhamos para melhorar a vida de nosso semelhante. O dinheiro é uma consequência.

Vida longa, Thales!

Minha origem

Hoje, 28.10.2010, meu pai finalmente submeteu-se a uma cirurgia de catarata. Chegamos à clínica às 7 horas da manhã e, por muito pouco, ainda não seria este dia o dia da operação porque, dias antes, tossia muito por causa de uma gripe.

Mas, como ficou melhor, a médica o liberou.

Em casa, ficará em absoluto repouso por 30 dias. Depois dessa, ele ficará em uma mesa de cirurgia no próximo ano para que sua vista esquerda seja operada.

Com sequelas de dois acidentes vasculares cerebrais - sua voz modificou-se e esquece com facilidade -, ele não quer se submeter ao cateterismo, por isso seu médico ignora a real lesão deixada pelo AVC.

Ele está bem, mas, olhando com ternura para ele, não consigo deixar de me comover com a vida. Em 2011, concluirei algumas coisas no Acre e, depois de concluídas, afastar-me-ei de minhas funções como professor do estado para ficar com meus pais e com meu irmão.

O tempo sempre exige de nós, é preciso estar muito bem preparado para sua imposição.

domingo, outubro 24, 2010

... e as leituras

Faltam quatro dias para a cirurgia de meu pai, quinta-feira, dia 28 de outubro. Aos 76 anos, cuido dele como quem cuida do tempo, que nunca retorna. Meu pai, segundo a natureza do tempo, está partindo bem devagar. Sem vigor físico, com memória que não guarda, a natureza humana me comove.

Após a operação, ficará sob cuidados durante 30 dias. Ficará quase imobilizado.

Enquanto isso, além de ajudar minha mãe - faço compras, compro remédio, pago as contas -, tenho lido jornais, revistas e livros. Depois de "Calendário do poder", de frei Betto, meus olhos se encontraram com "O choque do real - estética, mídia e cultura", de Beatriz Jaguaribe; e "Quem ama literatura não estuda literatura - ensaios indisciplinados", de Joel Rufino dos Santos.

O Mal

Em Maricá, por causa de um ótimo livreiro, comprei uma obra por que eu procurava há anos. Proibida no Brasil até 2014 por causa de uma ação judicial de judeus, "Mein Kampf", de Adolfo Hitler, tem recebido a visita de minha leitura.

Leio aos poucos Hitler. Por meio dele, quero assimilar as palavras do Mal [político]. Paralelo a isso, leio outro Mal: "Os infortúnios da virtude", de Marquês de Sade. Essas leituras estão lentas porque outras tornaram-se mais urgentes.

Entre rabinos e gays

Eis as urgências: meu texto para a revista "Visões Amazônicas" e preparar aulas de literatura infantil para a faculdade.

Para a revista, "O falo de Deus", do rabino Howard Eilberg-Schwartz; "Reflexões sobre a questão gay", de Didier Eribon; e "O livro negro do cristianismo - dois mil anos de crimes em nome de Deus", de Jacopo Fo, Sérgio Tomat e Laura Malucelli.

Para a literatura infantil, leio com anotações no computador "Crítica, teoria e literatura infantil", de Peter Hunt. Com 291 páginas, minhas anotações estão na página 95.

"Afinal, O que querem as mulheres?"

Em novembro, Luiz Fernando Carvalho, 50 anos, ressurge na Rede Globo com uma nova série, "Afinal, O que querem as mulheres?".

Os estúpidos não assistem aos trabalhos de Fernando Carvalho por causarem estranhamento, o que acaba sendo indecifrável por mentes domesticadas pelo comum, pelo normal. Por R$ 50, comprei "Capitu", da minissérie de Luiz Fernando Carvalho. Essa bela encadernação, eu lerei depois, há ótimos autores que escreveram ótimos ensaios.

Enquanto cuido de meu pai, não me descuido das leituras.

sexta-feira, outubro 22, 2010

"Visões Amazônicas"

Como está difícil encontrar alguém que escreva para a revista "Visões Amazônicas". Consegui um bom texto de uma professora do Rio Grande do Sul. Do Acre, um significativo de Cláudio Ezequiel e da professora-gestora Osmarina. Outro texto foi escrito pelo professor Guilherme.

Por causa dessa pouca presença, surgiram duas ideias:

1) jornalista pode ocupar espaços na revista com textos que fogem ao senso comum e enfadonho; e

2) universitário pode publicar sua monografia.

Carlos Alberto, diretor da Faculdade Euclides da Cunha, concordou. Se publicar boas ideias [críticas] depende de independência financeira, a revista Visões Amazônicas" possui tamanha independência.

O problema, no entanto, é pensar.

sábado, outubro 16, 2010

Dia do professor

Há neste país, segundo o movimento Todos Pela Educação, 1.977.978 professores, números do Censo Escolar de 2007, sendo que a maior parte leciona no ensino fundamental, 1.504.000.

Do total de professores, 81,5% são mulheres e 58% delas têm até 40 anos.

O piso salarial do docente no Brasil limita-se a R$ 1.024,67 segundo o Ministério da Educação (MEC).

Nesta Pátria tão cristã, terra abençoada por Deus de oligarquias que sempre governaram este chão, 8,9% da população é analfabeta e 25,7% de brasileiros carregam a bandeira do analfabetismo funcional.

No Acre, acima de 15 anos, 15,4% de brasileiros sofrem com a cegueira do analfabetismo, sendo que a população acriana em 2007 era de 655.385.

A escolaridade em média não passa de 7,2 anos de nossos brasileiros cinco vezes campeões do mundo. Só 53,8% dos alunos chegam ao ensino médio. Apenas 30,5% de jovens pisam o chão de um ensino superior.

Cinco vezes campeões de futebol

Conforme o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa de 2006), entre 57 países, o nosso "berço esplêndido" ficou na 53ª posição em ciências, na 54ª em matemática e na 50ª posição em leitura.

Podemos até ganhar a Copa do Mundo de Futebol em 2014, mas, segundo o MEC, somente em 2021 nossas escolas públicas atingirão média 6, número igual a países europeus.

Serra, Dilma e... Marina

Quem visita os sítios dos candidatos constata que educação não passa de propaganda política.

Serra, como não poderia deixar de ser, é genérico: "garantir às universidades federais condições adequadas de funcionamento."

Dilma também tomou remédio genérico para a educação: "valorização adequada do professor."

No sítio do PV, Marina é profundamente superficial. E não é só. Enquanto fala de 7% do PIB para a educação, o movimento Todos Pela Educação exige 10%.

Os três limitam-se a repetir obviedades.

Marina, por exemplo deveria responder às seguintes questões:

1) como garantir uma educação pública com qualidade?

2) como melhorar a gestão escolar?

3) como transformar a profissão de professor em "objeto de desejo"?

4) o que proporcionar na educação integral?

5) como relacionar educação e cultura no currículo?

6) como diminuir a evasão?

7) na escola, deve prevalecer o mérito? Se deve, quais mecanismos devem ser criados?

8) a escola deve depender só de recursos públicos?

9) pagar melhor salário depende também do mérito do professor mais dedicado e que obtém melhor resultado?

10) como haver no cotidiano escolar o valor do simbólico?

11) a escola deve ser administrada por profissional formado em administração pública?

Quando se trata de falar da educação pública acriana, Marina Silva é silêncio. Sem respostas.

sábado, outubro 09, 2010

Entre dois Rios

Um Rio, na floresta; outro, à beira mar. Um é bem mais violento e desumano do que outro.

Rio Branco e Rio de Janeiro. Na Cidade Maravilhosa, a educação é muito pior.

Deputado estadual pelo Partido Popular Socialista (PPS), Comte Bittncourt escreveu neste sábado, 9 de outubro, um texto curto no jornal O Globo -"Escravos de Jó".

Segundo ele, em 35 anos, o atual secretário de Educação é o 26
º. O Rio de Janeiro tem em média um secretário a cada 17 meses.

Em 2010, o Rio de Janeiro perdeu aproximadamente 70 professores por mês com exonerações. No final do mês, o estado paga ao professor R$ 765. No final da carreira, o chamado nível 9, o professor do Rio de Janeiro recebe R$ 1.511,27. O Cristo Redentor está lá, mas o planejamento consolidado para o educador não está.

Mais de 50% das escolas não têm bibliotecas e 70% não têm espaço físico para o esporte e o lazer.

Em outro Rio, o Branco, o professor recém-concursado recebe do estado - vamos arredondar - R$ 1.5 mil, ou seja, comparado a quem leciona no Rio de Janeiro, mais R$ 735. Entretanto, o poder de compra de Rio Branco é bem menor do que na cidade do Cristo Redentor.

Rio Branco é cidade mais cara. Alguns exemplos. Uma caixinha de morango custa na capital acriana R$ 5; no Rio de Janeiro, R$ 2. Uma caixa de 1 litro da Kibon vale no caro Araújo R$ 20; no Rio de Janeiro, R$ 10. O azeite Galo extra-virgem chega ao consumidor de Rio Branco por R$ 18; no Rio de Janeiro, entre R$ 8 e R$ 14.

Arroz, feijão, macarrão. A comparação não para entre esses dois Rios.

Quando o governo da Frente Popular fala do salário do professor acriano, ele exclui o poder de compra, o custo de vida. R$ 100 no Acre valem menos do que no Rio de Janeiro.




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sábado, outubro 02, 2010

Não votarei

Como estou no Rio de Janeiro e meu título de eleitor é do Acre, não votarei, mas isso não faz diferença, não faz falta em uma democracia com palanques acrianos sem boas ideias educacionais.

Por falar em educação, estou na expectativa de ouvir Marina Silva depois das eleições.

Que identidade política a candidata verde terá no Acre quando o assunto for educação? Quais críticas ela fará à educação pública acriana? Quais soluções ela apontará?

Nas eleições, Marina disse muito ao Brasil, falta-lhe agora dizer, após as urnas, ao Acre, tarefa que para mim não será cumprida. As amizades no Acre abafam qualquer crítica.

quarta-feira, setembro 22, 2010

Calendário do poder, leia-o

Muitas linhas do livro Calendário do poder, de frei Betto, chamaram-me atenção. Muitas. Tantas. Destaco duas: Fome Zero e Benedita da Silva.

Na campanha de Dilma Rousseff, nada sobre o programa Fome Zero. Lula nunca mais falou sobre o assunto. Quem ler o livro saberá a razão de o PT não tocar mais no assunto.

Eu já não tinha simpatia por Benedita da Silva e, depois da leitura, considero-a uma inútil na política. Uma vergonha. Na página 301, ele escreve: "Benedita não queria largar o osso" ministerial.

Antes de Lula demiti-la, Betto escreve em 13 de agosto de 2003 a Lula: "Li, com espanto, a notícia de que Benedita da Silva nomeia evangélicos para o ministério dela."

Um dia depois, anota que seu desalento com o governo é cada vez maior. O meu também.

terça-feira, setembro 21, 2010

Meu pai, um livro (2)

Embora rápida, minha leitura cercou-se de cuidados, marcando a lápis o que me interessava. Conheci Betto pela primeira vez quando meus olhos encontraram-se com Batismo de Sangue, edição de 1982.

Anos depois, em 2009, li
Um homem chamado Jesus. Nesse livro, compreendemos o quanto os evangélicos neopentecostais reinventaram um mito imbecil, tamanho imenso de fanatismo e enorme de ignorância.

Ainda em 2009, li
A mosca azul.

Neste ano, li o presente de meu pai, O calendário do poder. Gosto de frei Betto por sua simplicidade, e esse livro, por ser assim, levou-me a uma leitura rápida e precisa.

Resposta a blogueiros

Sempre quando critico o PT neste espaço, alguns blogueiros manifestam repulsão contra o partido de Lula, de Jorge Viana, impedindo que ideias sejam apreciadas. Depois que meu pai entregou a mim o livro
O calendário do poder, disse-lhe que nunca pulsou em mim "inocência" em relação ao Partido dos Trabalhadores. Eu a perdi quando li Maquiavel.

Porque humano, o PT é corrupto, mas o humano de Erenice Guerra. Não creio que no PT todos tenham a mesma face dela. Estão no mesmo partido, mas Tarso Genro não é Benedita da Silva.

Dentro do DEM (ou ex-PDS), um Jorge Bornhausen, presidente de honra, diferencia-se de um César Maia.

Quero afirmar com isso que não aprecio generalizações, isto é, o PT também não é corrupto.

segunda-feira, setembro 20, 2010

Meu pai, um livro

Os olhos de meu pai estão nas mãos do doutor Bruno Jogaib de Onofre, um dos cinco melhores do Brasil segundo revista especializada; entretanto, em uma de suas clínicas, justamente a de São Gonçalo, onde meu velho esteve, quebraram o aparelho de ultrassom. Disseram que em duas semanas tudo seria solucionado. Não foi.

Na terça, dia 21 de setembro, o doutor Bruno autorizará meu pai para ir a Niterói, Icaraí, a fim de ser submetido ao último exame pré-operatório. Depois, será marcado o dia da cirurgia.

À espera

Enquanto meu pai, de 76 anos, espera a operação, cuido dele com carinho, além de cuidar de minha mãe, de 69 anos, e de meu irmão, de 37, que tem problemas neurológicos e é surdo.

Minha família apresenta fragilidades. Com meu pai doente, minha mãe não tem habilidade para resolver problemas, anda muito esquecida. Meu pai, por sua vez, por causa de sua tradição patriarcalista, impede que eu solucione problemas familiares. Meu pai é pessoa difícil quando se trata de submeter a família a seu inteiro e absoluto controle. Paciência.

Um livro

“Tome, é seu”, estendeu a mão, segurando um presente. Abri e, para minha surpresa, uma publicação de frei Betto, Calendário do poder, editora Rocco. Ontem, ele tinha me convidado a ir a uma livraria em Maricá. Disse-lhe que não havia livraria nesse município. “Ela fica em local recolhido, vou te mostrar.”

Aconchegante o lugar. Meu pai me apresentou a Jorge, o proprietário. “Esse é meu filho.” Depois das apresentações e de uma breve conversa, fiquei perto da literatura nacional; e ele, dos livros de direito. Mas, para a minha surpresa, em casa, ele dedicou o livro de Betto.

“Espero que você, com esse livro, perca a sua inocência em relação ao PT e ao presidente Lula”, meu pai sempre foi contra petistas. Concluí a leitura. Na próxima postagem, comentarei de forma breve.

sábado, setembro 11, 2010

Quando o Verde amarela


Ontem, 10, o dia amanheceu com Sol tímido. Acordei cedo, preparei o café para meus pais e para minha esposa, a Mony. Depois, como faço todas as sextas-feiras, saí para comprar o jornal O Globo e O Dia. Cada um, R$ 2.

NO Globo, a candidata Marina Silva (PV) foi entrevistada por vários jornalistas da família Marinho. Um dia antes, Plínio Arruda Sampaio (P-SoL) declarou no mesmo jornal que Marina é “carreirista”.

Em sua entrevista, a acriana do seringal Bagaço repetiu algumas vezes a palavra “educação”: 1) “E pautamos a educação como prioridade”; 2) “Estou propondo que possamos elevar o investimento em educação de 5% para 7% do PIB”; 3) “Vou ficar com a revolução na educação”; 4) “Estamos propondo a ideia de educação integrada. A educação em tempo integral”.

Nesses meus 18 anos de Acre, nunca ouvi Marina Silva falar de ideias sobre educação pública acriana, porque, como amiga de Jorge Viana (ex-governador) e de Arnóbio Marques (governador), Marina silencia-se. Sua crítica destina-se ao PT nacional.

No Acre, o Partido Verde amarela.

Além disso, Marina não especifica o que possa ser “revolução na educação”. No Acre, não houve nenhuma revolução educacional e muito menos ela diz algo. Se for educação em tempo integral, não há algo novo, porque Darcy Ribeiro realizou isso com Brizola no Rio de Janeiro por meio dos Ciep.

Sobre educação, sua entrevista não ultrapassou a cota da superficialidade.

Mas quem sou para escrever isso em um blogue? Leciono há 13 anos no Acre, vivo no olho do furacão.

Lerei a entrevista de José Serra (PSDB).





quinta-feira, setembro 09, 2010

Grandes erros. Grandes jornais

Em 22 de agosto deste ano, o jornal Folha de São Paulo publica “re-estatização de empresas”. Se consultarmos o Houaiss, encontraremos “reeducação”, “reestruturação”. A Academia Brasileira de Letras orienta a não usar o hífen.

Na mesma edição, entretanto, o jornal publica no Caderno Cotidiano:

“Adolescente da primeira turma de reeducação para o trânsito, que começou na semana passada em Curitiba, no Paraná.”

Na mesma edição, usa-se hífen e não se usa. Estamos falando de Folha de São Paulo, um dos grandes jornais do país.

Grandes erros. Grandes jornais

Durante 16 anos e um mês, trabalhei nas redações de três jornais acrianos: dez anos no Página 20, seis anos em A TRIBUNA e um mês em O Rio Branco.

No segundo, havia dois amigos diagramadores que riam de mim quando eu corrigia “mega-sena”. A editora-chefe, embora discordasse, dava-me a liberdade profissional para corrigir a palavra.

Hoje, dia 5 de setembro, lendo o jornal O Globo, no Caderno de Esportes, li a seguinte chamada: "O bilhete da megasena tricolor." Os dois diagramadores talvez rissem do jornal carioca porque não está escrito “mega-sena”.

Por que o jornalista Pedro Motta Gueiros, de O Globo, não escreveu “mega-sena”? Ele quis seguir a ortografia da língua portuguesa e não o que está escrito no bilhete porque para esse repórter importa a regra da ortografia de nossa língua.

No entanto, se consultasse o uso correto de "mega", o jornalista teria escrito "megassena".









segunda-feira, agosto 30, 2010

Não rimos da Frente Popular

Em 22 de agosto, o riso realizou uma passeata em Copacabana contra o artigo 45 da Lei das Eleições, vigente desde 1º de outubro de 1997, que proíbe em período eleitoral rir dos políticos. “Humorista unido jamais será comido”, era a palavra de (des)ordem.

Três dias depois, o antropólogo Roberto DaMatta publica no jornal O Globo o artigo "Legislar o riso e sacralizar o poder. Diz o autor de Carnavais, malandros e heróis: “O nosso sistema de poder protege, dignifica, hierarquiza e sacraliza o governante. E o quanto somos coniventes com isso.”

No Acre, essas palavras de DaMatta caem muito bem. Aqui, depois que a Frente Popular chegou ao poder, o riso contra Jorge Viana foi inibido quando eu trabalhava no Página 20. O talentoso Braga publicaria uma charge que, claro, ria de Jorge Viana. Entretanto, o assessor Oly – hoje na prefeitura de Rio Branco – “pediu” ao chargista retirar porque não se podia rir do governante Jorge Viana.

No Acre, não existe mais chargistas. Braga recebe sempre o Prêmio Chalub Leite de Melhor Chargista porque ele é único nesse deserto e porque sua charge não galhofa do poder, da Frente Popular, de Jorge Viana, de Edvaldo Magalhães.

Pergunta DaMatta em seu artigo: “Seria possível proibir o riso e o humor neste momento, como fazem os radicais, que se levam tão a sério que não podem rir de si próprios?”. O poder oculta-se com sua seriedade, e o riso (des)cobre o que há escondido sob o discurso sério de um político. O poder sempre mente. O riso sempre revela.

Depois da passeata, o artigo 45 da Lei das Eleições perdeu validade, agora podemos rir dos políticos, menos no Acre. “Amordaçado o riso, o poder sacraliza-se porque não há mais a liberdade de desafiá-lo”, diz Roberto DaMatta.

quarta-feira, agosto 25, 2010

A duas pessoas

Estou querendo que vocês dois escrevam para a revista "Visões Amazônicas", porque vocês não ruminam no pasto do senso comum. Há pagamento simbólico.

Altino e Fátima Almeida, meu correio eletrônico é lingua.portuguesa@uol.com.br, quero apresentar a vocês a proposta livre e ética da revista "Visões Amazônicas". Vamos conversar.

segunda-feira, agosto 23, 2010

Conselho à minha filha

Quando a Frente Popular do Acre completar 12 anos no poder, deixará os professores estaduais com salário inicial de R$ 1.500,00, ou seja, três salários mínimos. Jorge Viana ainda diz que é um dos melhores salários do Brasil. Bom salário, Jorge, é receber todo mês R$ 20 mil como ex-governador, até a morte.

Oito anos como governador deram-lhe uma pensão vitalícia, o que penso ser muito injusto. Não votei em ti para isso. Por isso, não votarei outra vez em teu nome.

Enquanto o "professor" Edvaldo Magalhães aumenta seu patrimônio por causa de sua condição de deputado estadual, eu, que sou candidato a lecionar, não aconselho minha filha a ser professora. A ela, dedico estas sóbrias palavras:

LEIA COM ATENÇÃO OS SETE MOTIVOS PARA VOCÊ SER UM PROFESSOR

7 (sete) é um número de destaque, pois ele simboliza a perfeição: em sete dias Deus fez o mundo, sete são as cores do arco-íris, mas também sete é conta de mentiroso. O 7 aqui será utilizado em relação à educação e, mais especificamente, ao professor.

Leia-os com atenção e anote todos os detalhes:

1. Estude muito e leia bastante, principalmente a vida de São Francisco de Assis; lembre-se de que você também terá que fazer um voto eterno de pobreza;

2. Prepare-se para manejar certos instrumentos, como o giz e o apagador. Para tal, orientamos o personal stylist de Michael Jackson; você precisará de luva e máscara durante as aulas;

3. Manter-se em forma não será problema para você; com o corre-corre de uma escola para outra, você estará evitando o sedentarismo; com o salarial que recebeu, não precisará fazer regime;

4. O educador é o único que pode acumular cargos: além de ministrar aulas em 3 ou 4 colégios diferentes, ainda sobra tempo para ser sacoleiro, levando para as escolas os últimos lançamentos do Paraguai ou sendo importante representante de empresas como a AVON, a HERMES e a SHOPPING MAIS;

5. A formação continuada do professor é algo bastante importante e valorizada pelo governo. Com sorte ( principalmente para que é do município) você será selecionado para ficar em um grande e luxuoso hotel como o IAT, desfrutar de ótimas instalações e saborear um cardápio variado; tudo isso com uma localização privilegiada e com vista para o ma...to;

6. O local de trabalho deve ser evidenciado: o educador, quase sempre, trabalha em escolas-modelo, cujo slogan é a fartura: 'farta' limpeza,'farta' funcionário, 'farta' material didático, enfim, 'farta' tudo;

7. Por fim, você desfrutará de um plano de saúde de ótima qualidade (SUS), cuja eficiência é demonstrada nos consultórios psiquiátricos repletos de professores que, ao completarem a idade e o tempo de serviço, já se encontram fatigados pelo trabalho, sugados pelo sistema e em pleno desmoronamento físico além do mental.

A você que aguarda por um concurso público. O nosso lema é: 'PAGUE PARA ENTRAR, REZE PARA SAIR'. Aos que já se encontram desfrutando desse 'néctar' que é ser funcionário da secretaria de educação, nossos parabéns, você é persistente e capaz. Possivelmente, não terá recompensa aqui na terra, mas é certo que já tenha adquirido lugar privilegiado no céu.

(autoria desconhecida)

segunda-feira, agosto 16, 2010

Se houver quando

Não sei quando deixarei minhas palavras neste espaço. Talvez, não sei, às vezes, quem sabe. Amanhã? Só sei que será quando será. Tudo é incerto. Mas será.

Não serei diário. Todo dia, não serei mais. Serei... às vezes e, por muito tempo, silêncio.

Não falta mais...

Tempo. Não queria deixar minhas aulas, mas o meu corpo dá sinais de que ele chegou a um limite. Não sei quando voltarei, se é que voltarei, a única verdade é que o Tempo, esse senhor silencioso, aponta para outra direção, e eu, obediente que sou, sei que ele sempre tem razão.

O Tempo não nos dá escolha porque Ele sabe que nós perdemos Tempo na vida com coisas poucas, por exemplo, quando não entramos em sala para transformar a vida de nosso aluno, expondo a uma turma a mais densa apatia pelo ato (nobre) de lecionar.

Perdemos Tempo quando só sabemos reclamar de alunos, acreditando que eles são incapazes, burros, tolos. Perdemos Tempo quando a palavra do professor não é autoridade para colocar a ordem e a brincadeira.

Mas o Tempo sempre impõe a nós o seu limite de morte, de despedida, de fim, é quando percebemos tarde que dedicamos o nosso Tempo a não exigir de nós o melhor para o nosso semelhante em sala de aula.

Quem foi meu aluno sabe que eu nunca perdi Tempo com eles.

Agoa é Tempo de deixá-los. Fora de sala, sentirei saudade dos dias dedicados ao ato nobre e bricalhão de lecionar. Quando deixo de ser professor, quando sou obrigado a me afastar de minha profissão, vivo menos porque deixo de aprender.

No fundo, minhas aulas sempre foram, primeiro, para mim; sempre foram um meio para eu acreditar na vida, para eu acreditar em meu semelhante, porque, em sala de aula, na condição rígida e alegre de professor de Literatura, descobri desde cedo que a palavra (bem)dita promove a alegria do encontro e a descoberta da reflexão.

Lecionar é precisar do outro e ser querido pelo outro.

sexta-feira, agosto 13, 2010

Quem se enriquece com dinheiro público?

Em 12 de junho de 1998, quando candidatou-se a deputado estadual, Edvaldo Soares Magalhães, do Partido Comunista do Brasil, declarou ao Tribunal Regional Eleitoral do Acre ter um imóvel de R$ 25.000,00 e um Corsa de R$ 12.100,00.

Um declaração de bens, portanto, de R$ 37.100,00.

Em 5 de julho de 2002, recandidata-se a deputado estadual pelo mesmo partido, mas não declara bens à Justiça Eleitoral. "Declaro não possuir bens."

Em 2006, ele apresenta sua declaração de bens, e seu valor chega a R$ 410.428,81. De 1998 a 2006, sua declaração passou por um aumento de R$ 373.328,00.

Em 2010, na condição de candidato a uma vaga confortável no Senado, ele declara R$ 544.391,00.

Em 12 anos de vida pública, o comunista Edvaldo Magalhães saiu de R$ 37.100,00 em 1998 para chegar à quantia de R$ 544.391,00 em 2010.

Como presidente da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), Edvaldo a deixou como uma das mais caras do Brasil conforme números do sítio http://www.transparencia.org.br/. Além disso, a Aleac não é transparente quando o assunto é dinheiro público. O cidadão desconhece quanto se gasta, por exemplo, com verba indenizatória e viagens.

quinta-feira, agosto 12, 2010

Quem se enriquece com dinheiro público?

Em época de eleições, darei uma pequena contribuição a quem acessa este blogue.

O dinheiro público não melhora a vida da população na mesma velocidade em que enriquece homens públicos.

Hoje, para começar, escolhi Sérgio Petecão (PMN), candidato a uma cadeira confortável do Senado.

Em 3 de julho de 1998, Petecão apresenta uma declaração de bens ao Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Acre com o seguinte valor: R$ 140.045,47.

Em 2002, sua declaração expõe R$ 243.169,77, ou seja, em quatro anos, sua riqueza aumentou em R$ 103.124,30 ou R$ 25.781,07 em um ano.

Em 2006, quando se candidata a deputado federal, Petecão declara R$ 392.456,66. Em oito anos, sua declaração de bens teve um aumento de R$ 252.411,19.

Mais informações em http://www.politicosdobrasil.com.br/

quarta-feira, agosto 11, 2010

Isso não é político. Isso não é jornalismo

Confesso que não estou em meus melhores dias para tecer neste blogue meu sarcasmo.

Candidato ao Senado pelo PMDB, João Correia, professor da Universidade Federal do Acre, não economizou esforços para se eternizar no YouTube com seus ideais políticos, e o jornalista Demóstenes Nascimento, da TV 5, realizou, finalmente, a sua entrevista mais inteligente.

Político equilibrado, João Correia foi direto: "Você é um merda de nada, você é um parasita, seu lacaio do governo." O ótimo entrevistador respondeu à altura dos pequenos: "Merda é você." Depois disso, os dois atores da pornochanchada acriana espancaram a nossa puta Democracia.

Em defesa de João Correia, afirmo que ele não é um merda, longe disso. Digo, isso sim, que João Correia não é político. Também afirmo que o entrevistador não é um merda, longe disso. Digo, isso sim, que Demóstenes Nascimento não é jornalista.

João, como toda oposição acriana, lança a palavra para agredir o PT. Demóstenes, como todo subjornalismo acriano, não passa de um menino de recado do governo. Vazios de ideias, de conhecimento e de boa infomação, restou a esses anormais homens públicos o irrisório, o chulo, a pocilga televisiva.

Ambos são dois erros em um lugar errado. Diante de câmeras, os desqualificados aumentaram a audiência da TV 5 com aquilo que o povo aprecia: violência. Não somos afeitos a boas ideias em campanhas políticas. Tanto para se pensar, tanto para se questionar; porém, no lugar das boas ideias, João e Demóstenes brigaram por nada, agrediram-se por nada.

Por estar muito acima dessa merda que esses dois jogaram na audiência, a democracia não precisa deles.

segunda-feira, agosto 09, 2010

Faltam 8 dias

Ouço os passos descalços do tempo, já sinto sua maneira segura de chegar a mim. Tudo nele é inevitável como o fim ou a morte. Longe de eu ser senhor de meu destino, o tempo me dobra e me domina.

Depois, quando a contagem for concluída - faltam oito dias -, não sei quando voltarei, se é que voltarei. Só sei que retorno para cuidar de meus pais. O som do tempo chegou, e ele é triste.

quinta-feira, agosto 05, 2010

Um bom livro











Nesses dias, comprei "Por trás das palavras - manual de etimologia do português", de Mário Eduardo Viaro, editora Globo. (Des)cobrir o que se oculta nas palavras.

A história da palavra "ler" é muito interessante. Repare o que o autor escreve.

"Legere, de raiz leg, também sob a forma apofônica lig, cujo particípio é lectus, de radical lec.t-, transformada em português em l(e)-, lh(e)-, le.ç- ou lei.t-".

Com esse estudo, "ler" encontra-se, portanto, nas palavras "colheita", "colhidos", "encolhesse", "acolhida", "legumes".

Repare. Somente as plantas que tinham grãos em vagens e que, portanto, podiam ser escolhidos eram chamados de "leg-umes".

Sabe o significado de "colega"? "Colega" significa "quem lê junto".

Sabe o que significa "ler"? A palavra tem raízes no mundo rural e quer dizer "escolher". Quem não "lê" é incapaz de escolher.

"Eleger" é "escolher", mas, como há muitos analfabetos entre nós - de cada cinco eleitores, um é analfabeto -, o cidadão não sabe "escolher", ou seja, separar o bom do ruim.

segunda-feira, agosto 02, 2010

Faltam 15 dias

Aos poucos, de forma bem silenciosa, o tempo chega, ele sempre chega para impor a nós a sua verdade absoluta. Nada resiste a ele, nem o Deus dos cristãos. O tempo emerge em nós em forma de ruga, em forma de dor, em forma de morte, mas também brota em forma de amor.

Senhor indomesticável, ele nos devora e devolve a nós a nossa justa insignificãncia. Quem se lembrará de nós daqui a mil anos?

Resta viver. Voltar para casa e rever o tempo em meus pais e em meu irmão. Saber que perdemos preciosos dias quando éramos jovens e, só agora, com as marcas do tempo em nós, cuidar do outro é vital. Compreender. Ser tolerante. O tempo nos educa.

Quero ficar à beira do mar - esse símbolo romântico - para ouvir seu som e esquecer o barulho do mundo.

domingo, agosto 01, 2010

O Acre em revista

Diretor da Faculdade Euclides da Cunha, o professor-doutor Carlos Alberto destinou a mim a publicação da revista Visões Amazônicas, cujo propósito não poderia ser outro a não ser este: pensar o Acre.

No entanto, eis o problema: pensar. Há dois meses, busco nomes da Universidade Federal do Acre, de jornalistas e de pessoas em geral que queiram escrever; porém, mesmo indo à caça de boas cabeças, minha insistência obteve só dois textos: o de Cláudio Ezequiel e o da professora-gestora Osmarina.

Há um vazio de ideias no Acre. Quem poderia fecundar críticas, por exemplo, professores universitários, permanece com suas dissertações de mestrado e com suas teses de doutorado asfixiadas pela falta de leitores. A escrita desses intelectuais, sepultada em bibliotecas, não tem leitores.

Por meio de uma revista muito bem diagramada, onde o texto deve estar a serviço da imagem, penso desenterrar as palavras desses professores das bibliotecas para colocá-las em salões de beleza, em consultórios dentários, em clínicas médicas. Um desses professores, Manoel Severo.

Quem já leu o professor-doutor Severo? Como sua palavra é desconhecida, sou obrigado a ouvir ou a ler, em nossos jornais tão rasos, políticos ou o governo soletrarem "educação pública", e os jornalistas publicam.

Assembleia Legislativa do Acre e Câmara dos Vereadores

Não só professores universitários, mas bons jornalistas inquietos poderiam publicar matérias elaboradíssimas na revista a respeito das atividades da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) e da Câmara dos Vereadores de Rio Branco.

O que essas casas pensam sobre educação pública? Quais debates e propostas seus homens públicos promovem? Não sabemos se essas instituições pensam; sabemos, isso sim, que seus parlamentares se enriquecem rápido.

Para a revista, o repórter deveria publicar a pobreza de ideias dos homens público acrianos, sabendo que eleitores mais pobres de ideia os colocaram lá.

Durante um mês, a revista tentou obter uma entrevista com a deputada estadual Perpétua de Sá (PT), presidente da Comissão de Educação da Aleac, mas ela simplesmente ignorou, seu gabinete permaneceu indiferente.

Ao deputado estadual Edvaldo Magalhães (PC do B), presidente da Aleac, a revista enviou-lhe um requerimento, solicitando todo tipo de informação relacionada à educação pública. O nobre deputado nos deu como resposta a indiferença.

Difícil encontrar quem queira escrever, difícil passar o Acre em revista. Quem quiser ocupar os espaços de Visões Amazônicas, por favor, fale comigo pelo correio eletrônico (lingua.portuguesa@uol.com.br).

sábado, julho 31, 2010

Ao amigo Gleidson

Li o texto que você enviou a mim. Se a secretaria está com a proposta de determinar textos para os professores, eu não quero crer nesta estupidez. Entretanto, se for realidade, é porque os professores de Língua Portuguesa são estúpidos o suficiente para aceitar, ou seja, eles merecem.

Voltarei a escrever sobre isso em outro momento.

quinta-feira, julho 29, 2010

40 graus

Cheguei à UPA do segundo distrito por volta das 23 horas de segunda-feira e atravessei a madrugada de terça-feira. Gostei muito do tratamento.

Com dor no corpo todo e com uma febre de 40 graus, saí da UPA sem a certeza de ser dengue. Na sexta, dia 30, retornarei para saber o que foi.

Do jeito que estou melancólico, sombrio, triste, a febre pode ter sido psicossomática, isto é, conflitos psíquicos transformaram-se em afecções de órgãos, porque, se foi isso, não é a primeira vez que meus sentimentos adoecem meu corpo.

Sinto um vazio no peito, e meu corpo reage com febre. Talvez seja isso, talvez seja dengue.