sábado, dezembro 17, 2011

Quando o Natal chegar...

deixe-me permanecer em paz sobre o que o orgasmo deixa em nós:

o descompromisso das horas

a largura das almas

a ausência das faltas

a calma das pálpebras

a sonolência heroica


tudo,

tudo após a tua tempestuosa carne
ter varrido de minha pele e de meus olhos

o que é pouco

o que é reles,

deixando apenas em desordem
a rigidez de meus ossos.

Deixe-me permanecer em paz sobre o que o orgasmo deixa em nós:

este silêncio denso de suor
nos corpos.

Um pedido ao secretário Zen

Secretário, por favor, permita que a semestralidade retorne à Literatura e à Língua Portuguesa.

Eu leciono Língua Portuguesa (gramática e redação) e Literatura(leitura de dois romances e poesia). Na primeira semana, o aluno estuda redação; na segunda, gramática; na terceira, poesia; e, na quarta semana, leitura em sala.

Sem a semestralidade, eu leciono para quatro turmas do 2º ano, ou seja, eu corrijo muitas redações. Se fossem duas turmas - o que a semestralidade permite -, eu lecionaria para duas, o que significa  mais tempo dedicado a correções de texto, porque são menos textos corrigidos. Com menos turmas, cansa-se menos e eu me dedico mais a correções textuais.

Secretário, quem trabalha com refacção textual, segundo os parâmetros, desgasta-se demais em sala de aula, o trabalho fica prejudicado. Quando havia a semestralidade, havia mais qualidade de ensino.

Quem pede é um profissional que leva a educação muito a sério.

O rosto de Gregório

Ontem, pensei que fosse a última postagem do ano; porém, quando abro meu correio eletrônico, vejo o rosto de Grégorio. Nunca o vi. Jamais sentamos para conversar sobre a vida - Gregório só existe para mim em forma de palavra, e eu também, dessa forma, para ele.

Assim ele deixou uma parte de seu rosto:
"Bom descanso, nobre professor. Que venha 2012, e que possamos melhorar cada vez mais, tanto a nós mesmos quanto a nossa volta. Que a educação seja arejada com novos ares de vida, de cores, de sentidos, de sentimentos, de arte... Não podemos desistir: se não fizermos um bom trabalho nós mesmos pagaremos por isso - como já pagamos pelo descaso que nos foi legado. Desejo boas festas, um bom reencontro com a família e amigos - toda criança adora esse período do ano, não só porque estão livres da escola, mas porque podem conviver mais com os pais, com os parentes e amigos; podem brincar mais, rir mais... É, elas estão certas. Então, muita coisa de criança para todos nós! Muita bagunça, diversão, prazer, preguiça, desfrute, contemplação, e principalmente, muita família. Abraços e até breve."

Gregório, na escola onde leciono, não acredito, como você escreve, em "novos ares de vida"; não creio não por causa dos meus colegas de profissão, mas por causa da didática política de homens públicos.

Como sabemos, filho de político não estuda conforme o dinheiro público escolar. A escola Heloísa Mourão Marques continuará a ser em 2012 um espaço desagradável: sala desconfortável, ruídos correndo por corredores, imagem de um lugar incomunicável com a arte, com a estética tecnológica, com o aprazível e com a ordem afetiva. Não tenho ilusões - na escola, o Ano-Novo nunca chega.

No entanto, após mais de 20 anos lecionando, minha palavra ainda permanece muito viva em sala para meu semelhante. Se há alguma transformação em sala, ela depende de mim, de minha paixão por lecionar.

Colocarei alunos no formato do círculo, essa forma geométrica mais perfeita; também por causa do calor, ficarei menos em sala de aula; duas vezes por semana haverá teste escrito; retornarei com as gincanas; lerei um ótimo romance como os bons pastores leem a Bíblia; selecionarei bons textos relacionados à questão homoafetiva; quando passar um bom filme no shopping, irei com os alunos e colocá-lo-ei na avaliação; irei propor a uma colega de trabalho uma nova atividade no dia dos namorados.  

Antes de retornar às aulas, estarei com o calendário de conteúdo  pronto, ou seja, trabalharei um pouco "em meu descanso". Lerei um livro nas férias.

Gregório, um abraço fraterno em teu destino.