sábado, dezembro 17, 2011

Quando o Natal chegar...

deixe-me permanecer em paz sobre o que o orgasmo deixa em nós:

o descompromisso das horas

a largura das almas

a ausência das faltas

a calma das pálpebras

a sonolência heroica


tudo,

tudo após a tua tempestuosa carne
ter varrido de minha pele e de meus olhos

o que é pouco

o que é reles,

deixando apenas em desordem
a rigidez de meus ossos.

Deixe-me permanecer em paz sobre o que o orgasmo deixa em nós:

este silêncio denso de suor
nos corpos.

Um pedido ao secretário Zen

Secretário, por favor, permita que a semestralidade retorne à Literatura e à Língua Portuguesa.

Eu leciono Língua Portuguesa (gramática e redação) e Literatura(leitura de dois romances e poesia). Na primeira semana, o aluno estuda redação; na segunda, gramática; na terceira, poesia; e, na quarta semana, leitura em sala.

Sem a semestralidade, eu leciono para quatro turmas do 2º ano, ou seja, eu corrijo muitas redações. Se fossem duas turmas - o que a semestralidade permite -, eu lecionaria para duas, o que significa  mais tempo dedicado a correções de texto, porque são menos textos corrigidos. Com menos turmas, cansa-se menos e eu me dedico mais a correções textuais.

Secretário, quem trabalha com refacção textual, segundo os parâmetros, desgasta-se demais em sala de aula, o trabalho fica prejudicado. Quando havia a semestralidade, havia mais qualidade de ensino.

Quem pede é um profissional que leva a educação muito a sério.

O rosto de Gregório

Ontem, pensei que fosse a última postagem do ano; porém, quando abro meu correio eletrônico, vejo o rosto de Grégorio. Nunca o vi. Jamais sentamos para conversar sobre a vida - Gregório só existe para mim em forma de palavra, e eu também, dessa forma, para ele.

Assim ele deixou uma parte de seu rosto:
"Bom descanso, nobre professor. Que venha 2012, e que possamos melhorar cada vez mais, tanto a nós mesmos quanto a nossa volta. Que a educação seja arejada com novos ares de vida, de cores, de sentidos, de sentimentos, de arte... Não podemos desistir: se não fizermos um bom trabalho nós mesmos pagaremos por isso - como já pagamos pelo descaso que nos foi legado. Desejo boas festas, um bom reencontro com a família e amigos - toda criança adora esse período do ano, não só porque estão livres da escola, mas porque podem conviver mais com os pais, com os parentes e amigos; podem brincar mais, rir mais... É, elas estão certas. Então, muita coisa de criança para todos nós! Muita bagunça, diversão, prazer, preguiça, desfrute, contemplação, e principalmente, muita família. Abraços e até breve."

Gregório, na escola onde leciono, não acredito, como você escreve, em "novos ares de vida"; não creio não por causa dos meus colegas de profissão, mas por causa da didática política de homens públicos.

Como sabemos, filho de político não estuda conforme o dinheiro público escolar. A escola Heloísa Mourão Marques continuará a ser em 2012 um espaço desagradável: sala desconfortável, ruídos correndo por corredores, imagem de um lugar incomunicável com a arte, com a estética tecnológica, com o aprazível e com a ordem afetiva. Não tenho ilusões - na escola, o Ano-Novo nunca chega.

No entanto, após mais de 20 anos lecionando, minha palavra ainda permanece muito viva em sala para meu semelhante. Se há alguma transformação em sala, ela depende de mim, de minha paixão por lecionar.

Colocarei alunos no formato do círculo, essa forma geométrica mais perfeita; também por causa do calor, ficarei menos em sala de aula; duas vezes por semana haverá teste escrito; retornarei com as gincanas; lerei um ótimo romance como os bons pastores leem a Bíblia; selecionarei bons textos relacionados à questão homoafetiva; quando passar um bom filme no shopping, irei com os alunos e colocá-lo-ei na avaliação; irei propor a uma colega de trabalho uma nova atividade no dia dos namorados.  

Antes de retornar às aulas, estarei com o calendário de conteúdo  pronto, ou seja, trabalharei um pouco "em meu descanso". Lerei um livro nas férias.

Gregório, um abraço fraterno em teu destino.


sexta-feira, dezembro 16, 2011

Até 30 de janeiro

Neste ano, não tenho mais nada a dizer. Depois de 1º de janeiro, escreverei nem sempre, às vezes.

Foto aqui, outra foto ali; algo que li nos jornais O Globo, Folha de São Paulo, O Dia.

Já vou! Chega de mim! Chega de palavras vãs!  
 

quinta-feira, dezembro 15, 2011

Ao colega Gleyson Moura



Gleyson, sei que não dei continuidade ao seu projeto e muito menos preparei a poesia para teus alunos. No entanto, como dei a minha palavra, falarei de literatura em tua escola em 2012. Irei procurá-lo.

Quanto a tua postagem referindo-se ao meu texto sobre o Acre, digo-lhe que o blogue é um espaço menor para pensar algo tão importante.

Agradeço não por causa do teu elogio, mas por causa de teu respeito. Gosto mesmo quando se opõem a mim com elegância, porque a gente aprende.

Nesses meus 20 anos de Acre, confesso a ti, um acriano, que a realidade social local me fascina, provoca-me a refletir sobre o que somos, sobre as mentiras do que somos, sobre as vergonhas do que somos.

Evidente que não há uma identidade absoluta, unitária; existem identidades. O Acre é um retalho de formas e de cores. Existem muitos Acres dentro do Acre.

De um pensamento, Gleyson, tenho certeza: o acriano de certas classes sociais não sabe falar do Acre porque nasceu no Pará, em Brasília.       

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Só há um problema com o cinema do Acre

Se formos falar de sala de cinema, ela chegou ao Acre em 2011, não devendo nada às salas do Rio de Janeiro.

Só há um problema: está prevalecendo o filme comercial.

"O Palhaço", de Selton Mello, estava em cartaz e logo sumiu. Em Rondônia, ele continua.

A belíssima película de Almódovar, "A pele que habito", nem roçou por aqui.

Se prevalecer o filme comercial, filme só como entretenimento, a sala ficará pequena para tanta futilidade visual.

O Acre não existe e, se existe, é o fim do mundo

Depois de a jovem afirmar que o Acre não existe e da matéria jocosa do G1 sobre o shopping acriano, deixo aqui meus retalhos.

Resido aqui há quase 21 anos, porque aqui, depois da Frente Popular, a vida ficou melhor. Tenho uma filha rio-branquense, ela queria ser carioca.


Por que ser carioca? "Porque aqui não tem nada, pai", respondeu a inocente. Mas o que significa não ter nada? Na época, ela disse que no Acre não havia nem 
shopping. Haver esse templo profano de consumo representa para ela retirar o Acre do nada.


Na escola, certa vez, um aluno me disse que não compreendia como eu, vindo do Rio de Janeiro, permanecia no Acre. Para ele, o Acre não era desenvolvido porque não havia shopping na época. Hoje, com shopping, o Acre já é desenvolvido. 


Esse, portanto, um primeiro ponto: o shopping.
E o segundo?

Nesses anos, uma classe social, representada por pessoas cujos nomes não posso revelar, sempre negou a sua origem. Passando dias no Rio de Janeiro, um acriano diz: "Sou de Brasília". Em São Paulo, afirma: "Sou do Pará".


Ouvi muitas histórias de acrianos que, passando pela "Cidade Maravilhosa" ou estudando em São Paulo, negavam suas origens.

Ora, não precisa alguém de o Rio Grande do Sul dizer por meio da internete que o Acre não existe, porque, para muitos acrianos da classe média, média-alta ou alta, o Acre não existe: "Sou de Brasília", "Sou do Pará".

Muitos acrianos dessas classes sociais têm vergonha de ser acriano. Mas por que a vergonha?     



Não educo minha filha para ser carioca; educo-a para ser acriana. Mas o que é ser acriano? Em um blogue, não cabe a resposta. É preciso um artigo, uma dissertação ou uma tese; é preciso uma ideia escrita com o olhar de estrangeiro.


Mas, a ela, eu digo oralmente; eu a educo oralmente. No entanto,  não sei se ela ficará convencida de ser acriana ao longo dos anos, o que lamento.


Esse, portanto, o segundo ponto: trair sua própria origem.


Não existe em nossa bibliografia um trabalho escrito e profundo sobre nossas vergonhas, sobre nossos rostos, sobre nossas identidades. Ainda existe um vácuo sobre nós, acrianos.


No Rio de Janeiro, talvez um primo babaca de minha filha ria dela por ela ser acriana, essa terra que não existe para ele e para o pai dele.


Minha filha, se responder à altura do cupuaçu, do açaí ou do suco de maracujá com pó de guaraná, não dirá que na terra dela tem viaduto,  tem Expo-Acre, tem shopping, tem estádio de futebol, porque não serão construções que irão diferenciá-la do primo do Rio de Janeiro.


Para se defender, para não ser motivo de riso, Lara precisa de conhecimento, de cultura, de educação, de livros e de percepção apurada da vida. 


O Acre só existe segundo a tua palavra, a tua defesa e, se ele, o Acre, é o final do mundo para alguns, diga-lhe, filha, que é o final, por isso estamos tão longe do "desenvolvimento" do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde a miséria dessas metrópoles não se compara à  simplicidade de quem é pobre em Feijó, em Tarauacá.


Lecionei em Feijó durante duas semanas em 1994 e, nesses dias, conversando em uma praça, um homem me disse que não retornou ao Ceará porque em Feijó ele nunca passou fome.


Até hoje e durante muitos anos, em Feijó não haverá shopping. Mas não passar fome, convenhamos, minha filha, é muito mais humano. Sim, aqui é, graças a Deus, o fim do mundo.


E deixe São Paulo ser o começo com seus engarrafamentos de 100 quilômetros à margem de um rio que é só esgoto a céu aberto.


Prefiro o rio Moa.

sexta-feira, dezembro 09, 2011

Deveria haver mais arte nos muros da cidade


Na rua Pernambuco, esquina com Nações Unidas, no muro da escola Neutel Maia, encontramos o passado acriano por meio dos olhos de Dalmir.

Primeiro, o óbvio: a floresta não é verde. Mais: não há beleza nela. Nenhum apelo ufanista.

E poderia haver beleza onde predomina a exploração? Poderia haver beleza quando o seringueiro pagava para ser escravo?

Em fileira, seringueiros caminham ao batelão. No lugar das cabeças, eles carregam a riqueza do seringalista, as pelas. Suas cabeças são bolas de borracha.

Homens submetidos à solidão. A imagem é sombria; e o trabalho, fúnebre. Eles não percebem, mas tudo é morte.


A forma como Dalmir olha o Acre me fascina, ele deveria estar por toda Rio Branco.

Que belo artista!

quarta-feira, dezembro 07, 2011

"Ser ou não ser, eis a tesão"


Uma das boas amizades que o destino ofertou a mim no Acre, ele: figura profana: Guilherme Cunha. Amante de "Assim falou Zaratustra", trata-se de um profano no sentido de "falar fora do templo sagrado".


Atrás, de propósito, só Jesus salva, por isso nem uso mais pen drive.

Dia
No dia 9 de dezembro de 2011, sexta, às 19 horas, o professor Guilherme Cunha lançará suas palavras “Ser ou não ser, eis a tesão”, livro repleto de aforismos, repleto de pensamento livre e dançante.  


Local

Suas palavras serão servidas no banquete da Cozinharte (antiga Bolota), onde os comensais leitores se lambuzarão com ideias profanas.

Ele espera que o leitor goze de ler.

terça-feira, dezembro 06, 2011

Eleição da escola HMM


Em nome da unidade da escola Heloísa Mourão Marques, as professoras Osmarina e Ozélia retiraram seus nomes da disputa eleitoral. O professor Valdir representa a escola HMM, sem divisão interna.

Penso que, no futuro, a ideia da prévia deve ser mantida na escola e quem perder deve retirar a candidatura. Com isso, cria-se a ideia de apoiar um colega de trabalho da escola antes do resultado final da eleição. Dessa forma, a escola sai fortalecida em nome não do corporativismo, mas em nome de um grupo comprometido com o ensino público. Apoiar um colega não pode ser motivo de vantagens pessoais na escola.

Hoje, o debate na escola foi muito organizado. Conforme a regra, não se admitiu ataque a qualquer pessoa, inclusive, à pessoa da professora-gestora Osmarina. Caso ocorresse, o agressor verbal sairia da mesa. Só a presença da Polícia Militar inibiu excessos. Não foi um debate com grandes ideias, mas pelo menos a organização foi impecável. Não houve tumulto.

Calamos a boca do professor Jorge Braum, que, um dia antes, diante de mim, disse que a escola era uma bagunça. Sua presença, indesejada por muitos, só esteve na escola para falar mal da professora Osmarina. Se seu candidato vencer, muitos professores sairão da escola, mas a possibilidade de vencer é mínima, quase zero.

Com a vitória do prof. Valdir - torço por isso -, que boas ideias sejam colocadas, que favorecimentos pessoais não existam e que o desejo de trabalhar sempre mais e melhor transforme a vida de nossos alunos.

Um dos sentidos da vida é melhorar a vida de nosso semelhante, no caso, por meio da educação.

segunda-feira, dezembro 05, 2011

Entre os tomates e os ovos da democracia escolar


Quem está na linha de frente da educação sabe o quanto é muito difícil edificar a ordem e a disciplina para obter qualidade de ensino em uma escola pública.

Na escola HMM, esse processo iniciou-se há quatro anos: a vitória da professora Osmarina melhorou as condições de trabalho. Entretanto, uma maioria de professores rejeitou seu nome conforme uma prévia eleitoral. Colocar uma escola pública para trabalhar cria antipatias.

Hoje, vivemos uma situação absurda na "democracia escolar", algo insólito, porque as razões que levam funcionários a votar relacionam-se ao religioso, ou seja, se o candidato é evangélico, ele receberá votos. A condição, portanto, se reduz à "irmandade da fé" ou a um deus [pessoal] que deve guiar a escola.

Políticos e sindicalistas são os únicos responsáveis por essa "democracia escolar". Por causa deles, a escola transformou-se em feira, em tumulto, em espaço doente para o bom debate de ideias.

Na HMM, candidato entra em sala para só falar mal da gestora Osmarina, com o único propósito de desmoralizar quem, na verdade, nunca desmoralizou a escola, muito pelo contrário.

Eu me envolvo porque, em minhas veias, não corre o sangue da indiferença. Onde eu leciono, dedico-me para que a escola seja sempre melhor, primeiro, para os alunos. No entanto, não é essa "democracia" que eu queria ver.

Penso que deveria haver eleição para candidato qualificar o ensino, ou seja, o coordenador deveria ser eleito para somente imprimir na escola ordem, disciplina, qualidade. Como se trata de uma função técnica, a eleição também deveria ter caráter técnico: professores votam em professores.

Para ser candidato a coordenador, critérios profissionais e pessoais. Para administrar a escola, um administrador concursado e formado em administração.


Enquanto isso não ocorre, evangélicos não votam em kardecista, alunos votam no professor simpático e professores são protagonistas de uma feira em que tomates e ovos são jogados contra os colegas de trabalho.      

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Osmarina não é mais candidata




Houve este acordo entre os professores e a direção da escola HMM: quem perder na prévia apoia quem vence. A gestora Osmarina Catarina Montrezol perdeu, não é mais candidata. Sua palavra, portanto, cumprida.

Quando os funcionários souberam do resultado da prévia, alguns riram de Osmarina. Como rir de alguém não deveria fazer parte da "democracia escolar", a atual gestora tomará conta da família dela ou será convidada a trabalhar na Secretaria de Educação.

Parte do acordo realizado, os professores da escola HMM deverão cumprir a outra parte, qual seja, apoiar o prof. Valdir em nome da unidade numérica da escola. 

A hora e a vez do prof. Valdir

Se vencer a eleição, o desafio do prof. Valdir é ser melhor do que a gestão passada, corrigindo erros de sua antecessora, mantendo o que deu certo e realizar o que não foi realizado.


Embora eu vote nele, isso não significa isentá-lo de críticas neste blogue. Se houver "desgoverno" na escola, não permanecerei indiferente a quem deve imprimir qualidade de ensino, ordem e disciplina.

A unidade escolar foi mantida, ou seja, a escola possui um único nome agora. Evitou-se a divisão interna. Nada mais justo do que votar em quem trabalha conosco todo dia. 

Boas palavras

Gregório Dantas Mendes deixou um novo comentário sobre a sua postagem "A um anônimo": 

"Com a abertura democrática achou-se que liberdade era fazer tudo o que se tivesse em mente. Principalmente na escola, alguns gurus da pedagogia inverteram, corromperam, o sentido de liberdade. Liberdade é uma conquista do ser, um ser que respeita as liberdades porque ama a sua. A liberdade não é desregrada, não é desrespeito, desordem. Salve os que lutam pela liberdade e que sabem que a ordem é seu alicerce."

Gregório, o Sinteac é um dos responsáveis por esse modelo de democracia escolar. Quem o vive na escola sabe o quanto ela, a democracia, é nociva ao mérito, ao bom senso e à qualidade de ensino.

quinta-feira, dezembro 01, 2011

Resultado da prévia e outras falas


Hoje, no final da tarde, dois funcionários e dois professores contaram os votos da prévia eleitoral da escola Heloísa Mourão Marques:

1) Prof. Valdir obteve 14 votos dos professores e 11 dos funcionários;

2) Profª Osmarina obteve 12 votos dos professores e 9 dos funcionário; e

3) Profª Maria Célia não obteve voto dos professores e obteve 1 dos funcionários.


Muitas vezes, eu disse à professora-gestora Osmarina submeter sua direção a uma pesquisa anual a fim de saber o que a escola pensava sobre sua administração. Em vão.


Durante quatro anos, a escola HMM se transformou; porém, segundo essa prévia, uma maioria rejeitou essa transformação. Muitos funcionários rejeitam o nome Osmarina, mas rejeitam no silêncio do voto e não no campo aberto das ideias.

Eu penso que, em nossa escola, prevalece não o debate caloroso de ideias, mas a simpatia ou a antipatia por alguém dizer de uma forma e não de outra. Não só isso. Funcionário público precisa ser agradado. Osmarina desagrada.
          
Prefiro uma gestora antipática e verdadeira a uma gestora sorridente e cínica.

Com esse resultado, penso que Osmarina não irá retirar sua candidatura, como outros também não retirariam se o resultado fosse outro.

A escola, infelizmente, está repartida por interesses que não são claros para qualificar o ensino. Não queria que fosse assim. Não queria. Penso que alguém deveria recuar, deixar para depois o seu desejo de ser gestor, porque existe idade para isso. Não será, entretanto, assim: o espaço "confortável" de poder seduz.

Sendo assim, diante de uma conta que nos divide, que divide a escola, não sei me subtrair e não sei ser calculista. A frieza pertence aos cadáveres.

Não vivo à busca de pessoas simpáticas. Não busco pessoas com palavrinhas mansas e agradáveis a todos. Busco quem diz no olho o que eu às vezes não quero ouvir. Busco a antipática que nunca perseguiu quem trabalha e que peita quem é vagabundo na escola. Busco quem não tem duas caras. Busco quem trilhou um longo caminho para ser gestora. Busco a firmeza de um caráter embora  tenha sido chamada de grosseira tantas vezes. Busco a inteligência  de quem pensou, primeiro, na escola e, depois, na escola.

Se é para dividir a escola, não me separo de Osmarina.

quarta-feira, novembro 30, 2011

A um anônimo

Um anônimo escreveu: "Professor Aldo, por que tu não se candidatou pra ser o Diretor do HMM? Queria vê como que ficariamos com os uniformes do tempo da Ditadura Militar! (rsrs). Abraços!"
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Antes de você questionar a minha compreensão de ordem escolar, coloque, primeiro, suas palavras conforme a ordem gramatical.


Mas como eu sei que vc não colocará na devida ordem, digo-lhe o seguinte: se não houver ordem, não há qualidade de ensino. E ditadura militar não tem nada a ver com ordem; tem a ver com opressão.

Ordem não significa impor ou mandar; ordem significa, por exemplo, acolher a escola como autoridade responsável pela educação.

Se não houver essa ordem, se cada um faz o que quer em uma escola pública, a Polícia Militar pode ser chamada para impor a sua ordem. Se a escola não tem a ordem para educar, a Polícia Militar tem a ordem para impor limites.

terça-feira, novembro 29, 2011

Eleição na escola HMM

Em uma das últimas reuniões dos professores, aprovou-se que haveria uma prévia eleitoral na escola. Assim, quem perdesse sairia da disputa para apoiar o candidato vencedor da prévia.

Como ocorreu na última eleição, a prévia foi uma forma encontrada para não fazer da "democracia escolar" um momento deselegante de interesses pessoais. Evitam-se os desgastes da ofensas, os planos pessoais, as vaidades por um micropoder.

A prévia antecipa o resultado da eleição. Se antecipa, podemos evitar divisões internas na escola, podemos evitar que a escola se transforme em uma feira.

Com antecipação, o corpo docente deve preservar a escola pública em torno de um nome legitimado pelos professores, pelos funcionários e pelos alunos por meio, repito, da prévia.

Na quinta-feira, haverá a prévia da manhã e da tarde. Quem vencer permanece e quem perder retira o nome. Houve um acordo entre os professores, que ele, pois, seja mantido.

Caso contrário...





 

sexta-feira, novembro 11, 2011

Mais verba significa mais qualidade?



Aldo Nascimento 
Economista, Gustavo Ioschpe é um dos bons nomes que pensam a educação brasileira. Neste mês, dia 12, ele
escreveu o seguinte título na revista Veja: “O rombo da educação é o cabide de empregos de 46 bilhões de reais”.

Esse artigo inteligente de Ioschpe se opõe à visão míope e à mente obtusa de alguns políticos que defendem mais recursos para as escolas públicas porque, para eles, a qualidade de ensino resulta do volume maior de verba. Afirmar que mais recurso para a educação pública qualifica o ensino, por exemplo, o de Literatura-Língua Portuguesa, nunca foi cálculo exato, correto.  

Eles, por outro lado, jamais falam do excesso de funcionário na rede pública de ensino. Em países desenvolvidos, há 706 mil funcionários públicos na educação. No Brasil, são 2,4 milhões. Nessas nações, há um funcionário para cada dois professores. Nesta terra, mãe gentil, a relação é maior quase três vezes e meia. 

Com esses números, o contribuinte sustenta 1,7 milhão de pessoas excedentes no sistema educacional, gastando 46 bilhões de reais (1,3% do PIB) a cada 365 dias. “Ambos os dados estão disponíveis no
Education at a Glance, e o cálculo completo está disponível em meu Twitter”, indica o economista em seu artigo.

E se não houvesse esse excedente na educação? Bem, se não existisse, a remuneração dos professores aumentaria 73%, isto é, passaria para uma média de R$ 3,906 mil mensais.

Com esse salário, o ensino seria melhor? Não, porque o constante aumento em dez anos foi acompanhado por estagnação. “Os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) foram piores em 2007, último ano disponível, do que em 1997”, compara Gustavo Ioschpe. Mais dinheiro na escola pública não fará com que alunos escrevam melhor nas aulas de Língua Portuguesa.

Para a qualidade acontecer, o articulista da
Veja destaca: 1) reformular os cursos universitários de formação de professores; 2) profissionalizar a gestão das escolas; 3) adotar um currículo nacional; 4) permitir a criação de novas modalidades no ensino médio; 5) melhorar o material didático; e 6) cobrar a utilização de práticas de sala de aula comprovadamente eficazes.

Item dois, gestão escolar. Em Rio Branco, péssimas gestões escolares têm sido um problema que a imprensa permanece indiferente e que o governo, há 12 anos, não soluciona. O professor foi bem avaliado pela prova da Secretaria de Educação; porém, depois de eleito pela doente democracia escolar, não ocorreu a boa administração, porque a atual democracia da rede pública de ensino é muito falha.

Quando o assunto é gestão escolar, a política local cala-se embora uma escola bem administrada contribua para qualificar o ensino de Língua Portuguesa. No lugar de defender o bom senso entre qualidade e ensino, sai da boca do político a doença
verborréia, expelindo uma secreção que infecta o bom senso: mais dinheiro significa qualidade de ensino.

            

segunda-feira, outubro 31, 2011

Obrigado!

Há momentos em que o desânimo cai sobre mim como âncora. Mas sei que é só momento, nada mais do que momento.

Hoje, recebi de longe uma mensagem de ex-aluno. Suas palavra animam esse desejo inquieto de lecionar, ainda. Ainda.

Olá, caro professor! É com orgulho que escrevo a você. Fui seu aluno no segundo ano do ensino médio, na escola HMM. Caro professor, você leu "Werther", de Goethe. Fiquei maravilhado por conhecer a literatura estrangeira. Pra mim, o melhor professor que eu tive na área foi o senhor. Hoje, eu faço Biblioteconomia no estado de Rondônia. Pretendo voltar ao Acre, ser gestor de biblioteca e encarar de frente este desafio, de fazer novos leitores. Caro professor, continue assim, sua metodologia deu certo. Obrigado!

Só quem foi ou é meu aluno pode falar bem ou mal de mim. 

quinta-feira, outubro 27, 2011

O futuro é hoje


Quando adolescente, a ditadura militar propagava "o Brasil é o país do futuro". Quem sabe do futuro são empresas como a Microsoft ou homens como Steve Jobs.

Sempre sinto o futuro em meus dedos quando toco na tela de meu samartphone. Algo mágico, uma harmonia entre beleza e funcionamento.

No entanto, quando entro em sala para lecionar, recuo no tempo, presencio um passado que permanece morto-vivo.

Sim, o futuro, eu vejo, é hoje, mas a escola é de ontem.

sexta-feira, outubro 21, 2011

Onde ler?

De Aldo Nascimento, publicado no jornal "O Rio Branco", na coluna Ler.

A palavra ler, como muitas palavras, provem da cultura rural, dos hábitos agrários: o ato de escolher os grãos de um cereal era o ato de ler. Se separarmos a raiz “leg” da palavra latina “legere”, encontraremos essa mesma raiz em eleger. Em português, “leg” transformou-se em “l(e)”, da palavra lei; transformou-se em “lh(e)”, da palavra colheita; transformou-se em “le.ç”, da palavra seleção; e transformou-se em “lei.t”, das palavras leitor, eleitor. “Leg” também surge sob a forma apofônica “lig”, que está na palavra inteligente. A palavra colega, por mais que possa soar estranho, significa “quem lê junto”.

           
O que significa, afinal, ler? Como escrevi no início, o ato de escolher os grãos de um cereal era o ato de ler, ou seja, ler significa escolher, selecionar – ora, quem escolhe (ou quem sabe ler bem) jamais escolhe o pior. Mas entendamos que, se ler é “escolher o melhor”, isso quer dizer que o melhor nos aproxima do outro. De um cereal, separamos (ou lemos) os melhores grãos dos piores não só por serem os melhores – óbvio! - que nos alimentarão, mas porque, quando servidos, os melhores grãos unirão os comensais à mesa. O melhor, portanto, nos aproxima. Porque cria repulsa, o pior nos afasta.

Antes de ler, porém, é preciso haver o espaço selecionado para a leitura, por isso esta pergunta: onde ler “O Pequeno Príncipe”? O ato da leitura exige conforto, por exemplo, o conforto do silêncio. A temperatura deve ser agradável, entre 20º e 25º. O leitor deve estar prazerosamente acomodado em um ambiente que o faça se sentir separado dos ruídos e dos desconfortos da rua.

Centro de Rio Branco. Na Biblioteca Estadual, segundo piso, encontra-se o conforto do leitor infantil: paz, temperatura agradável, acentos confortáveis, silêncio, tudo selecionado para que o lugar da leitura seja aprazível. Entretanto, na escola, a sala de aula se nega a espaço de deleite, de aprazimento. Muito longe de ser oásis de leitura, o chão de uma sala é infecundo para a abertura de bons livros. Entre suas quatro paredes, não há o conforto do silêncio, muito menos temperatura agradável e acentos confortáveis. Porque cria repulsa, a sala de aula nos afasta do ato de ler.

Uma estrada rasga a floresta. Um viaduto se ergue sobre casas. Milhões de reais gastos com o que o discurso político chama de progresso e de desenvolvimento. Ler, no entanto, nunca representou em propagandas de governos a grandeza cultural de um povo, por isso a sala de aula vale menos do que estradas e viadutos, por isso a sala de aula é esse lugar desinteressante e desagradabilíssimo para ler Ruth Rocha, Ziraldo, Carlos Eduardo Novaes, Fernanda Lopes de Almeida.

O que pensar de escolas que, inadequadas à leitura, roubam de seus alunos a paixão pelos livros? Pela editora Casa da Palavra, os organizadores Júlio Silveira e Martha Ribas publicaram “A Paixão pelos Livros”, páginas simples e repletas de ternura pelo ato de ler. Drummond, Flaubert, Caetano Veloso, Montaigne são alguns nomes que pensam o gesto da ler, que é separar o melhor grão do pior, de preferência, em um lugar agradável.

segunda-feira, outubro 17, 2011

Grandes descobertas científicas


1. Se você ficar gritando por oito anos, sete meses e cinco dias, terá produzido energia sonora suficiente para aquecer uma xícara de café.
(Não parece valer a pena.)

2. Se você peidar constantemente durante seis anos e nove meses, terá produzido gás suficiente para criar a energia de uma bomba atômica.
(Agora sim!)

3. O coração humano produz pressão suficiente para jorrar o sangue para fora do corpo a uma distância de dez metros.
(Uau!)

4. O orgasmo de um porco dura trinta minutos.
(Por que a natureza foi tão generosa logo com o porco?)

5. Uma barata pode sobreviver nove dias sem sua cabeça até morrer de fome.
(Ainda não consegui esquecer o porco)

6. Bater a sua cabeça contra a parede continuamente gasta em média cento e cinquenta calorias por hora.
(Não tente isso em casa; talvez no trabalho!)

7. O louva-deus macho não pode copular enquanto a sua cabeça estiver conectada ao corpo. A fêmea inicia o ato sexual arrancando-lhe a cabeça.
('Taí a origem do ditado: perde-se a cabeça por um bom ...')

8. A pulga pode pular até trezentas e cinquenta vezes o comprimento do próprio corpo. É como se um homem pulasse a distância de um campo de futebol.
(Trinta minutos...que porco sortudo! Dá pra imaginar?)

9. O bagre tem mais de vinte e sete mil papilas gustativas.
(O que é que pode haver de tão saboroso no fundo de um rio?)

10. Alguns leões se acasalam até cinquenta vezes em um dia.
(Ainda prefiro o porco... qualidade é melhor que quantidade!)

11. As borboletas sentem o gosto com os pés.
(Isso eu sempre quis saber... Quando uma borboleta pousa na gente, está experimentando o gosto? Vou tomar mais cuidado com esses insetos!)

12. O músculo mais forte do corpo é a língua.
(Hummmmmmmm... e provavelmente a língua das mulheres é mais forte que a dos homens...rs)

13. Pessoas destras vivem em média nove anos mais do que as canhotas.
(E se a pessoa for ambidestra?)

14. Elefantes são os únicos animais que não conseguem pular.
(E é melhor que seja assim!)

15. A urina dos gatos brilha quando exposta à luz negra.
(E alguém foi pago para descobrir isso?!)

16. O olho de um avestruz é maior do que o seu cérebro.
(Conheço gente assim)

17. Estrelas-do-mar não têm cérebros.
(Conheço gente assim também)

18. Ursos polares são canhotos.
(Se eles começarem a usar a mão direita, viverão mais)

19. Seres humanos e golfinhos são as únicas espécies que fazem sexo por prazer.
(Sei...E aquele porco???)

20. Agora que você já deu pelo menos uma risadinha, é hora de mandar esses fatos malucos para alguém que mereça rir também, ou seja... TODO MUNDO!



Não consigo esquecer aquele porco..rsrsrsrs..

sexta-feira, outubro 14, 2011

Depois de fevereiro, bons e ruins resultados



Em 16 de fevereiro deste ano, meus alunos elaboraram uma introdução após a leitura da proposta redacional do Enem de 2005. Quero destacar aqui o texto de uma dupla muito atenta à refacção textual: Késsia de Lima Monteiro e Renata Melo Silva.

Com quatro aulas de produção textual por mês, o processo de reconstruir o próprio texto é longo e muito cansativo. Sem que eu explicasse algo, elas escreveram a seguinte introdução:

Hoje em dia podemos afirmar que no Brasil o trabalho infantil já não é mais algo anormal e sim um erros dos familiares, e do poder publico ao permitirem que isso aconteça. O pior é que a maioria desses jovens que atuam nos lugares dos pais não terminam os estudos e não conseguem alcançar uma faculdade, e isso acaba prejudicando os seus futuros, fazendo com que eles acabem perdendo a melhor oportunidade que o mundo nos dar de ter uma boa vida.

Após eu explicar os textos da redação do Enem de 2005 e o tema relacionado a esses textos, elas apresentaram, depois de muitas críticas, sugestões e reconstruções, esta introdução:

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 5.438 milhões de crianças e de adolescentes entre 5 e 17 anos trabalham no Brasil, lugar onde "o futuro espelha essa grandeza". O maior índice de trabalho infanto-juvenil localiza-se no Nordeste, com 2.296 milhões (42.2%). Em segundo, aparece o Sudeste, 1.513 milhão (27.82% ).

Outubro. Sem minha ajuda para a reconstrução textual, elas escreveram uma introdução conforme o Enem de 2002.

Em 1984, em São Paulo, a sociedade realizou um comício pelas Diretas já!, em busca do direito da população votar e ser votada, conquistando assim a democracia. Por falta de conhecimento histórico, os jovens de hoje não sabem valorizar a importância de um voto, deixando espaço livre para a corrupção.
Comparado ao texto de fevereiro, houve melhoras. Há problemas ainda; porém, durante meses, muitos erros foram evitados. Evidente que outros alunos não superaram seus limites. Um professor não consegue  100%.


quinta-feira, outubro 13, 2011

De Fagundes Varela



Tristeza

Minh'alma é como o deserto
De dúbia areia coberto,
Batido pelo tufão;
É como a rocha isolada,
Pelas espumas banhada,
Dos mares na solidão.

A escola pública acriana abandonou os clássicos, muito mais a poesia. Não há gênero textual mais exuberante, complexo e elaborado do que o gênero lírico. E saibamos que o lírico não se limita à poesia. Os elementos líricos estão, por exemplo, no filme "Lavoura Arcaica" ou na minissérie "Dom Casmurro".

Os alunos do ensino médio, todos, ignoram os deslocamentos dos termos nas frases-oracionais. Estudar tais deslocamentos nos versos significa passar da Ordem Sintática Indireta para a Ordem Sintática Direta. Por meio dos versos, quer dizer, por meio de termos deslocados, porque é característica dos versos os deslocamentos, o aluno aprende a colocar na ordem direta os termos da oração.

Outro ponto louvável do texto lírico: a riqueza vocabular. Além da noção da ordem e da desordem sintática, o aluno precisa ampliar o seu cardápio semântico. Sem ampliar seu vocabulário e sem o seu devido sentido no verso ou na prosa, estreita-se a consciência de.

Essa riqueza vocabular associa-se também à combinação com outros vocábulos, permitindo assim a inquietação da polissemia.

Poderia, aqui, destacar outros pontos, mas permaneço com esses.

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Aos meus alunos do ensino médio, ofertei a seus olhos versos de Fagundes Varela. Primeira tarefa, colocar na ordem sintática direta a primeira estrofe para que percebam a sequência lógica (direta) do verso. Considero esse exercício importante para que eles, quando dissertarem, saibam deslocar os termos.

Só nessa estrofe, o aluno aprende vírgula, ponto e vírgula, concordâncias nominal e verbal, além, é claro, de os versos provocarem uma palavra que nos separa dos outros animais, esta: imaginação.

No entanto, nas escolas públicas acrianas, os clássicos estão mortos, mais ainda a poesia. Como disse certa vez um professor: "Meus alunos não estudam poesia, porque no mundo de hoje eles não escreverão versos." Tristeza. E pensar que um jumento como esse recebe um salário igual ao meu.
________________________________________
Exercício 1:
Colocar na Ordem Sintática Direta  

Minh'alma é como o deserto
De dúbia areia coberto,
Batido pelo tufão;

Ordem Sintática Direta: Minh'alma é como o deserto coberto de dúbia areia, batido pelo tufão.

Uma vez na ordem, o aluno precisa ir ao dicionário para encontrar o significado e, depois, por meio de reflexões, o sentido da palavra adequado no verso. O que significa "dúbia"?

No dicionário Houaiss, há três significados. Qual o mais adequado? Eu penso que seja "difícil de caracterizar". E "batido"? Resposta, "marcado". E "tufão"? Nesse caso, não basta ir ao dicionário, é preciso interpretar a palavra, porque ela se encontra em estado conotativo. "Tufão" tem sentido de "desordem", "desarmonia", "irregularidade".

E "alma"?

Depois da ordem sintática direta, depois do sentido das palavras, interpretar a poesia.

Em sala, essa prática é cansativa. Sem uma boa leitura, sem perceber como o texto lírico é elaborado, escrever melhor torna-se mais difícil.      

terça-feira, outubro 11, 2011

quarta-feira, outubro 05, 2011

Quando eu voltar a blogar, não sei. Se eu voltar.


Certa vez, perguntaram a mim o que seria morrer. Sem apelo religioso, sem pensar em outra vida, sem defender a ideia de que existe vida após a morte, respondi que morrer é a suprema perfeição do esquecimento.

Não importa se amanhã ou se a dois mil anos. Eu, por exemplo, serei lembrado no máximo em uma missa de sétimo dia. Tenho a mais serena compreensão de minha insignificância.

Semelhante a Sísifo, carregamos a pedra ao topo e, depois, deixamos que ela role. Outra vez, nós a carregamos ao topo para que a pedra role outra vez. No entanto, embora façamos esse gesto sem futuro,  sem esperança, precisamos encontrar um sentido para esta vida.

Um sentido. Entretanto, ainda que possamos encontrar um sentido, a morte nos sepultará na cova profunda do esquecimento. Morremos para ser esquecidos.

Resta, portanto, preparar-se. Já li em obras literárias e já vi em belos filmes personagens que deram ao ato final a beleza de não haver o medo do fim, por exemplo, estes: Cyrano de Bergerac (peça teatral de Edmond Rostand), Drogo (romance O Deserto dos Tártaros), Selma (filme Dançando no Escuro), Adolf Hitler (filme A queda) e, antes deles todos, o filósofo Sêneca

Por meio deles, o autocontrole, isto é, a senhora Razão os guiou com a cor da serenidade.

quinta-feira, setembro 29, 2011

Ab-rupto ou abrupto?



Em 2012, a nova ortografia se estabelecerá, não dividindo espaço com a anterior. O uso do hífen, por exemplo, ficou bem melhor, mas deixou umas dúvidas, um delas, esta: ab-rupto ou abrupto?

Se o prefixo terminar com "b" (ab-), usará hífen quando o segundo elemento começar por -b, -h ou -r. No entanto,  no dicionário Houaiss, o lexicógrafo registra duas formas: ab-rupto e abrupto. Esta permanece por causa do uso; e aquela, da regra.

Em seu livro "A Nova Ortografia", Evanildo Bechara escreve "preferível abrupto", desobedecendo à nova ortografia.

E na redação escolar?

Para mostrar conhecimento, o aluno pode registrar abrupto e ab-rupto.

Chique!


terça-feira, setembro 27, 2011

Da Nova Ortografia a Velhas Pontuações

Em novembro, iniciarei um curso na Faculdade Euclides da Cunha.

O nome, Da Nova Ortografia a Velhas Pontuações.


1) Dia 5 de novembro de 2011

As vírgulas em textos e outros pontos

De 8h as 9h
: A pontuação em textos de Roland Barthes;
De 9h as 9h15min: intervalo;
De 9h15min as 9h45min: A pontuação em texto de Abelardo e Heloísa;
De 9h45min as 10h30min: A pontuação em texto de Antônio Vieira; e
De 10h30min as 11h: Exercícios.

2) Dia 12 de novembro de 2011
O fenômeno da crase e o uso do hífen

Das 8h às 9h: Acentuar ou não acentuar, ei a... crase;
Das 9h às 9h15min: intervalo;
Das 9h15min às 9h45min: Acentuar ou não acentuar, ei a... crase;
Das 9h45min às 10h30min: O hífen que caiu na tua sopa; e
Das 10h30min às 11h: Exercícios.

3) Dia 19 de novembro de 2011
Orações adverbiais, marcadores e o aposto

Das 8h às 9h: Peça a Deus por orações adverbiais;
Das 9h às 9h15min: intervalo;
Das 9h15min às 9h45min: Os marcadores que não entraram ainda em tua vida;
Das 9h45min às 10h30min: O lado aposto da vida; e
Das 10h30min às 11h: Exercícios.

4) Dia 26 de novembro de 2011
A nova acentuação e os velhos erros textuais

Das 8h às 9h: Nesse voo para o Acre, não há mais acento.
Das 9h às 9h15min: intervalo;
Das 9h15min às 10h30min: O texto do meu aluno me deixou confuso; e
Das 10h30min às 11h: Escrever se aprende reescrevendo.   


   

domingo, setembro 25, 2011

O tempo estraga acervo


A história recente do Acre se estraga no Museu da Borracha. Trata-se de um acervo jornalístico acumulado pelo esquecimento. Esse material já deveria ter sido digitalizado para que interessados pudessem acessá-lo por meio da internete.

Com tanta gente empregada no governo, alguém poderia fazer o serviço.

Ao amigo Affonso Nunes

Afonso, você não imagina a alegria de encontrar teu nome em meu blogue, você não faz ideia. Após anos - mais de 20 -, teu nome encontra-se com o meu. Não me esqueço de um amigo como você por causa da inteligência, da cultura, do caráter, das conversas que tínhamos sobre, por exemplo, um PT que lutava contra a corrupção.

Meu amigo, diga-me sobre teu destino, onde você está. Deixe teu MSN, teu correio eletrônico.

Se estiver no Rio de Janeiro, poderemos nos reencontrar em janeiro de 2012. Espero que não tenha perdido teus ideais, espero que você tenha ainda a palavra escrita como florete, porque você sempre foi um ótimo esgrimista.

Um grande abraço fraterno em teu destino.

  



quinta-feira, setembro 22, 2011

Criança não brinca mais: mata e se mata


A professora Rosileide Queiros de Oliveira, 38, que foi baleada por um aluno de 10 anos em uma escola em São Caetano do Sul (região do ABC) nesta quinta-feira (22) apresenta quadro de saúde estável e não corre risco de morte, segundo nota da prefeitura. O aluno atirou contra si mesmo e morreu no hospital.

A professora levou um tiro na região posterior do lado esquerdo, altura do quadril e sofreu uma fratura na patela direita. Rosileide foi levada para o Hospital das Clínicas, em São Paulo, e está sendo examinada na sala de emergências.

Por volta das 15h50 desta quinta-feira (22), com 25 alunos em uma das salas de aula da unidade, o aluno D. M. N., do 4º ano, efetuou os disparos contra a professora e atirou duas vezes contra a própria cabeça. Ele morreu uma hora depois no hospital de emergência Albert Sabin, em São Caetano, após duas paradas cardíacas.

Segundo o capitão do 6º BPM de São Caetano, Robson Castropil, a criança pediu para ir ao banheiro e quando voltou, atirou contra a professora, saiu para o corredor e atirou em si mesma.

De acordo com a Folha.com, o garoto era filho de um guarda municipal e teria usado a arma do pai -um revólver calibre 38. A polícia ainda não tem informações sobre como a arma chegou às mãos da criança e espera a perícia.

Melhor do Estado, segundo o Ideb




A escola municipal Professora Alcina Dantas Feijão, palco dos disparos, é a primeira de São Paulo no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2009 nas séries finais (5ª a 8ª) com índice ou "nota" de 6,7.
O Ideb é a "nota" do ensino básico no país. Numa escala que vai de 0 a 10, o MEC (Ministério da Educação) fixou a média 6, como objetivo para o país a ser alcançado até 2021.
As aulas na escola foram suspensas hoje à noite e amanhã na escola.

quarta-feira, setembro 21, 2011

segunda-feira, setembro 12, 2011

Os Enem da escola HMM

2007
39 escolas no Enem. HMM ficou na 15ª posição (48,97 pontos).

2008
53 escolas no Enem. HMM ficou na 40ª posição (42,54 pontos).

2009
43 escolas no Enem. HMM ficou na 16ª posição (51,93 pontos).

2010
54 escolas no Enem. HMM ficou na 32ª posição (50,27 pontos).


Enem-2010

Públicas de Rio Branco

Entres as 20 escolas estaduais de Rio Branco, HMM ficou na 11ª posição.

Públicas e particulares de Rio Branco

Entre as 29 escolas públicas e particulares de Rio Branco, HMM ficou na 20ª posição.

Conforme o Enem de 2010, a escola HMM retrocedeu, obteve menos ponto do que em 2009.


sexta-feira, setembro 09, 2011

Aos que dão [com alegria e com caráter] a bunda

Oferto meu texto aos homossexuais que, com muito caráter e com muita alegria, dão a bunda a seus homens. Ruim é ser homem e não ter caráter. Ruim é ser homem e ser canalha. Ruim é ser pastor adúltero e cínico. Se ela possuir caráter, se ela não for canalha, se ela amar de verdade, a bunda é apenas acessório.


Em Rio Branco, igrejas neopentecostais já ocupam espaços em tevê local para satanizar as relações homoafetivas. Baseando-me em um livro de um padre, escrevi um texto longo, mas muito apropriado para se opor à ignorância fanática de uns pastores imbecis.

Boa leitura!


  
O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade

Aldo Nascimento

                                                                                   
Apresentação


Este artigo parte do livro do padre Daniel A. Helminiak. Esse sacerdote, por sua vez, apoia-se nos estudos de John Boswell, professor de História da Universidade de Yale, e nos de L. William Countryman, professor de Novo Testamento da Escola da Igreja Divina do Pacífico, em Berkeley, Califórnia. Das páginas de “O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade”, sobressaem neste artigo as palavras em Levítico, o terceiro livro de Moisés. Assim como igrejas neopentecostais acrianas interpretam [ao seu bel-prazer sado-masoquista] a palavra bíblica para fecundar em igrejas, em escolas públicas e em campo de futebol o “Bem” contra homossexuais, nada mais justo do que lançar a palavra [interpretada] de Deus contra esse mesmo “Bem”.
                       
Apresentação. I - Quando uma pastora joga com Jesus Cristo em um campo de futebol; II – Pai, eles não sabem o que dizem e o que ouvem; III – O fanatismo não remove montanhas; IV - “O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade”; V - O terceiro livro de Moisés; VI – “Não te deitarás com um homem, como se fosse mulher: isso é abominação”; e VII - Êxodo 32:27-29, o Deus que mata.       

I – Quando uma pastora joga com Jesus Cristo no campo de futebol
              
Final de tarde. Pessoas avolumam-se na entrada do estádio José de Melo, em Rio Branco, Acre. Atravesso a avenida Ceará para saber o que acontece. Não é dia de futebol. Estou na multidão. Entre pernas e braços, chego ao gramado e logo percebo que esta gente está aqui para torcer por Jesus Cristo.
     
No gramado, perto do gol, ergue-se um palanque. Ao microfone, uma pastora ergue a voz: “Amanhã, nós lavaremos com o sangue de Jesus a sujeira daqueles que pisarão na Gameleira.” Um dia depois, a parada gay deixava suas lascivas e alegres pisadas.
        
Não me lembro do nome da igreja, mas lembro que o deus da pastora se investia contra outros filhos de Deus: os homossexuais. Uma crente, aparentando uns 75 anos, ouvia o sermão. Me aproximei. Foi quando a pastora clamou em nome do Senhor: “É contra a natureza de Deus homem manter relações com homem e mulher manter relações com mulher. A pederastia, meus irmãos, é contra Deus, amém?” A idosa e a multidão elevaram uma só voz: “Amém!!!”
        
Esperei o espetáculo chegar ao fim para entrevistar essa evangélica. Dona Maria Aparecida das Graças se mantém viva com um salário mínimo em uma casa do bairro Sobral. Viúva, mãe de 9 filhos, avó de 8 e bisavó de 4 crianças, essa senhora defende as dez verdades que Deus gravou nas Tábuas de Moisés embora, caso estivesse no monte Sinai, não as lesse. Maria é analfabeta. Para poder pensar o homossexualismo, a escola foi substituída pela igreja em toda sua vida.

II – Pai, eles não sabem o que dizem e o que ouvem

Por que a senhora acredita que homem manter relação com homem é contra Deus? Está escrito na Bíblia que Deus criou o homem e a mulher para procriar, e o senhor sabe que a Bíblia é a palavra de Deus.

Onde Deus escreveu essa verdade?
Meu pastor disse que foi em Gênesis.

A senhora saber ler?
Não

A sua igreja, além dos cultos, não realiza trabalho de alfabetização?
Meu pastor disse que isso não é a tarefa da igreja, porque nós não precisamos saber ler para alcançar a salvação.

Mas o seu pastor sabe ler
. Ele sabe porque Deus deu a ele o dom.

Deus não deu à senhora o dom de ler, é isso?
É preciso ter dom para entrar na escola, para aprender, o Senhor dá a cada um o que merece.

E por que será que Deus não lhe deu o dom de aprender, o dom de estudar, o dom de ler?
Aí o senhor tem que perguntar a Deus, não é mesmo?

Nunca perguntei. Terminei a breve entrevista com a certeza de que a cidade não é regida pelo mesmo tempo. Parte dela encontra-se presa, por exemplo, à Idade Média, quando a fé erigia-se acima da razão. Dona Maria não tinha 75 primaveras; carregava na mente séculos de obscurantismo. Fé significa não querer saber o que é verdadeiro (Nietzsche, 2007, p. 63).

Acredito que a inocência dessa senhora deve buscar até hoje a luz do Deus bíblico, mas sua ignorância, mantida pelo dízimo a pastores alfabetizados, submete Maria à escuridão. Contra os homossexuais, essa evangélica defende, segundo a interpretação de homens, a verdade de Deus embora sua fé não saiba ler essa verdade no papel.

III – O fanatismo não remove montanhas

Paulo, apóstolo do amor, foi quem levou à religião cristã os preceitos contra os “sodomitas”. Com o passar dos anos, quando o cristianismo tornou-se no final do século 4 a única religião do Império Romano, uma lei do ano 390 previa a morte na fogueira para homossexuais. No século 12, em 1179, o Concílio de Latrão sentenciou que os leigos fossem excomungados por pederastia ou por safismo. Por meio de Paulo, a Igreja iniciou o preconceito, e, muitos anos depois, a partir do século 13, a homofobia espalhou-se a ponto de muitos países europeus adotarem leis severas contra a homossexualidade.

Século 20, Brasil. Em 2009, foram assassinados 198 homossexuais no maior país cristão do mundo, 11 a mais que em 2008 e 76 a mais que em 2007. As mortes foram registradas pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), fundado em 1980 e único no Brasil a reunir estatísticas. Segundo o GGB, de 1980 a 2009, assassinaram 3.196 homossexuais, média de 110 por ano.

Os números também são altos no Programa Rio Sem Homofobia. De novembro de 2009 a novembro de 2010, cerca de 600 denúncias de agressão foram registradas contra gays. Em 2010, no feriado prolongado da Proclamação da República, militares do Exército agrediram e balearam um jovem de 19 anos após participar em Copacabana de uma parada gay. Em São Paulo, três jovens foram vítimas de um grupo de rapazes na avenida Paulista.

Em dezembro de 2010, o pastor Silas Malafaia, da igreja Assembleia de Deus, propagou no Rio de Janeiro estas palavras em painéis à margem de vias urbanas: “Em favor da família e da preservação da espécie humana, Deus fez macho e fêmea”, ou seja, em Gênesis 1-27, primeiro livro de Moisés, gay e lésbica, Deus não os criou.

Quase um ano depois dessa propaganda evangélica, em 28 de julho de 2011, o Universo On-Line (UOL), com base no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicou que evangélicos são os brasileiros mais resistentes à união homoafetiva, 77%.          

Em março de 2011, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), defensor dos bons costumes, da família e da ditadura militar, afirmou no dia 30, quarta-feira, que está “se lixando” para o movimento gay.

“Estou me lixando para esse pessoal aí [do movimento gay]. Eles criaram agora a Frente Parlamentar de Combate à Homofobia, a frente gay. O que esse pessoal tem a oferecer para a sociedade? Casamento gay? Adoção de filhos? Dizer para vocês que são jovens que, no dia em que vocês tiverem um filho, se for gay, é legal e vai ser o ‘uhuhu’ da família? Esse pessoal não tem nada a oferecer.”

Bolsonaro, capitão do Exército, declarou esse ódio cristão quando chegou ao velório do ex-vice-presidente da República José Alencar, no Palácio do Planalto, Brasília.

1º de abril de 2011. Na primeira partida da semifinal da Superliga entre Cruzeiro e Vôlei Futuro, realizada em Congonhas, Michael dos Santos, o meio de rede do Vôlei Futuro, foi hostilizado pela torcida, que, em coro, gritava “bicha” e “gay” quando o jogador ia para o ataque ou quando sacava. Para condenar a homofobia no esporte, Michael assumiu sua homossexualidade. Eis, portanto, a causa dos gritos.   

Califórnia, Estados Unidos. Seth Walsh caminhou ao jardim de sua casa para se enforcar. Só em setembro, seis adolescentes suicidaram-se na terra de Obama. Seth tinha 13 anos. Nova Iorque (o “Jornal do Brasil” sempre punha Nova Iorque), 3 de outubro, três jovens homossexuais foram sequestrados e torturados em um apartamento desabitado.

Uganda, África
. Em 2 de outubro de 2010, um jornal publicou uma matéria na primeira página identificando cem ugandenses como gays e como lésbicas. Ao lado de suas fotos, esta frase: “Enforquem-nos!”. Soweto, África do Sul. Uma manifestação chamou atenção para as violações contra as lésbicas nas “townships”, onde seus autores tentam corrigir a sexualidade das vítimas.

Belgrado, Sérvia
. Um grupo atirou coquetel molotov e granada paralisante contra uma parada do orgulho gay, ferindo 150. O fato ocorreu em 10 de outubro de 2010.     

Se a violência física mata e humilha homossexuais nas ruas, a violência verbal se normatiza em igrejas evangélicas acrianas - principalmente nas neopentecostais -, onde pastores disseminam em seus cultos (ou em campo de futebol) a intolerância do Velho Testamento. “Está escrito na Bíblia, Deus escreveu”, vociferam.

“Quando digo ‘meu Deus’,/ afirmo a propriedade./ Há mil deuses pessoais/ em nichos da cidade”, poetiza Carlos Drummond de Andrade. Deus, portanto, uma propriedade, um objeto pessoal confeiçoado por interpretações de fiéis à incompreensão. Com que palavras duelar contra aqueles que, em nome do Senhor, limpam, com o sangue de Jesus, lugares pisados por gays e por lésbicas? Duelamos com a mesma arma, qual seja, a palavra de Deus.

IV - “O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade”


Publicado nos Estados Unidos em 1994, o livro do padre Daniel A. Helminiak chegou ao Brasil quatro anos depois. Se os cristãos creem que Deus tenha escrito a Bíblia, a verdade, no entanto, não está no que Deus escreveu, mas no que os homens interpretam. Assim, na palavra do Senhor, habitam muitas verdades porque há muitas interpretações dos homens, é “O Deus de cada homem” de que fala Carlos Drummond de Andrade na obra poética “As impurezas do branco”, repito: “Quando digo ‘meu Deus’,/ afirmo a propriedade./ Há mil deuses pessoais em nichos da cidade.”                 

Segundo o prefácio da edição de 1994, desde 1977, O autor de “O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade” ministra os sacramentos para a comunidade gay e lésbica como sacerdote católico romano em Boston, em San Antonio e em Austin. Ele presenciou horrores. Um deles, 30% dos suicídios entre os adolescentes são cometidos por jovens homossexuais. Para religiosos estreitos que interpretam a Bíblia contra homens que amam homens ou contra mulheres que amam mulheres, o padre Daniel afirma que “a Bíblia é indiferente à homossexualidade enquanto tal”.

Em seu pequeno livro, Helminiak interpreta a palavra de Deus para não cravar o punhal da homofobia em travestis, em lésbicas, em transexuais, em gays. Pastores, entretanto, julgam para condenar. Para esses falsos intérpretes de Deus, leiamos Romanos 14:13: “
Deixemos, pois, de nos julgar uns aos outros; antes cuidai em não pôr um tropeço diante do vosso irmão ou dar-lhe ocasião de queda.”

Embora os cristãos asseverem que a Bíblia tenha sido escrita por Deus, a palavra, por pertencer ao um processo histórico, passa por transformações porque o signo linguístico desalinha-se no tempo dos homens para que seu significado, oposto ao que foi, renasça no significante. Hoje, entre evangélicos da classe social de dona Maria Aparecida das Graças, nenhum, absolutamente nenhum deles, é capaz de se encontrar com os significados originais das palavras sodomia, adultério, abominação, sagrado, menstruação. Argola da corrente de culto evangélico, peça da engrenagem de máquina que ora, célula do corpo de igreja que prega, Maria Aparecida só reproduz o significado-função da palavra diabólico porque ela o escuta somente como eco do turbilhão de cristãos presos à argola, à peça, à célula. O todo fala por Maria. Maria só fala o que pensa por causa da sua comunidade linquística. Maria ignora; desconhece que “sua palavra” seja alienada, quer dizer, que pertença a outro, no caso, à congregação, ao culto, à máquina, ao corpo social cristão, a ela: igreja. A consciência adquire forma e existência nos signos criados por um grupo organizado no curso de suas relações sociais (Bakhtin, 1998, p. 35). Assim, como não pensa a palavra bíblica, Maria não pode falar seu pensamento, a não ser que seu pensamento seja o da igreja - e ele é. A própria palavra de Deus na igreja, sabemos, já é refratária.                          

No belo romance “1984”, de George Orwell, palavras são destruídas e, dessa maneira, a literatura do passado foi arruinada. O narrador não cita a Bíblia; mas, se a tivesse citado, teria dito que a palavra de Deus não apenas é transformada em algo diferente como transformada em palavra contrária ao que era. Todo mecanismo do pensamento será diferente. Com efeito, não haverá pensamento como hoje o entendemos. O objetivo é estreitar a gama de pensamento (Orwell, 1984, p. 52 e 53).

Bem antes da publicação da obra literária “1984”, Nietzsche, em 1887, publicara “A genealogia da moral”, trabalho que pretende dar um esclarecimento a propósito de “Para além do Bem e do Mal”, de 1886. Dona Maria não sabe, mas as palavras, segundo Nieztsche, sempre foram inventadas pelas classes superiores e, dessa forma, não indicam um significado, mas impõe uma interpretação.        

Depois do pensador alemão, entre 1929 e 1930, Mikhail Bakhtin, assinando como V. N. Volochínov, edita “Marxismo e filosofia da linguagem”, cuja escrita revela que a consciência individual [de dona Maria Aparecida] é um fato socioideológico, sabendo que tudo que é ideológico possui um valor semiótico (Bakhtin, 1988, p. 32, 33 e 35).     

Em cultos enraizados em Rio Branco, a palavra sodomia é todo homem que mantém coito anal com outro homem. A palavra exerce poder, e esse poder pertence à Igreja. Porque o sacerdote interpretou o livro Gênesis 19:1-11, o significado de sodomia cristalizou-se nos dicionários. Desde o século 12, aproximadamente, a história de Sodoma representa uma condenação da homossexualidade. O padre Daniel A. Helminiak afasta-se dessa leitura para se aproximar de uma não literal, situando a palavra no tempo histórico sem perder o diálogo com o presente e com a etimologia.  

V - O terceiro livro de Moisés


Mas eu não desejo Gênesis para detalhes. Interessa-me Levítico 18:22: “Não te deitarás com um homem, como se fosse mulher: isso é abominação.” Mais adiante, capítulo 20, versículo 13, escreve-se: “Se um homem dormir com outro homem, como se fosse mulher, ambos cometeram uma coisa abominável. Serão punidos de morte e levarão a sua culpa.”

Segundo o sacerdote Daniel A. Helminiak, Levítico condena outro pecado sexual à pena de morte: o adultério. Mas, entre o passado histórico da Bíblia e o século 21, o tempo não permaneceu congelado, imóvel, petrificado, por isso o adultério de hoje difere-se do adultério da Israel antiga.

 Em nossa sociedade, uma pessoa casada comete adultério ao ter relações sexuais fora do casamento. A ofensa é a de infidelidade, a traição da confiança ou do compromisso, e é perpetrada contra o cônjuge. Trata-se de uma ofensa pessoal. Na Israel antiga, o adultério era uma ofensa apenas contra o marido, pois se tratava do uso ilegal de sua propriedade – sua mulher, sua esposa. Mais do que uma ofensa pessoal, envolvia prejuízo financeiro: o homem havia pago ao sogro um dote por ela, e  a mulher era importante para a expansão da família, para o enriquecimento de sua propriedade. (Helminiak, 1998, p. 48)

Corpo feminino e herança legítima, portanto, equiparavam-se na organização patriarcal. Pertencer a um só homem assegurava ao marido, senhor da esposa (em latim, senhor é dominus, “aquele que domina”), a extensão de seu patrimônio. “O casamento e a procriação determinavam a herança na família patriarcal”, observa o padre Helminiak no capítulo 4 de seu livro. E ele pergunta: “Se a noiva de um homem não fosse virgem, como ele poderia estar seguro de que a criança nascida dela seria mesmo sua?” Se não havia teste de paternidade, quem teria direito de propriedade sobre a mulher e sobre o filho?

Assim, sem teste de DNA, com a verdade do filho legítimo corrompida pela mulher infiel, o significado da palavra adultério justifica-se: “alterar”, “falsificar”, “misturar”. Por guardar o nome do homem como segredo em seu ventre, a mulher, se não fosse fiel, desestabilizaria a ordem patriarcal, colocando em risco a herança consanguínea. Hoje, em nossa sociedade, o termo adultério perdeu a força dessa significação, ninguém condena o sexo feminino à morte por ser infiel. Mas o Senhor deixou escrito em Deuteronômio 22:13-24. Se está escrito, matem-na!

Em Rio Branco, bairro da Paz, uma congregação soube que a mulher do pastor mantinha relações sexuais com um jovem evangélico. Enquanto o marido realizava o culto na igreja, ela, diante do rapaz, ajoelhada em sua casa, abria a boca não em nome de Deus, mas em nome do sexo oral. Embora Deus tenha escrito que “se um homem for achado deitado com uma mulher que tem marido, então, ambos morrerão”, a adúltera e o amante, até hoje, permanecem vivos no bairro da Paz.           

VI - “Não te deitarás com um homem, 
como se fosse mulher: isso é abominação”

No terceiro livro de Moisés, em uma seção de Levítico chamada o Código Sagrado, encontramos a condenação dos atos homogenitais, que não correspondem a atos homossexuais. Por causa de um pacto com Deus, “esse contrato determinava que os israelitas não deviam participar das práticas religiosas dos canaanitas, o povo conquistado pelos judeus ‘com o auxílio de Deus’ e cujo território havia sido tomado para ser a sua ‘Terra Prometida’”. Na raiz da palavra, sagrado significa “separar”, ou seja, o Código Sagrado impunha o distanciamento entre os costumes do povo judeu e os costumes dos gentios. Em Levítico 18:21, Deus, por meio de Moisés, deixa isso bem claro: “E da tua descendência não darás nenhum para dedicar-se a Moloque, nem profanarás o nome de teu Deus. Eu sou o Senhor.”                                                  

Na cultura dos canaanitas, sexo com mulher menstruada ofertava-se ao deus Moloque. A que separação entre judeus e canaanitas se refere Levítico? Óbvio: os homens deveriam se afastar de mulheres menstruadas. Outra separação. No Testamento hebreu, registra-se que, para os canaanitas, a fertilidade da terra relacionava-se ao prazer carnal. Os judeus separaram terra fértil dos rituais sexuais, fazendo com que a bênção sobre as estações, as colheitas e os rebanhos não dependessem mais de relações sexuais de famílias inteiras entre si e de grupos de família – maridos, mulheres, pais, mães, filhos, filhas, tias, tios, irmãos, irmãs, primos. (Helminiak, 1998, p. 50)

Nesses cultos a divindades vinculadas à fertilidade da terra, o sexo homogenital ocorria entre os canaanitas; o Código Sagrado do Levítico proíbe, segundo Helminiak, o ato sexual entre homens devido a considerações religiosas, e não sexuais. “A intenção era a de impedir Israel de participar das práticas dos gentios. O sexo homogenital era proibido porque estava associado a atividades pagãs, à idolatria e à identidade gentia”, escreve o padre na página 50.

E quanto ao homem deitar com outro homem ser abominação? Palavra escrita no capítulo 18, versículo 22, pergunto ao Senhor o que é abominação e colho sua resposta no capítulo 20, versículos 25 e 26. Como o padre Daniel A. Helminiak, segundo nota da tradução brasileira, “parte, no texto original em inglês, da Bíblia tida como padrão nos países da fala inglesa, mandada traduzir entre 1604 e 1611 por estudiosos de Oxford, na Inglaterra”, lê-se:

Fareis a distinção entre animais puros e impuros, entre as aves puras e impuras, e não vos torneis abomináveis por causa de animais, de aves ou de animais que se arrastam sobre a terra, como vos ensinei a distinguir como impuros. Sereis para mim santos, porque Eu, o Senhor, sou santo; e vos separei dos outros povos para que sejais meus.” (Helminiak, 1998, p. 52)

No próprio texto, abominável é sinônimo de impuro, quer dizer, “misturar-se a”, “confundir-se com”. Para os judeus, eram impuros porcos e camarões, por isso Deus ordenou que seu povo se afastasse desses animais. Como afirmei anteriormente, sagrado
significa “separar”, “não se confundir com”, e um homem relacionar-se com outro homem representava impureza porque dessacralizava sentimentos religiosos dos judeus, e não porque essa relação sexual fosse “suja” em si mesma. O Levítico não afirma que o fato de um homem se deitar com outro homem seja um pecado ou um erro. O Levítico diz que isso é uma violação do ritual, uma impureza; algo “sujo”. (Helminiak, 1998, p. 56)

Se fosse erro, isto é, pecado, o termo hebraico zimah poderia ter sido utilizado no lugar de toevah, porque este significa “abominação”; e aquele, “injustiça”, “pecado”, “erro”. “Zimah quer dizer não aquilo que é condenável por motivos culturais ou religiosos, mas aquilo que é errado em si”, observa o autor de “O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade”. Um homem na cama com outro homem assemelhava-se ao canaanita, não havendo por isso o erro em si mesmo porque a homogenitalidade em Levítico é reprovação religiosa.

VII - Êxodo 32:27-29, o Deus que mata

Lembro-me quando cada um cingiu a espada sobre o lado, cada um passou e tornou a passar pelo arraial de porta em porta, e matou cada um a seu irmão, cada um, a seu amigo, e cada um, a seu vizinho. Lembro-me, três mil homens assassinados a mando de um Deus vingativo para que cada um recebesse sua bênção. “Três mil homens mortos só porque ele tinha ficado irritado com a invenção de um suposto rival em figura de bezerro, Eu não fiz mais que matar um irmão e o senhor castigou-me, quero ver agora quem vai castigar o senhor por estas mortes”, pensou o personagem Caim, de José Saramago.

                                            Massacre de Sabra e Shatila                                         
                                     
                                             Crianças assassinadas por Israel, 1982                                      

Após séculos sobre séculos, a Israel de Moisés ainda mata crianças palestinas na Faixa de Gaza, um campo de concentração delimitado pelo Deus dos judeus. Quando, entre 16 e 18 de setembro, o exército de Israel invadiu o Líbano em 1982, as armas de Jeová mataram, estima-se, 3,5 mil civis inocentes.
  A Corte Suprema de Israel considerou o ministro da Defesa do país, Ariel Sharon, o responsável pelo massacre de Sabra e Chatila.

Sobre carnificinas, sobre assassinatos, sobre inocentes cadáveres, pastores acrianos calam-se; mas, quando o assunto é homossexualidade, pregam a ira do Senhor contra os que não foram, segundo eles, escolhidos por Jeová.

Dar o cu não pode. Um Deus que mata pode?