sábado, julho 31, 2010

Ao amigo Gleidson

Li o texto que você enviou a mim. Se a secretaria está com a proposta de determinar textos para os professores, eu não quero crer nesta estupidez. Entretanto, se for realidade, é porque os professores de Língua Portuguesa são estúpidos o suficiente para aceitar, ou seja, eles merecem.

Voltarei a escrever sobre isso em outro momento.

quinta-feira, julho 29, 2010

40 graus

Cheguei à UPA do segundo distrito por volta das 23 horas de segunda-feira e atravessei a madrugada de terça-feira. Gostei muito do tratamento.

Com dor no corpo todo e com uma febre de 40 graus, saí da UPA sem a certeza de ser dengue. Na sexta, dia 30, retornarei para saber o que foi.

Do jeito que estou melancólico, sombrio, triste, a febre pode ter sido psicossomática, isto é, conflitos psíquicos transformaram-se em afecções de órgãos, porque, se foi isso, não é a primeira vez que meus sentimentos adoecem meu corpo.

Sinto um vazio no peito, e meu corpo reage com febre. Talvez seja isso, talvez seja dengue.

quarta-feira, julho 28, 2010

Cine-Escola: "Tristão e Isolda"

Como meu pai, de 78 anos, irá se submeter a uma cirurgia, viajarei no dia 17 de agosto e, se tudo ocorrer bem após a operação, retornarei depois de um mês; entretanto, se houver algum problema com ele, voltarei após quatro ou sete meses.

Espero estar aqui em 17 de setembro para dar continuidade ao cine-escola, uma ideia da professora-gestora Osmarina. Em 7 de agosto, sábado, às 17 horas, os alunos assistirão ao belo filme Tristão e Isolda, de Kevin Reynolds.

Essa narrativa romântica chegou ao Brasil em 23 de junho de 2006, mas, como nossos alunos não têm hábito de assistir a bons filmes, muitos não apreciaram Tristão e Isolda. Escolhi essa película por causa de seu romantismo - conceito em decadência desde o final do século 20.

Hoje, predomina entre jovens a atração física, não o sentimento. Eu e o professor Guilherme comentaremos o filme, sendo que cada um terá direito a 10 minutos de fala. Os outros 10 minutos serão para os alunos tirarem suas dúvidas.

A Heloísa Mourão Marques fará de seu espaço um encontro para a cultura do cinema. Temos um bom auditório e uma boa tela, por isso precisamos colocar o cinema no currículo, podendo haver um encontro entre as disciplinas de História, de Filosofia e de Literatura por meio do cinema. Alunos não assistirão a bons filme se esses filmes não passarem pela escola.

Que Deus permita eu retornar após um mês, porque, além de mais filmes, realizaremos o nosso evento musical.

domingo, julho 25, 2010

Salvando Vidas

Na foto abaixo, os outros alunos já tinham entrado no ônibus depois de eles assistirem a uma peça de teatro que apresentou a política brasileira de 1961 a 2010, de Jânio Quadros a Lula. Distante de salas desconfortáveis, a história foi prazerosa no teatro.

Por meio desses encontros culturais, alunos se relacionam com o professor de uma forma que me fascina, porque, longe da sala, longe daquele ambiente nocivo ao afeto, a relação torna-se leve, pessoal.


Em 24 de julho, às 19h25, quando o ônibus parou diante da escola, 61 alunos da Heloísa Mourão Marques entraram no veículo não para ir à Expo-Acre mas para ir à Usina de Arte.

No lugar de bois, de vacas e de fezes, a peça teatral 1961-2010, da ZAP 18. No lugar daquele ruído sertanejo, o espetáculo se abriu com a música O Pulso, dos Titãs.

Vejo como anormal ou como bizarra patologia coletiva pessoas passarem por um corredor para contemplar espécime de gado e bosta de animais. O deputado estadual Moisés Diniz, do PC do B, afirmou certa vez que a Expo-Acre é a maior festa popular acriana.

Vergonhoso um deputado neocomunista declarar isso. No entanto, vindo do PC do B, não é nenhuma surpresa, porque esse partido nunca assimilou em sua história o sentido do que seja popular.



Se depender de mim, sempre salvarei a vida de meus alunos da Expo-Acre. Levá-los-ei sempre à autêntica cultura popular: o teatro.


Triste a cidade que tem como "maior festa popular" um lugar onde pobres não podem comprar e andam em círculo à margem do consumo, onde pessoas passam por uma baia para admirar animais de ricos fazendeiros, onde o rico exibe uma identidade que o pobre deseja e inveja.

A isso, autoridades chamam de desenvolvimento. Ainda bem que, por meio do teatro, salvei algumas almas da mediocridade, pelo menos naquela noite.

sexta-feira, julho 23, 2010

Faltam 24 dias

Eu, esta individualidade contorcida, deformada por um grau saudável de anormalidade em sala de aula, leciono há 20 anos, talvez mais, porque, desde minhas 14 ou 15 primaveras, desejei pagar minhas contas com inquietude de lecionar.

Eu leciono para não morrer.

Em sala, quando o cansaço não me domestica, meus alunos percebem em mim a voracidade de lecionar. Minha palavra se rebela, ou seja, nela, pulsa o gesto livre de ler um livro ou de refazer textos. Não admito aula sem vida intensa. Meu palco, a sala.

Mas meu corpo já dá sinais de imperfeição. Um dor aqui. Uma dor ali. Há quase 14 anos na rede pública de ensino, não tirei sequer uma licença-prêmio. Preciso de mim para eu cuidar de mim. Partirei no dia 17 de agosto e, como a vida não é cálculo matemático, isto é, a vida é inexata como as nuvens, não sei quando retornarei.

Meus pais também precisam de mim. A imperfeição deles está bem exposta, muita mais do que a minha.

Já sinto saudade de meus alunos e de meus ex-alunos. Por causa disso, por causa de uma partida e de um retorno "não sei quando", tenho ficado nos corredores conversando com eles. Gosto de ouvi-los. Gosto de ouvir suas vidas.

Prometi a alguns deles que, pela manhã, antes de entrarem em sala, dedicarei poesias a cada. Sentados no banco do pátio, ouvirão Fernando Pessoa, Drummond, Chacal, Cazuza e outros tão desobedientes como a juventude.

No primeiro dia, dei a um deles estes versos de Fernando Pessoa:

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive
.

Um abraço fraterno em seus destinos!







quarta-feira, julho 21, 2010

O Enem da escola HMM

Em 2008, com 53 unidades escolares do estado do Acre, a escola Heloísa Mourão Marques ficou na 4oº posição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Em 2009, com 48 escolas, Heloísa Mourão Marques subiu 22 posições, ou seja, 18º lugar.

sábado, julho 17, 2010

Matar Aula

Um dias desses, quando o tempo estiver cinzento e frio, quando uma aula não tiver nada a dizer e for mais fria, pularemos o muro da escola não por sermos moleques, mas por estarmos cansados daquele professor que não nos alegra com o saber. Negar quem não soube escolher ser professor.

Depois de deixarmos aquela triste sala de aula, não seguiremos os alunos do filme Sociedade dos Poetas Mortos. No lugar da caverna, uma praça com um campo de futebol. Jogaremos bola, cultivaremos a amizade.

Não serei professor; serei alguém com quem se brinca em um dia frio. Matem aulas, não sempre, às vezes, eu mesmo matei algumas, porque mereciam morrer ou aulas me matariam antes de tédio, de vazio. Só não matem a vida jovem que pulsa em vocês.

A teus olhos, entrego-lhes esta estrofe de Lamartine, poeta romântico.

Tempo! suspende o voo; em tantas alegrias,
Parai, horas propícias!
E dexai-nos gozar de nossos belos dias
As rápidas delícias!

sexta-feira, julho 16, 2010

Cine-HMM

Quando o professor deseja outra trilha, os alunos gostam. Começamos a possibilitar o bom cinema na escola, é o Cine-HMM. A primeira sessão está marcada para 7 de agosto, das 17h às 19h, com direito à pipoca e ao refrigerante.

Primeiro filme, ei-lo: Tristão e Isolda.

Tudo organizado para a venda de bilheteria antecipada, além da propaganda, da decoração. Voltarei a escrever sobre isso.

terça-feira, julho 13, 2010

Tua liberdade

Não vejo outro sentido da liberdade do que este: proporcionar bons encontros, por exemplo, com tua boca, com teu olhos, com teus seios, com teu ventre. Não concebo a palavra liberdade como forma sonora para criar o mal, isto é, para destruir o outro ou as coisas.

Hoje, após a traição de tua mãe, a indiferença de teu pai e a rejeição de tuas irmãs, restou tua sombra, mas saiba que, ao meio-dia, nem a sombra fará companhia a ti. Tu estás com teu nome. Aprenda a viver com teu nome após sua recusa de ser submissa à imagem sagrada e covarde da família embora nunca deixe de amá-la no fluxo intenso das contradições.













Teu corpo pertence a tua palavra, ninguém fala por ti agora. É hora de saber o que diz, de ouvir tuas fraquezas com ajuda de teus medos. Estás livre, ou seja, alegra-te, tu estás sozinha para fecundar encontros, derrotas, tentativas, recomeços, novas derrotas, sorrisos.

Livre para ter a certeza de que até a morte agora é só tua. Não é mais mãe e irmãs que dizem quem és, que a culpa é tua, porque, agora, tu estás livre para saber com sabor quem és. Mate o deus de tua família e recrie Um que está muito além da Bíblia mal lida e nem lida que tua família cultiva no jardim cínico da injustiça.

Se mãe e irmãs inventaram um deus para te crucificar, mate-o com a tua liberdade e assuma o milagre maior que o Criador, acima da religiões, guardou para teu destino: teu nome.

Assuma teu nome para alegrar a vida de quem te tocar.

sábado, julho 10, 2010

Gramática

Neste sábado, às 8h15, comecei a lecionar Redação para alunos do terceiro ano B.

Abri a aula com o DVD da banda Capital Inicial, a música foi Primeiros Erros. Escolhi essa letra por causa do termo "onde".

A maioria dos alunos não sabe empregar "onde", por isso Primeiros Erros.

Foram 35 questões. Aqui, deixo estes exemplos:

1. Esta é a sala onde estamos.
Se estamos, estamos "em algum lugar" (onde).

2. Este é o estádio aonde fui ontem.
Se fui, fui "a algum lugar" (aonde).

3. Não concordo com a ideia em que a teoria se baseia.
Se a teria se baseia, ela se baseia "na ideia"; mas, como "ideia" não é "lugar", não se usa "onde" mas "em que" ou "na qual".

sexta-feira, julho 09, 2010

O Milagre da Carne

Em um mundo onde ser vulgar é a regra até em igrejas, a poesia salva a palavra Corpo. Há dias, engravidei-me de poesia e, horas suadas depois, meus dedos pariram palavras que abençoam minha Carne e minha Alma. Ei-las:

Milagre

Em igrejas à espera de milagres,

eu, à margem do corpo de Cristo,
entre o fim da tarde e a chuva fina,

ajoelho-me e, por teu nome, rezo a finco.

Que teu corpo nu - sem espinho, sem prego e cruz -
traga, como novo messias, à minha esperançosa carne,
o milagre de tua luz:

chama, despido corpo, me chama, e eu, safado santo,
subo ao sagrado altar, tua cama, para ser pecador feliz.

Sinto pena das igrejas, sinto tanto.

Para teus fiéis, me eternizo surdo, e tua língua nem falo.
Mas, em tua boca litúrgica, batizo-me com tua saliva.

Teu gozo, abençoada prece. Teu corpo, como não amá-lo?

E, sem crer no pão e no vinho, molho minha semente em tua fissura para germinar vida.
Entre tuas pernas, minha reza, meu clímax: Deus, eis a oferta!!!

Olhe no meu olho, Amada, olhe, veja-nos e sinta!!!

domingo, julho 04, 2010

O filme "Educação"













Pouco mais de quatro meses depois, Educação, da dinamarquesa Lone Scherfig, encontra-se na locadora Tenny Vídeo, em Rio Branco. Sem apresentar uma narrativa surpreendente, o filme é morno; porém, mesmo assim, não se trata de uma película ruim.

Mais do que a relação entre uma adolescente culta de 16 anos e um homem sedutor de 40, o filme é um conflito entre a liberdade e a tradição escolar. Ponte para a estudante Janny chegar a Oxford, a escola é inútil diante da cultura que David oferece à jovem; entretanto, ainda sim, no final, prevalece a tradição da escola inglesa.

Após uma decepção, Janny se salva não por causa da liberdade, mas por causa da tradição que impõe o saber clássico. A ordem garante à estudante Janny a verdadeira liberdade.

sábado, julho 03, 2010

Ouvir e dançar na escola

"Por favor não exclua do repertório Nando Reis, Cássia Eller, Vange Leonel, Edson Cordeiro, Zélia Duncan, Ney Matogrosso e Zeca Baleiro. Gostei de sua idéia, aliás gosto de tudo que você expressa no seu sítio, custa crer que você é real e está acessível, mora bem aqui, no Acre! Incentive-os principalmente a serem tolerantes com tudo e todos sem rotular ninguém dentro de um gênero musical ou comportamental. Abraços."

Nielsen O. M. Braga, obrigado por sua palavras. Não sei se uma festa com boa música em uma escola pública dará certo, porém tentarei com meus alunos. Por que realizar isso?

Não sei se você conhece a escola José Ribamar Batista, localizada no bairro Aeroporto Velho; mas, se conhece, você sabe que não pulsa vida cultural ao redor da escola. Perto do Ginásio Coberto, existe um pálido lugar de lazer. Fora isso, bairros como o Aeroporto Velho, não passam de dormitórios, isto é, casa-trabalho-casa.

Além de igrejas e de bares, cultua-se televisão. Não há teatro, não há cinema. À Usina de Arte João Donato, quem não tem carro não vai. Diante disso, a escola, à noite, é vazia, é um espaço público inutilizado, a não ser quando um pastor ocupa-o para pregar uma enfadonha fé.

O governo petista, nestes 12 anos, nunca cogitou transformar a escola em espaço cultural, ou seja, um espaço para o cinema e para a boa música. Quando construiu auditórios nas escolas, a Secretaria Estadual de Educação teve a inteligência de não construir um lugar também para alunos assistirem a bons filmes.

A escola poderia ser um confortável lugar para projetar a cultura do cinema para os alunos.

Como eu não espero o messias para me salvar e nem o PT para fazer revolução educacional, eu e meus alunos ouviremos músicas de 1960, de 1970, de 1980 e de 1990, como Roling Stones, AC&DC, Capital Inicial, O Rappa, Marisa Monte, Cássia Eller e tantos outros, para a escola ter outra função social.

Em bairros distantes do cinema, do teatro, por exemplo, a escola deveria promover cultura. Não sei se dará certo, mas eu e os alunos tentaremos nos dar o que a inteligência petista de governar não pensa.

O futebol de um anão












Sempre achei Dunga do tamanho de anão. Como jogador, se comparado a outros de sua posição, sua bola foi pequena. Dunga representa a negação do futebol-arte, uma imagem de futebol que o mestre Telê Santana soube projetar em seus jogadores de 1982.

Telê não ganhou o título de campeão do mundo, mas seu futebol gingado e individualizado renasceu em 2002 com Felipão. Dunga só foi técnico para ser esquecido tal como Lazaroni em 1990.

Alemães agora fazem adversários sambarem, que ironia!

quinta-feira, julho 01, 2010

Vamos fazer festa

Não gosto da engrenagem escolar. Os seus hábitos me incomodam. O ato de entrar e de sair como se fosse uma procissão desacralizada me perturba.

Alunos sentem que não sou mecânico em sala, previsível, monótono. Quando o cansaço não me domina, teatralizo a aula. Mais do que professor, ator. Meu plano de curso, uma peça.

A escola anula o afeto. O filme O Sorriso de Mona Lisa expõe muito esse afeto por meio da professora. Outra película, Sociedade dos Poetas Mortos. Nesses, o afeto é visível.

Pensando nisso, eu e meus alunos criaremos uma festa com boa música das décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990. Realizar uma boa festa na escola HMM. Se conseguirem algo muito organizado, uma festa sem problema, receberão ponto extra e ainda criaremos outra no final de ano.

Não serei o mesmo professor, melhor, nem serei professor porque estarei em uma festa com músicas que irão dos Beatles a Skank. Quero O Rappa no lugar da gramática. A escola deveria promover encontros musicais.

A escola deveria ser referência para outras relações humanas. No HMM, por exemplo, a direção promove cicleata, festa junina, projetos sociais. Agora, uma festa com boas músicas.